quarta-feira, março 29, 2006

Fortuna

Os Deuses da fortuna e um super-Moretto estiveram hoje com o Benfica, que acabou por não sofrer nenhum golo e assim empatar a zero o jogo com o Barcelona. Não sendo um bom resultado, ainda assim é um resultado que deixa o desfecho da eliminatória em aberto. Importante será não cometer em Barcelona alguns dos erros tácticos que cometemos hoje, sobretudo durante a primeira parte.

Foi com o regresso à 'fórmula Liverpool' que o Benfica entrou em campo hoje. Ao 4-3-3 do Barcelona Koeman respondeu igualmente com um 4-3-3, o que fez com que as duas equipas se encaixassem perfeitamente uma na outra, sendo visíveis os pares que se formaram em termos de marcações. O Benfica entrou muito mal no jogo, com alguns jogadores a aparentarem um grande nervosismo (Anderson e Beto, por exemplo...). E logo nos primeiros minutos o Barcelona teve uma boa oportunidade, quando o Moretto agarrou uma bola vinda do Anderson. Não sei se foi mesmo atraso ou não, mas na dúvida o melhor era mesmo chutar a bola. De qualquer forma na sequência do livre indirecto o nosso guarda-redes fez um par de boas defesas, que mostraram que ele estava inspirado entre os postes. Após apenas alguns minutos de jogo a superioridade do Barcelona era por demais evidente, e, a meu ver, muito por culpa da táctica utilizada pelo Benfica. Koeman disse antes do jogo que o Ronaldinho não seria alvo de marcação individual. O que eu não percebi na altura era que ele queria dizer que não seria o Ronaldinho a ser marcado individualmente, mas sim todo o Barcelona do meio-campo para a frente!

A táctica do Benfica na primeira parte parecia uma daquelas que nos ensinavam nos iniciados, em que nos diziam para nos preocuparmos apenas com o nosso adversário directo e nunca tirarmos os olhos dele. Isto foi desastroso perante uma equipa como o Barcelona, que sabe trocar bem a bola e tem jogadores com capacidade para conseguirem libertar-se de uma marcação individual. Bastava que um jogador catalão se soltasse para que se assistisse a situações ridículas em que ele corria com a bola em direcção da baliza praticamente sem oposição, porque os jogadores do Benfica saiam-lhe da frente, indo atrás do jogador que estavam a marcar em vez de atacarem o portador da bola. Houve duas jogadas então que foram absolutamente exemplificativas disto, uma do Van Bommel e outra do Iniesta, em que eles correram praticamente sem oposição uns cinquenta metros e depois só não marcaram porque um chutou ao lado, e no outro o Moretto fez uma grande defesa. Além disso havia o problema do Robert não defender, e raramente acompanhar as subidas do Van Bronckhorst, o que deixava o Ricardo Rocha, já bastante ocupado com a (boa) marcação ao Ronaldinho, muitas vezes só perante dois adversários. De uma situação destas surgiu uma oportunidade flagrante do Eto'o quase a fechar a primeira parte. Durante a primeira parte a posse de bola do Barcelona foi avassaladora, e contei pelo menos meia dúzia de oportunidades flagrantes para eles (Ronaldinho, Deco, Iniesta, Van Bommel(2) e Eto'o). O Benfica respondia apenas através de remates de longe, sendo os mais perigosos do Petit e do Manuel Fernandes. Foi só por um misto de felicidade, inspiração do Moretto e aselhice dos adversários que o Benfica não chegou ao intervalo a perder.

Algo teria que mudar ao intervalo, pois se os segundos quarenta e cinco minutos fossem mais do mesmo o resultado que daí deveria sair só poderia ser mau para as nossas cores. Felizmente Koeman deixou o Robert no balneário, fazendo entrar o Miccoli para ponta-de-lança e passando o Geovanni para a direita. Para além disso o Benfica abandonou as ridículas marcações individuais da primeira parte, passando a jogar mais à zona, e como resultado o jogo começou a equilibrar um pouco mais, e o Benfica a conseguir finalmente aproximar-se da baliza adversária. A superioridade do Barcelona manteve-se, mas agora de forma menos evidente, e a partir do final do primeiro quarto-de-hora o golo passou a parecer poder acontecer em qualquer uma das balizas. O Barcelona enviou uma bola ao poste (julgo que foi o Moretto quem a defendeu para o poste), e no seguimento do canto voltou a acertar no poste. Pouco depois foram o Simão e o Miccoli a estarem perto de marcar. Logo a seguir é o Van Bommel que permite uma defesa incrível do Moretto. Entretanto, e já com o Karagounis em campo (que voltou a fazer subir a qualidade do nosso jogo ofensivo), o Benfica volta a ter uma oportunidade flagrante para marcar, em que o Valdés nega o golo ao Simão isolado. Na fase final do jogo, sobretudo desde que o Deco saiu, o Barcelona perdeu bastante fulgor, e foi o Benfica quem teve mais iniciativa. Mas o resultado acabou por não se alterar, e agora temos mais noventa minutos para a semana para decidir quem segue em frente.

O Benfica e o seu treinador souberam reagir a uma péssima primeira parte, em que o domínio adversário chegou a ser avassalador. Léo, Luisão, Simão e Miccoli foram, na minha opinião, dos melhores. O Beto também esteve muito bem em tarefas defensivas, apesar de ter entrado desastrado no jogo. Na parte da construção de jogo é que, como sempre, já esteve pior. Quanto ao Moretto, fico quase sem saber o que dizer. Se não sofremos golos, a ele o devemos, que fez defesas incríveis. Mas depois alterna estas intervenções brilhantes com erros básicos, como quando passou a bola ao Van Bommel e este quase marcou. Mas obviamente que muito do mérito do nulo do Barcelona passa pelas suas mãos. O Ricardo Rocha esteve impecável na marcação ao melhor jogador do mundo, que a meio da segunda parte se viu obrigado a procurar outros terrenos. Quando isto aconteceu, e o Eto'o veio para a esquerda, mereceu o mesmo tratamento. Pena é que ele quase não participe nas acções ofensivas, mas sendo um central de raíz, isto compreende-se.

