Crença
A coisa ainda esteve tremida em Paços e foi preciso esperar até quase ao final para que o mini-estádio da Luz pudesse explodir de alegria. Mas tal só foi possível porque a nossa equipa também revelou uma enorme crença até final, e foi recompensada com a vitória frente a uma equipa que tudo fez para conseguir um resultado positivo contra nós.
Nesta fase da época já não há surpresas na constituição da equipa. Quando há alterações é devido a ausências forçadas, e como do último jogo para este não se verificou mais nenhuma, alinhámos com o mesmo onze que tinha vencido confortavelmente o Boavista. Já escrevi noutras ocasiões que há jogos que logo nos minutos iniciais me dão um mau pressentimento, como se fosse possível adivinhar logo que as coisas vão correr mal. E este foi um desses jogos. Porque o Benfica não teve um daqueles arranques fulgurantes, muito pelo contrário. Contra um Paços que se fechava com os onze atrás da bola e que depois conseguia sair rápido para o ataque, o Benfica não estava a conseguir fazer a pressão alta funcionar nem engatar aquelas combinações rápidas no ataque. O lado esquerdo não estava com o dinamismo do costume, até porque o Zivkovic andava a aparecer muitas vezes mais pela direita. E depois havia a atitude dos jogadores do Paços. Desde o apito inicial que se percebeu que estavam dispostos a jogar o futebol mais feio que fosse preciso, desde que isso lhes garantisse um resultado positivo. Deixavam-se cair ao menor toque (às vezes nem eram necessários toques, como foi bastante evidente um lance logo nos primeiros minutos) aproveitando que o árbitro apitava a tudo, ficavam no chão o máximo de tempo que podiam e tentavam arranjar discussões e quezílias com os nossos jogadores à menor oportunidade - e os nossos jogadores nisso foram pouco inteligentes, porque em vez de voltar as costas iam na conversa. E se essa disposição já era notória desde o início, então depois do Paços chegar ao golo logo aos nove minutos pior ficou. Uma perda de bola do Grimaldo na saída para o ataque foi bem aproveitada para um contra-ataque por aquele lado e um passe atrasado para o remate de primeira, já no interior da área. A tarefa complicava-se, e a pouca inspiração e lentidão no ataque deixava-me apreensivo. Até porque quando conseguíamos criar alguma ocasião para marcar a finalização deixava muito a desejar. Ainda estou, por exemplo, a tentar perceber como é que o Jonas conseguiu não marcar depois de aparecer completamente sozinho a dois metros da linha de golo para cabecear um cruzamento perfeito do Cervi. O que é certo é que apesar do Benfica ter crescido nos minutos finais, a primeira parte acabou connosco em desvantagem.
A segunda parte foi basicamente um massacre constante. Foi daqueles jogos em que se pode perfeitamente usar o velho jargão do 'aluga-se meio campo', porque o Paços não saiu da sua metade. Acantonaram-se em frente à área, reforçaram a táctica de tentar o mais possível impedir que se jogasse, e agarraram-se à vantagem com unhas e dentes. O Benfica foi carregando, muitas vezes com mais vontade do que qualidade, mas o golo parecia estar difícil de aparecer. E com tanta gente de amarelo dedicada exclusivamente à defesa, justificava-se reforçar os números no ataque, pelo que foi com naturalidade que ainda antes de completado o primeiro quarto de hora já abdicávamos do Zivkovic para lançar o Jiménez. O mexicano acabou por ter um papel decisivo no golo do empate, que apareceu aos setenta e dois minutos, mas ainda mais decisiva foi a intervenção do Rafa. Na direita, conseguiu interceptar um passe, depois fez uso da sua melhor característica, a velocidade, para ganhar vantagem sobre o defesa que tinha acabado de entrar e fez o passe atrasado para o remate do Jiménez. A bola parecia levar a direcção certa, mas acabou por bater nas pernas do Jonas e ficar à disposição do nosso melhor marcador, que muito perto da baliza a atirou lá para dentro, tendo ainda tocado no poste. Metade do trabalho estava feito, mas faltava a outra metade e esta adivinhava-se ainda mais complicada porque o Paços ainda reforçou mais o antijogo. A quatro minutos do final tivemos que dar o tudo por tudo no ataque e trocámos o Grimaldo pelo Seferovic. E dois minutos depois (foram dois minutos depois porque estivemos todo esse tempo com o jogo parado, primeiro porque mais um jogador do Paços ficou caído no relvado, e depois porque três quartos da equipa do Paços rodeou o árbitro e andou a discutir uma bola ao solo) os três avançados foram mesmo decisivos para concluir a reviravolta: bola longa do Rúben Dias para a esquerda do ataque, o Jiménez recuperou e meteu no Seferovic, e este fez um passe fantástico para o interior da área que permitiu ao Jonas aparecer na zona do primeiro poste a concluir com um remate rasteiro de primeira. Não foram necessários nove minutos de compensação para chegarmos à vitória, mas o árbitro ainda deu sete - na minha opinião, justificados, mas tenho sérias dúvidas que esses sete minutos tivessem sido dados se não tivéssemos marcado aquele golo aos oitenta e oito minutos. E estes sete minutos ainda foram movimentados: um jogador do Paços foi expulso por agressão ao Jonas, e para fechar da melhor maneira possível o Rafa viu a sua boa exibição compensada com um golo, concluindo com um bom remate cruzado uma jogada na qual o Jiménez ganhou a bola nas alturas.
