domingo, abril 25, 2010

Quase

Creio que se, antes do jogo, perguntassem aos benfiquistas como gostariam que este jogo corresse, dificilmente algum conseguiria lembrar-se de uma história tão perfeita quanto aquela a que assistimos esta noite. Tudo correu de feição: começar a ganhar cedo, logo a seguir adversário reduzido a dez unidades e a jogar de forma pouco complicada, goleada no final e com três golos do Cardozo. E sem ser sequer necessário forçar muito. Tudo se conjugou para uma noite tranquilíssima, e uma vitória muito, muito fácil. Isto perante uma Luz praticamente cheia, com um ambiente absolutamente fantástico, e ansiosa por poder soltar o grito de 'Campeões!'.

Nenhuma surpresa no onze inicial do Benfica, com o Weldon, justificadamente, a manter a titularidade no ataque, e também com o Rúben Amorim a manter-se no onze, desta vez recuando para a direita da defesa, já que em Coimbra tinha jogado no meio campo. O Cardozo acabou por jogar também, apesar de ser notório que não estaria nas melhores condições físicas e que terá estado em dúvida até ao último momento, o que se comprova pela presença do Kardec no aquecimento. Conforme escrevi, as coisas começaram a resolver-se muito cedo: no primeiro ataque do Benfica, aos dois minutos de jogo, penálti por mão na bola após cruzamento do Weldon na esquerda, e golo do Cardozo. E aos nove minutos, a coisa ficou ainda mais fácil, já que o mesmo jogador que tinha cometido o penálti teve uma entrada desmioladamente desnecessária sobre o Di María, e foi naturalmente expulso. As facilidades do Benfica neste jogo nem terão sido tanto uma consequência directa da expulsão, mas mais, na minha opinião, da atitude do Olhanense, que mesmo reduzido a dez não abdicou de continuar a jogar no seu estilo habitual, mantendo quase sempre três jogadores bem abertos na frente e deixando apenas dois médios. Isto resultou em muito espaço livre para que os nossos jogadores pudessem explorar em ataques rápidos, e por onde o Aimar podia deambular e movimentar todo o nosso futebol.

Não foi surpresa portanto que o segundo golo do Benfica tenha surgido precisamente através da exploração desses espaços que o Olhanense concedia atrás. Foi aos dezassete minutos, num contra-ataque rápido, no qual o Aimar solicitou o Di María na esquerda, que depois fez o resto, flectindo para o centro e puxando a bola do pé esquerdo para o direito para evitar os defesas, marcando depois com este pé (se calhar há um ano não acreditaria que o Di María fosse capaz de marcar um golo com o pé direito). Com as vantagens numérica em campo e confortável no marcador obtidas tão cedo, o Benfica pôde então jogar tranquilamente e, mesmo assim, ir sempre ameaçando aumentar a vantagem no marcador. Aliás, para qualquer um que assistisse ao jogo o ampliar da vantagem do Benfica era praticamente uma certeza, sendo apenas irritante que revelássemos alguma inépcia e demorássemos tanto tempo a fazê-lo. O Aimar e o Javi estiveram perto de marcar, em remates de fora da área, depois foi o Weldon e novamente o Aimar que quase marcaram, numa confusão a seguir a um lançamento lateral do David Luiz, e finalmente foi o Cardozo que, talvez por estar diminuído fisicamente, não teve atrevimento suficiente para se lançar a uma bola. Por isso mesmo, apesar da tranquilidade no marcador, fui para o intervalo irritado por não termos sabido explorar melhor todo o espaço que nos era concedido.

A entrada na segunda parte foi aquilo a que o Benfica nos habituou esta época: fortíssima, e a dissipar quaisquer dúvidas (se é que ainda as havia) sobre o vencedor da partida. Sendo óbvio que já nada conseguiria tirar deste jogo, o treinador do Olhanense abandonou a atitude ofensiva e reorganizou a equipa em 4-4-1, preferindo fechar os caminhos para a baliza de forma a evitar uma possível goleada histórica. Evitou a parte histórica, mas não a goleada. E muito por culpa do génio do Di María, que já tinha feito uma boa primeira parte, e nesta segunda andou a espalhar classe pelo campo. Com oito minutos decorridos, fez um passe de letra genial que isolou o Cardozo, e este finalizou sem dificuldade. E três minutos depois já o paraguaio festejava outra vez, e mais uma vez após uma assistência do Di María, que com um passe rasteiro da esquerda deixou ao Cardozo apenas o simples trabalho de empurrar para as redes. Abrandando depois um pouco, ainda assim não foi por isso que o Benfica deixou de criar oportunidades. O Coentrão teve uma ocasião excelente, isolado frente ao guarda-redes, mas permitiu-lhe a defesa. Isto quando lhe bastaria dar um pequeno toque para o lado para que o Cardozo somasse mais um golo. O próprio Cardozo só se pode queixar de si próprio por não ter marcado mais, já que falhou de forma incrível um cabeceamento após um cruzamento perfeito do Ramires. Só o Aimar conseguiu voltar a fazer funcionar o marcador, aproveitando um mau alívio de um jogador do Olhanense, que chutou a bola contra si, para marcar. De realçar ainda, e mais uma vez, o Di María, que repetiu a gracinha do passe de letra para isolar novamente o Cardozo, sem que este conseguisse depois tocar a bola para a baliza, e que esteve ainda perto de marcar um golo monumental, quando teve uma recepção fabulosa e, sem deixar a bola cair, rematou para um grande defesa do guarda-redes do Olhanense. O jogo terminou com uma goleada por cinco golos, e ficámos todos com a sensação que poderiam ter sido muitos mais, mesmo ter sido necessário acelerar a fundo.

