sexta-feira, abril 28, 2006

Douradinhos

Conforme já tinha dito em comentários anteriores, o assunto da recente absolvição de certas personagens em algumas das acusações do processo Apito Dourado é algo sobre o qual não tenho grande vontade de escrever. Porque tudo me irrita e enoja de sobremaneira, e é uma espécie de murro no estômago que me recorda o país da treta em que vivemos, infestado de caciquismo, tráfico de influências e corrupção.

Mas mais do que a absolvição, o que me irrita mesmo é a justificação para a mesma. Porque não me custaria nada ver alguém absolvido caso fosse provada a sua inocência com base em factos concretos. Agora usar como argumento para a não prossecução do processo algo tão subjectivo como 'O FC Porto de Mourinho não precisaria de favores da arbitragem para vencer o modesto Estrela da Amadora' é que eu não consigo engolir. E depois ainda me enerva mais a atitude do género quod erat demonstrandum com que alguns comentam esta decisão, como se o argumento em causa consistisse prova irrefutável de inocência. Artigos como o de Manuel Tavares n'O Jogo (surprise, surprise...) são exemplificativos deste tipo de atitude. Não interessa se houve algum acto esconso (provado) por parte do acusado. O que interessa é que pela lei das probabilidades o FC Porto não precisaria de um favor deste tipo, ergo não houve qualquer corrupção. Porque, como sabemos, os resultados finais dos jogos são sempre os previstos, e todas as semanas há milhões de portugueses a acertarem no Totobola. Haverá prova mais convincente que esta?

Seguindo esta mesma lógica de raciocínio, se eu for roubar para a FNAC e for apanhado em flagrante, então devo ser absolvido. É que tendo em conta todo o dinheiro que eu já lá gastei, não se perceberia a necessidade que eu teria em andar a roubar por lá.

Considerando que existem provas que pessoas ligadas ao FC Porto forneceram de facto as prostitutas ao trio de arbitragem do referido jogo, o que eu posso concluir então é que é perfeitamente normal um árbitro querer o serviço de prostitutas, e nesse caso recorrer aos préstimos do FC Porto para obtê-lo. Tudo normal. Aliás nem sequer convém perguntarmo-nos por que razão o árbitro sabia que podia recorrer ao FC Porto para lhe fornecerem esse serviço. Aquilo foi tudo espontâneo: o árbitro teve uma vontade súbita de estar com uma menina, num acto espontâneo lembrou-se que se calhar até podia pedir a pessoas ligadas ao FC Porto que lha arranjassem, e estas, apesar da surpresa de um pedido tão estranho por parte do árbitro, conseguiram num instante satisfazê-lo apesar de ser algo que nunca tinham feito antes. Tudo limpo, tudo às claras. Se calhar até foi um erro processual: o pedido de uma prostituta chegou ao FC Porto e foi processado de forma automática sem que dessem por isso. A exemplo do que aconteceu com uma conta relativa a umas certas férias no Brasil.

O artigo que referi contém uma parte que para mim foi a punch line perfeita para a anedota que este processo foi, uma autêntica estocada final que me dá a volta ao estômago:

"Porque pode não se gostar de Pinto da Costa, o que não se pode é negar que os títulos conquistados pelo FC Porto resultaram de mais trabalho e trabalho mais competente. Deste ponto de vista, o arquivamento também é uma boa notícia para o futebol português."

Considerando qual é o tipo de 'trabalho' mais competente em questão, se me dizem que isto foi uma boa notícia para o nosso futebol a minha resposta só pode ser: Vão gozar com outro.

terça-feira, abril 25, 2006

Rafeirices

Mas isto é surpresa para alguém? Nem percebo por que motivo fazem disto notícia. Num clube cujo presidente faz do insulto ao Benfica o pão nosso de cada dia há quase vinte e cinco anos (com o beneplácito dos nossos media, que se apressam a classificar as suas faltas de educação e insultos como 'ironia da mais fina espécie'), rodeados de adeptos que fazem do insulto ao Benfica a forma mais comum de celebrar cada golo que a sua equipa marca, e cada vitória conquistada, e depois ainda acham que os jogadores terem estas atitudes é motivo de notícia? Quando muito deveriam era elogiá-los por terem, de uma forma tão célere, assimilado o espírito do seu clube. É que é preciso não esquecer: eles não ganharam simplesmente o campeonato; eles ganharam o campeonato ao Benfica. E isso, em certas mentes tacanhas, faz uma diferença colossal.

segunda-feira, abril 24, 2006

Pena

Porque é que as primeiras partes do Benfica são tantas vezes tão piores do que as segundas? Hoje voltámos a apresentar um futebol muito mauzito na primeira parte, e uma melhoria significativa na segunda parte. Foi pena que não conseguíssemos matar o jogo, e que tão perto do fim acabássemos por deixar fugir a vitória.