Que o Barcelona no papel é melhor que nós, e tem diversos jogadores capazes de decidir um jogo, isso não duvido. Mas não me venham dizer que o desfecho da eliminatória está decidido. 0-0 é um resultado traiçoeiro, e se daqui a uma semana estivermos inspirados, não cometermos os mesmos erros da primeira parte de hoje, e os Deuses voltarem a sorrir-nos, uma grande surpresa é possível. Eu acredito.

terça-feira, março 28, 2006

Nervoso

Já faltam poucas horas para o jogo. E já estou tomado daquele nervoso miudinho habitual antes de um jogo importante do Benfica. Aliás, já me sinto assim há mais de uma semana, de cada vez que penso no jogo. A diferença é que neste momento não consigo parar de pensar no jogo. Vai ser a terceira vez que vou ver o Barcelona ao vivo, a segunda contra o Benfica. O mês passado, naquela que foi a segunda vez, vi-os perderem em Camp Nou contra o At.Madrid. E ainda me recordo bem da primeira vez, há quase quinze anos. Foi na primeira edição da Champions League, em que depois da gloriosa jornada de Highbury os apanhámos num grupo com o Dínamo Kiev e o Sparta de Praga. Eles vieram à Luz e empatámos 0-0, num jogo em que o Eriksson colocou o Vítor Paneira a lateral direito (era uma teima do Eriksson, que dizia que se o Paneira quisesse, poderia ser um dos melhores laterais direitos da Europa) e passámos o tempo todo com a respiração suspensa sempre que o Stoichkov apanhava a bola e subia pela esquerda do ataque. Nessa equipa do Barcelona jogava também o nosso actual treinador. Depois na segunda volta, já na última jornada, fomos jogar a Barcelona e necessitávamos de ganhar para irmos à final. Ganhou o Barcelona 2-1 (numa noite em que o Stoichkov praticamente selou o fim da carreira do lateral direito José Carlos no Benfica) e acabou por ser campeão europeu pela primeira e única vez na sua história.

Los van a meter siete esta noche! Estas foram as primeiras palavras que ouvi esta manhã ao telefone, quando atendi uma chamada de um colega de trabalho de Barcelona. Este meu colega por acaso não é adepto do Barcelona, nem sequer gosta muito de futebol, e só disse isto por brincadeira. Mas como já lá estive a trabalhar com ele diversas vezes, sei que está rodeado de culés, e o que me disse não passa de uma expressão da sobranceria que reina entre os adeptos do Barcelona. De alguma forma, sempre que este tipo de atitude reina entre os adeptos adversários, a minha confiança aumenta. Eu por mais confiante que esteja na minha equipa, e por mais favorito que seja o Benfica no papel, nunca consigo deixar de respeitar o adversário, e pensar que no futebol as surpresas acontecem, e muito mais frequentemente do que se pensa. Por isso, regra geral, até gosto quando o Benfica, para variar, assume o papel de claro underdog. É que assim não temos nada a perder. Ser derrotado pela equipa que porventura jogará o melhor futebol da actualidade, e onde alinham o melhor jogador do mundo e aquele que é provavelmente o segundo melhor jogador do mundo não é vergonha nenhuma, desde que os nossos jogadores deixem tudo dentro do campo. É isso que os benfiquistas sobretudo esperam: que a atitude dos jogadores que envergam a gloriosa camisola vermelha nos deixe orgulhosos. Sobretudo, que mostrem que merecemos respeito. E é precisamente uma grande falta de respeito que me parece que os adeptos e principalmente a imprensa catalã têm mostrado para com o Benfica (embora isto seja prática comum em relação a toda a e qualquer equipa que jogue contra o Barcelona). Pode ser que no final tenham que engolir em seco. Eu sou benfiquista, logo eu acredito. Se os 65.000 nas bancadas se juntarem aos onze dentro do campo e fizermos a mística aparecer mais uma vez, a surpresa com que sonhamos é possível. Que esta noite, como nunca, a nossa divisa seja mais uma vez uma verdade incontestável: et pluribus unum! Força Benfica!

segunda-feira, março 27, 2006

Terceiro

Bem, já estava na altura. Depois do sucesso dos dois primeiros jantares de bloguiquistas chegou o momento de organizar a terceira edição do mesmo. A data escolhida é dia 8 de Abril (o Benfica só joga no dia seguinte, em que recebe o Marítimo), pelas 20h. O local será a nossa casa habitual, a Catedral da Cerveja, e como sempre deverão contactar o S.L.B. para confirmarem a vossa presença, o que poderão fazer para o seguinte endereço electrónico: naosemencioneoexcremento@hotmail.com.

Eu sei que desta vez estamos a avisar um bocadinho mais em cima, mas espero poder contar com ainda mais presenças do que na última edição, para que possamos passar mais um serão em conversas intermináveis (e consequentemente sermos enxotados para fora do restaurante para que possam fechar a loja, e depois enxotados para fora do estádio para que o possam fechar - com sorte desta vez não chove).

domingo, março 26, 2006

Calmo

Ainda bem que os nossos jogadores não abordaram o jogo contra o Braga com a cabeça já no jogo com o Barcelona. Ainda bem que o nosso treinador fez questão de enfatizar isto, ao afirmar antes do jogo que este era por agora mais importante do que o jogo de terça-feira. Agora estou é a tentar perceber porque é que ele diz isto e depois poupa o Geovanni, o Nélson, ou o Petit. E os jogadores entram em regime de poupança aos 20 minutos de jogo. Enfim, incongruências. Mas ainda bem que tudo correu bem, e ganhámos o jogo sem que tivesse sido necessário jogar a um ritmo muito elevado.

Em termos tácticos o Benfica não costuma surpreender muito, pois aparece sempre no habitual 4-2-3-1 com tendência para 4-3-3 quando tem a posse de bola. Este ano a incógnita é saber que jogadores serão os escolhidos pelo treinador para interpretarem esta táctica. Hoje coube ao pau para toda a obra chamado Ricardo Rocha jogar a lateral direito (diga-se de passagem que, tendo em conta que ele é dextro, até faz mais sentido que ele seja adaptado a esta posição do que a lateral esquerdo) de forma a poupar o Nélson para terça-feira (isto sou eu a especular - na volta, e dado que o Ricardo Rocha não jogou nada mal, na terça-feira chego à Luz e ele aparece a titular). Mais para a frente, o Robert regressou à equipa, jogando de início do lado esquerdo e passando o Simão para a direita, e o Manduca foi o apoio directo ao ponta-de-lança Nuno Gomes. Quanto ao Braga, gostei da atitude com que abordaram o jogo. Claro que a forma como o jogo decorreu poderá ter condicionado essa mesma atitude, mas de qualquer forma gostei de ver o Jesualdo Ferreira ter um onze inicial disposto em 4-3-3, com Wender, Delibasic e João Tomás ne frente. Ele afirmou antes do jogo que vinha à Luz para ganhar, e pelo menos a equipa que apresentou estava coerente com essas afirmações.

O Benfica entrou muito bem no jogo. Ainda não tinha decorrido o primeiro minuto de jogo e já tinha construido uma boa jogada, que terminou com um remate torto do Manduca. E no minuto seguinte marcámos, quando o Nuno Gomes se antecipou ao defesa após um centro da esquerda do Robert, tendo a bola ainda tocado no defesa bracarense. Era difícil começar melhor: um golo logo a abrir num jogo que se previa complicado, contra uma das boas equipas do campeonato era o melhor motivo para dar tranquilidade à equipa, de forma a fazer um ideal jogo tranquilo antes da recepção ao Barcelona. E o Benfica continuou a jogar bem depois do golo. A equipa exercia uma pressão imediata sobre o portador da bola, o meio-campo parecia controlar as operações, e a mobilidade dos homens da frente estava a dar muito trabalho aos bracarenses, que só ao fim de um quarto-de-hora conseguiram aproximar-se da nossa baliza. Só que a vontade do Benfica em jogar um futebol corrido e alegre acabou precisamente pouco depois desse quarto-de-hora. A partir daí o Braga começou a conseguir ter a bola nos pés um pouco mais, e o Benfica pareceu assumir uma atitude de expectativa. Mas diga-se que nunca me pareceu que o Benfica tivesse perdido o controlo do jogo: o Braga fez apenas um remate à baliza do Benfica, da autoria do João Tomá. De resto, tentava aproveitar livres no meio-campo do Benfica para despejar a bola para a área - e teve muitos durante o jogo, já que, por exemplo, de cada vez que o Anderson disputava uma bola pelo ar com o Delibasic o resultado era um livre a favor do Braga. Assim sendo o intervalo chegou sem grandes sobressaltos, deixando-me com a nítida sensação que a partir dos quinze minutos de jogo a cabeça dos jogadores passou a estar na próxima terça-feira.