Escolher o autor de três golos como o homem do jogo seria natural, mas eu prefiro destacar o Di María. Absolutamente genial e decisivo. Esteve na expulsão do jogador do Olhanense, marcou um golo, fez duas assistências e espalhou classe pelo campo, estando perto de marcar mais. Pareceu também ser o jogador mais empenhado em oferecer golos ao Cardozo. Cardozo que, mesmo jogando em dificuldades físicas, conseguiu marcar por três vezes. E não duvido que, se estivesse em perfeitas condições, teria marcado mais outros tantos, já que houve vários lances em que ele claramente se resguardou ou evitou o choque. Merece também óbvio destaque o Aimar. El Mago foi o motor da equipa, aproveitando da melhor forma os espaços que lhe foram sendo concedidos e fazendo funcionar o carrossel. Conseguiu ainda o golo que premeia a sua exibição. Uma menção ainda para o Fábio Coentrão, que continua a mostrar a quem quiser ver que é, actualmente, o melhor lateral esquerdo português. Só foi pena o egoísmo naquele lance em que poderia ter oferecido mais um golo ao Cardozo.

Está quase. Falta apenas um ponto. Que até pode nem ser necessário. A Nação Benfiquista deseja muito celebrar este merecido título, e o ambiente hoje vivido na Luz poderá dar uma pequena ideia daquilo que estará para vir quando pudermos, finalmente, gritar 'Benfica Campeão!'.

segunda-feira, abril 19, 2010

Angelical

Mais um passo dado na caminhada para o titulo que, apesar de parecer ter o fim à vista, às vezes parece também nunca mais ter fim. A vitória de hoje em Coimbra, contando com uma inspiração angelical e a eficácia da loja dos trezentos, foi inteiramente merecida, mas na minha opinião mais sofrida do que a nossa produção dentro de campo merecia, já que a nossa superioridade nunca me pareceu poder ser posta em causa. A incerteza no resultado deveu-se sobretudo à eficácia da Académica, que nos três remates que conseguiu fazer na direcção da nossa baliza conseguiu marcar dois golos.

Foram quatro as alterações em relação ao último jogo, em que vencemos a lagartagem. Luisão, Ramires, Carlos Martins e Éder Luís saíram do onze, tendo entrado Sídnei, Maxi Pereira, Aimar e Weldon para os seus lugares. Não deixa de ser reconfortante que possamos fazer tantas alterações de um jogo para outro e, mesmo sabendo que deixamos de fora jogadores com o valor do Luisão, Ramires ou Saviola, isso não afectará o rendimento da nossa equipa porque aqueles que os substituem cumprirão. Como que a querer provar isso mesmo, o Benfica teve uma entrada de rompante no jogo e ao fim de dois minutos e dois cantos conquistados, já estava em vantagem. Não foi num desses cantos, mas sim na sequência de um lançamento de linha lateral do Maxi que, aproveitando um mau alívio de um defesa, o Weldon mostrou estar mesmo de regresso à veia goleadora da pré-época, cabeceando para o golo. Com apenas dois minutos de jogo decorridos não se pode dizer que o golo fosse uma consequência lógica do bom jogo do Benfica, mas nos minutos que se seguiram o Benfica mostrou que o golo não fora mero acaso. Aplicando mais uma vez a famosa pressão alta, o Benfica conseguia evitar que a Académica conseguisse jogar, limitando-a a tentativas de contra-ataques, embora poucos minutos logo após o golo tenha ainda passado por um susto, com o Quim a corresponder com uma boa defesa a um cabeceamento no seguimento de um canto.

Perto da meia hora, no entanto, a Académica chegou ao empate, de forma algo fortuita, já que o remate do seu jogador, desferido ainda a uma boa distância da baliza, desviou nas costas do Javi, traindo assim o Quim. No entanto, as repetições mostram que o jogador que fez o golo controlou a bola com o braço antes de fazer o remate. Este golo pareceu trazer motivação ao nosso adversário, que durante os minutos que se lhe seguiram teve um bom período no jogo, com mais bola, mas tendo que recorrer apenas a remates de meia distância para conseguir ameaçar a nossa baliza. O Benfica despertou após um cruzamento/remate do Coentrão, que foi defendido a custo pelo guarda-redes, e a quatro minutos do intervalo voltou a colocar-se em vantagem. Solicitado na esquerda pelo Cardozo, o Di María utilizou o seu talento para ganhar a linha de fundo, centrando depois para o segundo poste onde mais uma vez o Weldon, com uma rapidez de execução brilhante, resolveu o assunto em dois toques: um para controlar a bola, e outro para a colocar no fundo das redes. Estava reposta a diferença no marcador, o que expressava de forma correcta os acontecimentos da primeira parte.

Este ano espero sempre (como julgo que quase todos os benfiquistas o farão) uma entrada forte do Benfica nas segundas partes. Têm sido várias as vezes em que o Benfica resolve os jogos no primeiro quarto de hora deste período, e por isso fiquei à espera que hoje não fosse uma excepção, já que não tinha vontade alguma de passar por quarenta e cinco minutos apenas com um golo de vantagem (apesar de repetir para mim mesmo que a Académica não seria capaz de nos marcar dois golos num jogo). A reentrada do Benfica não foi propriamente 'a matar', mas deu o mote para o que seria a segunda parte, com o Benfica a controlar claramente o jogo. Sem massacrar o adversário, o certo é que quem via o jogo tinha a clara sensação que mais minuto, menos minuto, o terceiro golo do Benfica surgiria, enquanto que a possibilidade da Académica conseguir o empate se afigurava bem mais remota. Cedo o Cardozo (que pareceu já ter entrado no jogo sem estar nas melhores condições, mas sacrificou-se pela equipa) cedeu o seu lugar ao Carlos Martins, regressando o Benfica ao esquema utilizado contra a lagartagem, com o Aimar a jogar como segundo avançado. Logo a seguir, quando estava passado o primeiro quarto de hora, o Di María desperdiçou uma oportunidade incrível de golo, após isolado pelo Weldon, permitindo a defesa ao Rui Nereu. E cinco minutos depois foi o Carlos Martins quem quase marcou, num remate espectacular que terminou com a bola a esbarrar no poste da baliza da Académica. Durante este período de domínio do Benfica apenas por uma vez o nosso adversário ameaçou a nossa baliza, com um cabeceamento a levar a bola a passar muito perto do poste.

