sábado, setembro 13, 2014

Passeio

Foi particularmente agradável regressar a Portugal, chegar a casa, atirar a mala para um canto sem sequer a desfazer, sentar-me à frente da TV para ver a gravação deste jogo sem saber ainda o resultado e ser recompensado com uma goleada triplamente agradável. Triplamente agradável por ser, em primeiro lugar, uma vitória folgada do Benfica; depois por ser sobre o Vitórria, que é um clube com o qual eu não simpatizo particularmente; e finalmente por ser sobre uma equipa treinada pelo Domingos Paciência, que é alguém com quem eu não simpatizo absolutamente nada.


A grande (na verdade, a única) novidade no onze foi a titularidade do Samaris na posição de médio defensivo. Uma lesão terá evitado a estreia do Júlio César na baliza, dando oportunidade ao Artur para tentar limpar um pouco a face depois do empate que ofereceu ao sportém. O Talisca manteve-se como apoio mais directo ao Lima, ainda que por diversas vezes recuasse um pouco no terreno ou trocasse de posição com o Gaitán, aparecendo este a jogar mais perto da área e pelo centro. No último jogo, contra o sportém, o Talisca já tinha deixado alguma indicações positivas. Hoje confirmou-as. O início do jogo mostrou um Setúbal atrevido e provavelmente também aquele que será o amarelo mais rápido deste campeonato, já que o Eliseu conseguiu ser admoestado antes dos dez segundos do jogo. O problema para a entrada atrevida do Setúbal foi a classe muito superior de alguns dos nossos jogadores, e a extrema eficácia que tivemos na primeira parte. Logo aos dez minutos, e no primeiro remate que fizemos, o Salvio inventou um golo fantástico praticamente do nada, com um remate de pé esquerdo de fora da área a não dar quaisquer hipóteses de defesa. Golaço. Reagiu bem o Setúbal, que continuou a querer discutir o jogo olhos nos olhos com o Benfica, mesmo que não tenha conseguido obrigar o Artur a uma única defesa digna desse nome. Mas a agressividade e o ritmo a que o Setúbal foi obrigado a jogar para tentar pressionar a nossa posse de bola teve o seu preço e a partir da meia hora de jogo a equipa pareceu dar o estoiro, assumindo então o Benfica o controlo quase total. Ameaçámos por duas vezes, em que o Talisca só por muito pouco não conseguiu esticar o pé para dar o toque final para a baliza, mas estava escrito que ele iria mesmo deixar o seu nome na lista dos marcadores, o que acabou por acontecer já na fase final da primeira parte. Aos trinta e oito minutos, depois de uma boa jogada de ataque que acabou com um mau cruzamento do Gaitán, um corte ainda pior de um defesa adversário deixou a bola à mercê do Talisca, que finalizou com um remate forte de pé esquerdo. E a dois minutos do intervalo o mesmo Talisca voltou a marcar, desta vez na conversão de um livre directo na meia lua, assinalado após falta cometida sobre ele.


A história da segunda parte quase que se resume aos golos do Benfica e às oportunidades falhadas pelo Lima, já que o controlo do jogo por parte da nossa equipa foi total. Se o Setúbal ainda alimentava qualquer esperança de poder fazer uma gracinha, cedo se desvaneceu. É que tal como na primeira parte, o Benfica marcou com dez minutos decorridos.  Mais uma boa jogada com o Gaitán a progredir pelo meio e a desmarcar o Lima na esquerda, primeiro remate do Salvio (depois de uma simulação do Gaitán) defendido pelo guarda-redes, e depois a recarga do Talisca, de pé direito e de ângulo apertado, só parou no fundo da baliza. Hat trick para o brasileiro no jogo em que finalmente se estreou a marcar em jogos 'a sério'. Depois deste golo, e com o Setúbal entregue, ficava apenas por saber quantos golos mais conseguiria o Benfica marcar. Vimos o Lima desperdiçar várias oportunidades flagrantes de golo (está complicado acabar com a seca...), mas já que não marcou,pelo menos ainda conseguiu oferecer o quinto golo ao Ola John (o holandês tinha entretanto entrado para o lugar do Gaitán). Desmarcado pela direita após um passe do Salvio, fez o centro rasteiro para o poste mais distante, onde o Ola John só teve que empurrar para a baliza deserta. Houve ainda tempo para o Cristante se estrear com a nossa camisola, jogando os últimos vinte minutos sem que no entanto tenha tido oportunidade para mostrar muito, excepto alguma apetência para tentar passes em profundidade para as costas da defesa ou a variar o flanco de jogo.