A segunda parte trouxe um Braga que parecia decidido a marcar, mas mais uma vez me pareceu que o Benfica nunca deixou de ter o jogo controlado. Tal como na primeira parte, houve apenas um remate deles à baliza, feito pelo inevitável João Tomás. A exemplo dos últimos jogos, o Karagounis entrou a meia-hora do final, e mais uma vez me pareceu que o jogo do Benfica ganhou outra estabilidade com o grego em campo. O Jesualdo respondeu com duas substituições, que tacticamente me pareceram ter o objectivo de manter os três avançados, encostando o Davide à direita para travar as subidas do Léo, e dando mais liberdade de movimentos ao Wender. Um dos jogadores que entrou no Braga foi o coreano Kim, que para minha grande pena não foi jogar para a esquerda do ataque. É que eu estava cheio de vontade de ver no relvado da Luz a reedição de uma rivalidade mítica da minha infância: Rocha vs. Chinês. Apesar da vantagem ser magra, conforme já disse o resultado nunca pareceu estar em perigo, tanto que até deu para o Koeman poupar o Petit aos últimos vinte minutos da partida. E um minuto depois dele sair o Braga ficou reduzido a dez, tendo praticamente acabado aí. A curiosidade era saber se o Benfica conseguiria ou não marcar mais um golo, mas de facto a equipa nem sequer pareceu estar muito para aí virada. Foi deixando o jogo correr, e se o golo surgisse, melhor, senão, a vitória não parecia estar em causa. Pareceu sempre estar o Benfica mais perto do segundo golo do que o Braga do empate. Ficou 1-0, e parece-me que o resultado é justo, pois o Benfica foi nitidamente a melhor equipa em campo. Fiquei um pouco surpreendido pela negativa com o Braga, pois tendo em conta o que têm feito neste campeonato estava à espera de mais da parte deles.

Gostei muito de ver o Manuel Fernandes hoje. Já teve aquele raio de acção a que estamos habituados, a recuperar bolas na defesa e a apoiar o ataque, e teve aquelas jogadas típicas em que quando perde a bola vai atrás do adversário até a recuperar. Dizer que o Léo jogou bem já começa a ser redundância. Basta dizer que ele jogou, e o resto assume-se por defeito. O Ricardo Rocha também esteve seguro na sua nova posição, e o Nuno Gomes esteve um pouco melhor em relação aos últimos jogos. O golo deve ter-lhe feito bem, mas parece-me que ele continua a revelar alguma falta de confiança. Não gostei muito do Anderson hoje, apenas por um aspecto: fez inúmeras faltas (embora algumas me tenham parecido mal assinaladas, mas se ele já tinha feito tantas anteriormente é natural que o árbitro comece a ter tendência para pensar que é sempre falta). Se ele já tinha visto que o árbitro lhe assinalava sempre falta devido à forma como utilizava os braços quando disputava lances aéreos, devia ter alterado a forma como entrava a estas bolas. O Moretto esteve bem nos dois remates em que foi chamado a intervir, mas mais uma vez pode-se apontar-lhe o dedo nas saídas aos cruzamentos, onde continua a revelar insegurança.

Enfim, um adversário difícil ultrapassado sem sobressaltos, e agora sim, podemos começar a pensar no Barcelona. Bem, não é que eu ache que os benfiquistas (jogadores incluidos) não andassem já a pensar nesse jogo, mas pelo menos agora podem(os) assumi-lo abertamente.

segunda-feira, março 20, 2006

Uff!

O Benfica escapou hoje por muito pouco a mais uma escorregadela no campeonato, com um golo marcado nos descontos e que pôs fim a três horas e meia de 'seca' do nosso ataque.

E hoje ficaríamos outra vez com aquele sabor a frustração se não ganhássemos o jogo. Porque o Benfica apresentou um futebol agradável, dominou a partida praticamente do primeiro ao último minuto, criou diversas oportunidades de golo, mas acabou por faltar sempre a serenidade necessária para meter a bola dentro da baliza. As constantes mudanças de posição dos nossos jogadores mais adiantados pareciam baralhar as marcações aos homens do Rio Ave, e sempre que a equipa acelerava um pouco mais as trocas de bola normalmente conseguia-se isolar um jogador. O Simão esteve em particular destaque neste aspecto, mas esteve muito infeliz na finalização, falhando alguma oportunidades de golo escandalosas. No meio-campo o Petit e o Manuel Fernandes conseguiram dominar, recuperando inúmeras bolas e empurrando a equipa para o ataque, fazendo com que o jogo se desenrolasse quase sempre dentro do meio-campo do Rio Ave, que tentava surpreender em contra-ataque. Gostei da pressão que o Benfica fez para recuperar a bola sempre que a perdia.

Na segunda parte o domínio do Benfica foi ainda mais evidente, mas o golo é que não chegava. Quando vi o Simão atirar aquela bola à barra pensei que seria mais um daqueles jogos em que poderíamos estar ali toda a noite que a bola não ia entrar. O nosso treinador foi dando um cariz cada vez mais ofensivo à equipa, com as entradas sucessivas do Robert, Karagounis e Mantorras, mas nada de golo. E perto do fim, quase que assistimos a mais uma repetição do filme que já conhecemos, quando o Rio Ave conseguiu marcar, só que o auxiliar invalidou o lance por considerar que a bola tinha sido centrada já fora do campo. Ele seria a pessoa melhor posicionada para julgar o lance, mas a minha sincera opinião é que, apesar de não ser possível ver bem a bola, dada a posição do jogador do Rio Ave quando toca na bola parece-me difícil que esta tivesse ultrapassado totalmente a linha de fundo. Não foi assim que decidiu o auxiliar, e assim fomos poupados a uma injustiça ainda maior do que o empate. E quando eu já pouco esperava, o Mantorras acabou por marcar num pontapé meio esquisito a centro do Simão.