Na defesa o Ricardo Rocha regressou à posição de lateral direito. No meio-campo, devido à indisponibilidade do Petit, sem surpresa foi o Beto o escolhido para ocupar o lugar dele. Na frente o Geovanni foi o escolhido para o lado direito do ataque, com o Manduca a ocupar a posição mais próxima do ponta-de-lança Miccoli. E foi de facto uma primeira parte fraca do Benfica. Muitos passes falhados, futebol muito lento e previsível, e apenas dois jogadores a merecerem destaque: Moretto e Miccoli. O primeiro impediu que o Nacional chegasse à vantagem, e o segundo parecia jogar a uma rotação mais elevada que os restantes colegas, e aquele com mais vontade de dar velocidade ao nosso jogo. De qualquer forma, e apesar do Nacional ter estado melhor, não surpreendeu o nulo ao intervalo, dado que o jogo estava a ser bastante fraco.

Na segunda parte o Benfica foi uma equipa diferente. Passou a pressionar muito mais o adversário (muito por culpa da subida de rendimento do Beto e do Manuel Fernandes), e chegou ao golo muito cedo, pelo jogador que mais merecia esse mesmo golo. Foi um bonito remate do Miccoli, que deixou sem reacção o guarda-redes do Nacional. E eu continuo na esperança que o Benfica decida abrir os cordões à bolsa, e gaste algum do dinheiro ganho na Champions este ano para garantir o concurso definitivo do nosso pequeno italiano. Jogadores com esta qualidade há muito poucos no nosso campeonato. Depois o Benfica continuou a controlar a partida, e desperdiçou oportunidades para sentenciá-la (a perdida do Manduca a menos de dois metros da linha de golo é imperdoável). O Nacional só voltou a aproximar-se mais da nossa baliza nos últimos cinco minutos, depois do Miccoli ser substituido, e acabou por chegar ao golo a partir de um canto, num lance em que me pareceu infantil a forma como a nossa defesa foi batida.

Para mim os melhores no Benfica foram o Moretto (hoje muito seguro a jogar com os pés) e o Miccoli. O Manuel Fernandes fez uma óptima segunda parte, e o próprio Beto também esteve em bom nível neste período. O Manduca é um retardado mental (ainda estou furioso com o falhanço dele, e também com a forma displicente como ele mete a cabeça à bola no último minuto, quando após um centro da esquerda ele apareceu sozinho ao segundo poste. Hoje gostei também de ver aquele que me parece ser o verdadeiro líder da equipa em campo envergar pela primeira vez a braçadeira de capitão. Pena que tenha borrado a pintura ao deixar-se antecipar no lance do golo adversário.

Espero que a lesão do Simão não seja grave. É que eu gostava que ele pudesse jogar na próxima jornada, em casa contra o Setúbal. Porque há grandes probabilidades que esse possa ser o último jogo do Simão na Luz com a nossa camisola (agora já começo a parecer aqueles jornalistas das televisões, que em Janeiro deste ano andaram o mês inteiro a apresentar resumos dos nossos jogos começando sempre com a frase de que aquele deveria ter sido o último jogo do Simão pelo Benfica...).

P.S.- Este foi um dos jogos que mais me custou ver nos últimos tempos. Para além do mau futebol da primeira parte, o sol baixo proporcionava uma péssima visão do jogo na televisão, dado que as câmaras naquele estádio também estão pouco acima do nível do relvado. Para piorar, em qualquer jogo no campo do Nacional é preciso gramar com a claque de megeras ululantes que eles têm, que faz uma chinfrineira infernal durante todo o jogo, e mais o gajo da sirene, que volta e meia se põe a apitar a torto e a direito (este gajo da sirene do Nacional está quase a atingir o patamar de irritação que me era proporcionado pelo corneteiro da Antas). Claro que a solução acabou por ser carregar no botão de mute.

quinta-feira, abril 20, 2006

O meu onze ideal (VI)

Após um interregno algo longo, resolvi regressar à tarefa da eleição do meu onze ideal, constituido por jogadores que eu tive a oportunidade de ver jogar no Benfica. Depois da defesa escolhida (Preud'Homme; Miguel, Mozer, Ricardo e Schwarz), chegou a vez do meio-campo.

