quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Sofrimento

E pronto, lá conseguimos chegar à final da Taça de Portugal. Foi à custa de transpiração e mais uma exibição pouco conseguida, que nos obrigou a todos ao sofrimento enquanto esperávamos pelo apito final.


Algumas alterações num regresso a um onze mais rotinado, com o Cervi de volta e apenas com a surpresa da titularidade do Florentino em vez do Weigl - a presença do Tomás Tavares era uma certeza face à lesão do André Almeida. A primeira parte nem foi má de todo. Achei que jogámos como era necessário jogar. Estávamos em vantagem e não havia necessidade de nos lançarmos numa correria desenfreada à procura do golo, mas tivemos quase sempre maior iniciativa no jogo e conseguimos gerir aceitavelmente a posse da bola. O Famalicão ameaçava em contra-ataques, sem surpresa nenhuma quase sempre pelo nosso lado esquerdo, onde o nosso Diogo Gonçalves fazia a cabeça em água à nossa defesa. O Ferro jogou vários anos ao lado dele, o Grimaldo treinou com ele no ano em que o Diogo fez parte do plantel principal, e já deveriam conhecê-lo o suficiente para não serem sistematicamente ultrapassados. O Benfica por mais de uma vez desperdiçou lances de contra-ataque de dois para dois ou até mesmo de dois para um porque o passe final foi sempre mal feito: ou saía demasiado curto, ou demasiado longo. Mas aos vinte e quatro minutos fizemos o mais importante, que era marcar primeiro - se tivesse sido o Famalicão a fazê-lo ficariam imediatamente em vantagem na eliminatória e não sei se o Benfica teria capacidade para inverter a situação. Mérito maior para o Cervi, que acreditou num cruzamento de recurso feito pelo Vinícius na esquerda, já quase sobre a linha final. O Cervi conseguiu, quase em cima do guarda-redes, tocar a bola de calcanhar para trás e o Pizzi atirou para a baliza desprotegida. Parabéns também à magnífica realização da SportTV, que conseguiu repetir o lance várias vezes a partir de uma câmara que insinuava que poderia ter havido falta do Vinícius no início da jogada (só mostrava o Vinícius a meter o pé e depois cortava o resto) - aliás, a realização foi notoriamente tendenciosa, não se cansando de repetir lances inócuos na esperança de inventar polémica. Em vantagem, foi tempo para o Vlachodimos brilhar, impedindo por duas vezes o empate. Sempre pelo lado esquerdo. Primeiro foi o Martínez que roubou a bola ao Ferro, isolou-se, e o Vlachodimos fez uma defesa milagrosa com o pé. Depois foi o Diogo Gonçalves que pegou na bola, passou por todos os que lhe saíram ao caminho (Grimaldo, Ferro, Florentino), foi por ali fora isolado, e mais uma vez o nosso guarda-redes levou a melhor. Já no período de descontos o Famalicão introduziu mesmo a bola na baliza no seguimento de um livre indirecto. O lance acabou anulado por posição irregular e ainda bem, porque duvido que quer a queda do Rúben, quer o choque com o Vlachodimos nesse lance tivessem sido considerados falta. A anulação do golo levou ao desespero muito morcão que claramente infestava as bancadas em Famalicão.


