domingo, março 28, 2010

Ignomínia

Foi-me difícil ver este jogo. Não por causa de quaisquer dificuldades extremas que nos tenham sido colocadas pelo clube dos bacorinhos (se na casa mãe são porcos, parece-me natural que aqueles que os imitam e tentam ser como eles sejam bácoros). Sporting Clube de Bácoros assenta-lhes que nem uma luva. A Domingos, Salvadores, Mesquitas e ao resto da vara. O que tornou mais difícil para mim ver este jogo foi mesmo o sentimento de profunda injustiça por a nossa equipa, que tem jogado futebol como há muito não se via, que tem dominado esta liga, que tem exibido uma superioridade incontestável por qualquer um que não seja cego ou o Eduardo Barroso, ser obrigada à ignomínia de ter que, nesta fase do campeonato, jogar um jogo decisivo para a atribuição do título contra uma equipa do nível da dos bácoros, orientada por um fuinha como o Domingos, que se esforça para mostrar estar fora dos campos ao mesmo nível rasteirinho que exibia dentro deles.

E a diferença entre as duas equipas foi bem evidente no jogo desta noite. De um lado, uma equipa interessada em vencer. Do outro, uma equipa remetida ao seu meio campo, interessada em não deixar jogar e em segurar o empate a todo o custo. A carreira dos bácoros neste campeonato tem estado assente na organização defensiva, vencendo diversos jogos pela diferença mínima, e esta noite fizeram apelo a toda essa organização para tentarem sair incólumes do Estádio da Luz. A tarefa do Benfica, que apresentou como única alteração ao onze base a presença do Carlos Martins no lugar do Aimar, era conseguir furar uma defesa que era constituída quase sempre por dez jogadores atrás da linha da bola, com linhas muito juntas, e que tentava aproveitar qualquer livre arrancado por um eventual mergulho do Alan para conseguir chegar perto da nossa baliza. Não foi uma tarefa fácil, até porque o Benfica não esteve numa noite brilhante.

A primeira parte foi quase sempre passada no meio campo dos bácoros, com o Benfica a ter uma posse de bola esmagadora, mas insistindo demasiadas vezes pelo centro, onde aparecia quase sempre um pé ou uma cabeça a interceptar os passes. No ataque, o nosso adversário foi simplesmente inofensivo. Apenas nos referidos livres chegavam perto da nossa área, mas até neste aspecto pouco fizeram, já que os livres foram invariavelmente marcados de forma desastrada. A melhor oportunidade de golo da primeira parte acabou por surgir de um erro de um defesa adversário, que com um mau passe isolou o Saviola, mas este esteve muito mal na decisão que tomou de tentar fintar o guarda-redes, e a ocasião perdeu-se. Cardozo e Saviola também ameaçaram, mas o golo estava difícil de alcançar. E só chegou mesmo sobre o intervalo. Foi numa sequência de dois cantos a nosso favor, na direita do ataque, com o segundo a ser marcado de forma curta. O Carlos Martins fez o centro para um cabeceamento do Javi García, que levou a bola a embater no Luisão e a ficar-lhe nos pés, muito perto da pequena área, tendo ele então rematado de pé esquerdo para o fundo da baliza. Mais uma vez Luisão, o homem dos golos decisivos nos jogos decisivos, a surgir na altura certa para nos levar em vantagem para o intervalo.

A entrada do Benfica na segunda parte foi, como se esperava, boa. A equipa parecia decidida em marcar o segundo golo e resolver cedo o assunto. Apostando mais em jogar pelos flancos, o Benfica conseguia abrir mais espaços nas costas da defesa adversária, e teve vários cruzamentos perigosos aos quais não foi dado o melhor seguimento, com o Maxi Pereira a estar em particular destaque neste aspecto. Talvez com um Cardozo (oportunidades de finalização perdidas por tentar puxar a bola para o pé esquerdo, ou por tentar dominar a bola em vez de finalizar de primeira) ou um Saviola numa noite mais inspirada na finalização pudessemos ter resolvido o assunto mais cedo, e evitado alguns cabelos brancos aos nossos adeptos. Quanto ao nosso adversário, obrigado agora a arriscar mais, mostrou não ter grandes opções para fazê-lo. As substituições que fez foram directas, ou seja, os jogadores que entraram foram jogar exactamente para as mesmas posições daqueles que substituíram. E quanto a chegar à nossa baliza, continuou a ser a mesma coisa, isto é, aproveitarem qualquer livre assinalado, mesmo que fosse sobre a linha do meio campo, para despejar a bola para a grande área. Este método apenas lhes proporcionou uma ocasião em que causaram alguma preocupação, em que um dos centrais conseguiu aparecer a cabecear cruzado ao segundo poste. De resto, foram inofensivos, e não conseguiram sequer ameaçar poderem chegar ao empate. Mesmo nos quinze minutos finais, em que o Benfica adoptou uma atitude mais realista e decidiu baixar as linhas, apostando em segurar a vantagem em vez de procurar com insistência o segundo golo, os bácoros não conseguiram criar qualquer ocasião de perigo, tendo o Quim sido praticamente mais um espectador. Marcarmos o segundo golo teria sido importante, mas foi com a vantagem mínima que o jogo terminou.

