quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Carácter

E pronto, depois dos ameaços em épocas mais recentes (Hertha, Nuremberga), o Benfica conseguiu finalmente matar o borrego alemão e vencer um jogo naquele país. Mas o mais importante nem foi tanto a vitória, mas sim a forma como ela foi conseguida: com um enorme carácter e impondo o seu jogo. Com uma magra vantagem trazida da primeira mão, nunca o Benfica deu qualquer ideia de querer defendê-la, preferindo jogar à Benfica, e ir atrás da vitória.

Com duas baixas importantes - Javi suspenso, e Saviola indisposto - entraram os seus substitutos naturais na equipa: Airton e Jara. E sem surpresas, não foi por isso que a equipa abanou. No meio campo, o Aimar regressou à titularidade, ocupando o lugar que foi do Carlos Martins na passada segunda-feira. Talvez se esperasse que o Estugarda tivesse uma entrada forte no jogo, a pressionar-nos em busca do golo que os colocaria em vantagem na eliminatória. Mas quem apareceu a jogar com as linhas muito subidas e a pressionar logo à saída da defesa foi o Benfica, que logo aos sete minutos deu o primeiro sinal de perigo, com um remate em jeito do Gaitán que só não acabou em golo porque o guarda-redes - desta vez não jogou o Ulreich, que tantos problemas nos deu no primeiro jogo, mas sim o Ziegler - fez uma defesa fantástica. Acho que, sem exagero, os dois guarda-redes do Estugarda no conjunto dos dois jogos devem-nos ter 'roubado' uma meia dúzia de golos. A oportunidade flagrante que se seguiu foi novamente nossa, desta vez com o Coentrão, isolado, a ver o seu remate defendido mais uma vez. O Estugarda, nesta fase, ainda conseguiu ir respondendo e fazer algumas ameaças, mas sempre que conseguiu ultrapassar a nossa defesa encontrou pela frente um Roberto intransponível.

À meia hora de jogo, finalmente, o merecido golo, e um grande golo, por sinal. Depois de uma bola aliviada na sequência de um canto, surgiu o Salvio, ainda bem fora da área, a rematar de primeira cruzado e rasteiro para dar ao Benfica a merecida vantagem no jogo, e respectiva tranquilidade na eliminatória. E nem com este golo o Benfica resolveu descansar sobre a vantagem obtida. Mostrando mais uma vez uma organização defensiva impecável (não é por acaso que estamos há oito jogos, se não estou em erro, sem sofrer golos fora de casa) e capacidade para continuar a pressionar o Estugarda, até ao intervalo foi o Benfica quem continuou a controlar tranquilamente o jogo, e a deixar sempre a sensação de que de um momento para o outro o resultado poderia avolumar-se, quer através de jogadas colectivas - houve momentos deliciosos em que os nossos jogadores trocavam a bola entre si dentro do meio campo alemão, enquanto que os adversários corriam atrás da bola sem sequer a conseguirem cheirar - quer através de pormenores individuais dos nossos jogadores.

A segunda parte trouxe mais do mesmo: nos primeiros cinco minutos, duas oportunidades para o Benfica, primeiro pelo Jara, após passe do Aimar depois de uma bonita jogada pela esquerda, e depois pelo Gaitán, num lance em que o guarda-redes Ziegler acabou lesionado. Para o lugar dele entrou o maldito Ulreich, que mostrou estar tão inspirado quanto o colega que substituiu. Após a interrupção, o Estugarda teve um período de alguns minutos de maior pressão, mas sempre sem causar grandes embaraços à nossa defesa. O Benfica respondeu com mais duas grandes oportunidades, pelo Luisão, que rematou por cima, e pelo Cardozo, defendida pelo Ulreich. Voltou a responder o Estugarda, com duas oportunidades do japonês Okazaki: na primeira, o remate passou perto do poste, e na segunda, o seu cabeceamento foi defendido de forma espectacular pelo Roberto. Nesta altura eu já não temia grandemente pelo desfecho da eliminatória, mas sofria por querer acabar de vez com a maldição da Alemanha. Estava na altura de resolver o jogo, o que o Cardozo se encarregou de fazer quando faltavam pouco mais de dez minutos de jogo, com um livre 'à Cardozo' (já há algum tempo que não o fazia). Marcado na sua zona preferida - descaído para a direita, ainda um pouco longe da área - a bola foi o mais colocada que podia ser, embatendo num poste e depois rolando sobre a linha de golo até entrar junto ao outro poste. Agora sim, acabaram-se as dúvidas de que hoje venceríamos na Alemanha. E até final, ainda construímos oportunidades aumentar a nossa vantagem, mas a falta de pontaria (Gaitán) ou novamente o guarda-redes (Martins) negaram-nos o terceiro golo.

Desta vez não vou mesmo estar a fazer destaques. A equipa pareceu-me toda tão homogénea, com cada jogador a cumprir a sua função quase na perfeição, que seria muito injusto destacar este ou aquele. Todos eles, a começar no Roberto e a acabar no Jara, estiveram muito bem, e entram merecidamente para a história do Benfica com esta vitória.

A nossa equipa está, sem dúvida, no melhor momento da época. Melhor até, arrisco dizê-lo, do que a vi a época passada, porque me parece estar 'mais equipa', menos dependente de individualidades, e não abanando quando algum jogador nuclear está ausente. Hoje foram dois os ausentes, e no entanto creio que pouco ou nada se notou a sua falta. As vitórias sucedem-se, e às vezes até parece que são fáceis. Não são, e a de hoje foi mais um exemplo disso. O Estugarda não facilitou nada, correu muito e deu tudo o que tinha - eu vi-os, aos noventa minutos de jogo e com a eliminatória e o jogo mais que resolvidos, a correr desalmadamente atrás da bola e a tentar pressionar-nos na defesa. As vitórias acontecem, no entanto, não só devido ao talento dos jogadores e técnicos, mas também à forma séria e profissional como a nossa equipa tem encarado cada jogo. Mantendo esta atitude, só podemos esperar que as vitórias continuem.

2 Comments:

At 2/26/2011 9:36 da tarde, Blogger joão carlos said...

Este teu post esta muito bom.


Como disse aqui a semana passada e ficou agora provado os livres para os marcadores que dispomos neste momento tem de ser uns bons metros afastados da grande área.

 
At 2/28/2011 11:39 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sim, parece que é necessário apelarmos pelos livres para eles surgirem.

Mas João, não podemos marcar livres só e apenas quando eles surgem naquele metro quadrado previamente definido.
Terá que haver alguma eficácia para além desse metro quadrado.

 

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