Há algo de justiça poética no facto de ter sido o Mantorras a decidir o jogo. Após a chegada do Marcel, o Koeman praticamente votou o Mantorras ao esquecimento, em detrimento do avançado brasileiro. Na jornada passada o Marcel teve, mesmo a finalizar a partida, a oportunidade de nos dar a vitória, e falhou escandalosamente. Desta vez o Mantorras teve a mesma oportunidade, e não falhou. É verdade que o Mantorras anda um bocado trapalhão (se bem que pior do que o Nuno Gomes tem andado a fazer nos últimos jogos é difícil), mas é para mim um jogador muito importante no Benfica. Quanto mais não seja pela injecção de moral que ele parece dar à equipa e aos adeptos cada vez que entra em campo, devido à alegria que tem em jogar. O Marcel por outro lado parece que já entra a dormir. Espero que depois deste golo o Koeman dê mais oportunidades ao Mantorras. Por algum motivo os adeptos benfiquistas têm tanto carinho por ele, e o Marcel ainda não mostrou absolutamente nada desde que chegou à Luz.

Já quase que não é necessário mencionar o bom jogo do Léo, sobretudo no plano ofensivo, já que defensivamente não houve muito trabalho, tal é a regularidade com que isto acontece. O Petit como sempre não esteve mal, e o Simão esteve muito activo, só foi pena ter estado tão desastrado na finalização. No geral até gostei da qualidade de jogo apresentada esta noite, apesar dos nervos que a falta de concretização me deu. Na próxima jornada vamos ter um jogo bastante importante, contra o Sp.Braga, que está apenas a dois pontos, e esta vitória pode permitir que a equipa ganhe confiança. É que logo a seguir ao Braga vem o Barcelona. Mas ao menos para esses dois jogos já devemos ter o Miccoli. E contra o Barcelona de certeza que o Nuno Gomes não joga ;)

sábado, março 18, 2006

Contas

O Benfica apresentou ontem o Relatório e Contas Semestral Consolidado do Grupo Benfica (não apenas da SAD do Futebol). São aquelas contas que, como o meu bom amigo Harry Lime gosta muito de teimar comigo, são secretas, e de que nenhum benfiquista tem conhecimento, porque só o LFV é que sabe o que se passa nas contas do Benfica, mantendo os benfiquistas nas trevas enquanto nos engana a todos a seu bel-prazer e vai fazendo contabilidade de mercearia. Se calhar os resultados ajudarão a perceber porque razão a maioria dos benfiquistas confia nesta direcção e no seu trabalho. Aliás, nos últimos tempos tem-me surpreendido particularmente o desaparecimento da 'oposição' benfiquista. Sobretudo porque há alguma personagens que costumam gostar de aparecer nos maus momentos do futebol, e por enquanto nem vê-los.

Em relação às contas, apraz-me registar os resultados positivos, com a consequente redução do passivo, e em particular enche-me de orgulho a frase "O Benfica tem, à data de hoje, 148.350 sócios, constituindo este património um dos maiores activos do Clube." Depois os outros que gozem com o LFV e o projecto do kit.

P.S.- Já agora, ainda no que diz respeito às nossas contas, é por causa de posts como este (no seguimento de um post anterior (A Avestruz) acerca de certas insinuações lançadas sobre o nosso passivo) do sempre grande Gwaihir que não dispenso a visita regular ao Ninho das Águias. Mesmo sendo um post sobre finanças (tema que nunca me agradou particularmente) conseguiu deixar-me a rir. Beber do benfiquismo recalcitrante do Gwaihir é uma renovação do meu próprio benfiquismo :)

quinta-feira, março 16, 2006

Adeus

Foi um triste adeus à Taça de Portugal. São estes os jogos que mais me irritam. São jogos em que uma equipa vem jogar para o empate quando o empate não serve para nada (por isso se calhar estão a jogar para os penalties), fazem o jogo típico do mete-nojo, queimam tempo em cada reposição de bola, simulam lesões atrás de lesões, fazem faltas atrás de faltas, têm um guarda-redes em noite inacreditavelmente inspirada, e depois no primeiro e praticamente único remate que fazem à baliza marcam um golo. No fim são recompensadas com uma vitória. E para doer mais ainda, o golo deles é marcado num lance ilegal.

Detesto ir ver jogos da Taça à Luz, porque o último piso está sempre fechado, o que me impede de ir para o meu cativo e me obriga a ver os jogos quase ao nível do relvado. Não consigo ver jogos decentemente nessa posição, e os jogadores parecem sempre estar todos uns em cima dos outros. Pelo que me apercebi, e apesar das ausências, o Benfica não mudou nada em termos tácticos, apresentando o habitual 4-2-3-1, mais uma vez com o Nuno Gomes isolado na frente, contado com o apoio do Karagounis nas costas, o Geovanni na direita e o Manduca na esquerda. Este último foi, durante a primeira parte, o jogador que se revelou mais empreendedor, embora tenha estado mal nos cruzamentos, pois dispôs de algumas oportunidades para centrar a bola à vontade e fê-lo sempre mal. A qualidade de jogo do Benfica, a exemplo do que tem acontecido frequentemente nos últimos tempos (exceptuando o jogo de Liverpool) deixava muito a desejar, pois o nosso futebol parece ser sempre muito previsível. E conforme disse, o Guimarães acabou por marcar pouco depois dos vinte minutos, praticamente na primeira vez que chegou à nossa área. Foi um livre na esquerda do ataque, longe da área, com a bola a ser leavantada para junto da pequena área, onde apareceu um jogador do Guimarães a tocar a bola com o braço para depois o Dário marcar. A única coisa que eu não compreendo é como é possível que estando eu do outro lado do campo consiga ver que o lance foi ilegal, e nenhum dos membros da equipa de arbitragem, mais perto e melhor colocados, consiga ver o mesmo. Enfim, já não basta estarmos a jogar mal, ainda temos que apanhar com árbitros incompetentes.

Infelizmente, e com tanto tempo para jogar, o jogo ficou decidido aqui. O Benfica não jogava bem, mas ainda assim ia criando algumas boas oportunidades, que foram sempre sendo negadas pelo inspiradíssimo (e simulador de lesões) guarda-redes vimaranense. Na segunda parte o nosso treinador lançou mesmo o Petit e o Mantorras em jogo, e o Benfica passou a pressionar mais, tendo o Petit estado muito perto do golo, negado por mais uma grande defesa. A cerca de vinte minutos do final o Cléber foi expulso (num lance em que me pareceu - ainda não vi nenhuma repetição - que o Petit enganou o árbitro, pois agarrou-se à cara e a mim pareceu-me que ele foi atingido pelo braço do jogador do Guimarães na zona do peito, num lance em que ele abriu os braços para proteger a bola) e aí o Guimarães, tal como a Naval no fim-de-semana, deixou de passar do meio-campo. Mesmo assim o Benfica foi incapaz de marcar, o que é preocupante: no conjunto dos dois jogos, em cerca de uma hora a jogar contra 10 adversários o Benfica foi incapaz de marcar um golo que fosse.

