segunda-feira, janeiro 07, 2019

Cambalhota

Com uma valente cambalhota no resultado o Benfica regressou às vitórias e ultrapassou um Rio Ave que, apesar de não vencer há vários jogos, durante alguns minutos chegou a assustar e a fazer pensar que hoje poderiam colocar um fim a esse série negra às nossas custas.


Havia curiosidade na estreia do treinador interino Bruno Lage e em quais seriam as suas primeiras escolhas. Estas acabaram por não ser uma mudança radical, fazendo apenas duas alterações em relação ao onze de Portimão: saíram Zivkovic e Gedson, e entraram o Salvio (no que foi uma troca directa) e o João Félix. Este acabou por ser o rosto da principal alteração, que foi a aposta de início num esquema de 4-4-2. Honestamente, não notei assim grandes diferenças em termos da qualidade de jogo - e obviamente que nem seria de esperar muitas, tendo em conta que o novo treinador pegou na equipa há um par de dias. O que se notou principalmente foi uma diferença na atitude dos jogadores. É natural que queiram mostrar serviço ao novo treinador, e pareceu-me que eles pelo menos mostraram vontade em correr e em fazer com que as coisas saíssem bem. Tentaram sobretudo fazer com que a bola chegasse à frente de forma mais célere, apostando até por vezes em futebol directo. E houve a intenção de pressionar alto, mas isso é algo que ainda precisa de ser afinado. Em 4-4-2 com o Fejsa e o Pizzi a jogarem quase lado a lado e ainda sem grande coordenação entre as linhas sobrou ali muito espaço entre as costas da linha média e a frente da defesa que o Rio Ave explorou. E depois infelizmente também não eliminámos ainda o péssimo hábito de deixar o adversário marcar assim que cria uma ocasião de golo. Desta vez o Rio Ave marcou dois golos nas duas primeiras vezes em que se chegou à frente, no curto espaço de três minutos. Assim, com vinte minutos de jogo decorridos já estávamos a perder por dois. Se calhar se não tivesse havido a mudança de treinador isto seria um obstáculo impossível de superar. Mas a equipa (e o público) não pareceram particularmente afectados por isto e toda a gente pareceu acreditar que a vitória estava ao nosso alcance. E a confiança  mostrou ter razão de ser, já que o Benfica respondeu praticamente na mesma moeda, com dois golos no espaço de quatro minutos, e onze minutos depois do segundo golo do Rio Ave já tinha o jogo novamente empatado, graças à nova dupla atacante. No primeiro golo o Félix abre as pernas para deixar o cruzamento do Grimaldo passar, e depois um Seferovic tem uma recepção brilhante que o deixa em posição para finalizar, fazendo a bola passar entre as pernas do guarda-redes. No segundo, o Pizzi recupera uma bola no meio campo e o Seferovic corre com ela pela direita, para já depois de entrar na área a soltar à segunda tentativa para a zona da marca de penálti, onde surgiu o João Félix, que foi o único a antecipar o lance, a controlar e a fuzilar com facilidade a baliza. Depois do ritmo frenético de quatro golos em cerca de meia hora o jogo acalmou um pouco e o resultado manteve-se até ao intervalo.