Médio defensivo

Jonas Thern


Embora não me tenha sido difícil escolher o Thern, a verdade é que durante estes anos o Benfica teve vários jogadores de qualidade para esta posição. Nomes como o Paulo Sousa, Kulkov ou Tiago são apenas alguns dos que tivemos o prazer de ver jogar. Escolhi o Thern, embora na verdade seja um pouco redutor considerá-lo um simples médio defensivo. O Thern era um verdadeiro médio box-to-box, como agora tanto se gosta de dizer (como aliás também o é o Tiago, um dos jogadores de quem eu tenho saudades de ver no Benfica). Chegou ao Benfica na época de 1989/90, pela mão do Eriksson. Lembro-me de no princípio dessa época estar em Alvalade para assistir a um jogo do Benfica, sentado na antiga bancada nova (isto soa um bocado estranho), e de, antes do jogo, ouvir os adeptos adversários gozar com os suecos do Benfica (na altura eram ele e o Magnusson), que só jogavam porque o Eriksson era sueco, etc. Pouco depois do jogo começar, o Thern manda um estoiro do meio da rua que bateu na trave com tal força que se ouviu bem o ruído na bancada. Ninguém mais gozou com o Thern (o Benfica acabou por ganhar esse jogo por 1-0, com um golo do César Brito).

O remate forte era uma das características do Thern. Mas não só, ele era um jogador que tinha uma área de influência enorme. Sentia-se tanto à vontade a recuperar bolas à frente da defesa como mais à frente a organizar jogo e a lançar colegas no ataque, dado que tinha uma capacidade de passe acima da média. Para mim, era um jogador que me fazia logo sentir mais confiante mal ouvia o seu nome na constituição da equipa. Nesses tempos o que eu esperava para ouvir no onze inicial eram sobretudo três nomes: Ricardo, Thern e Valdo. Com eles em campo a minha confiança era inabalável. O Thern era também um jogador com um sangue frio impressionante. Raramente perdia a calma, e era um líder natural dentro do campo (o que aliás é demonstrado pela idade com que atingiu o estatuto de capitão da selecção sueca). Não me teria importado nada que ele tivesse sido um dos primeiros estrangeiros a capitanear o Benfica, mas essa honra recaiu sobre o Ricardo, e a seguir no Mozer (e com toda a justiça).

Saiu para Itália ao fim de três épocas, quando o Eriksson também para lá regressou. Andou por lá vários anos, no Napoli e na Roma. Para mim deixou um vazio no Benfica, e associo o seu nome a muitos dos bons momentos de futebol que o Benfica me proporcionou. Gostava de ter hoje um médio como ele para pôr ordem no nosso meio-campo.

sábado, abril 15, 2006

Borrego

Definitivamente, o nosso treinador é o homem com queda para matar borregos. Foi o Man Utd, o Liverpool, as Antas, agora o Bessa. Pena é que se saia mal nos encontros em que à partida somos muito favoritos.

Não posso falar sobre o jogo de hoje, porque estou no ALgarve e não tenho SportTV aqui, por isso não o vi. Gostava de saber porque razão o Ricardo Rocha nem sequer foi convocado, e estou curioso para saber como é que o Benfica se organizou depois da saída do Léo e da entrada do Beto, já que não havia qualquer defesa no banco. Fiquei contente por o Mantorras ter voltado a entrar e a marcar, porque acho sempre que ele merece a alegria dos golos. Foi o primeiro jogo do Benfica que perdi esta época, mas pelo menos acabou por ser uma jornada positiva, já que nos aproximámos do segundo lugar.


Uma boa Páscoa para todos!

quarta-feira, abril 12, 2006

Momento

Há momentos em jogos de futebol que, por uma razão ou outra, ficam para sempre guardados na minha memória. Seja uma jogada, um golo, ou algum pormenor caricato. A finta do JVP ao Vujacic no 6-3, o golo do Ricardo ao Dnepr, o perú levado pelos adeptos do Farense para o S.Luís depois do golo sofrido pelo Silvino frente à Bélgica, o soco do Bento ao Manuel Fernandes, tudo isto são imagens que nunca esquecerei. Este post fala sobre outro desses momentos, que me foi proporcionado pelo Isaías. O Isaías era um jogador que dava cabo de mim como adepto. Ele punha-me literalmente a arrancar cabelos, porque era capaz de ser completamente burro em campo, ignorando que tinha dois ou três colegas mais bem colocados e optando por um remate que acabava por matar alguns pombos, como dizia o Toni. Depois, no minuto seguinte, marcava um daqueles golos inesquecíveis e eu perdoava-lhe todas as asneiras que tinha feito.