Não foi um jogo propício a grandes exibições, já que nunca houve muito espaço para se jogar. Se tenho que fazer alguns destaques, começo pelo Luisão. Quanto mais não seja pelo golo decisivo. O nosso capitão voltou a surgir num jogo decisivo para marcar o golo que nos deu a vitória, e lançar-nos ainda mais para a conquista do campeonato. Mas para além disso, esteve sempre seguro na defesa, como é seu timbre. O Fábio Coentrão voltou a mostrar estar num momento de forma excelente, parecendo completamente adaptado às funções de lateral esquerdo. Aliás, duvido que haja algum lateral esquerdo de raiz em Portugal que neste momento faça melhor a posição do que ele. Muito bom jogo do Ramires, enquanto esteve em campo, tendo-me mesmo surpreendido a sua substituição. Gostei também muito do Javi García, que foi um guerreiro na luta do meio campo e, como é habitual, ganhou e recuperou inúmeras bolas. Conforme disse, e apesar de terem trabalhado muito, o Saviola e o Cardozo não estiveram felizes na finalização. E o Di María esteve demasiado discreto num jogo em que eu esperava que desequilibrasse mais.

Acabámos de completar uma volta inteira sem derrotas. Temos seis pontos de vantagem, faltam seis jogos para terminar a Liga. Ainda há muito trabalho pela frente, ainda teremos que sofrer bastante até final e manter a concentração, mas ficámos agora muito mais perto do grande objectivo para esta época. O título será a única recompensa justa para uma época que tem sido, até agora, brilhante.

segunda-feira, março 22, 2010

Sobremesa

A imensa alegria que sinto depois do resultado desta noite consegue ser ainda ampliada pelo sentimento de justiça que a nossa vitória folgada me dá. O jogo nem sequer foi tão desequilibrado quanto o resultado final poderá fazer crer, mas derrotar sem apelo nem agravo aqueles tipos tem o sabor de uma vitória do Bem sobre o Mal. Depois das notícias sobre o comportamento daquela corja de associados do nosso adversário, habituados à total impunidade dentro do seu pequeno feudo, e que se dedicam alegremente a espalhar euforicamente o terror e a violência gratuita sempre que de lá saem, seria de uma justiça atroz que esses indivíduos ainda fossem recompensados com uma viagem de regresso na satisfação de uma vitória. Nem foi preciso apresentarmos a equipa titular, nem o auxílio despudorado prestado pelo bandido do Jorge Sousa os ajudou, nem sequer foi necessário estarmos ao nível que tem sido habitual esta época e darmos espectáculo: três a zero, assunto arrumado, e mais um troféu nas nossas vitrinas.

Sim, do outro lado estava o fóculporto, mas se poupando meia equipa deu para espetar quatro na lagartagem, o fóculporto não é mais do que eles (e já o demonstraram claramente), e por isso mesmo Cardozo, Saviola, Javi García e Ramires começaram o jogo no banco. Alan Kardec, Carlos Martins (subindo o Aimar para segundo avançado), Airton e Rúben Amorim fizeram as vezes deles, e não nos deixaram ficar com saudades dos habituais titulares. Devido ao adiantamento do Aimar, jogámos de uma forma algo diferente, deixando o Kardec um pouco mais isolado na frente, com o Aimar a ter tendência para vir ajudar mais na luta do meio campo - provavelmente a intenção seria até que ele fosse uma espécie de Saviola mas, como tantas vezes aconteceu o ano passado sob a orientação do Quique, quando o Aimar se adiantava um pouco mais desaparecia praticamente do jogo, e por isso ele acabava por recuar à procura da bola. Do lado dos nossos adversários, nada de novo, já que a táctica é quase sempre a mesma desde que o Tio JuJu é treinador deles, e portanto meteram o Belluschi na direita para poderem jogar no habitual 4-3-3.

O jogo iniciou-se numa tomada equilibrada, com o Benfica a parecer até deixar que o fóculporto tivesse mais posse de bola do que é habitual permitirmos ao adversário nos nossos jogos. Os andrades até deram o primeiro sinal de perigo, quando o Quim foi obrigado a aplicar-se aos oito minutos para parar um remate de primeira da Meretriz Uruguaia, ainda de fora da área. Praticamente na resposta, um sinal claro de que a noite seria nossa, pois chegámos ao golo numa falha incrível do guarda-redes andrade. O Rúben Amorim fez um remate, rasteiro e sem muita força, ainda a uma boa distância da baliza, e a aselhice do guarda-redes fez o resto, permitindo que a bola lhe batesse nas mãos e escapasse para dentro da baliza. O fóculporto tentou responder ao golo, e teve o seu melhor período durante cerca de quinze a vinte minutos (o que nem assim quer dizer que tenha sido melhor no jogo), com o Benfica a passar mais tempo remetido ao seu meio campo e o nosso adversário a dispor de mais posse de bola, mas sem que a nossa baliza passasse por muitos momentos complicados.