Não tenho muito mais para dizer sobre o jogo. Nem sequer quem foram os melhores ou piores do Benfica. Para mim foram todos maus. Passei a maior parte do jogo demasiado irritado para o poder apreciar. Com o lugar onde estava sentado, com o antijogo do Guimarães, com o mau futebol do Benfica, com o guarda-redes adversário abençoado, com o espalhafato do Vítor Pontes no banco, que choramingava com cada decisão de arbitragem favorável ao Benfica (do golo irregular não se queixou ele), com a inoperância dos nossos avançados (porque é que o Miccoli tem que estar sempre lesionado?). Enfim, foi uma noite para esquecer. Irrita-me perder com um golo tão flagrantemente ilegal, mas a verdade é que não me esqueço que o grande culpado da derrota é o próprio Benfica. Já provámos esta época que conseguimos vencer mesmo contra decisões erradas de árbitros, e hoje deveria ter sido assim. Se as coisas não mudam depressa, o Benfica arrisca-se a fazer uma das piores épocas de sempre no campeonato. A equipa está a jogar completamente desgarrada e desorganizada em campo, parecendo que não tem um objectivo concreto quando tem a bola nos pés.

segunda-feira, março 13, 2006

Naufrágio

Devemos esta noite ter dito adeus às já ténues esperanças de revalidação do título. Sete e cinco pontos já são uma desvantagem considerável para recuperar nas jornadas que faltam, ainda para mais quando já não jogamos com nenhuma dessas equipas. Mas uma equipa que se revela incapaz de vencer em casa, apoiada por quase 50.000 espectadores, uma Naval reduzida a dez jogadores durante cerca de quarenta minutos só se pode queixar de si própria.

Mais uma vez voltámos a dar praticamente uma parte de avanço ao adversário. A primeira parte do Benfica foi demasiado fraca. O domínio do jogo foi total, até porque a Naval nunca pareceu estar interessada em mais do que manter o nulo, mas o que se via era uma parcimónia exasperante em termos de remates. Toda a gente parecia ter medo de assumir a responsabilidade de rematar à baliza adversária.
Eu ainda a seguir ao jogo de Liverpool tinha expressado o meu desejo que o Miccoli não se lesionasse mais, porque o considero importantíssimo. E precisamente porque é dos jogadores que menos hesita na hora de rematar. Basta que tenha uma oportunidade que o faz de primeira, se for preciso. Comparando com o que o Nuno Gomes tem andado a fazer ultimamente, que normalmente se receber a bola de frente para a baliza volta-se de costas, pisa a bola, faz um número de sapateado sobre a bola, deixa-se rodear por três defesas, e finalmente perde a bola, a diferença é abissal. Oportunidades de golo durante os primeiros quarenta e cinco minutos apenas duas: um remate do Simão à malha lateral, e um livre do Robert que passou muito perto do poste. Muito pouco para quem quer ganhar um jogo.

Na segunda parte entrámos mais decididos, e ainda antes dos dez minutos o adversário teve um jogador expulso por cortar com a mão um lance em que o Nuno Gomes se isolava. A partir daqui a história do jogo pode escrever-se numa simples expressão: massacre inconsequente. A Naval praticamente deixou de passar do meio-campo, e o Benfica carregou o mais que pôde, revelando no entanto sempre falta de arte para marcar um golo. O falhanço do Anderson, em que após a bola bater no poste num livre do Simão, ele conseguiu, a poucos metros da linha de golo e sem estar pressionado, não acertar na baliza deserta é o exemplo mais flagrante da inépcia benfiquista. Passámos quarenta minutos a assistir ao jogo a desenrolar-se em apenas um terço do campo, a maior parte das vezes com a bola a andar de um lado para o outro sem que ninguém se decidisse a rematar. Isto irritou-me sobretudo porque houve diversas ocasiões em que o Beto ou o Karagounis tiveram tempo suficiente para tentar rematar da zona central, onde dispunham de bastante espaço, e no entanto ou demoravam muito e quando o faziam os remates eram bloqueados, ou então lateralizavam o jogo com medo de rematarem. Além disso o jogo do Benfica foi um pouco coxo, já que 80% dos ataques se realizavam pelo lado esquerdo (muito por 'culpa' da acção do Léo), enquanto que o Nélson esteve várias vezes completamente sozinho do outro lado e nem sequer olhavam para lá. Quando o jogo chegou ao fim saí do estádio irritado como há muito não acontecia, porque acho inadmissível tanta falta de inspiração numa equipa.

O melhor do Benfica foi para mim, sem surpresas, o Léo. Ele foi o único jogador capaz de receber a bola na defesa e transportá-la para o ataque, e era por ali que nasciam quase todas as jogadas de ataque do Benfica. Mesmo um médio como o Karagounis, que deveria assumir essas funções, recebia a bola à entrada do meio-campo adversário, voltava-se para a esquerda, e metia a bola no Léo. Ninguém mais tem coragem de assumir a responsabilidade de partir para cima do adversário com a bola nos pés? Também achei que o Beto e o Simão estiveram em bom nível. Infeliz, por outro lado, esteve o Moretto (duas vezes foi chamado a intervir - sem grande dificuldade - e duas vezes teve erros estúpidos). O Nuno Gomes também não esteve nada bem, e o Marcel não acrescentou nada ao jogo. Ainda não provou nada, e neste momento só fico satisfeito por saber que está cá por empréstimo. Se não mostrar mais até ao final da época, bem o podemos recambiar para Coimbra. Aquele falhanço no último minuto de jogo é imperdoável. E quase me esquecia do Robert. É que ele esteve tão ausente do jogo que quase me esqueci que tinha jogado.

O Benfica perdeu assim dois pontos num jogo em que teve tudo a favor para ganhar. Só faltou inspiração para concretizar o domínio absoluto da partida, domínio esse que nem sequer foi preciso lutar muito para conquistar, já que a Naval no-lo entregou de mão beijada. Enfim, espero que consigam estar mais inspirados na próxima quarta-feira, quando jogarmos para a Taça.

sábado, março 11, 2006

Paixão

Voltei há pouco do Estádio da Luz, onde fui comprar o bilhete para o jogo da próxima Quarta-feira com o Guimarães. É nestas alturas que dou graças por ter um lugar cativo. É simplesmente impressionante o mar de gente que está por lá, em todas as bilheteiras. Isto é paixão clubística: disporem-se a passar praticamente um Sábado inteiro numa fila, na esperança de adquirirem um papelinho que lhes permitirá passar uma hora e meia a apoiarem o clube do coração. Palpita-me que amanhã já não haverá bilhetes.

Já passei algumas vezes por situações destas (particularmente logo a seguir à inauguração do novo estádio) e apesar de cansativa, até costuma ser uma experiência divertida. Há sempre conversas engraçadas com os amigos de ocasião que se fazem, e o tempo passa mais depressa quando toda a gente partilha da mesma paixão, e passa horas a falar do Benfica. Mais ou menos como quando os 'bloguiquistas' se encontram para jantar, e depois a conversa nunca mais acaba, mesmo quando somos corridos do restaurante e depois nos cai uma carga de água em cima enquanto continuamos a conversa na rua :)

sexta-feira, março 10, 2006

Barça

E o sorteio ditou o Barcelona. Deve ser provavelmente a equipa em melhor forma na Europa neste momento. Ainda assim, e na minha sincera opinião, seria pior se fosse uma das equipas italianas. Com o futebol cínico dos italianos de certeza que nos daríamos mal. Quanto ao Barcelona, que privilegia o futebol espectáculo e sem exageradas preocupações defensivas, ainda assim deixa-me sonhar um pouco. Até porque, conforme tive a oportunidade de ver o mês passado, o Barcelona não é imbatível. 'Basta' esperar que o Petit consiga anular o Ronaldinho que as nossas possibilidades aumentam exponencialmente ;)

De qualquer forma, os benfiquistas já conhecem o processo que se segue. Até à hora do jogo, o Barcelona é a melhor equipa do mundo, que nos vai humilhar. Se por acaso isto não acontecer, o Barcelona passará a ser 'o pior Barcelona desde a reconquista cristã'. Pelo menos vou ter a oportunidade de ver ao vivo o Ronaldinho. E vou pensar se não irei até ao Camp Nou outra vez.

quinta-feira, março 09, 2006

Glorioso

"E NINGUÉM PARA O BENFICA, NINGUÉM PÁRA O BENFICA, ALLEZ OH!"

