segunda-feira, dezembro 13, 2004

Isto vai mal...

Começo este meu primeiro blog público numa nota negativa. Estive há poucas horas no Restelo, onde vi o Benfica ser goleado por 4-1 pelo Belenenses, após mais uma exibição absolutamente patética. Há sempre a atenuante de faltar meia equipa por estar lesionada ou suspensa (Miguel, Luisão, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes, Nuno Gomes... para não mencionar o Mantorras), mas que raio, o Benfica se quer ser candidato a alguma coisa, tem que ter um plantel condizente com esse estatuto.

Este resultado não me surpreende. Vem na sequência de uma série de maus jogos da nossa equipa, série essa que começou praticamente no início da temporada. Sempre torci o nariz à presença do senhor Giovanni Trapattoni aos comandos do SLB, porque o acho um treinador com cariz marcadamente defensivo. O Benfica não pode ter um treinador assim. Os primeiros resultados (positivos), acalmaram-me um pouco, mas sempre achei que a nossa equipa estava esticada ao máximo. Na ausência de um fio de jogo consistente, as individualidades iam resolvendo. Mas assim que essas individualidades começassem a falhar...

E a falhar começaram mesmo. Assim que perdemos o Miguel e o Petit, as fragilidades da equipa (que não passam de um reflexo do treinador) foram postas a nu. Desde então, tem sido um descalabro total. Aliás, um reflexo da falta de confiança da equipa é, para mim, quando comecei a reparar no Trapattoni a mencionar o golo não validado ao Petit contra o porto à primeira oportunidade, mesmo passados que estão meses sobre o acontecimento. Aquilo não pode servir de desculpa para a mediocridade que grassa nos jogos da nossa equipa. E o principal responsável (não o único...) por essa mediocridade é o treinador da equipa!


Em relação ao jogo desta noite, destaco três figuras:


Il Buono (O Bom)






Bem, algo tem que estar mesmo mal para uma equipa sofrer quatro golos, e o guarda-redes ser o melhor em campo. Mas é verdade, se não fosse o Moreira, o resultado poderia ter sido ainda mais escandaloso. O Belenenses atacou pouco, mas de cada vez que conseguiu rematar à nossa baliza, fê-lo com muito perigo. O Moreira apanhou as que conseguiu, mas ninguém faz milagres. Quando, após o quarto golo, o vi mesmo à minha frente desesperado aos gritos com a defesa e quase aos pontapés aos placards de publicidade, veio-me à cabeça a imagem de um desamparado Michel Preud'Homme há uns anos, a ter que jogar atrás de umas duplas do género King e Paredão, ou Paulo Pereira e Paulão, e fazer o que podia para evitar males maiores.


Il Brutto (O Mau)*






OK, o senhor esforça-se... mas não tem talento para mais. De cada vez que ele é titular, eu fico com o credo na boca, e sei que é muito difícil não sofrermos golos. Pior, o que mais me irrita neste jogador é a regularidade com que faz asneiras... e depois, quando por acaso não sofremos um golo (do género, quando o Moreira faz uma defesa impossível, ou o Luisão ou o Ricardo Rocha fazem a dobra) abre os braços como que a dizer 'Calma! Está tudo sob controlo!'. Para além disso, passa a maior parte do tempo a mandar vir com os colegas, quando ele é a maior fonte de instabilidade naquela defesa.

Durante cada jogo tenta cerca de 50 passes em profundidade, dos quais em média 1 atinge o objectivo desejado, 25 vão para uma zona em que só estão jogadores adversários, e 24 vão directamente para fora. Mas ele insiste em ser o organizador de jogo. Como se isto tudo não bastasse, parece ter um pacto com o Diabo. É verdade, sempre que ele vai sair da equipa, há sempre um dos centrais que se lesiona, ou que é expulso, ou que vê o 5º cartão amarelo. Como resultado, lá o temos a comandar o ataque adversário na jornada seguinte. O meu comentário é: chega! Há jogadores que infelizmente não têm valor suficiente para serem titulares do SLB, e o Argel é um dos casos mais flagrantes. Ser apenas esforçado não chega.

*(Eu sei que 'brutto' quer dizer 'feio', e não 'mau', mas prefiro utilizar a versão portuguesa do título)


Il Cattivo (O Vilão)






Este senhor, no espaço de 6 meses, parece ter conseguido destruir completamente todo o trabalho que o Jose Antonio Camacho fez durante um ano e meio. Onde antes eu via união, vejo agora cada um a puxar para o seu lado. Onde antes eu via entrosamento, vejo agora anarquia. Costuma-se dizer que no caso dos treinadores de futebol, os títulos são o melhor cartão de visita. Pois bem, neste caso os títulos parecem ser uma boa identidade falsa. Este senhor tem uma mentalidade completamente ultrapassada. Sobretudo, uma mentalidade de todo inadequada ao Benfica.

Senhor Trapattoni: uma equipa de um clube como o Benfica tem que ter um instinto assassino. Quando o adversário está atordoado, temos que cair em cima deles e atirá-los ao tapete! Nunca, como o senhor defende, dar-lhes um murro, e depois recuar para lhes dar tempo de respirar e recompor-se. Não considero que seja um acaso que após vários anos à frente de uma selecção italiana recheada de estrelas nunca tenha conseguido pô-la a jogar decentemente, ou ganho qualquer título de nomeada. O catenaccio é bom para equipas com falta de talento, ou de argumentos para poderem jogar olhos nos olhos com os adversários. Se hoje em dia tentar incutir essa mentalidade num grupo de jogadores habituado a ser dono da iniciativa do jogo, os resultados só podem ser desastrosos. É por isso que vejo uma equipa à deriva em campo, em que cada jogador parece jogar sozinho enquanto os outros 10 ficam parados a assistir.

Por bem menos do que aquilo que já vi esta época, já vi treinadores serem postos fora do SLB. Mas o senhor Trapattoni tem a seu favor um trunfo forte com a direcção. É que o senhor não levanta ondas. Aceita tudo aquilo que lhe impõem sem refilar. Ao contrário do Camacho. Alguma vez o Camacho aceitaria certas contratações disparatadas como as desta época? Por isso tenho muitas dúvidas que o senhor Trapattoni seja posto a andar, e ainda mais que o Camacho possa regressar. A não ser que seja o José Veiga a sair.

Confesso no entanto que me surpreende a passividade com que nós, adeptos benfiquistas, vamos suportando as asneiras do senhor Trapattoni, e da nossa direcção em matéria desportiva. Parece-me que o conformismo do senhor Trapattoni foi transmitido à equipa, que por sua vez o passou para nós...