Quando nos aproximámos do intervalo, o Benfica reequilibrou as coisas, e começou a chegar novamente perto da baliza adversária. E mesmo sobre o intervalo, numa raríssima ocasião em que o Jorge Sousa lá resolveu apitar uma falta a nosso favor, dispusemos de um livre a uns bons trinta metros da baliza do fóculporto. Chamado a marcá-lo, o Carlos Martins atirou uma bomba irrepreensível que resultou num golão. Dois a zero, e nem sequer tinha sido preciso correr muito. Por esta altura o Bruto Alves, que já andava irritadiço e a ceifar e massacrar tudo o que fosse vermelho e lhe passasse ao alcance dos pitons ou cotovelos (perante a complacência e olhar enternecido do compincha Jorge) perdeu a tramontana e partiu para a agressão pura e simples. Quem levou com ele foi o Aimar e o Jorginho, salomónico, deu um amarelo ao Bruto Alves e outro ao Aimar. Ainda esboçou o gesto para dar um beijinho ao Brutinho Alves, mas depois arrependeu-se e lá o deixou ir para os balneários enquanto espumava e escoiceava.

A segunda parte ficou marcada por dois aspectos: o controlo, sem grandes dificuldades, da vantagem no marcador por parte do Benfica, e o show de esquizofrenia particular do Jorge Sousa, a permitir que os carniceiros do seu amado clube permanecessem em campo durante os noventa minutos, mesmo que acotovelassem, pontapeassem ou pisassem os jogadores do Benfica - Bruto Alves (claro...) e Meireles em particular - mas revelando-se ao mesmo tempo um feroz aplicador das leis de futebol e da disciplina sobre os jogadores do Benfica, tendo os sarrafeiros Coentrão e Ramires (à primeira falta que fez, sem qualquer violência e no círculo central) sido admoestados por este justiceiro do apito.

Quanto ao jogo em si, foi como disse: o Benfica controlou e geriu o resultado sem grandes dificuldades. Subimos um pouco mais as linhas, empurrámos o fóculporto mais para o seu meio campo, e eles não revelaram capacidade para ripostar. As alterações feitas pelo Tio JuJu não ajudaram em nada, o fóculporto não conseguia criar oportunidades, e à medida que o tempo passava não fazia muito mais do que chutar bolas para a frente. Não me recordo de uma defesa do Quim digna desse nome. O Benfica também não criou grandes oportunidades nesta segunda parte - a excepção foi um lance individual do David Luiz - mas à medida que se iam abrindo espaços nas costas da defesa adversária, e com as presenças do Ramires, Saviola, e Cardozo em campo, ficávamos com a sensação de que poderíamos voltar a marcar. O que aconteceu, mesmo no final do jogo para fechar com chave de ouro: combinação entre o Saviola e o Rúben Amorim, com este a ficar isolado sobre a direita e a picar a bola sobre o frangueiro adversário. Esta foi ainda desviada por um defesa contra o poste, e o Cardozo na recarga fez um golo fácil, para que o jogo acabasse em apoteose.

Melhor em campo? Para mim, Rúben Amorim. Ele tem, aliás, andado num excelente momento de forma nas últimas semanas, e hoje foi apenas mais um jogo a confirmá-lo. E o que é ainda mais impressionante é que ele tem jogado bem a lateral direito, a médio direito, a médio centro, ou a trinco. Ponham-no nas funções que quiserem, e o Rúben cumpre com distinção. É um luxo podermos ter um jogador (e benfiquista, ainda por cima) destes no plantel. Só o Queirósz é que não consegue ver nada disto, das cadeiras onde se gosta de sentar ao lado do Mestre Pinto ou do Cabeça de Cotonete. É mais valiosa a esperteza da Micaela (grande jogo hoje... não sei com quantos dedos lhe tocaram na cara, mas espero que alguém lhe tenha metido três dedos bem espetadinhos à frente do focinho), por exemplo. Outro grande jogo foi também o do Fábio Coentrão. De jogo para jogo vai mostrando estar a fazer-se um defesa lateral muito bom. Não sei se terá perdido algum duelo individual. Mais outra demonstração de grande valor também do Airton, que hoje completou os noventa minutos. O Javi García é um jogador fundamental, mas se por acaso nos faltar, não será por ali que a equipa tremerá. Posso também mencionar o jogo quase perfeito da nossa dupla de centrais (sem precisarem de morder, escarrar, acotovelar, pontapear ou pisar adversários), mas já é quase um hábito eles jogarem bem. E falta ainda mencionar o Carlos Martins, que tem vindo a ganhar importância na equipa e que foi hoje decisivo, com um golo fantástico.

O que mais me agrada é ver a cultura de vitória instalar-se na nossa equipa. Nem foi necessário fazer uma exibição de encher o olho para que uma vitória tranquila sobre o fóculporto surgisse com toda a naturalidade. A união e a vontade de vencer desta equipa dão gosto ver, e enchem os adeptos de confiança. Nós, benfiquistas, temos uma crença quase ilimitada na nossa equipa, mas incrivelmente, por vezes fico com a sensação de que eles ainda conseguem acreditar mais neles próprios do que nós acreditamos neles.