Só a dez minutos do final o Benfica nos deu, por fim, o merecido golo da tranquilidade. Mais uma vez, o talento do Di María entrou em acção e foi decisivo. Entrou na área pela esquerda, ultrapassou dois adversários e centrou ligeiramente atrasado, para a zona do segundo poste, onde apareceu o Rúben Amorim a rematar, de primeira e sem deixar a bola cair, para o fundo da baliza. Parecia estar conquistada a tranquilidade nos poucos minutos que faltavam para o final, mas afinal ainda foi preciso sofrermos mais um pouco, porque a dois minutos do fim a Académica acabou por reduzir a diferença. Foi um remate desferido a uma grande distância da nossa baliza, e que parecia ser defensável, mas o Quim foi enganado pelo efeito da bola e ficou algo mal na fotografia, deixando-a entrar quase a meio da baliza. Mas este golo não veio alterar em nada aquilo que tinha sido esta segunda parte, de domínio do Benfica, e até final a Académica não conseguiu incomodar-nos ou colocar em causa a importantíssima e mais do que merecida vitória.

O maior destaque tem que ir, obviamente, para o Weldon. Mais dois golos decisivos na caminhada para o título, o primeiro pleno de oportunidade, e o segundo de excelente execução. Conseguiu ainda oferecer um golo ao Di María, só que o argentino não soube aproveitar a oferta. Mas apesar deste falhanço, ele merece ser também destacado. O motivo mais óbvio são as duas assistências que fez, em lances fabricados pelo seu génio. Ele consegue por vezes desesperar-me com algumas opções que toma ou erros que comete mas, já o disse antes, aquilo que de positivo acrescenta ao nosso futebol supera, em muito, os seus erros. É um jogador genial e fundamental na nossa equipa.

E já só faltam três jogos para o final; três jogos em que teremos que conquistar quatro pontos para podermos, finalmente, festejar. Até pode ser que, para a semana, possamos estar a esta hora a festejar no Marquês, caso as coisas corram de feição. Mas, convém repetir mais uma vez, ainda nada esta ganho. Não podemos relaxar, até porque não tenho dúvidas que aqueles que nos odeiam continuarão a tentar tudo até ao final para nos roubarem a merecida consagração. Hoje sofreram um rude golpe, vendo-nos vencer um jogo no qual apostaram tudo para nos travar. A forma como esta vitória foi festejada pelos nossos jogadores no final mostra bem o quão importante este jogo foi. Para a semana, frente ao Porto B, continua.

P.S.- Não sei se é resultado do protesto do Benfica, se das sucessivas demonstrações de desagrado por parte de benfiquistas. Mas se tantas vezes os critico, hoje devo admitir que nada tenho a apontar à transmissão do jogo pela SportTV. Os comentários feitos pelo Rui Orlando(!) e o Vítor Pontes foram isentos, relatando aquilo que se via nas imagens, e a realização mostrou as repetições que deveria mostrar de cada lance potencialmente polémico, quer para um lado, quer para outro. Assim, sim. Que seja para continuar.

quarta-feira, abril 14, 2010

Melhores

A pergunta que me ocorre quando penso no jogo desta noite é a seguinte: por que razão é que o sportém precisava tão desesperadamente de um ponto, ao ponto de se apresentar na Luz como uma qualquer Naval ou Leixões desta liga? Eu sei que as coisas andam mal ali para os lados do Alvalixo, mas também não era necessário começarem já a incutir naquela equipa a mentalidade de quem luta para não descer. Felizmente, aconteceu aquilo que tantas vezes acontece no futebol, em que a equipa que não joga para ganhar acaba por ser justamente castigada com uma derrota. Aliás, nem é preciso estarmos à procura de moralismos nisto. O que se passou foi perfeitamente natural, e simplesmente a lei da vida: ganhámos porque somos melhores. Muito melhores. Sim, foi preciso ter alguma paciência na primeira parte, mas já sabemos que jogos contra equipas que jogam assim são sempre jogos de muita paciência. A Naval, por exemplo, ainda conseguiu aguentar oitenta e nove minutos a dar-nos cabo da paciência. A lagartagem ficou-se pelos sessenta e oito. Bem vistas as coisas, esta diferença diz muito sobre este sportém.

Ainda o jogo não tinha começado, e já a lagartagem mostrava que apesar dos títulos de visconde, no fundo eles são é daquela nobreza burgessa que não se pode levar a lado nenhum ou convidar para nossa casa, porque imediatamente cospem para o chão e põem os pés em cima da mesa, já que fizeram logo questão de escolher o campo 'ao contrário', não respeitando a tradição (de certeza que houve dedo do Cientista nisto). Quanto à nossa equipa, órfã do Saviola desde que este se lesionou, apresenta sempre uma grande dúvida antes de todos os jogos: a quem caberá o ingrato papel de o substituir no onze inicial? Hoje o escolhido foi o Éder Luís, e quanto ao resto do onze, de notar a natural presença do Rúben Amorim à direita da defesa, no lugar do castigado Maxi. Do outro lado, o Cientista apresentou a única coisa que parece saber fazer, que é um comboio à frente da baliza. Equipa arrumada em 4-2-3-1, com dois médios bem recuados, e no trio que jogava um pouco mais à frente conseguia ter o criativo e ofensivo Moutinho no apoio mais directo ao isolado Liedson, e um lateral direito adaptado a médio (João Pereira). Parece-me que o Cientista andou a ver muitos vídeos do Liverpool, e terá pensado que copiando a táctica deles - até porque entre um Moutinho e um Gerrard, um Djaló e um Kuyt, ou um Subnutrido e uma vagabunda espanhola as diferenças são irrisórias - poderia vir a ter sucesso. O que na verdade acabámos por ver foi um sportém não à Liverpool, mas sim à Marítimo da primeira jornada. O maior elogio que posso deixar ao sportém é que eles se comportaram exactamente como seria de esperar de uma equipa do seu calibre. Ou seja, uma equipa que entra no relvado da Luz com vinte e três pontos de desvantagem.