A segunda parte começou com um lance individual do Grimaldo, que arrancou pela zona frontal da área e foi deixando adversários pelo caminho até eles somarem quase meia dúzia e se isolar, finalizando com um remate ao poste. Poderia ser um bom indicador, mas a verdade é que apesar daquilo que o resultado final possa fazer pensar, o jogo foi bem mais complicado do que isso. Foi sobretudo um jogo bastante aberto, onde achei que a nossa equipa foi demasiado permissiva na defesa. O Rio Ave poderia facilmente ter-se recolocado em vantagem antes de sermos nós a marcar o terceiro golo, e nunca consegui estar propriamente tranquilo a ver o jogo, porque tinha a sensação de que um golo poderia acontecer a qualquer momento. Era necessário mudar alguma coisa e após um quarto de hora o Zivkovic rendeu o Cervi. E o impacto foi imediato, pois praticamente na primeira intervenção que teve, o pé esquerdo do sérvio fez a sua magia e assistiu o João Félix para o seu segundo golo da noite. O cruzamento saiu rasteiro da esquerda para a zina do primeiro poste, onde apareceu o João Félix entre os dois centrais adversários para, com uma finalização primorosa, fazer de primeira a bola entrar no segundo poste. Um grande golo do miúdo, a colocar-nos em vantagem pela primeira vez no jogo. Estava consumada a reviravolta, mas o jogo estava longe de estar resolvido. O Rio Ave continuava a revelar-se perigoso e a nossa defesa permissiva. O quarto golo surge seis minutos depois, mas na sequência de um lance de ataque de grande perigo do Rio Ave, no qual a bola cruza toda a pequena área sem que alguém consiga fazer o desvio decisivo. A bola segui para a esquerda, onde novo cruzamento foi afastado pelo Odysseas com os punhos para os pés do Zivkovic, e a partir daqui desenhámos um contra-ataque perfeito. Zivkovic para o Pizzi, e na altura certa o Pizzi fez o passe para o Seferovic finalizar com classe perante o guarda-redes. Agora sim, já deu para respirar um pouco pois apesar do Rio Ave ter continuado a tentar chegar ao golo até final, os dois golos já nos davam alguma margem de tranquilidade.


Melhores do Benfica, naturalmente, a dupla de avançados. O Seferovic fez um dos melhores jogos no Benfica, onde mostrou sempre uma enorme raça e vontade, sendo recompensado com dois  golos e uma assitência. Justa a atribuição do prémio de melhor em campo no final. Foi acompanhado de muito perto pelo miúdo João Félix, que marcou os outros dois golos e se tecnicamente não somou uma assistência, a forma como deixou a bola passar entre as pernas no primeiro golo para abrir espaço para o Seferovic é meio golo. Não é novidade para ninguém o talento que ali temos, mas dá para perceber nos mais pequenos pormenores que podemos estar perante um jogador muito especial. A intuição que tem e a rapidez e inteligência com que lé o jogo não está ao alcance de muitos. E depois tem uma qualidade técnica invulgar, como ficou bem expresso na finalização do segundo golo que marcou. Se há alguém no plantel que pode ser o sucessor do Jonas, é ele.

Foi muito importante vencer este jogo, e acabou por ser ainda mais importante tê-lo vencido nestas condições. Ver que a equipa foi capaz de dar a volta a uma desvantagem de dois golos aos vinte minutos de jogo é um reforço de confiança muito grande - a título de comparação, quando no jogo contra o Moreirense o adversário marcou o segundo golo e deu a volta ao resultado, a sensação com que ficámos quase todos foi a de que a derrota seria uma inevitabilidade. Muitos dos grandes problemas da nossa equipa continuam todos lá, mas a atitude mostrada hoje é um bom primeiro passo para os minimizar.

1 Comments:

At 1/07/2019 6:46 da tarde, Blogger joão carlos said...

A analise ao jogo esta muito bem conseguida.


Mais do que a mudança táctica ou a altitude dos jogadores o que vimos de diferente foi a pressão alta, mesmo que nem sempre bem executada ou com alguma falhas, e sobretudo a dinâmica e velocidade de ataque coisa totalmente oposta aquilo que se vinha a verificar nos últimos tempos mesmo que a qualidade na execução dos lances não tenha melhorado muito só essa mudança fez toda a diferença.
No entanto os erros estão todos lá sobretudo os defensivos mas nem outra coisa se estaria à espera já que não existiu tempo para fazer o quer que fosse e algumas dessas mudanças terão de ser acompanhadas da mudança de executantes coisas que não se deve fazer de forma abrupta e radical.
Agora a definição do novo treinador tem de ser feita rapidamente até porque para alem da necessidade rápida de conhecer os jogadores e definir quem deve ficar, quem deve sair e sobretudo os acertos necessários também se junta a necessidade de clarificar o modelo táctico já que uma mudança táctica vai implicar que nalgumas posições passe a existir um numero excedentário de jogadores, para alem daquele que existe neste momento, e noutras faltas que temos de suprir e já não falta muito para o fecho de mercado e quanto mais tarde mais difícil será colocar ou arranjar jogadores e ou tudo é feito rapidamente ou vamos ficar condicionados para o resto da época.

 

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