Foi ao som deste cântico que terminou mais uma noite gloriosa do Benfica. E aliás, foi este o único som que se ouviu em Anfield Road durante largos períodos de tempo. Porque os nossos, no campo e nas bancadas, conseguiram gelar o inferno de Anfield, calar o Kop, e fazer ouvir bem alto o nome do Benfica.

Perante a ausência forçada do Petit, o nosso treinador optou por colocar o Geovanni no onze, recuando o Nuno Gomes para as suas costas. Isto pelo menos mostrava que não iríamos jogar para defender desesperadamente, pois estavam em campo pelo menos quatro jogadores de características marcadamente ofensivas. De resto, jogou a equipa mais ou menos esperada. Do lado do Liverpool duas ausências: Sami Hyypiä e John Arne Riise. Ao contrário do primeiro jogo, já alinharam de início o Crouch (ainda bem) e o Gerrard (ainda mal). Quando o jogo começou, naturalmente, estava a rezar para que o Benfica aguentasse os primeiros 15-20 minutos de jogo. Na minha cabeça lá achava que se ultrapassássemos esse período incólumes, as coisas seriam mais fáceis. E a verdade é que o Liverpool se atirou literalmente para cima de nós durante esse período. Não foi exactamente desde o primeiro minuto que isto aconteceu: para minha surpresa até me parecia que o Benfica estava a aguentar relativamente bem o período que eu temia que fosse dos mais críticos do jogo. Mas cerca dos 10 minutos de jogo o Nuno Gomes fez um passe absolutamente disparatado que resultou num remate ao poste por parte do Crouch. E isto pareceu acordar a equipa e o público do Liverpool, que então enviaram uma avalanche para cima de nós durante cerca de 20 minutos. Durante este período levámos com uma bola no poste, e vimos algumas situações de jogadores praticamente isolados que não deram golo ou por inépcia dos adversários (O Luis Garcia chutou para a bancada e o Crouch conseguiu acertar no Moretto) ou por intervenções in extremis dos nossos defesas ou guarda-redes, com particular destaque para o Anderson, que aparecia sempre no lugar certo e na altura certa.

Foi nesta altura que eu mais senti a falta do Petit, pois parecia-me que o Liverpool (muito por acção do Gerrard) estava a conseguir demasiadas situações em que os seus jogadores conseguiam receber e controlar a bola à entrada da nossa área, que é a zona habitual de caça do Petit. Por isso durante essa altura só cerrava os dentes e murmurava para mim mesmo 'Se o Petit ali estivesse isto não era assim'. A minha fé era mesmo que num contra-ataque conseguíssemos surpreendê-los, até porque o lado esquerdo da defesa deles (onde faltavam os dois habituais titulares) mostrava-se vulnerável. Até já tinhamos ameaçado, quando o Geovanni foi derrubado quando ia isolado para a baliza (seria lance para vermelho), mas o lance foi mal anulado por fora-de-jogo inexistente. Não são só os nossos assistentes que são incompetentes. Em Itália pelos vistos também os há. A avalanche ofensiva inglesa só começou a ser travada quando o Geovanni lhes pregou um valente susto, ao fazer um remate espectacular que bateu na barra quando eu já me tinha levantado do sofá para gritar golo (depois dei uma cabeçada no candeeiro - é um lustre pesadíssimo, de metal - quando imitei a recarga de cabeça do Simão, para o ajudar a ter mais força - isto resultou num chorrilho de impropérios pela dupla oportunidade falhada e pelo galo com que fiquei). À medida que o tempo passava a minha confiança aumentava, e este lance foi para mim o momento de viragem. Acreditei mesmo que iríamos acabar por marcar.

E não foi preciso esperar muito tempo mais. Cinco minutos depois o Geovanni insistiu e pressionou o Carragher, obrigando-o a perder a bola em zona defensiva. Após um corte de um defesa esta seguiu para o Nuno Gomes, que a passou para o Simão. Quando a bola chegou aos pés do Simão eu ouvi uma barulheira em toda a vizinhança: 'GOLO!!!'. Eu explico: é que eu estava a ver o jogo na SportTV. Normalmente vejo os jogos sem som, mas hoje eu não quis privar-me de ouvir os cânticos dos nossos adeptos em Anfield, como me aconteceu quando o Benfica jogou em Old Trafford. Por isso resolvi ver o jogo com som. Mas perante a eventual perspectiva de um serão futebolístico na companhia do Paulo Catarro e do Gabriel Alves, optei por ver o jogo na SportTV, onde era transmitido apenas no seviço multijogos, e como tal apenas com um comentador mais discreto. Só que existe um delay de dois ou três segundos entre as imagens neste serviço digital e as da RTP, por isso quando para mim a bola chegou aos pés do Simão já para muita gente ela estava a caminho da baliza. Assim sendo, os dois ou três segundos a seguir à chegada da bola aos pés do Simão foram saboreados com a antecipação e a certeza do que iria ver a seguir. E a seguir vi o golão do Simão, e festejei-o como se não soubesse já que iria ser golo (tendo no entanto o cuidado de evitar o candeeiro enquanto pulava pela sala).

E a partir daqui não me sentei mais. Olhei para o tempo de jogo: 36 minutos. 'É importante chegarmos ao intervalo a ganhar' - pensei. Mas nove minutos é muito tempo, por isso o melhor é dividir isto por intervalos. Portanto pus-me às voltas em frente à televisão, na esperança que o Benfica aguentasse até aos 40 minutos. OK, foi fácil. Agora só mais cinco minutos para o intervalo. Já não foi tão fácil. O Beto ia marcando um 'autogolaço' quando rematou de primeira na direcção da própria baliza numa tentativa de ceder canto. Apanhei o meu reflexo de relance no espelho da parede: estava exangue. Depois levámos com uma bola no poste. Já era a segunda do jogo; hoje os Deuses estavam connosco.