Mas as coisas até nem começaram mal para a lagartagem. O Benfica entrou bem no jogo, é certo, mas depois dos primeiros dez minutos, fruto do trabalho dos jogadores da frente, que pressionavam bem a nossa saída de bola, e da acumulação de jogadores no meio campo, o sportém conseguiu trazer equilíbrio ao jogo. A principal obsessão da lagartagem era anular o jogo do Benfica e segurar o empate, e isto eles iam-no conseguindo. O problema é quando não se sabe mais do que isto (o que não surpreende numa equipa orientada pelo Cientista), e por isso em termos ofensivos a produção é quase nula. Com o jogo ofensivo do Benfica a ser anulado pelo sportém - por mérito da estratégia deles, e também por demérito nosso, já que os nossos jogadores não pareciam estar particularmente inspirados, falhando demasiados passes, não pressionando muito o adversário, e ainda com um erro de casting que foi o Éder Luís, já que este pareceu estar sempre perdido em campo, incapaz de se assumir como um parceiro de ataque do Cardozo ou de recuar para vir buscar jogo ao meio campo e fazer a ligação com o avançado - e o sportém a não saber fazer mais do que aquilo, este equilíbrio resultou num jogo aborrecido, em que os guarda-redes não tinham trabalho quase nenhum. A lagartagem parecia entusiasmada com o sucesso da sua estratégia e teve até a sua morning glory entre os vinte e os trinta minutos, período em que conquistou diversos cantos, resultantes de contra-ataques rápidos que desenhavam após recuperarem a bola, mas que eram invariavelmente mal concluídos. Apenas nos minutos finais da primeira parte o Benfica pareceu começar a conseguir libertar-se do espartilho da lagartagem (até porque seria difícil ao sportém aguentar muito mais tempo a pressionar daquela forma, já que a pressão não era feita de forma organizada por toda a equipa, mas era sim fruto do esforço individual dos jogadores mais adiantados, que corriam desalmadamente atrás da bola).

Para a segunda parte, o Jorge Jesus fez uma alteração que veio a revelar-se chave, retirando o Éder Luís e colocando o Aimar em campo. Este recuou um pouco mais no terreno em relação ao homem que substituiu, colocando-se entre as duas linhas de médios. Conseguiu assim ajudar na luta do meio campo, e ainda encontrou liberdade para deambular e tabelar com os colegas, fazendo uso da sua inteligência e qualidade. Não deixa de ser algo irónico que a solução para romper uma muralha defensiva tenha sido trocar um avançado por um médio. Para além disso, toda a equipa do Benfica subiu, pressionando o sportém ainda na sua metade do campo, o que resultou num sportém inofensivo. Não sei quantas vezes terá o sportem sido capaz de passar do meio campo em ataque organizado antes do Benfica estar na frente do marcador, mas os dedos de uma mão devem chegar e sobrar para contá-las. Com um David Luiz soberbo a empurrar a equipa para a frente, a bola passou a rondar a área da lagartagem com maior frequência, e não surpreendeu portanto que o Benfica chegasse à vantagem. Estavam decorridos sessenta e oito minutos de jogo, quando o Rúben Amorim (que esteve pouco atrevido no ataque hoje, porventura atento à velocidade do Djaló) teve uma iniciativa fantástica pela direita, ultrapassando vários adversários até entrar na área, mas depois fez um cruzamento demasiado largo. Do outro lado apareceu o Coentrão a recuperar a bola, que depois rematou cruzada. O remate não levava a direcção da baliza, mas o instinto goleador do Cardozo fez o resto, colocando a bola na baliza com um simples toque, em antecipação aos defesas. Ele marcou literalmente o golo ao pé-coxinho, já que estava lesionado na altura e preparava-se para ser substituído, o que aconteceu mesmo logo a seguir ao golo.

Conforme disse, equipa treinada pelo Cientista não parece saber muito mais do que defender e destruir jogo, aparentando sentir-se extremamente desconfortável numa situação em que tem que assumir as despesas do jogo, em vez de ficar na expectativa. Quando este, logo a seguir ao golo, desfez o 4-2-3-1 para reverter ao losango o Benfica agradeceu. Agradeceu o Benfica, e agradeceu o Aimar, tamanhos passaram a ser os espaços dados no meio campo do sportém. E foi numa destas ocasiões que ele matou o jogo, dez minutos depois do primeiro golo. Solto nas costas do médio defensivo, e com uma avenida pelo meio dos centrais, aproveitou o passe do Ramires para, com toda a calma e classe, correr para a baliza, ultrapassar o Patrício e, de ângulo apertado, finalizar de pé esquerdo. Daqui até final o Benfica geriu tranquilamente o resultado, sem que a lagartagem tivesse ameaçado sequer uma vez a nossa baliza. Foi até divertido ver a forma quase desesperada como, a perderem por dois e com poucos minutos para o final, se apressavam para repor a bola em jogo em qualquer interrupção. Isto quando, enquanto estiveram empatados, e desde o primeiro minuto, tinham tentado queimar tempo em todas as reposições, com particular destaque para o Patrício. Nada que não tenhamos visto e revisto já esta época, sempre que qualquer equipa que luta pela manutenção nos visitou.

No final do jogo, fiquei a saber que, de uma forma absolutamente previsível, a lagartagem justificou a derrota com a arbitragem. Sim, foi precisamente por isso que eles perderam. Não foi por não jogarem nada, não foi por terem o Cientista como treinador, não foi por terem jogadores como um Túnel ou um Grimi, foi sim por causa do árbitro. Foi o Cientista (homem experiente nestas coisas das desculpas esfarrapadas), o chorão do Moutinho (que por acaso enfiou uma cacetada impressionante no Ramires, e nem amarelo viu) , e no fim até o Costeletinha, rapaz que, enquanto jogador, sempre primou pela correcção e respeito pela integridade física dos adversários, a queixarem-se do mesmo. Aquilo estava mesmo bem ensaiado, e até aposto que vieram no autocarro a caminho da Luz a combinar a estratégia. Como não há penáltis ou golos anulados, fala-se de uma expulsão que devia ter acontecido porque a paixão platónica do Veloso foi expulsa contra o Rio Ave, 'campo inclinado' e faltas genéricas, que são expressões engraçadas que dão títulos bonitos nos jornais, e que dão muito jeito quando não se consegue elaborar. Mas suponho que seria difícil ser-se honesto e dizer-se 'Perdemos porque não jogamos um corno, o que aliás fica bem expresso pelos vinte e seis pontos que levamos de atraso'. No fundo, esta atitude lá veio mais uma vez confirmar que apesar das apóstrofes e das duplas consoantes nos apelidos, eles sentem-se bem mesmo é a ir passear para os centros comerciais aos fins-de-semana, de fato de treino e chinelos com meias.