A primeira sobremesa já está no papo. Agora, voltemos novamente as nossas atenções para o prato principal desta época.

quinta-feira, março 18, 2010

Sublime

Quase nem há palavras para descrever este jogo. Já vi muitos jogos europeus do Benfica, mas não tenho grandes dúvidas em afirmar que, daqueles que eu vi, este estará sem dúvida entre os melhores que fizemos. Contra uma equipa com o dobro do nosso orçamento (só o que pagaram pelo Lucho foi tanto quanto o que custaram todos os nossos reforços), contra uma arbitragem indescritivelmente caseira, que nos sonegou dois possíveis penáltis, carregou de amarelos e, em caso de dúvida, decidia sempre a favor do Marselha, contra um resultado desfavorável na primeira mão, contra um golo sofrido completamente contra a corrente do jogo a vinte minutos do final, contra tudo isto qual foi a nossa resposta? Dominar o jogo do primeiro ao último segundo, transpirar classe em cada pormenor, dar a volta ao resultado e passar aos quartos, tudo isto coroado com o sublime pormenor de marcarmos o golo decisivo já depois do minuto noventa. Foi uma noite perfeita.

Jogámos de início com o onze esperado, que apresentava o Carlos Martins na posição do Aimar. Para além disso o Rúben Amorim, que era até apontado ao onze titular, nem sequer no banco se sentou. Não sei se terá tido algum problema físico de última hora que o impediu de participar neste jogo. Mas hoje acho que nem sequer foi importante quem entrou em campo. Porque cada um dos jogadores que vestiu a nossa camisola e sentiu a águia ao peito foi um gigante. E viu-se, desde o primeiro minuto, quem é que estava ali para vencer. O Benfica tomou conta das operações desde o apito final, e o Marselha foi uma sombra daquilo que se viu a semana passada na Luz. Muito menos agressivos nas marcações, incapazes de travar as movimentações dos nossos jogadores e matar o nosso jogo logo no meio campo (que diferença nas liberdades que foram concedidas a jogadores como o Ramires ou o Maxi Pereira na direita, com o lateral esquerdo Taiwo a ter que se haver sistematicamente com ambos sem grande ajuda de qualquer outro colega), depressa se começaram a ver os buracos a abrir na defesa francesa. E era fácil adivinhar que o Benfica, mais cedo ou mais tarde, acabaria por chegar ao golo. Já o Marselha, no ataque, era praticamente inofensivo.

E não fosse termos encontrado um Jorge Sousa qualquer vindo da Eslovénia, até poderíamos ter ficado na frente do marcador ainda na primeira parte. Se ainda consigo dar-lhe algum benefício de dúvida num lance em que um defesa do Marselha toca a bola com a mão dentro da área, já noutro, em que o Ramires é ostensivamente empurrado pelas costas, não (até porque na segunda parte, num lance semelhante entre o Aimar e um defesa francês que deixaria o Aimar isolado, não teve quaisquer dúvidas em marcar falta contra nós). Mas nem o caseirismo da arbitragem nos abalou esta noite. A resposta ao penálti não assinalado foi um remate do Cardozo ao poste. A pressão continuou, e o jogo teimava em não deixar de se disputar quase sempre dentro do meio campo do Marselha. Infelizmente para nós, o Di María não estava em noite inspirada na altura da finalização, porque conseguiu surgir solto pela esquerda em mais de uma ocasião, mas desperdiçou todas as oportunidades que teve. E só mesmo à beirinha do intervalo, já em período de descontos, o Marselha deu um ar da sua graça, criando a sua melhor ocasião de golo num remate do Lucho à entrada da área, que passou perto do poste da nossa baliza.

Ao intervalo, como acontece muitas vezes em situações destas, temi algum possível desânimo da nossa equipa por não ter conseguido traduzir a sua superioridade em golos, mas estava redondamente enganado. A segunda parte mostrou um Benfica ainda mais decidido na procura do golo. A arbitragem também continuou no mesmo nível da primeira parte, recusando-se a assinalar qualquer falta a nosso favor nas imediações da área do Marselha, por mais flagrante que a infracção fosse. E, para seguir nas continuações da primeira parte, o Benfica continuava a adiar o merecido golo muito por culpa própria, desperdiçando oportunidades flagrantes. Desta vez a mais incrível esteve nos pés do Saviola, que após um cruzamento do Coentrão na esquerda, pressionado por um defesa não conseguiu tocar a bola para a baliza deserta, deixando-a passar entre as pernas. Num período de três ou quatro minutos, o Benfica levou-me ao desespero: foi a referida oportunidade do Saviola, depois, na sequência de um canto, uma enorme confusão na área, novamente com o Saviola envolvido e também com o Cardozo, e ninguém a conseguir rematar para o golo; e finalmente, mais uma vez após um canto, o Luisão recebe um passe à entrada da área que o deixa completamente isolado, mas rematou para a bancada. E depois aconteceu aquilo que tantas vezes acontece no futebol: uma equipa a dominar, a desperdiçar oportunidades, e a outra de repente marca contra a corrente do jogo. Foi numa bola colocada nas costas da nossa defesa, em que fiquei com a sensação que o Júlio César hesitou na saída, e depois já não conseguiu interceptar o cruzamento atrasado para o golo do Niang. Faltavam vinte minutos para o final do jogo, e o Benfica estava ainda mais fora da Euroliga (para mim este é agora o nome oficial da competição).

