quinta-feira, outubro 01, 2015

Remontada

Uma exibição muito personalizada, solidária e aguerrida valeu-nos um importantíssimo triunfo em Madrid frente ao Atlético, e de 'remontada', naquele que será em teoria o jogo mais difícil que tínhamos para disputar no nosso grupo da Champions League.


A troca do Mitroglou pelo Jiménez na frente foi a única alteração no onze, certamente com o intuito de dar maior mobilidade e velocidade no ataque para um jogo em que se adivinhava que o contra-ataque seria uma arma importante. O jogo iniciou-se como era previsível. O Atlético é uma equipa muito forte em casa e começou imediatamente a pressionar bastante alto e de forma muito agressiva. O Benfica tentou responder na mesma moeda e teve algum sucesso, mas acabou por ser naturalmente e progressivamente empurrado para o seu meio campo, com o Atlético a começar a criar ocasiões de golo e a revelar-se perigoso nas bolas paradas. O Benfica apenas conseguia responder esporadicamente, tendo criado uma ocasião de algum perigo na qual o Gonçalo Guedes, já sem o Oblak na baliza, não conseguiu colocar convenientemente a bola e esta foi cortada por um defesa quase sobre a linha. A pressão do Atlético acabou mesmo por dar resultado aos vinte e três minutos de jogo, numa jogada em que o Gaitán 'esqueceu-se' de acompanhar a subida do lateral Juanfran e o centro deste foi depois tocado para a desmarcação e golo do Correa. Foi uma boa jogada de ataque dos espanhóis, mas o Juanfran teve demasiado tempo e espaço para fazer o centro. Entusiasmou-se ainda mais o Atlético e nos minutos que se seguiram ao golo fomos felizes ao não consentir um segundo, que provavelmente nos deixaria sem hipóteses de discutir o resultado. Nesta fase por duas vezes o Jackson teve o golo nos pés, mas os ferros da baliza e o Júlio César evitaram o pior. Mas aos trinta e seis minutos surgiu o golo do empate, que acabou por mudar por completo o rumo do encontro. Começou num centro largo do Nélson Semedo, na direita, a bola é ligeiramente desviada de cabeça por um defesa, e veio cair aos pés do Gaitán do outro lado do campo, que com um remate de primeira não deu quaisquer hipóteses de defesa ao Oblak. O Atlético pareceu acusar este golo e não conseguiu voltar a ser a mesma equipa que tinha sido até então, sendo muito menos perigoso e permitindo ao Benfica manter mais facilmente a bola em seu poder.


Entraram os espanhóis para a segunda parte com a intenção de repetir o forte início de jogo, mas sofreram mais um rude golpe logo aos cinco minutos. É que num contra-ataque perfeito, conduzido pelo Gaitán (claro...) pela esquerda, o argentino, após tabela com o Jonas e progressão no terreno, inventou um passe de pé direito quase perfeito para o outro lado do campo. E digo quase perfeito porque o defesa do Atlético ainda conseguiu tocar muito ao de leve na bola, desviando-a mais para junto da linha final. Mas o Gonçalo Guedes, mesmo quase sem ângulo, ainda conseguiu rematar de primeira e colocar a bola junto do poste oposto, para um grande golo. Isto sim, praticamente arrumou com os espanhóis. Em desvantagem, e apesar de terem passado a ter a iniciativa quase toda no jogo, foram à procura do golo de forma muito pouco racional, com diversas investidas pelo centro, onde encontravam uma floresta de jogadores do Benfica, ou com cruzamentos largos que eram presa fácil para os nossos centrais. Apenas por uma vez (ou duas, ambas na mesma jogada) ameaçaram seriamente a nossa baliza, num remate que foi desviado de cabeça pelo Jackson e na recarga a esse mesmo remate. Em ambas as ocasiões o Júlio César respondeu ao mais alto nível, e com duas excelentes defesas evitou o pior. Isto aconteceu poucos minutos depois do nosso golo, pelo que se pode dizer que o Benfica conseguiu manter a vantagem no marcador durante mais de meia hora sem grandes sobressaltos e com aparente facilidade. E isto muito por culpa da forma solidária e organizada como a equipa jogou. Ajudou também a forma como o Rui Vitória mexeu na equipa: as alterações que fez resultaram (sobretudo a entrada do Fejsa) enquanto que o Simeone tomou opções um pouco mais estranhas e que claramente não trouxeram melhorias à equipa. Retirar o Griezmann e o Correa (que estava a ser o jogador mais perigoso do Atlético) pareceram-me más opções.