O jogador que fica indelevelmente ligado a esta vitória é o Aimar. A qualidade do nosso jogo melhorou da noite para o dia com a sua entrada, e o sportém não conseguiu encontrar uma forma eficaz de anulá-lo. E teve a justa recompensa de marcar o golo que sentenciou o jogo, revelando calma e classe na altura da decisão. Outro nome que não pode deixar de ser mencionado é o David Luiz. Foi simplesmente soberbo. Não se intimidou nada com a presença do Liedson por ali, e conforme é seu timbre, empurrou a equipa para a frente com frequentes subidas no terreno com a bola nos pés. Com a quantidade de olheiros que esteve na Luz, se calhar esta exibição terá selado a sua saída do Benfica. Espero que não, porque ele é um dos pilares e grande parte da alma deste Benfica. Bom jogo também do Ramires, do Rúben e do Cardozo. O golo que marcou, já lesionado, é de um grande oportunismo. Para além disso trabalhou sempre muito para os colegas, tendo estado mais eficaz a ganhar os duelos no ar e a segurar a bola para os colegas vindos de trás.

Foi mais um passo na direcção certa, dado ante um adversário cuja única intenção e objectivo neste momento era impedir-nos de o dar. Faltam agora quatro jogos, e nestes teremos que conquistar sete pontos para que possamos festejar a mais que merecida recompensa no final. A recompensa que aqueles que hoje encheram a Luz e lhe deram um ambiente fantástico de apoio à equipa, e todos aqueles que por esse mundo fora sofrem pelo nosso clube também ambicionam e merecem. Nada está ganho ainda, mas estamos cada vez mais perto. Para desespero de alguns, e alegria de muitos, muitos mais.

quinta-feira, abril 08, 2010

Sem dramas

Derrota pesada em Liverpool, e fim da campanha no Euroliga. O Benfica hoje foi diferente daquilo que tem sido habitual esta época, e por isso a derrota não me surpreende, ainda que considere que esta seja demasiado pesada, já que o Liverpool revelou uma enorme eficácia e converteu praticamente todas as oportunidades que teve. Pela primeira vez esta época, não fiquei muito agradado com as opções do nosso treinador. Apresentar, da defesa habitual, apenas um jogador a jogar na sua posição (Luisão) num jogo destes deu mau resultado, e não terá sido por acaso que, pela primeira vez esta época, sofremos mais do que dois golos num jogo. Mas apesar de não ter ficado agradado com as opções (sou adepto e, portanto, pouco racional nestas coisas) compreendo que a gestão do plantel tenha que ser feita para que consigamos atingir o objectivo proposto para esta época.

Conforme disse, na defesa apenas o Luisão jogou no seu lugar. Júlio César a titular, Amorim na direita, Sídnei ao lado do Luisão, e David Luiz na esquerda, num déjà vu da época passada. Na frente, Aimar a fazer de Saviola. Se se esperava um Liverpool a entrar forte e pressionante de início, isso não aconteceu. O jogo foi abordado com muitas cautelas de parte a parte, e como tal a toada foi muito equilibrada desde início, praticamente sem ocasiões de perigo perto de uma ou outra baliza. Seria um cenário agradável se as coisas assim se mantivessem, mas quando estávamos a chegar perto da meia hora de jogo, e sem que nada o justificasse, o Liverpool colocou-se em vantagem. Após um canto do lado esquerdo, o Júlio César permitiu que o Kuyt, encostado a ele e a um metro da linha de golo, cabeceasse para golo. Mesmo se o lance fosse faltoso (tenho dúvidas que seja), é incompreensível que o nosso guarda-redes nem sequer se faça à bola, preferindo abrir os braços e ficar à espera de uma eventual falta. Sete minutos depois, numa jogada simples pelo centro, o Lucas isolou-se, ultrapassou o guarda-redes com facilidade, e fez o segundo golo. Só sobre o intervalo, num remate do Sídnei, o Benfica conseguiu criar algum perigo. Muito pouco.

No segundo tempo o Benfica tentou forçar um pouco, já que bastaria um golo para empatar a eliminatória, mas hoje houve muita falta de inspiração. O Liverpool, sobretudo em contra-ataques, ia mostrando poder aumentar a vantagem, o que acabou por acontecer mesmo, quando estavam decorridos quase quinze minutos. O lance inicia-se com um livre a favor do Benfica, no seu ataque, e no contra-ataque que se seguiu o Kuyt entrou pela esquerda da nossa defesa e centrou para o segundo poste, onde a gaja espanhola fez um golo fácil. Dez minutos depois, num livre a castigar falta sobre o Ramires, o Cardozo fez o golo de honra e ainda deu para alimentar algumas esperanças, já que bastaria apenas um golo para passarmos. Que esteve perto de acontecer cinco minutos depois, em mais um livre do Cardozo, que desviou na barreira e passou perto do poste, com o Reina batido. Mas aos oitenta e dois minutos, em mais um contra-ataque após uma perda de bola do David Luiz, o Liverpool matou a eliminatória, com mais um golo da espanhola, que picou a bola sobre o Moreira (tinha entretanto entrado a substituir o Júlio César). A nossa defesa hoje esteve irreconhecível e comprometeu o jogo. A passagem do David Luiz para a esquerda não resultou, já que não conseguiu travar eficazmente o Kuyt (se por acaso era essa a intenção). E depois o centro sentiu a ausência dele, já que não havia velocidade suficiente para acompanhar as movimentações da espanhola - compare-se o jogo que ela fez na primeira mão, em que o David Luiz a meteu no bolso, e as liberdades de que dispôs hoje. São opções que se fazem, e será obviamente mais importante termos o Fábio Coentrão descansado para o jogo com a lagartagem.