A resposta do Benfica? Foi como se o golo nem tivesse acontecido. Se calhar noutros tempos não muito distantes, este golo sofrido teria feito a equipa baixar os braços, mas o nosso Benfica hoje é mentalmente forte. Por isso a pressão continuou, e foi recompensada cinco minutos depois. Um remate rasteiro do Maxi a uns vinte e cinco metros da baliza, aproveitando um alívio de bola para a frente da área, desviou ligeiramente num jogador do Marselha e fez a bola entrar junto ao poste esquerdo. Estava tudo igual, e pairava agora o espectro do prolongamento, que obviamente não seria desejável tendo em conta o jogo que temos no Domingo. Logo a seguir ao golo, mais uma grande oportunidade para o Di María, outra vez solto na esquerda, mas ele rematou ao lado. O Jorge Jesus fez então entrar o Aimar para jogar nas costas do Cardozo, substituindo o Saviola. E El Mago veio trazer um pouco mais de ordem ao nosso jogo, tendo-se começado a ver aquelas jogadas de tabelas ao primeiro toque a que ele nos habituou. O Marselha continuava praticamente a ver jogar (teve apenas uma ocasião de algum perigo, num livre muito perto da área - mais uma vez, o árbitro conseguiu considerar mão do Maxi no lance, mas na primeira parte a mão do Taiwo dentro da área já não foi considerada penálti), e o Benfica continuava a desperdiçar. Di María, para não variar, solto na esquerda chutou ao lado. A dois minutos do final o Cardozo aproveitou uma asneira de um defesa e, isolado, rematou ao lado e por alto. E finalmente, já depois do minuto noventa, a mais que merecida recompensa. Livre na esquerda apontado pelo Aimar, a bola sobrou para o Alan Kardec na direita (tinha entrado há cinco minutos) e este, com um remate cruzado indefensável, sentenciou a eliminatória (cá se fazem, cá se pagam: na Luz marcaram aos noventa, agora receberam o troco). Até final, tempo apenas para o herói marselhês da primeira mão, Ben Arfa, entrar em campo e ser expulso um minuto depois, por agressão ao Kardec.

Os jogadores foram excelentes esta noite, porque fomos mais uma vez, como tantas vezes tem acontecido esta época, uma verdadeira equipa. Menciono alguns jogadores como poderia mencionar quaisquer outros. Começo por falar do grande jogo que o Ramires fez, por oposição ao jogo menos conseguido na primeira mão. Foi tacticamente perfeito, e vimo-lo recuperar bolas atrás de bolas, fazer dobras aos colegas na defesa, ajudar o Javi e ainda apoiar o ataque. O Maxi também esteve muito bem e foi decisivo na eliminatória, com dois golos marcados. Só lhe faltou mais inspiração nos cruzamentos, já que por diversas vezes conseguiu ganhar a linha de fundo e depois não deu seguimento às boas iniciativas com cruzamentos à altura. Os nossos centrais foram simplesmente imperiais, com o David Luiz a mostrar mais uma vez a razão pela qual tem meia Europa atrás dele (teve apenas uma falha durante todo o jogo, num lance em que terá havido algum excesso de confiança, mas foi imediatamente dobrado pelo inevitável Ramires). Javi García o pêndulo do costume, e para a noite ser perfeita só faltou maior inspiração aos homens da frente na altura de finalizar (mas se isso acontecesse teríamos saído de Marselha com uma goleada histórica).

Para mim, a palavra chave desta noite é 'orgulho'. Ganhámos o jogo e a eliminatória, mas mesmo que tal não tivesse acontecido, o orgulho permaneceria sempre. Porque a sensação que tenho ao ver o nosso Benfica jogar e bater-se da forma que se bateu hoje é indescritível. Com quase tudo contra nós, entrámos em campo a mandar no jogo e a jogar para ganhar. E foi isso a principal coisa que esta equipa nos devolveu. O Orgulho de ver o Benfica hoje em dia entrar em qualquer campo a jogar para ganhar. O Orgulho de ver um Benfica à Benfica.

domingo, março 14, 2010

Fulcral

Esta vitória foi fulcral na caminhada para o título. Foi merecida, por aquilo que a equipa lutou por ela, mas foi autenticamente arrancada a ferros. Mais um daqueles jogos de que se fazem os campeões.


O pormenor de maior destaque no nosso onze foi a entrada do Rúben Amorim para o lugar do Maxi Pereira. De resto, e em relação ao jogo com o Marselha, a única outra diferença foi o Fábio Coentrão em vez do César Peixoto. Cedo deu para ver que não teríamos vida fácil esta noite. O jogo não era muito diferente daquilo que se esperaria, com o Benfica a assumir o controlo, mas sem muito espaço para conseguir criar um jogo ofensivo de qualidade. Em termos de oportunidades, aliás, o Nacional conseguia equilibrar as contas, colocando o Quim à prova em mais de uma ocasião. Do nosso lado, a qualidade no ataque ressentia-se do mau jogo que o Aimar ia fazendo, continuando no mesmo registo daquilo que exibiu frente ao Marselha. As melhor oportunidade do Benfica foi criada pelo Saviola, que numa iniciativa individual entrou na área pela esquerda, mas depois não conseguiu acertar com a baliza. Iniciativas individuais pareciam aliás ser a forma mais provável de criarmos perigo, já que a defesa do Nacional, quase sempre bem colocada, conseguia interceptar praticamente todos os cruzamentos ou passes nas imediações da área.