O cenário é uma eliminatória da Taça de Portugal (oitavos-de-final) na época de 1992/93. No primeiro jogo o Benfica foi jogar às Antas. Foi um jogo terrível, em que o Kostadinov deu uma célebre 'peitada' no fiscal-de-linha que quase o atirou ao chão e nem sequer viu um amarelo, e o Mozer foi expulso sem que se percebesse muito bem porquê. Com o resultado de 1-0 a favor do FC Porto, no último minuto o Mostovoi, de livre directo, empatou o jogo (redimindo-se de um falhanço de baliza aberta também nas Antas umas semanas antes) e obrigou a uma segunda partida na Luz, já que no prolongamento não houve mais golos.

O segundo jogo disputou-se numa quarta-feira à tarde, dia de trabalho. Ainda assim, na Luz estavam quase 90.000 pessoas. Para motivar ainda mais os benfiquistas, nesse jogo foi apresentada a última contratação de Inverno: Paulo Futre. O Benfica tinha então aquele que provavelmente foi o melhor plantel que tive a oportunidade de ver na Luz. Um plantel com Mozer, Hélder, Schwarz, Veloso, Paulo Sousa, Vítor Paneira, Rui Costa, Futre, Mostovoi, Pacheco, Kulkov, Yuran, Rui Águas, Isaías, João Pinto...

Mas já estou a divagar. Este post era para falar de um momento específico desse jogo, e portanto vamos a isso. O resultado está em 0-0. O Isaías recebe a bola perto da área do FC Porto, e tem o Fernando Couto (na sua fase 'parto tudo o que me aparecer à frente porque sou muita mau', identificada pela guedelha) à sua frente. Eu estou à espera que ele lateralize a bola para um colega, ou então que tente um daqueles seus remates disparatados. Em vez disso, com um toque delicioso de pé direito parte completamente os rins ao Couto, entra na área, e de pé esquerdo fuzila o Baía. Nunca me esqueci daquela simples finta ao Fernando Couto. Sempre que penso no Isaías, e apesar dos muitos e espectaculares golos que ele marcou, a primeira imagem que me vem à cabeça é a daquela finta. O facto de um jogador tão bruto conseguir por vezes ter estes pormenores simplesmente mágicos era o que fazia do Isaías um jogador desconcertante.

Pois uma vez mais graças ao fantástico arquivo do S.L.B., tive a oportunidade de reavivar a minha memória sobre este lance. E deixo-vos aqui uma oportunidade para o fazerem também, partilhando convosco as imagens que me foram enviadas. Se calhar eu romantizo demasiado este lance, e não partilharão da minha opinião sobre a sua espectacularidade. Mas para mim isto é do que melhor define o Isaías como jogador. Um jogador que, apesar de me conseguir levar ao desespero diversas vezes, ainda hoje recordo com muita saudade.

ISAÍAS_VS_COUTO



domingo, abril 09, 2006

Desperdício

Acabou por ser um mal menor o empate deste fim de tarde na Luz contra o Marítimo, obtido no último suspiro do jogo. Cheguei a estar convencido que iria assistir a um Gil Vicente - Parte II, em que uma equipa que chega três vezes à nossa baliza marca dois golos e ganha o jogo, com base num guarda-redes inspirado (que, tal como quase todos os guarda-redes adversários que visitam a Luz, pareceu padecer da Síndrome dos Guarda-Redes de Porcelana), antijogo q.b., e desinspiração total dos jogadores benfiquistas para marcar golos.

A surpresa deste jogo foi a presença do Marcel no onze titular, com o Miccoli a jogar mais recuado nas suas costas. Na defesa só temos quatro jogadores (ou melhor, três e meio) disponíveis, por isso jogaram os que havia, e no meio campo também não houve surpresas, sendo de reparar apenas a troca do Geovanni pelo Robert. O Benfica nem começou mal o jogo, fazendo circular bem a bola com rapidez, e com os jogadores em constante movimento (e isto inclui o Marcel e o Robert). O Marítimo quase nem passava do meio campo, sendo óbvio que a intenção era jogar para o empate. Só que o ímpeto do Benfica foi-se desvanecendo, e o seu último estertor acabou por ser um cabeceamento do Marcel que foi defendido para a barra. Se a qualidade do nosso jogo já estava a baixar a olhos vistos, pior ficou quando o Marítimo, na sequência de um canto, e naquele que deve ter sido o seu primeiro remate à nossa baliza, marcou. Foi um golo que me irritou devido à sua infantilidade. O Ricardo Rocha estava fora a receber assistência (também não percebi porque é que o Wênio lhe foi acertar quando a bola já estava nos pés do Moretto), e ninguém se lembrou que alguém teria que substitui-lo nas suas funções de marcação ao central adversário que subiu até à área, e acabou mesmo por fazer golo. Daqui até final da primeira parte a qualidade do nosso jogo atingiu níveis tão baixos que o melhor é nem falar nisso.