Vários jogadores estiveram hoje a um nível muito inferior ao que sabem fazer. Cardozo (apesar do golo), Carlos Martins, Aimar ou Di María foram uma sombra de si mesmos, e não admira portanto que a produção do nosso ataque tenha sido tão reduzida. Não me recordo de um jogo esta época em que tenhamos tido tão poucas oportunidades. Com um ataque desinspirado e uma defesa desacertada, o resultado final não surpreende. Quanto ao melhor em campo, para mim foi o Ramires. Não terá sido propriamente muito melhor do que os colegas, mas lutou sempre por cada bola, e empurrou a equipa para a frente.

Ao fim de vinte e tal jogos, lá perdemos. Sem dramas. É difícil ganhar sempre, e apesar de todos nós querermos e sonharmos com uma campanha ainda melhor na Euroliga, o objectivo desta época não era esse. Seria agora profundamente ingrato e injusto que, por causa deste resultado, eu me esquecesse de todas as alegrias que este grupo já me deu.
Tenho sim que agradecer à equipa pelo que fez até esta fase, e agora continuar a apoiá-la para que nos consiga dar a grande alegria de sermos campeões nacionais. E desejar que na próxima terça-feira, no final do jogo com a lagartagem, já nem sequer me lembre deste resultado.

terça-feira, abril 06, 2010

Brilhante

Parece que lhe tomámos o gosto. Durante não sei quanto tempo, o que se dizia era que o Benfica não conseguia dar a volta ao resultado quando começava a perder (verdade seja dita que também não foram assim tantas as ocasiões em que começámos a perder). Agora, depois de invertermos o resultado com o Marselha e o Liverpool, foi com a Naval, acrescentando ainda o factor de dificuldade extra, que foi estarmos a perder por dois. Se intitulo este post de 'brilhante', não é por achar que a nossa exibição esta noite foi brilhante. Mas a atitude e querer da equipa foram-no. Foi quase como se aqueles dois golos e a má entrada em jogo não tivessem tido qualquer efeito negativo na equipa.

Apesar das dúvidas, o Luisão jogou mesmo na Figueira. De resto, a equipa esperada, mas com uma surpresa no ataque, onde apareceu o Weldon a fazer dupla com o Cardozo, e com o Ramires a ser poupado, avançando o Rúben Amorim para a titularidade. Quanto à posição dez, na qual o Carlos Martins e o Aimar têm alternado ultimamente, a escolha foi para o Aimar. A entrada do Benfica no jogo foi perfeitamente desastrada. Creio que ainda não tinha visto a nossa equipa cometer tantos erros a defender esta época. Após pouco mais de um minuto, já a Naval estava na frente, num golo consentidíssimo e em que entre o Fábio Coentrão, o David Luiz e o Javi García não sei quem terá dado mais facilidades ao avançado da Naval, que entrou na área pelo lado esquerdo, e de ângulo apertado fez o golo (fez-me recordar um golo que também sofremos naquele estádio, marcado pelo Fogaça, e que nos custou um empate, no ano do Koeman). O desacerto continuou, e aos doze minutos (entretanto já o Quim tinha sido obrigado a uma defesa apertada) a Naval aumentou a vantagem para dois. Num contra-ataque em que o avançado da Naval foi mais rápido do que o Maxi, ele ganhou a linha de fundo pelo lado direito e centrou para o segundo poste, onde apareceu um colega para finalizar. Neste lance, ficou evidente alguma falta de velocidade dos nossos jogadores para recuperarem a posição, já que quando o centro foi feito apenas o Fábio Coentrão estava na área, para dois jogadores adversários. Nesta altura o cenário era definitivamente preocupante, com uma desvantagem no marcador e a equipa, nestes primeiros minutos, a mostrar uma desorganização defensiva pouco habitual e ainda dificuldades para construir jogo atacante de qualidade, com o Aimar a não conseguir pegar no jogo e, consequentemente, a equipa a optar demasiadas vezes pelos lançamentos compridos para a frente.

O segundo golo da Naval pareceu finalmente despertar o Benfica, e felizmente não foi preciso esperarmos muito tempo para que a recuperação tivesse início. Pouco passava do primeiro quarto de hora quando o Benfica reduziu. Foi só à terceira tentativa que a bola entrou, já que o primeiro remate do Di María e a recarga do Maxi foram defendidas, e depois surgiu o Weldon, quase em cima da linha, de cabeça a confirmar o golo. E volvidos três minutos, estava feito o empate: canto do Aimar na esquerda, o David Luiz arrastou os defesas com ele para o primeiro poste (pareceu-me que não chegou a tocar na bola) e depois dentro da e completamente liberto de marcação, surgiu mais uma vez o Weldon para empurrar de cabeça. O pendor da partida já tinha mudado completamente para o nosso lado, e a reviravolta completa no marcado esteve quase para acontecer logo dois minutos depois, mas o cabeceamento do Luisão, após livre marcado pelo Aimar na esquerda, passou a centímetros do poste quando o guarda-redes já estava batido. Pouco depois, após novo canto, foi o Cardozo quem viu o golo ser-lhe negado pelo guarda-redes Peiser, que correspondeu com uma boa defesa ao seu cabeceamento. Ainda passámos por mais um susto, quando só uma boa defesa do Quim impediu que a Naval voltasse à vantagem no marcador, mas quase nem deu tempo para nos preocuparmos, porque na resposta o Benfica fez o terceiro. Foi um passe fantástico do David Luiz, que estando pouco à frente da nossa área conseguiu isolar o Di María no outro meio campo. A velocidade e o talento do Argentino fizeram o resto, e com um único toque na bola fez golo. Simples, directo e eficaz, com apenas dois toques o Benfica fez a bola viajar da entrada da nossa área até ao fundo das baliza da Naval. Estava agora decorridos trinta e oito minutos de jogo, o que significa que o Benfica demorou pouco mais de vinte e cinco minutos a inverter completamente uma desvantagem de dois golos. Até ao intervalo, o Rúben ainda esteve perto do golo, e depois uma invenção do incompetente Elmano resultou num amarelo injusto para o Maxi Pereira, que o coloca fora do próximo jogo.