Já disse que para mim o mérito maior desta vitória está na equipa como um todo, e quanto a exibições individuais acho que podia elogiar todos os jogadores um a um. Menciono alguns, mas podia perfeitamente escolher outros. O Gaitán é uma das minhas escolhas. É o maior talento, aquele em quem depositamos sempre as maiores esperanças para que resolva, e foi isso mesmo que fez. Um golo, uma assistência, e os adeptos do Atlético talvez tenham começado a perceber hoje que o preço que sempre pedimos por ele não era nada exagerado. O Nélson Semedo continua simplesmente fantástico. Para quem via os jogos da nossa equipa B o ano passado, o mais impressionante é ver que ele joga na Champions exactamente como o fazia nesses jogos. Para ele parece não haver diferença. Aliás, se há diferença é para melhor, porque cada vez está mais seguro a defender. O Jardel esteve imperial na defesa. O Gonçalo Guedes, sem grandes alaridos e muita humildade, vai-se impondo como titular - o que ele trabalha para a equipa nas tarefas defensivas é digno de ver. André Almeida mais uma vez a justificar a validade da aposta em si, já que veio dar muita solidez defensiva. Uma menção também para um dos jogadores que é mais frequentemente criticado, até pelos próprios benfiquistas: gostei muito do jogo do Eliseu.

Esta vitória é, para mim, mais importante do que os três pontos e a liderança isolada do nosso grupo da Champions. É importante pela enorme injecção de confiança que dá à equipa, pela união que mostrámos, e também para acabar com as críticas ao mau registo nos jogos fora. A única coisa negativa desta noite foi o mau comportamento de um punhado dos nossos adeptos, que com atitudes estúpidas mancharam uma noite à Benfica.

1 Comments:

At 10/01/2015 8:10 da tarde, Blogger joão carlos said...

A crónica esta muito fiel aquilo que se passou em campo.


A alteração no ataque mais do que procurar um avançado mais móvel ou mais agressivos factores importantíssimo para um jogo em que o adversário é super agressivo e para um jogo em que previsivelmente seria mais de transições e menos de ataque posicional visou sobretudo tirar partido do conhecimento do jogador do adversário da sua maneira de jogar do ambiente do estádio mas sobretudo de uma motivação adicional que o jogador quereria mostrar de que teria sido errada a sua saída.
Desta vez as substituições foram as perfeitas mas mais do que isso até porque por vezes as substituições por muito certas e acertadas nem sempre resultam até porque quem entra pode sempre entrar mal o melhor sem duvida foi a correcção do erro cometido contra os corruptos em jogos em contra equipas de valor e que o meio campo esta em inferioridade que o segundo avançado nunca consegue completamente equilibrar um dos dois do meio campo tem sempre de ser substituído para mais quando já com amarelo foi bom a percepção do erro cometido e sobretudo a sua rectificação.
Com esta postura e com o trabalho que é feito junto dos jogadores para eles acreditarem que é possível jogar olhos nos olhos com estes adversários mais difíceis estamos mais próximo de ter bons resultados e disputar sempre os jogos mesmo que nem sempre os resultados sejam o que foram agora mas depois o mais difícil nestes casos é depois os jogadores manterem a mesma atitude perante adversários que à partida são mais acessíveis mas que se facilitarmos não o vão ser teremos de ter um trabalho extraordinário de modo a que a confiança que se adquiriu não se torne excesso de confiança e que assim não se deite fora todo o trabalho que se fez até agora.

 

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