O início da segunda parte mostrou mais do mesmo Benfica do final da primeira. Demasiado mau. Só a meia-hora do final, quando o Koeman resolveu correr riscos e passar a jogar com três defesas, é que as coisas melhoraram. No entanto, e tendo em conta que começámos a recorrer cada vez mais a cruzamentos para a área, não me pareceu que a troca do Marcel pelo Mantorras fosse benéfica, até porque este último apenas no período de descontos deu alguma contribuição positiva. Só que contra a corrente do jogo, o Marítimo voltou a marcar, num lance em que o Luisão tem muitas culpas ao deixar-se antecipar. Felizmente, e faltando apenas vinte minutos para o final, o Benfica não baixou os braços, e apoiado pelo público (45.054 espectadores) lançou-se sobre o adversário, mostrando a atitude que deveria ter tido desde o início, e não apenas quando estava em desvantagem por dois golos. A dez minutos do fim o Petit reduziu com um grande golo, após remate de primeira à entrada da área, e acreditou-se ainda mais que seria possível dar a volta ao resultado. A bola ainda chegou a entrar na baliza do Marítimo, mas o golo foi (pareceu-me que bem) anulado por fora-de-jogo do Miccoli (parece-me que se ele não tem tocado a bola antes dela entrar o golo seria validado). Depois no período de descontos surgiu o Mantorras, o homem que parece viver para esses momentos: um cabeceamento à barra, e um falhanço incrível praticamente a um metro da linha de golo (mas foi uma grande defesa do Marcos). Finalmente um defesa do Marítimo joga a bola com a mão dentro da área, e do penalti resultante o Simão fez o empate.

Este golo acabou por impedir uma vitória que seria injusta do Marítimo - tão injusta quanto foi a vitória do Gil Vicente na Luz. Mas castiga também o péssimo futebol que o Benfica apresentou durante grande parte do primeiro tempo e no início do segundo tempo, e ainda o desperdício de algumas oportunidades de golo flagrante. Para além disso houve muita falta de atitude dos próprios jogadores durante muito tempo. Se tivessem acreditado e jogado sempre como jogaram depois de estarem a perder por 2-0 provavelmente teriam goleado. Quase todos os jogadores estiveram muito abaixo daquilo que podem render, por isso não vou estar a citar os que para mim estiveram mal - a lista seria muito grande. Os melhorzinhos talvez tenham sido o Léo e o Manuel Fernandes. Também não se compreende a situação do Nélson. Faz-me pena vê-lo jogar assim, em especial quando me lembro daquilo que ele sabe fazer. Ele está há meses com duas lesões, e já deveria ter sido operado. Nem que fosse necessário ir buscar um lateral-direito à equipa B. Agora obrigá-lo a jogar nestas condições não vale a pena. Na minha opinião a equipa também não ganha nada em afastar o Miccoli da baliza. Hoje ele foi um jogador muito menos em foco do que costuma ser habitual. Se os pontos fortes dele são a rapidez de execução e facilidade de remate, esses atributos não lhe servem de muito a mais de 30 metros da baliza.

Nota positiva para o facto de estarem 45.000 espectadores na Luz para um jogo com o interesse do de hoje (pena que alguns dos 'assobiadores profissionais' também lá estivessem). Se os jogos voltassem a ser à tarde, provavelmente as assistências seriam muito maiores. Para mim foi bom voltar a ver o Benfica jogar sob luz natural. Quanto ao campeonato, o resultado de hoje torna muito difícil a conquista do 2º lugar. Felizmente o Braga perdeu em Setúbal (golo do Carlitos!), e assim ainda acabámos por ganhar-lhes um ponto.

Tradição

A ver se me lembro... S.L.B., HMémnon, Pedro, Superman Torras, EO, T-Rex (e cara-metade), tma e MB. Foram estes quem ontem tomou parte na terceira edição do jantar da blogosfera benfiquista. Foi, sem surpresas, um serão muito agradável, de amigos à conversa, lamentos por algumas ausências confirmadas (Antitripa, sentimos a tua falta, que só os SMS não são a mesma coisa) e de última hora (Laura, Corto...), e ainda algumas tentativas de identificação do sarrafeiro nas imagens que iam passando na TV do público de Alvalade no final do jogo.