A segunda parte foi completamente controlada e dominada pelo Benfica. Foram dez minutos até que o Benfica pusesse um ponto final em quaisquer dúvidas que ainda subsistissem, marcando o quarto golo. Mais uma vez o Weldon no lance, indo à direita buscar uma bola passada pelo Cardozo e que parecia ir perder-se pela linha de fundo, que depois centrou atrasada para o remate do Rúben Amorim. O Peiser ainda defendeu este remate, mas já nada pôde fazer perante a recarga do Cardozo. O Carlos Martins entrou logo de seguida (já estava até preparado para entrar quando o Benfica marcou) e entrou muito bem, permitindo ao Benfica fazer posse de bola dentro do meio campo da Naval e ir ameaçando ampliar a vantagem no marcador. Apenas por uma vez durante os segundos quarenta e cinco minutos a Naval incomodou a baliza do Quim, obrigando-o a uma defesa apertada a um remate de fora da área, e fazendo depois a recarga para fora. Quanto ao Benfica, esteve sempre muito mais próximo do quinto golo do que de voltar a sofrer: Carlos Martins (um grande pontapé num livre, a levar a bola a barra), Di María e Cardozo (Peiser a defender os seus remates) foram quem mais perto esteve de marcar. Apesar da vitória por 4-2, a segunda parte até acaba por deixar a sensação que um resultado ainda mais dilatado seria mais justo.

Para não variar, o maior elogio que se pode fazer é à equipa num todo. Nota-se a falta do Saviola, como seria difícil não notar a ausência de um jogador com o seu valor, mas a equipa adaptou-se a um estilo de jogo algo diferente e encontrou as soluções para corrigir um início de jogo que poderia ter sido desastroso. O Weldon acaba por ser, obviamente, a figura do jogo. Não chegou a estar uma hora em campo, mas nesse tempo marcou dois golos importantíssimos, nos quais teve o mérito de aparecer no local certo, e esteve directamente ligado ao quarto golo, não desistindo de uma bola que parecia perdida. O David Luiz esteve ligado ao primeiro golo que sofremos, mas depois disso esteve sempre ao nível a que nos habituou, e redimiu-se com uma assistência incrível para o terceiro golo. Terceiro golo que foi marcado pelo Di María, que mais uma vez foi um dos mais dinâmicos da equipa. Boa exibição (mais uma) do Fábio Coentrão e, conforme disse antes, gostei bastante da entrada do Carlos Martins em jogo.

Mais um pequeno grande passo dado na direcção do título. Faltam agora cinco jogos, e o Benfica continua a não ceder. A forma como, com toda a naturalidade e eficiência, a equipa respondeu e deu a volta a uma situação que parecia ser desastrosa reforça ainda mais a nossa confiança. E de certeza que não deixará de desmoralizar quem ainda alimenta esperanças, mantidas vivas com recurso aos truques mais rebuscados e sujos do seu arsenal, de conseguir roubar-nos a mais do que merecida consagração para o futebol que esta equipa tem mostrado esta época: o título de Campeões Nacionais.

sexta-feira, abril 02, 2010

Double-Decker

Confesso que no final do jogo, enquanto saía da Luz, estava com dúvidas se teríamos acabado de defrontar o Liverpool, cinco vezes campeão europeu, ou a Naval 1º de Maio. Porque sinceramente, aquilo que o Liverpool fez esta noite na Luz não foi muito mais do que aquilo que vi a Naval fazer quando jogou no mesmo estádio. Preocuparam-se acima de tudo em jogar o empate, tendo passado a grande maioria do tempo encafuados no seu próprio meio campo. A diferença foi que o Liverpool teve duas oportunidades durante todo o jogo, e marcou uma delas, conseguindo assim sair da Luz com um resultado lisonjeiro e que lhes abre boas perspectivas para a segunda mão.

Talvez este post não seja muito simpático com o Liverpool, mas eu não consigo esconder o quanto eu detesto este clube. Eu sei que muitos benfiquistas que simpatizam com eles, mas talvez porque as imagens do Liverpool que me ficaram marcadas na infância foram duas eliminações da Taça dos Campeões às mãos deles (ainda por cima uma delas marcada por uma noite infelicíssima de um dos meus heróis, o Bento) e a tragédia de Heysel Park, nunca consegui gostar deles (sempre preferi o Everton). Por isso, se normalmente desejo uma vitória do Benfica acima de tudo, esse sentimento era ainda mais forte esta noite, por estarmos a defrontar uma equipa que é um dos meus ódios de estimação (a outra é a Juventus). O Benfica sofreu um rude golpe para este jogo, que foi a lesão do Saviola. o disse diversas vezes que creio que mesmo sem estar inspirado na finalização, a sua simples presença em campo é fundamental, pois as suas movimentações atrapalham qualquer defesa e permitem a abertura de espaços para os colegas. Perante a sua ausência, a opção tomada foi a esperada, ou seja, avançou o Aimar para a sua posição, ficando o Carlos Martins nas funções de organizador de jogo. Do outro lado, o Liverpool apresentou-se num 4-2-3-1, com o Gerrard a apoiar aquela serigaita espanhola (Fernando Torres) que jogava com bastante liberdade para vaguear por toda a frente de ataque. Uma estratégia cautelosa, e que apostava sobretudo em lançamentos longos para os homens da frente.