A segunda parte trouxe um Benfica melhor. Conforme já é um hábito esta época, o Benfica entrou na segunda parte a pressionar bastante, e parecendo decidido a chegar rapidamente ao golo, tendo o Fábio Coentrão dado o mote logo nos primeiros minutos. O Nacional agora não conseguia responder em contra-ataque, e o Benfica, contando também com um Aimar uns furos acima do que tinha feito na primeira parte, passava grande parte do tempo instalado no meio campo adversário. Mas continuava a faltar inspiração aos nossos jogadores na altura de finalizar. Pouco depois dos quinze minutos, beneficiámos de um penálti. Na altura pareceu-me que era uma falta clara, mas as repetições mostram que não foi esse o caso. Confesso que não fui capaz de ver a marcação do penálti. Num jogo que estava a ser tão difícil, fiquei logo com um mau pressentimento, e infelizmente isso confirmou-se, pois o Cardozo, de forma incrível, nem sequer acertou na baliza. Mas quase nem deu tempo para amaldiçoar o paraguaio, porque na jogada de ataque seguinte o génio do Saviola descobriu, com um passe para as costas da defesa, uma grande desmarcação do Rúben Amorim na direita, e este deixou ao Cardozo apenas a tarefa de, a um metro da linha de golo, empurrar a bola para o fundo da baliza.

O mais difícil estava feito, mas ainda havia muito trabalho pela frente. A vinte minutos do final, o Benfica mudou tacticamente, entrando o Maxi para o lugar do Aimar e passando a jogar em 4-4-2, com o Rúben a médio, o Maxi a lateral, e o Ramires no centro, perto do Javi. O Nacional tentou reagir ao golo, e conseguiu pressionar-nos mais, mas também poderíamos ter resolvido a questão mais cedo. O Cardozo teve nos pés a oportunidade para o segundo golo, isolado por mais um passe do Saviola, mas permitiu a defesa ao guarda-redes do Nacional. No canto que se seguiu, mais uma vez poderíamos ter marcado, mas ninguém conseguiu dar o toque decisivo para a baliza. Nos últimos dez minutos, recuámos no terreno, e sofremos a consequente pressão do Nacional. Que nunca foi sufocante, mas deu para pregar um susto, tendo o Quim salvo o golo do empate ao corresponder com uma boa defesa a um cabeceamento. Em cima dos noventa minutos o Nacional ainda dispôs de um livre muito perigoso, e mais uma vez não tive sequer coragem para ver o lance (que felizmente terminou sem consequências). O apito final soou, e com ele a confirmação de que receberemos o segundo classificado com a tranquilidade acrescida de dispormos de três pontos de vantagem.

Sei que serei sempre suspeito quando escrever algo assim, mas para mim o melhor jogador do Benfica esta noite foi o Saviola. Trabalhou que se fartou na frente, veio atrás buscar jogo, desmarcou colegas (várias vezes ele pareceu estar a substituir o Aimar nas funções de organizador de jogo) e foi ele o autor do passe para a desmarcação do Rúben no lance do golo. Bom jogo também dos nossos centrais. O Cardozo acaba por ser o herói do golo, mas poderia perfeitamente ter sido o vilão do jogo pelo penálti falhado de forma incrível (e ainda por aquela oportunidade flagrante desperdiçada). O Aimar fez uma primeira parte muito fraca, mas conseguiu melhorar na segunda. Espero que, à medida que vá ganhando ritmo, volte à forma a que nos habituou.

Mais um passo dado na caminhada para o título. Agora já só faltam sete, mas até ao próximo teremos que esperar duas semanas, já que pelo meio teremos a viagem a Marselha e a final no Algarve. Bem sei que o que interessa mesmo é o tal jogo daqui a duas semanas. Mas se, pelo meio, pudermos ganhar os dois jogos que temos, óptimo.

quinta-feira, março 11, 2010

Cruel

É verdade que é cruel e custa bastante ver a vitória escapar no último minuto mas, sinceramente, o empate acaba por reflectir de forma relativamente justa a batalha táctica que vimos esta noite na Luz. O Marselha foi uma equipa bem organizada e claramente o adversário mais forte que já defrontámos esta época. Acabou por conquistar o empate quando já poucos os esperariam, mas a verdade é que durante o jogo, em especial na primeira parte, já tinham tido oportunidades para marcar.

