terça-feira, fevereiro 26, 2019

Natural

Creio que diz muito sobre o estado actual da nossa equipa quando chegamos ao fim de um jogo com um resultado de quatro golos sem resposta e mesmo assim ficamos com a sensação que foi pouco. Foi mais uma vitória sem discussão e nem sequer pareceu que a equipa tivesse forçado muito, porque tudo parece ser feito de forma tão natural.


Não havia André Almeida nem Ferro para este jogo, por isso jogou o Corchia na direita (estreia na liga) e o Samaris recuou para central, ficando o Florentino a fazer dupla com o Gabriel no meio campo. Os primeiros minutos deram logo para ver ao que o Chaves vinha. Simplesmente, não vinham para jogar futebol. Uma equipa extremamente defensiva, a acumular gente junto à área e a tentar queimar tempo sempre que possível - ao fim de dez minutos de jogo já o guarda-redes do Chaves era o homem mais odiado sobre o relvado da Luz, e provavelmente assim teria continuado caso o árbitro de serviço não tivesse feito um esforço notável para arrecadar essa distinção. Normalmente até tenho uma certa simpatia pelo Chaves, mas a jogar desta forma e com este treinador não me parece que fique com grande pena se acabarem por descer de divisão. A resistência do Chaves durou dezanove minutos, altura em que o Rafa aproveitou um ressalto na área para inaugurar o marcador - mas o melhor pormenor do lance foi a recepção do João Félix, que deixou o seu marcador directo completamente fora da discussão do mesmo. Mas nem a perder o Chaves abandonou a postura defensiva. O Benfica ia construindo ocasiões para ampliar o resultado, com o Rafa a desperdiçar por falta de pontaria e o João Félix a ver o guarda-redes negar-lhe o golo, seguindo-se um falhanço incrível do Seferovic na recarga. Mas era apenas uma questão de tempo, e aos trinta e sete minutos o golo inevitavelmente acabou por surgir. Grande passe do Seferovic para uma ainda melhor desmarcação do João Félix, remate de primeira de pé direito defendido pelo guarda-redes e recarga imediata e fulminante de pé esquerdo para o fundo da baliza. A perder por dois o Chaves lá deu um ar da sua graça e saiu um bocadinho lá de trás, tentando pressionar a saída de bola do Benfica. E foi imediatamente punido por isso. O lance do terceiro golo foi simples e eficaz: começa num alívio de bola do Vlachodimos, que a faz chegar ao Gabriel. Toque para o João Félix, que rodeado por três adversários liberta de calcanhar para o mesmo Gabriel. Segue-se um passe de primeira para a desmarcação do Seferovic, que mesmo empurrado ainda consegue rematar e fazer o golo. Tudo isto feito de forma rápida e quando os nossos jogadores estavam pressionados por adversários.


Já nos habituámos a ver o Benfica nunca tirar o pé do acelerador mesmo quando está com uma vantagem confortável, por isso todos nós antecipámos o que a segunda parte traria. Afinal de contas, com o Nacional também estávamos a vencer por três ao intervalo e depois foi o que se viu. E o Benfica não desiludiu, pois veio para a segunda parte como se o resultado ainda estivesse em branco. O Chaves não foi deliberadamente defensivo como na primeira parte, foi sim remetido para a defesa por não ter capacidade para atacar. É que os nossos defesas nem sequer tiveram grande trabalho porque era quase impossível ao Chaves conseguir ultrapassar o Florentino e o Gabriel no meio campo, que recuperavam tudo o que era bola que lhes passasse ao alcance. Sinceramente, face ao número e qualidade de ocasiões criadas este jogo poderia muito facilmente ter acabado com um resultado ao nível do do Nacional. Posso estar a esquecer-me de alguma, mas assim de repente menciono um remate do João Félix para a bancada logo a abrir a segunda parte, quando estava completamente à vontade no interior da área, duas ocasiões do Pizzi negadas por defesas incríveis do guarda-redes, mais uma grande defesa do guarda-redes a um remate do Grimaldo (teria dado um golo parecido ao que ele marcou contra o Boavista) ou um penálti que ficou por marcar sobre o Pizzi. Sobre este lance, achei fantástico que mesmo após indicação do VAR de que tinha de facto sido penálti, o árbitro tenha ido ver as imagens e nem assim foi capaz de assinalar o mesmo. Para variar, o VAR fez um trabalho competente mas o desta vez foi o árbitro que não conseguiu ter coragem para fazer o seu trabalho. O jogo estava mais do que ganho, mas todas estas ocasiões desperdiçadas iam contribuindo para a tal sensação de que era pouco. Num jogo em que assistimos à estreia do Jota na liga (já tinha jogado para a taça), só sobre o minuto noventa é que finalmente marcámos o mais do que merecido quarto golo. O Jonas, que tinha substituído o Rafa, tinha que picar o ponto e fê-lo aproveitando um grande passe do João Félix, que o deixou isolado para marcar, ainda que pressionado por um defesa.