O jogo iniciou-se com o Benfica na procura do ataque, mas cedo ficou marcado pelo golo do Liverpool. Aos nove minutos de jogo, um duplo erro da nossa equipa (primeiro na perda de bola, que levou à falta sobre o Gerrard, depois na falha de marcação que permitiu que três jogadores do Liverpool surgissem soltos para rematar) acabou por dar ao Liverpool a oportunidade de se colocar na frente do marcador, pois na sequência da marcação de um livre quase sobre a linha do lado direito da nossa área, o defesa central Agger apareceu solto a finalizar de calcanhar um centro rasteiro e atrasado. O Benfica não acusou o golo, e lançou-se de imediato na procura do empate. Apenas um minuto depois do golo, poderia -lo conseguido, mas o Cardozo deu o primeiro sinal de não estar numa noite particularmente acertada, e conseguiu falhar um golo quase certo, quando apareceu solto após centro do Di María na esquerda. O Benfica continuou a ter a iniciativa atacante no jogo, enquanto que o Liverpool, se estaria satisfeito com um empate, apanhando-se a vencer remetia-se cada vez mais ao seu meio campo, gastava tempo (com o Reina a destacar-se neste particular durante o jogo todo), e limitava-se a tentar lançamentos longos para a rapariga na frente, que regra geral desfalecia ao primeiro bafo que sentia na nuca.

À meia hora de jogo, teve mesmo razão para cair, que a entrada que sofreu do Luisão foi dura, o que valeu o amarelo ao nosso capitão. Na confusão que se seguiu, o Babel foi expulso e a partir daí o pouco que tinha havido do Liverpool até então tornou-se zero. Claro que, para desvalorizar a vitória do Benfica, a expulsão será sempre utilizada como argumento. Mas na primeira meia hora de jogo o Liverpool fez apenas um remate, que foi o que lhes deu o golo. De resto, pouco ou nada tinha feito, e a expulsão apenas acentuou a vontade do Liverpool em não deixar jogar e segurar um resultado que lhe interessava. Não foi pela expulsão que o Benfica passou a dominar o jogo, porque nessa altura o dominava praticamente desde o apito inicial. Infelizmente, o acerto na zona perto da baliza nunca foi muito (com o Cardozo em particular destaque). A ausência do Saviola no ataque notou-se (e isto será um problema a resolver para as próximas semanas), em particular por não haver ninguém que caísse sobre o lado direito do ataque para explorar o espaço entre os centrais e o lateral, no que é um movimento característico do Saviola (curiosamente, quando joga naquela posição o Aimar tem mais tendência para se fixar no centro). Do outro lado, o Di María não estava muito inspirado, e apesar de tentar dinamizar o ataque por ali, perdeu-se muitas vezes em exageros individuais ou tentativas de toques artísticos.

Mais do mesmo para a segunda parte, com o Liverpool inexistente no ataque e o Benfica, a exemplo do que tem sido habitual esta época, a ter uma reentrada forte no jogo e a carregar ainda mais no ataque, mas a revelar dificuldades para furar a muralha defensiva inglesa. Com cinco minutos decorridos, e após um canto do Di María, o Cardozo conseguiu falhar estrondosamente a baliza quando saltou à vontade e tinha tudo para marcar. A insistência do Benfica acabou por ser recompensada após treze minutos. Primeiro, um livre descaído para a direita, por falta sobre o Cardozo. Depois, o mesmo Cardozo marcou o livre, levando a bola a embater com estrondo no poste. Quando se preparava para a recarga, o Aimar foi derrubado em falta (infelizmente o árbitro 'esqueceu-se' de mostrar o segundo amarelo ao Insúa no lance) e na marcação do respectivo penálti, o Cardozo não deu hipóteses. O empate motivou ainda mais o Benfica, que empurrou o Liverpool para o último terço do campo, e praticamente não os deixava passar do meio campo, pois com uma pressão muito alta conseguíamos recuperar a bola ainda dentro do meio campo adversário. A única excepção a isto poderia ter deitado tudo a perder. Faltavam quinze minutos para o final e, após mais uma das inúmeras tentativas de lançamentos longos do Gerrard para a espanholita, esta ultrapassou o Luisão facilmente e ficou isolada, com tudo para fazer o golo. Incrivelmente, não acertou na baliza. Dois minutos depois, novo penálti para o Benfica. Em mais uma incursão do Di María pela esquerda, o seu centro foi cortado pelo Carragher com o braço, e pela primeira vez na vida vi o árbitro de baliza tomar uma decisão num jogo, informando o árbitro principal da falta. Mais uma vez o Cardozo marcou, desta vez enviando o guarda-redes para um lado e a bola para o outro. Infelizmente, depois do segundo golo a dinâmica do Benfica foi interrompida com o mau comportamento do público, que depois de vários petardos terem sido ouvidos ao longo do jogo, alguém na zona da claque enviou um para perto do árbitro de baliza. O jogo esteve interrompido durante pelo menos um par de minutos, e daí até final pouco mais de relevante se passou no jogo.

Não foi exactamente uma exibição brilhante, mas julgo que o Benfica foi esta noite claramente superior ao Liverpool, que desde o início mostrou vir jogar para o empate. No Benfica gostei daqueles que ultimamente têm mostrado atravessar um bom período de forma, ou seja, David Luiz (ganhou claramente os duelos individuais com a muchacha), Fábio Coentrão e Javi García. O Di María irritou-me por ter abusado das iniciativas individuais. Mas depois começo a pensar nas melhores ocasiões do Benfica, e reparo que quase invariavelmente ele esteve envolvido. Talvez tenha uma bitola demasiado alta para ele, e acabe por reparar mais naquilo que ele faz de mal. O Cardozo, ironicamente, depois de um jogo em que ele se revelou perdulário, acaba com dois golos e fica para a história como o responsável pela reviravolta. São dois 'mitos' que ficam abalados esta noite: o de que o Cardozo não sabe marcar penáltis decisivos, e o de que este Benfica não consegue dar a volta a resultados (depois do Marselha, voltamos a fazê-lo com o Liverpool).

Potencialmente, será uma segunda mão complicada. Mas acredito completamente na capacidade do Benfica para marcar golos em Anfield. Se o Liverpool é considerado o grande candidato à conquista da Euroliga, esta noite mostrámos que está ao nosso alcance. Mas isso é de certa forma secundário. O que eu quero mesmo é ganhar à Naval na segunda-feira. E o autocarro (de dois andares) vindo de Liverpool deve ter sido um óptimo treino para esse jogo.