O Benfica apresentou-se com o onze-tipo desta época. Regressos do Javi, Aimar e Ramires ao meio campo, e ainda do César Peixoto à lateral esquerda. E os primeiros minutos deram logo para antever as dificuldades que este jogo traria. O treinador do Marselha tinha a lição bem estudada, e conseguiu dispor a equipa de forma a bloquear os nossos pontos fortes. Um meio campo bem preenchido, com os nossos jogadores mais influentes a receberem atenção especial: o Aimar sempre vigiado de perto pelo Lucho ou Cheyrou, na direita, o Deschamps optou por um jogador mais defensivo (Abriel) em detrimento do habitual Valbuena, de forma a acautelar-se com o Di María, o lateral esquerdo Taiwo ocupava-se do Ramires (chegando por vezes a parecer um médio, dada a forma como avançava para marcá-lo em cima), e até as subidas do Maxi pela direita estavam acauteladas, com aquele tipo que é um dos meus ódios de estimação e que parece um chulo cubano do Miami Vice (Brandão) a cair sempre sobre aquele lado. Perante esta oposição, o Benfica demorou a entrar no jogo, e só após os primeiros quinze a vinte minutos é que conseguiu começar a responder. O sinal mais da primeira parte foi do Marselha, que teve pelo menos três oportunidades para marcar (duas do Lucho e uma do Brandão). A resposta do Benfica foi dada sobretudo durante o quarto de hora final, tendo a melhor oportunidade no pé direito do Cardozo, que após centro do Di María rematou de primeira por cima quando tinha espaço para fazer melhor.

O início da segunda parte não confirmou as boas indicações deixadas nos minutos anteriores à saída para o intervalo. O Marselha voltou a entrar melhor, e parecia conseguir controlar o jogo sem muitas dificuldades, muito por culpa da desinspiração do Aimar, que hoje não conseguiu estar ao seu nível, falhando muitos passes e perdendo bolas nas saídas para o ataque. Durante este período, passámos por mais um grande susto, quando o Júlio César, com duas boas defesas, conseguiu evitar o golo. Após vinte minutos desta segunda parte, o nosso treinador trocou o desinspirado Aimar pelo Carlos Martins, e com ou sem influência deste, a verdade é que o nosso jogo melhorou, já que conseguimos pressionar um pouco mais o adversário e voltar a dar alguma sensação de perigo. A quinze minutos do final e, curiosamente, apenas um minuto depois do treinador do Marselha ter deslocado o chulo cubano do Miami Vice para o centro, retirando assim o 'tampão' às subidas do Maxi, foi precisamente este quem fez o golo do Benfica, aproveitando uma asneira do guarda-redes adversário após centro da esquerda do Di María. O Marselha pareceu ficar algo nervoso com o golo sofrido, e mostrava agora algumas dificuldades em construir jogo. E até poderíamos ter marcado um segundo, mas o remate do Ramires, a três minutos do final, embateu com estrondo na barra. Depois, no último minuto, veio o balde de água fria, quando o pequeno Ben Arfa apareceu a cabecear quase sem oposição um centro vindo da direita. Naquela fase do jogo não se poderia ter deixado que os jogadores adversários fizessem o 2x1 naquela zona, libertando o lateral direito para fazer o centro.

Não me pareceu que tenham havido jogadores a brilhar muito, e o jogo desta noite nem sequer era propício a grandes exibições. Gostei do jogo do Luisão e também do Javi García, e na frente o Saviola e o Cardozo trabalharam muito. Menos bem esteve o Aimar, que hoje teve uma quantidade de passes errados e perdas de bola inusual nele. O David Luiz alternou boas intervenções na defesa com maus passes nas saídas para o ataque, a originarem perdas de bola por vezes perigosas.

Estamos em desvantagem, mas julgo que a eliminatória está em aberto, porque o Benfica tem capacidade para marcar em Marselha. Claro que quero seguir em frente, mas não me esqueço de qual é o objectivo principal, e não desejo que o Benfica se desvie um milímetro desse rumo por causa desta competição. Assim que o apito final soou, passei a pensar apenas no jogo de Domingo na Madeira. Esse é que é imprescindível vencer. O resto, logo se vê.

domingo, março 07, 2010

Imparáveis

Vitória indiscutível num jogo em que ganhar era fundamental. O desperdício pouco habitual de oportunidades de golo acabou por fazer com que fosse necessário sofrer um pouco mais do que seria necessário, mas nunca a vitória chegou a estar em causa, perante um adversário que mostrou alguma qualidade, e justificou a razão pela qual ainda não tinha perdido qualquer jogo para a Liga em 2010. Três golos foram fraco pecúlio para tantas oportunidades, mas foram suficientes.


Na noite em que a nossa claque celebrava os seus dezoito anos, foram 42.971 os espectadores na Luz. Talvez já a pensar no jogo de quinta-feira com o Marselha, no onze inicial do Benfica notavam-se as ausências do Aimar e do Ramires, jogando nos seus lugares, respectivamente, o Carlos Martins e o Rúben Amorim. Com o Javi García ainda suspenso, coube uma vez mais ao Airton o papel de substituí-lo no onze. Depois do empate do Braga ontem, a minha convicção para este jogo era que o Benfica não quereria desperdiçar a oportunidade de aumentar a vantagem sobre o segundo classificado, e partiria em busca da vitória desde o apito inicial. E foi isto mesmo que aconteceu, pois a nossa entrada em jogo foi mesmo muito forte. Com um Di María ultra-confiante e endiabrado, um Saviola muito solto, e a pressionarmos muito alto, as oportunidades de golo começaram cedo a surgir. E para manter um hábito saudável desta época, não foi preciso esperarmos muito para vermos o primeiro golo. Aos treze minutos, após mais uma incursão do Di María pela esquerda, o seu centro foi recebido pelo Cardozo ao segundo poste, e este (à segunda tentativa) assistiu de cabeça o Rúben Amorim que, também de cabeça, aproveitou a má saída do guarda-redes adversário para marcar.