O final foi o do costume: enxotados para fora do restaurante; a conversa a continuar lá fora; enxotados para fora do estádio; e a conversa a continuar à porta do estádio até às tantas. Para a próxima (uma das primeiras perguntas a surgir mal se chega ao fim de um destes jantares é 'Então, quando é que se faz o próximo?') a estratégia é conseguir que alguns 'cromos' mais difíceis possam estar presentes - estás a ouvir Gwaihir? Para a próxima não escapas. Em resumo: a repetir, concerteza, que isto é tradição para manter. Estava a pensar que se calhar, para evitarmos ser enxotados tantas vezes, um dia destes devíamos era experimentar um almoço em vez de jantar. Bem, vemo-nos no Estádio da Luz daqui a uma horas.

quarta-feira, abril 05, 2006

Fim

Bem, foi bonito enquanto durou. Infelizmente a superioridade do Barcelona foi notória no conjunto das duas mãos, e desta vez acabou por materializar-se em golos. Além disso voltámos a fazer uma primeira parte muito fraca (nem sequer me lembro de um remate nosso durante este período), e depois quando quisemos inverter as coisas no segundo tempo já foi demasiado difícil.

O Barcelona entrou decidido no jogo, e o Benfica mais uma vez nervoso. Em particular o Beto durante os primeiros minutos esteve um desastre. Mas por sorte até tivemos uma injecção de moral ideal logo aos cinco minutos, quando o árbitro assinalou um penalti a favor do Barcelona (lance em tudo idêntico ao do Motta na primeira mão), que o Moretto defendeu. Mas isso não serviu para empurrar a equipa para a frente, que continuava a defender muito atrás e a perder muitas bolas no meio-campo. Foi aliás de uma perda de bola atroz do Beto que resultou o golo do Barcelona, marcado pelo Ronaldinho, que assim se redimiu do penalti falhado. Até ao final do primeiro tempo foi o Barcelona quem esteve sempre mais perto de marcar. O Benfica limitava-se a fazer futebol directo da defesa para os avançados, que ou estavam em fora-de-jogo ou perdiam os duelos aéreos. Ainda assim o 1-0 ao intervalo permitia acalentar esperanças de que num contra-ataque fosse possível surpreender.

Na segunda parte o Benfica o Benfica entrou mais solto, emais uma vez melhorou com a entrada do Karagounis. E dispôs mesmo da tal oportunidade flagrante para surpreender, mas o Simão, isolado pelo Miccoli, rematou para fora. O Benfica ia tentando subir mais, e daqui resultavam cada vez mais espaços atrás para o Barcelona. Do lado do Benfica, as oportunidades eram poucas, e o mais perto que estivemos do golo foi num remate de muito longe do Karagounis. Já com o Marcel e o Robert em campo, e praticamente em período de descontos, o Petit resolve dar um toque a mais na bola quando deveria ter tocado de primeira para a esquerda, por onde subia o Léo. Foi desarmado, o Barcelona contra-atacou precisamente pelo buraco deixado pelo Léo, e o Eto'o pôs um ponto final na eliminatória. Dois golos sofridos na sequência de perdas de bola infantis. Não há muito mais a dizer sobre o jogo, nem tenho vontade de o fazer.

Melhor no Benfica talvez o Luisão, e pior o Beto. Não há muito mais a dizer sobre o jogo, nem tenho vontade de o fazer. Estou orgulhoso do que conseguimos nesta edição da Champions League, e ser eliminado pelo Barcelona não é vergonha nenhuma. Mas sinto-me triste porque esperava um bocadinho mais da equipa hoje. Aquela primeira parte inexistente (quantas vezes é que isto já aconteceu esta época?), em que nem sequer aproveitámos o golpe moral do penalti falhado, e os erros infantis que levaram aos golos deixaram-me frustrado. Agora espera-nos o lento regressar à realidade interna, e a um final de época praticamente para cumprir calendário, já que é difícil atingirmos algum dos objectivos propostos para esta época.