Escolho para melhor do Benfica o Gabriel, mas podia muito facilmente escolher também o Florentino. Qualquer um dos dois foi um recuperador de bolas incansável no meio campo, mas o Gabriel destacou-se como habitualmente nos passes, tendo feito a assistência para o terceiro golo. De mencionar também o João Félix, porque esteve nas jogadas dos quatro golos do Benfica. Uma palavra também para o Corchia, que foi mais um exemplo que neste momento todos contam e é por isso uma opção válida para a posição de lateral direito.

Em tempos não muito distantes uma equipa que viesse jogar à Luz como o Chaves se apresentou teria fortes probabilidades de nos causar sérios problemas. Nos tempos que correm, o táctica ultra-defensiva e voltada para o antijogo resistiu dezanove minutos e foi destroçada com uma facilidade e naturalidade que até nos parece normal. Há muito tempo que não via o Benfica jogar desta forma e que não sentia tanto prazer em ver-nos jogar. É uma equipa onde todos querem jogar e mostram uma enorme alegria em fazê-lo. Cheia de portugueses e de gente nova que já está no Benfica há muitos anos. A minha expectativa é mesmo ver se seremos capazes de segurar todos estes jogadores e consolidar isto, porque se o conseguirmos o futuro será radioso.

1 Comments:

At 2/26/2019 7:04 da tarde, Blogger joão carlos said...

A análise é o espelho daquilo que se passou em campo.


O nosso treinador tem optado por não fazer rotação no ataque, já disse varias vezes que o deveria fazer, e se não o faz pelo menos os atacantes deveriam ser os primeiros a ser substituídos, e não os últimos como foi mais uma vez o caso, principalmente o nosso ponta de lança que voltou, tal como no anterior jogo, a demonstrar bastante desgaste e não será por acaso que quer no ultimo jogo quer neste segundo tempo tivemos muitas falhas na finalização e tivemos um índice bastante baixo no aproveitamento das oportunidades criadas.
Invariavelmente as equipas que nos visitam só desmontam, por vezes nem isso, quando temos uma vantagem expressiva e o problema no consolado do anterior treinador é que a equipa entrava em gestão do jogo quando apenas tinha a vantagem mínima e eles continuavam fechados e se já é difícil contra estes sistemas quando se tenta forçar o ataque mais ainda fica quando nem quer se tenta forçar e só se procura gerir o jogo.
Agora que os minutos se acumulam, ainda por cima quando ainda temos mais do que as restantes equipas porque começamos mais cedo, e os jogadores mais utilizados começam a acusar desgaste era extremamente importante recuperar os vários lesionados que dispomos ainda por cima quando na maioria são lesões até corriqueiras mas que no nosso caso duram sempre muito mais tempo a resolver do que nestes casos é habitual e ou recuperamos os lesionados que assim se podem tornar opção ou vamos ficar limitados em opções e assim passar mais dificuldades por não termos jogadores chaves em alturas decisivas.

 

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