Segunda parte sem alterações de um lado e de outro. Para mim era como se tivesse voltado tudo ao início: estava convencido que não podíamos sofrer golos no primeiro quarto de hora, caso contrário eles dariam a volta ao resultado. Pela cabeça passavam-me imagens aterrorizantes da final da Champions League do ano passado, ou do jogo em que o Liverpool recebeu o Olympiakos e também marcou três golos num curto espaço de tempo. Mais uma vez, fui contando o tempo em intervalos de cinco minutos, soltando um suspiro de alívio de cada vez que uma dessas mini-barreiras era ultrapassada. Mas na verdade a pressão do Liverpool nunca atingiu os níveis daqueles vinte minutos terríveis da primeira parte. A defesa do Benfica esteve perfeita. Aliás, toda a equipa esteve tacticamente muito bem, e comecei até a pensar que à medida que o tempo fosse passando poderíamos voltar a marcar. Além disso os próprios jogadores do Liverpool pareciam descrentes. Exceptuando os momentos em que o Gerrard conduzia a bola (o jogo do Liverpool ganha outra velocidade e objectividade quando a bola lhe chega aos pés), a maior parte do jogo deles consistia em despejar bolas para a girafa do Crouch, que embora conseguisse ganhar várias bolas nas alturas, raramente lhes dava alguma sequência perigosa.

O Koeman fez a substituição esperada, ao fazer entrar o Karagounis para o lugar do Geovanni (ainda não me parece estar fisicamente em pleno), e o Rafa Benitez fez o disparate do costume ao fazer entrar o Cissé para extremo direito. Eu sei que o espanhol não gosta do Cissé e foi obrigado a gramar com ele, mas é quase criminoso ver um jogador daqueles ser queimado assim. Mas melhor para nós, porque a verdade é que o Cissé não deu uma para a caixa desde que entrou. E à medida que o 'chuveirinho' inglês aumentava, entrou também o Ricardo Rocha para ajudar a anular este eventual perigo, e a verdade é que apesar do Liverpool jogar os últimos 20 minutos quase numa espécie de 3-3-4 ao estilo da asneirada do Adriaanse da penúltima jornada (o Xabi Alonso juntou-se aos dois centrais para formar o trio defensivo), também de uma forma muito semelhante ao que se passou no jogo com o FC Porto eles já não conseguiam criar muitas situações de real perigo. Lembro-me apenas de uma jogada excelente do Gerrard (claro...) em que ele ficou isolado mas tentou colocar tanto a bola que esta foi ao lado. Houve também uma situação em que a bola chegou a entrar na baliza após o que teria sido um erro horrível do Moretto na sequência de um canto, mas felizmente a bola tinha saído durante a trajectória que descreveu até chegar à área. De qualquer forma, eu continuava a controlar os meus intervalinhos de cinco minutos, convencido que se o Benfica não sofresse nenhum golo entre os 80 e os 85 minutos de jogo, tudo correria bem.

E para fechar em beleza, o golpe de misericórdia no último minuto, quando na sequência de um contra-ataque o Beto chutou a bola na direcção da bandeirola de canto, mas o Miccoli conseguiu interceptá-la e marcar mais um grande golo. Mais uma vez devido ao delay o lance teve o seu quê de surreal. Eu vejo o Beto receber a bola, e num reflexo pavloviano penso que o lance está perdido. Mas no instante em que o Beto remata para a bandeirola de canto ouço o meu vizinho do lado gritar 'GOLO!'. Espera lá... o meu vizinho do lado?!? O mais fervoroso antibenfiquista que conheço? O gajo que quando o Benfica sofre golos chega a ir para a janela urrar à lua de satisfação? Mas a bola está na área do Liverpool, portanto ou o delay aumentou drasticamente, e na verdade a bola já teve tempo de viajar até á nossa área, ou então o homem gritou mesmo um golo do Benfica. Quando vi a bola dentro da baliza consegui afastar esta sensação de estar por momentos na Twilight Zone e celebrei o golo, a vitória no jogo, e na eliminatória (mais uma vez evitando cuidadosamente o lustre). Confesso que ando felicíssimo com o regresso do Miccoli à equipa e aos golos. Espero que ele não seja mais atormentado por lesões até ao final da época, porque considero-o um dos nossos jogadores mais importantes. Bonito também foi ver a reacção do público de Anfield a seguir ao nosso golo: entoaram cânticos de apoio à sua equipa, e aplaudiram-nos no final, que chegou pouco depois, ao som de 'ninguém pára o Benfica'.

Numa noite em que a equipa esteve brilhante num todo, seria injusto estar a destacar alguns jogadores, ou a apontar o dedo a algum que tivesse estado menos bem. Menciono apenas o regresso do nosso capitão às boas exibições. Marcou um grande golo, foi quase sempre uma dor de cabeça para os ingleses, e ajudou muito a defesa, em particular durante a tal fase da avalanche ofensiva. OK, não resisto a mencionar o grande jogo que fizeram os nossos defesas. E o enorme Manuel Fernandes. E até o Beto parecia um grande jogador quando não inventava. Que se lixe, eles jogaram todos bem, e pronto. Nesta época de altos e baixos, a equipa parece estar agora novamente numa fase muito positiva. Lembro-me da grande exibição com que fomos brindados a seguir à vitória sobre o Man Utd, tendo na altura a vítima sido o Boavista. No próximo Domingo lá estarei na Luz para aplaudir os nossos heróis (para usar um termo do agrado do nosso presidente) e na expectativa de ver se a Naval vai levar com as consequências desta injecção de moral desta noite.

Quanto ao sorteio da próxima eliminatória, deixo apenas expresso o mesmo desejo que deixei antes dos outros sorteios: italianos não, por favor. Estou farto de ver o Benfica jogar bem contra eles e ser eliminado. Viram ontem como a Juventus eliminou o Werder Bremen? Aquilo seria uma eliminação típica do Benfica às mãos de italianos. Quanto aos outros, tanto faz. Mas que teria piada apanharmos o Arsenal, isso teria. Já eliminámos os segundo e terceiro classificados da Premier League, por isso se apanhássemos o quinto, não seria motivo de receio.

quarta-feira, março 08, 2006

Petit

O Petit lesionou-se e não joga (será alguma consequência da entrada que sofreu no fim-de-semana?). A minha confiança sofreu um rude golpe. O Petit tem sido um dos pilares da equipa esta época, sendo sempre um dos melhores jogadores da equipa jogo após jogo. Além disso quase todo o nosso jogo ofensivo começa nos pés dele. Ainda assim, mantenho a fé num bom resultado. O Benfica este ano tem sabido agigantar-se nas alturas de maior contrariedade.

Estou já com nervoso miudinho a pensar no jogo daqui a algumas horas. Antes da primeira mão sentia-me mais calmo. A vitória nesse jogo conseguiu aumentar a minha esperança, demonstrando que os actuais campeões europeus não são imbatíveis. Vai ser terrível o inferno que os nossos jogadores vão enfrentar logo em Anfield. Como sempre, e acima de tudo, espero apenas que me deixem orgulhoso, e que se mostrem dignos da camisola que envergam. E se não conseguirmos os nossos objectivos, que se veja que por eles lutaram até à exaustão, e derramaram até à ultima gota de suor sobre o relvado. Se cairem, que caiam de pé. Força Benfica!

sábado, março 04, 2006

Sofrível

Regresso às vitórias fora de casa numa exibição sofrível, sobretudo tendo em conta que voltámos, a exemplo do que já fizemos algumas vezes este ano, a dar uma parte de avanço aos adversários.