Quase

Mal acordei esta manhã, a primeira coisa em que pensei foi no Miccoli a marcar em Camp Nou. Faltam muitas horas para o jogo, mas para mim já está quase a começar. Aliás, já está quase a começar desde Sábado passado, quando o árbitro apitou para o final do jogo no Restelo. Desde então que não consigo pensar noutra coisa, e dou comigo a imaginar um Barcelona estupefacto enquanto o Simão, Miccoli ou Geovanni lhes faz a vida negra. É por isto que me alegra tanto ver o Benfica de volta à Champions este ano. Porque me fez redescobrir esta obsessão pelos jogos europeus, que me dá a volta à cabeça e quase não me deixa pensar em mais nada. Basta-me ouvir o hino da Champions League e fico logo arrepiado. É ali que o Benfica tem que estar todos os anos, porque foi a isso que a nossa história nos habituou. A Taça UEFA não consegue dar-me a mesma adrenalina.

Espera-nos uma tarefa hercúlea esta noite, frente a uma equipa poderosíssima. Mas eu não deixo de acreditar. Vamos precisar de estar concentrados como nunca, que os nossos ases estejam inspirados, a nossa defesa intransponível e, porque não, que as rezas do Moretto voltem a dar resultado. Mas seja qual for o desfecho da eliminatória, eu sinto que o Benfica já nos deixou orgulhosos este ano. Já fomos muito além daquilo que muitos esperavam e éramos obrigados, e mesmo que tenhamos que cair aos pés de uma das equipas mais poderosas do mundo, não será isso que me deixará envergonhado. Mas como benfiquista, claro que quero mais, claro que sonho com mais, porque isso faz parte do que é ser benfiquista. Quando estou no estádio e ouço os benfiquistas falar que vamos estar em Paris eu não posso senão deixar-me contagiar e acreditar com eles que vamos mesmo lá estar. E para isso o Barcelona tem que cair. Gostava de poder estar em Barcelona para juntar a minha voz aos 7.000 benfiquistas que nos irão apoiar ao vivo, mas não podendo fico pelo menos esperançado que, mais uma vez, pela TV consigamos ouvir o silêncio no estádio adversário quebrado apenas por um 'Glorioso SLB' cantado a plenos pulmões. É o melhor sinal possível. Força Benfica!

domingo, abril 02, 2006

Gestão

Vitória esta noite no Restelo, numa partida que teve duas partes completamente distintas devido à gestão de esforço para Barcelona, e que foi resolvida com dois pormenores de classe de dois dos nossos jogadores que têm maior capacidade para resolver jogos em pequenos pormenores.

Já é uma tradição para mim ir todos os anos ao Restelo ver o Benfica. Este jogo até está de certa forma umbilicalmente ligado a este espaço, já que foi o ano passado, após uma derrota humilhante no Restelo com uma exibição desastrosa, e quando estava furioso com o Trapattoni e o Argel, que decidi começar a escrever este blog. Este ano aproveitei o convite do S.L.B., e lá fui mais uma vez assistir a este jogo, na esperança que o resultado final fosse melhor do que o ano passado.

Esta noite na nossa equipa, e para meu grande contentamento, regressou o Miccoli aos titulares, acompanhado do Karagounis. Mas com a particularidade do grego não alinhar como apoio directo ao italiano, que jogava como homem mais avançado. Esse papel foi entregue ao Nuno Gomes, com o Karagounis a cair para o lado esquerdo e o Simão a ocupar o flanco direito durante todo o jogo. Julgo que esta recente tendência para o nosso treinador fixar o Simão ao lado direito se deve à necessidade de equilibrar a equipa em termos ofensivos desde que o Ricardo Rocha foi adaptado a lateral-direito. Como ele tem pouca velocidade, praticamente não arrisca no ataque, e assim cabe ao Simão a tarefa de levar a bola até à linha de fundo por esse lado. Do outro lado, mesmo tendo o Karagounis tendência para fazer as diagonais para o centro, o Léo consegue fazer todo o flanco. Com o Simão na esquerda de certeza que se assistiria a uma tendência notória para que o jogo ofensivo do Benfica fosse todo feito por esse lado.