E três minutos depois, o segundo golo. Outra vez o Di María na esquerda, desta vez a desmarcar o Saviola e depois a classe deste a fazer o resto, evitando um defesa e finalizando sem hipóteses para o guarda-redes. Isto é um pormenor particularmente agradável do Benfica esta época. As equipas que vêm à Luz até podem ter algumas veleidades em obter um resultado positivo. Mas na maior parte dos casos, ao fim de 15/20 minutos, já só podem pensar em não ser goleadas. O Benfica não abrandou após o segundo golo, e foi em busca de um terceiro, criando (e desperdiçando) oportunidades para fazê-lo. O Paços, a perder por dois tão cedo, teve que alterar algo, e mostrou alguma coragem ao fazê-lo, ao fim de meia hora. mudando para um esquema de três defesas, com o Maykon como falso lateral esquerdo, e retirando o Manuel José, que se mostrava absolutamente incapaz de travar o Di María. O Paços melhorou, e conseguiu finalmente mostrar algum bom futebol, enquanto que o Benfica, nos últimos quinze minutos, mostrou alguma sobranceria, com os nossos jogadores a exagerarem no individualismo (Di María e Carlos Martins a evidenciarem-se neste aspecto), e a não permitirem que conseguíssemos explorar convenientemente os buracos que o Paços ia abrindo na defesa. O castigo para esta fase de menor fulgor do Benfica foi sofrermos um golo, quase em cima do intervalo, num lance em que o Paços, com um centro muito largo da esquerda, aproveitou uma subida do David Luiz que não foi eficazmente compensada.

O golo do Paços em cima do intervalo deu para preocupar, mas no regresso dos balneários o Benfica cedo mostrou que quaisquer receios eram infundados. Foi uma entrada na segunda parte como tem sido habitual, com um domínio avassalador, o que naturalmente fez com que as oportunidades de golo surgissem. E mais uma vez, o desperdício que nos caracterizou esta noite voltou a aparecer. O Rúben Amorim deu o mote, vendo seu remate ser defendido. Depois foi o Cardozo, isolado mais uma vez pelo Di María, que viu o seu remate ser defendido. A seguir foi o próprio Di María, numa iniciativa individual, a rematar à barra. O Paços jogava algo aberto, na tentativa de discutir o resultado, mas não o conseguia por culpa do Benfica, que ia ameaçando o terceiro golo a qualquer momento. Que aconteceu mesmo, e tal como na primeira parte, aos treze minutos. Foi um remate do Cardozo à entrada da área, que teve um ressalto feliz num defesa do Paços, levando a bola ainda a bater na trave antes de entrar. E quaisquer veleidades do Paços morreram ali mesmo. Daí até final o jogo resumiu-se às oportunidades criadas pelo Benfica para ampliar o resultado, que continuaram a ser desperdiçadas ou negadas pelo guarda-redes do Paços
(o Paços não conseguiu fazer um único remate até o jogo terminar). O controlo do Benfica foi total, e deu até para terminar o jogo com o Sídnei a jogar a trinco.

Apesar de alguns excessos de individualismo que teve durante o jogo, o Di María merece o maior destaque, e aquilo que de positivo põe no jogo é mais do que suficiente para que lhe perdoemos estes excessos. É o jogador que mais desequilíbrios cria, esteve nos lances dos dois primeiros golos, e com passes seus deve ter deixado os colegas em situação de marcar pelo menos quatro ou cinco vezes. O Airton voltou a confirmar as boas indicações que tinha deixado no último jogo. Tem um óptimo sentido posicional, joga sempre simples e, por isso mesmo, raramente falha. Mais uma vez não me recordo de o ver falhar um único passe. É um jogador diferente do Javi García, cuja agressividade ajuda a empurrar a equipa para a frente, mas cumpre na perfeição aquilo que se pede a um jogador naquela posição. Recupera bolas, não complica, e deixa a bola jogável num colega. Bom jogo também do Carlos Martins (até dar o berro fisicamente) e do Rúben Amorim, cujo rendimento parece ser constante, independentemente da posição e funções que exerce em campo. Jogadores destes são indispensáveis.

Obrigação cumprida, Braga a três pontos e andradagem a onze. Estamos numa fase decisiva do campeonato, e nas próximas três ou quatro jornadas o campeonato poderá fica praticamente decidido, pelo que me deixa particularmente confiante ver a forma como o Benfica se vai desembaraçando dos adversários. Em tempos não muito distantes aquele golo adversário à beira do intervalo teria grandes hipóteses de causar estragos. Esta noite, foi como se nem sequer tivesse acontecido, e continuámos imparáveis. Rumo ao título.

P.S.- O critério disciplinar do Sr.Soares Dias neste jogo, a exemplo daquilo que parece insistir em fazer sempre que nos arbitra, foi simplesmente ridículo. Só com ele conseguimos sistematicamente dominar por completo um jogo, vencê-lo, e acabar com mais cartões do que o adversário.