No nosso onze apenas uma alteração em relação ao último jogo: a saída (forçada) do Simão e a entrada do recuperado Geovanni. Em termos tácticos o nosso treinador voltou a optar, pelo menos durante a primeira fase do jogo, em sucessivas trocas entre os extremos. Depois, quando ficou mais ou menos estabelecido que o Robert ficaria na esquerda e o Geovanni na direita, este último raramente se fixava na ala, e passava o tempo a fugir para o centro do terreno, levando com ele o Amoreirinha. Isto deixava um buraco enorme do lado esquerdo da defesa do Estrela, que se poderia tentar explorar com subidas do nosso lateral direito (embora tendo em atenção que o Estrela, jogando sem pontas-de-lança, optava pelos rapidíssimos Semedo e Manu sempre sobre as alas). Só que isto não aconteceu, porque o Alcides (que até considero que jogou bem) não foi muito ofensivo durante a primeira parte. Gostava de saber porque é que o Koeman resolveu embirrar com o Nélson. Hoje pareceu-me que teria sido um jogo com as características ideais para ele.

O jogo durante a primeira parte foi extremamente mal jogado e aborrecido. Houve alturas em que quase adormeci. O Benfica jogava mal, e abusava dos lançamentos compridos para a frente. O Karagounis, que deveria transportar a bola e organizar o jogo ofensivo da equipa, aparecia muito recuado, quase encostado ao Petit e ao Manuel Fernandes. Oportunidades de golo quase nem vê-las, porque o Estrela limitava-se a cavar faltas para depois despejar a bola para a área do Benfica, e o Benfica nem sequer as criava. O único motivo para me manter desperto durante os primeiros quarenta e cinco minutos foi a minha irritação com diversas coisas: a má exibição do Benfica, a insistência do Petit em marcar livres, e mais uma excelente arbitragem 'à Costa' e respectiva incompetência dos árbitros auxiliares.
E nem sequer me estou a queixar especificamente do Benfica ser prejudicado: estou apenas a dizer que a arbitragem foi horrível. O Paulo Costa é um mau árbitro, sempre foi um mau árbitro, e há-de sempre ser um mau árbitro. Fico sempre mal disposto quando sei que ele vai arbitrar o Benfica. Agora ainda por cima temos que gramar com o clone dele, o irmão Rui Costa. Juntando-se a esses dois o António Costa, ficamos com um triunvirato de Costas, cada qual o pior.

À passagem da meia-hora de jogo, na sequência de um livre na zona lateral da nossa área, o Estrela acabou por chegar à vantagem. O livre foi marcado directamente, e o bluff (e cada vez estou mais convencido disto) que defende a nossa baliza deu um frango de todo o tamanho. E já agora aproveito para dizer que considero que o frango do Moretto hoje é muito mais indesculpável do que o do Baía a semana passada. O Moretto organizou mal a barreira, colocou-se mal, e reagiu mal. Tendo em conta a nossa produção até então, fiquei bastante apreensivo: ou algo mudava radicalmente, ou então seria mais uma derrota certa.

Na segunda parte, sem substituições, o nosso treinador baralhou e voltou a dar, redistribuindo os jogadores pelas diversas posições. O Geovanni fixou-se como ponta-de-lança, o Nuno Gomes recuou para as suas costas, o Robert foi para a direita, e o Karagounis para a esquerda, naquela que foi talvez a decisão mais estranha do Koeman, embora verdade seja dita que eu cheguei a ver o grego jogar numa posição semelhante pelo Inter. Felizmente foi cedo que chegámos ao empate, através de um remate de primeira do Laurent Robert à entrada da área, na sequência de um canto. Digo 'felizmente' porque até então o Benfica não parecia ter melhorado muito, e aliás continuou a demonstrá-lo nos minutos a seguir ao golo. As coisas só melhoraram um pouco a cerca de meia-hora do fim, quando entraram o Manduca e, sobretudo, o Miccoli. O italiano não se entrega à marcação, vagueia pelo ataque à procura da bola, e tenta rematar sempre que possível, pelo que veio criar muito mais dificuldades à defesa do Estrela. Para além disso parece-me que o Nuno Gomes e o Miccoli complementam-se bem. Depois, com o Manduca encostado à esquerda, o Benfica passou a poder jogar mais por essa ala, não ficando tão dependente do Léo para isso, já que o Karagounis enquanto actuou nessa posição passou o tempo a fugir para o centro.

Para ajudar-nos ainda mais, o treinador do Estrela resolveu retirar um dos médios para colocar finalmente um avançado centro. Este avançado centro (Bevacqua), que eu considero particularmente mau, teve um momento de glória que foi marcar dois golos ao Benfica pelo Braga, mas hoje foi perfeitamente anulado pelos nossos centrais, e tornou-se praticamente um jogador a menos. Entretanto com a saída do Jordão o Benfica ganhou definitivamente a luta no meio-campo, e sobretudo o Manuel Fernandes passou a poder soltar-se mais das tarefas defensivas e a aparecer mais próximo da área adversária. Apesar da nossa superioridade ser agora um pouco mais evidente, foi apenas depois da hora que marcámos o golo da vitória: um lançamento comprido do Robert, o Nuno Gomes amorteceu no peito, e o Miccoli rematou de primeira, beneficiando de um ressalto para marcar. Conseguimos assim escapar à tangente de perdermos mais pontos, e continuar numa onda positiva antes do jogo de Liverpool.

O Benfica hoje não esteve em bom nível. Ainda assim destacaram-se os do costume: Léo e Petit. Mas para além deles, achei que o Manuel Fernandes, a exemplo da semana passada, voltou a fazer um grande jogo. Este já se parece mais com o Manuel Fernandes que conhecemos da época passada, com um enorme raio de acção e sempre com um ritmo muito alto durante os noventa minutos. O Karagounis foi decepcionante, e o Robert, apesar de ter tido um papel importante na vitória, parece jogar a um ritmo demasiado pausado para aquilo que é o futebol português. O Moretto cada vez me convence menos. Para além do frango que deu, teve mais uma vez uma hesitação comprometedora na saída a um cruzamento, e ainda largou uma bola aparentemente fácil que só por sorte não teve consequências piores, já que o Manu quase marcava. Já agora, voltei a gostar de ver o Manu jogar. Espero é que não seja mais um daqueles casos de jogadores que depois se eclipsam quando chegam a um grande, porque ele pode ser útil na próxima época. Aliás, acho que para o jogo de quarta-feira gostaria de ter o Manu na equipa do Benfica.

Conseguimos ultrapassar o Braga nesta jornada, agora resta-nos esperar para ver o que farão os outros dois. Já não dependemos de nós, mas seria importante não perdermos mais pontos contra equipas de outro campeonato, como é o caso do Estrela e será o caso da Naval para a semana. É necessário é que os jogadores demonstrem atitude e vontade de ganhar, e que de maneira nenhuma joguem da forma como jogaram durante a primeira parte. Aquilo foi vergonhoso.