O Benfica entrou bem no jogo, que foi bastante agradável durante a primeira parte. A partida parecia aberta, e era o Benfica quem parecia ter grande parte da iniciativa. Só que cedo o Belenenses se colocou em vantagem, através de um remate de fora da área. O Anderson não fica isento de culpas no lance, pois foi pouco expedito a aliviar a bola, e no estádio ficou-me a sensação que o Moretto também terá sido mal batido, pois ter-se-á lançado à bola um pouco tarde. O Benfica no entanto pareceu não acusar o golpe e reagiu bem. Teve um bom remate do Ricardo Rocha, e pouco depois teve uma oportunidade flagrante para marcar, mas o Nuno Gomes foi pouco expedito a rematar e acabou por ser desarmado, saindo lesionado do lance. Espero que não seja baixa para Barcelona... Para o seu lugar entrou o Manduca, que assumiu as mesmas funções de apoio ao Miccoli que o Nuno vinha desempenhando. E cerca de quinze minutos depois do golo do Belenenses, o Benfica empatou, quando após uma boa iniciativa do Beto a bola foi endossada ao Miccoli, que com um simples toque se livrou do adversário que o marcava, e disparou em arco para a baliza. Isto sim, é à ponta-de-lança. A maior frustração que tenho esta época é que o Miccoli tenha passado metade dela lesionado. Para mim ele é sem dúvida um dos jogadores com mais classe do nosso plantel.

E não demorou muito a chegar o golo da vantagem. Depois de sucessivas trocas de bola o Miccoli progrediu pelo centro, e deixou para trás onde surgiu o Karagounis a rematar de longe para consumar a reviravolta no marcador. Por esta altura do jogo, que continuava bastante aberto e agradável de assistir, o Benfica era claramente superior, e até ao intervalo parecia poder marcar o golo da tranquilidade, tendo disposto de boas oportunidades para o fazer - remate em arco do Simão a passar muito perto do alvo, e jogada de entendimento entre o Miccoli (sempre ele...) e o Simão, com um remate cruzado deste último a passar muito perto do poste. O resultado com que se chegou ao intervalo era, na minha opinião, justo, e reflectia o que se passou durante os primeiros quarenta e cinco minutos.

Na segunda parte assistimos a um jogo completamente diferente. O Benfica tirou o pé do acelerador, e começou nitidamente a pensar no jogo de Barcelona, dando a iniciativa ao adversário e ficando na expectativa. E a verdade é que o Belenenses entrou muito bem, dispondo logo de uma grande oportunidade em que o Paulo Sérgio isolado rematou para fora. a posteriori compreende-se que o Benfica tenha adoptado esta atitude. O jogo da próxima quarta-feira é muito importante, e além disso já havia o caso do Nuno Gomes para assustar mais os jogadores. Mas para os adeptos no estádio isto é bastante irritante, principalmente depois de vermos durante a primeira parte que o Benfica tinha capacidade para dominar o jogo e encostar o adversário lá atrás. Um golo é uma vantagem muito magra, e em qualquer altura o adversário pode marcar, deixando-nos com pouco tempo para reagir. Os primeiros vinte minutos deste período foram assim de domínio do Belenenses, tendo as coisas acalmado apenas quando o Geovanni (boa entrada no jogo) já tinha ocupado o lugar do Karagounis. Mesmo após esta substituição o Simão manteve-se na direita, indo o Geovanni jogar para as costas do avançado, e o Manduca para a esquerda. Nos minutos finais o Belenenses pareceu perder fulgor, tendo a melhor oportunidade de golo pertencido ao Benfica, num remate do Léo à barra. Ainda assim deu para o Meyong nos pregar um susto mesmo a fechar a partida, mas felizmente o cabeceamento dele saiu muito torto.

Acabou por ser uma vitória bem gerida pelo Benfica, sendo apenas uma pena a lesão do Nuno Gomes. No Benfica gostei do Luisão, Léo (embora não estivesse tão exuberante como nos últimos jogos, muito por culpa de apanhar diversas vezes com dois e três adversários em cima, já que o Manduca auxiliava pouco na defesa), Beto (bem nos aspectos defensivos e recuperações), Simão (um dos mais activos no ataque, tendo também auxiliado muito o Ricardo Rocha na defesa) e, claro, do Miccoli. Sou um admirador incondicional da inteligência e classe do pequeno italiano, e gostava mesmo muito que o Benfica ficasse com ele. Mas como discutíamos no final da partida, cinco milhões de euros é caro, e barato ao mesmo tempo. É barato porque duvido que se encontrem muitos jogadores com a qualidade dele a este preço. É caro porque este preço é alto para a bolsa do Benfica, e há sempre o risco dele passar muito tempo lesionado, a exemplo do que aconteceu esta época. Vamos esperar pelo final da época e ver o que acontece. Eu pelo menos tenho a certeza que ficarei muito contente caso o Benfica se decida pela compra.

Agora é tempo de pôr a cabeça em Barcelona. Eu já não consigo deixar de pensar no jogo, e mantenho a minha fé no Miccoli, Simão e Geovanni para conseguirmos mais uma surpresa.