O Talisca é obrigatoriamente o homem do jogo. Parece mais solto, confiante e integrado no nosso estilo de jogo, e hoje até conseguiu começar a justificar a fama de especialista em bolas paradas com que vem rotulado. Outros jogadores que me agradaram foram o Luisão, que como habitualmente limpou praticamente tudo o que apareceu na sua zona, e o Salvio. O Gaitán não esteve tão fulgurante como é habitual, mas nota-se sempre a sua influência quando aparece com a bola controlada na zona central. De uma forma geral continuo convicto que, tendo nós mantido o trio argentino Enzo/Salvio/Gaitán, do meio campo para a frente continuamos num nível acima da concorrência no que diz respeito a criatividade e qualidade técnica. Gostei do que vi do Samaris. Ainda vai de certeza evoluir muito nas mãos do Jorge Jesus, mas para um jogador que chegou há tão pouco tempo já se mostrou razoavelmente integrado e também parece ter bons pés, pelo que certamente não será um '6' exclusivamente dedicado a tarefas de destruição de jogo.

Acabou por ser um agradável passeio até ao Bonfim, que nos terá até permitido fazer alguma gestão de esforço para a estreia na Champions. Por enquanto continua a não haver sombra dos cenários mais catastrofistas que muitos nos previram durante a pré-época. O início da época não foi brilhante em termos exibicionais, mas foi relativamente sólido (bem melhor que o da época passada) e por agora apenas temos a lamentar o mau resultado da última jornada, fruto de um infeliz erro individual e de alguma falta de pontaria. Esta goleada ao Setúbal pode servir para dar mais confiança à equipa e catapultá-la para outros patamares exibicionais. E eu até tenho boas recordações de épocas com goleadas ao Setúbal.

1 Comments:

At 9/13/2014 7:57 da tarde, Blogger joão carlos said...

Esta análise é mais uma vez o espelho daquilo que se passou em campo.


O jogador que se estreou pareceu mais um seis ao estilo de matic do que um seis puro, alias como este uma adaptação vindo de posições mais adiantadas e por isso mesmo com mais técnica e saída de bola e menor capacidade defensiva no entanto o que temos visto é que no modelo de jogo implementado por este treinador acaba por ser mais útil um seis puro, com muito menos técnica e quase sempre um jogador globalmente inferior aos outros seis, do que um seis com técnica e que saiba sair a jogar é verdade que essa técnica é uma mais valia mas não se destaca nem faz a diferença perante o trio à sua frente que por ser muito ofensivo precisa e muito de quem o proteja e é aqui que as qualidades de um seis puro mais se destacam e fazem a diferença.
O nosso jogador mais avançado é o homem certo na posição errada e isso muito contribui para este eclipse de golos, até porque ele continua a jogar da mesma forma como tivesse um jogador mais adiantado a jogar consigo o que não tem acontecido, a que se soma uma falta de confiança porque em forma esta ele como se viu por este jogo, esta coisa de adaptar constantemente jogadores a determinadas posições é muito bonito mas só resulta quando os jogadores estão confiantes em forma e com moral elevada e basta uma delas não se verificar para os defeitos de quem não joga na posição onde melhor se adequam as suas características virem ao de cima e insistir até mais não nisso tem tendência a queimar o jogador muito mais do que dar-lhe confiança como temos visto noutros casos.
Com esta ultima contratação ficamos com um plantel demasiado extenso, mesmo considerando os dois lesionados de longa duração, no entanto o treinador continua a insistir que tem um plantel de vinte e quatro jogadores, alias o numero que ele acha ideal, o que significa que existem pelo menos três jogadores que não contam para o treinador é mau para os jogadores para o clube e para a saúde do plantel e isso esta bem à vista com a crise de golos do nosso avançado principal apenas um outro tem sido chamado e mesmo assim nem é alternativa.

 

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