E eu escolho mesmo o Rafa como o homem do jogo. Sim, o Jonas marcou dois golos e foi decisivo, mas o Rafa não foi menos importante. Parece estar a ganhar confiança com a porta da titularidade que ficou aberta com a lesão do Salvio, e tem vindo sempre a melhorar. O primeiro golo, que começou a desatar este nó complicado, surge por inteiro mérito seu e o terceiro golo é uma finalização muito boa - o que até pode parecer estranho de dizer quando estamos a falar do Rafa, tendo em conta o seu historial recente neste particular. Menção obrigatória para o Jiménez também. Foi muito importante a sua entrada, e ele acabou por estar directamente envolvido nas jogadas dos três golos. Mas mais do que o brilho individual deste ou daquele jogador, para mim o mais importante foi mesmo a atitude da equipa durante toda a segunda parte. Só assim conseguimos conquistar os três pontos esta noite.
Vai ser assim, não tenho dúvidas, até ao final. Todas as equipas vão tentar jogar assim contra nós. A defender com unhas e dentes, a recorrer ao antijogo, com uma atitude quezilenta e a tentar armar confusão, como se houvesse ali uma motivação extra qualquer. Vamos precisar de manter esta atitude e esta comunhão entre adeptos e equipa para fazer frente a isto e mantermos viva a esperança no penta.
2 Comments:
Excelente crónica, D'Arcy.
E ADORO ganhar a equipas que, como esta, passam a vida a fazer anti-jogo depois de se apanharem a ganhar. Quanto o resultado lhes deixa de ser favorável os seus jogadores ficam logo curados das artroses, micoses, espandiloses e tretas afins. Não terei pena nenhuma se forem parar à segunda e nunca mais de lá saírem.
O post esta muito fiel aquilo que se passou em campo.
Existem jogo em que ter o nosso melhor marcador como homem mais avançado e único não resulta especialmente quando as equipas se acantonam na sua área e poucos espaços dão e acabam por ter dois ou três jogadores a fazerem marcação ao nosso jogador que assim não consegue tirar partido das suas melhores características que é aproveitar os espaços deixados pelos restantes jogadores da equipa por isso neste casos não vale a pena insistir num modelo que domina o jogo mas que depois é pouco consequente e quase sempre ineficaz.
Ainda assim o jogador escolhido para sair na primeira substituição foi uma opção erradíssima como é óbvio tinha de sair um jogador do meio campo mas tirar o jogador que nem estava a jogar assim tão mal, mas sobretudo deixar outro em campo que estava a jogar muito pior que defensivamente não recupera uma bola e que nas bolas paradas esteve mais uma vez um desastre não se percebe resultou mas tinha tudo para ser um tiro nos pés.
Rapidamente se percebeu que eles tinham a lição bem estudada para defender as nossas bolas paradas, especialmente os cantos, o que não se percebe é que tenhamos estado o jogo todo a marcar os cantos sempre da mesma forma e que nem por uma única vez termos inovado ou surpreendido porque ou temos planos alternativos para situações como estas em que o adversário vem bem preparados para o que fazemos habitualmente ou então vamos voltar ao passado recente em que éramos uma completa nulidade nas bolas paradas.
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