O pior deste jogo foi mesmo a nossa segunda parte. É difícil explicar o que aconteceu. Nós simplesmente recuámos as linhas para junto da área e literalmente desaparecemos no ataque. Entregámos completamente a iniciativa de jogo ao Famalicão, e dedicámo-nos a defender a vantagem, mesmo sabendo perfeitamente que um golo do Famalicão relançaria completamente a eliminatória. É que isto foi assim praticamente desde o apito para o recomeço, com o Vlachodimos a ser novamente obrigado a negar o golo ao inevitável Diogo Gonçalves. O mal menor era que, à excepção das entradas do Diogo Gonçalves pela esquerda, o Famalicão raramente conseguia submeter-nos a uma pressão intensa: jogávamos com as linhas mais encostadas à área mas o ritmo de jogo nem era particularmente intenso e o Famalicão não conseguia penetrar, e assim era obrigado a recorrer aos remates de fora da área. Felizmente que esses nunca levaram a direcção da baliza, mas foram vários aqueles que não passaram muito longe. A meio da segunda parte o Chiquinho rendeu o apagadíssimo Rafa e trouxe um bocadinho mais de animação. A única resposta digna desse nome do Benfica foi um contra-ataque conduzido pelo Vinícius, uma vez mais na situação de dois para um. A bola foi passada para o Pizzi, que à entrada da área se atrapalhou com ela e o lance perdeu-se. Depois aconteceu o que se temia: a doze minutos do final o Famalicão chegou mesmo ao empate. Já não será surpresa nenhuma dizer que o lance surgiu pela esquerda. Passe para o Diogo Gonçalves, que passou pelo Grimaldo como se ele nem lá estivesse e depois fez o cruzamento rasteiro para o Martínez se antecipar aos nossos centrais e marcar já dentro da pequena área. Esperava agora um sofrimento ainda maior, mas felizmente para nós o Famalicão não conseguiu criar mais nenhuma ocasião de perigo e continuou apenas a recorrer às tentativas de remates de fora da área para chegar à nossa baliza. O Benfica já tinha feito o Samaris entrar para o lugar do Cervi nos minutos finais, e já nos descontos trocou o Vinícius pelo Seferovic. Uma substituição para queimar tempo, mas mesmo assim o suíço ainda conseguiu dar mais uma demonstração do momento deplorável que atravessa, ao desperdiçar uma ocasião flagrante para acabar de vez com as dúvidas. Depois de uma jogada de insistência do Chiquinho, este deixou a bola para o Seferovic ficar completamente sozinho em frente ao guarda-redes. O Seferovic rematou de pé direito ao lado da baliza, numa atitude que quase pareceu displicente. Não sei se ele anda amuado por ter perdido a titularidade, mas não é assim que a vai conseguir reconquistar. Acabou por ser um ponto final a condizer com a qualidade de jogo que apresentámos na segunda parte.


Melhor do Benfica, obviamente o Vlachodimos. E tal como na primeira mão, o nosso melhor jogador de campo foi o Diogo Gonçalves, que estava do outro lado. Depois daquilo que o vi fazer nos dois jogos contra nós terei alguma dificuldade em perceber se não lhe for dada uma oportunidade para pelo menos fazer a próxima pré-época. Sobretudo quando sabemos que nos faltam alternativas ao Pizzi na direita. Uma menção também para o Rúben Dias, que devia servir sempre de exemplo pela atitude com que se entrega a cada jogo. Pode não ter braçadeira, mas tem a atitude de um líder. E falta de atitude também é algo de que o Cervi não pode ser acusado. Quanto ao resto, há jogadores que neste momento estão a atravessar o pior momento da época. Pouca inspiração, e nalguns casos parece até que estão visivelmente fatigados. Há os casos flagrantes do Grimaldo e do Ferro, mas também o Rafa esteve apagadíssimo e o Pizzi está no mesmo registo há alguns jogos - e é por demais evidente que quando não há Pizzi, há muito pouco Benfica. O próprio Vinícius parece estar muito cansado.

Estamos a atravessar o período mais complicado da época. É imperioso dar a volta a esta situação o mais depressa possível, para que não coloquemos em causa sobretudo o objectivo principal, que é a renovação do título de campeão. Vai ser necessário jogar muito, mas mesmo muito mais do que isto para levarmos de vencida o Braga já no próximo jogo. Quanto à Taça, e um previsível encontro com o Porto na final, prevejo já o habitual circo para que a final não se jogue lá, e depois um novo embate contra o Artur Pasteleiro ou então, como prémio especial de fim de carreira, uma despedida em grande do Xistra.

1 Comments:

At 2/12/2020 7:14 da tarde, Blogger joão carlos said...

O post esta muito fiel a2quilo que se passou em campo.


Mas muito do sofrimento no final é da responsabilidade do treinador com a equipa a recuar desde cedo e com o previsível desgaste dos jogador devido ao pouco tempo de recuperação não soube refrescar em devido tempo a equipa alias foi notório que com a primeira substituição a equipa até conseguiu por momentos subir e só não o fez mais porque as restantes substituições não aconteceram e era notória a essa altura dois ou três jogadores que já nem defendiam nem atacavam e tomaram varias más decisões, que nem são habituais, devido ao cansaço e valou termos gente fresca na frente para no fim conseguirmos uma oportunidade, mesmo que desperdiçada de forma desastrada, coisa que não tínhamos feito até ai.
Mais uma vez se viu que para alem dos problemas colectivos a defender, que existem, o problema maior são os erros individuais dos jogadores que jogam no lado esquerdo da defesa e se o problema do defesa esquerdo penso que será por desgaste físico, já que ele compensa as suas debilidades defensivas com a sua rapidez e até porque nem no ataque ele tem tido a importância que sempre teve, até porque será na actualidade dos jogadores mais utilizados o caso do defesa central é uma questão de qualidade já que os erros são todos provenientes de decisões erradas e que a sua falta de agressividade, que sempre teve, só agudiza.
A quantidade de centros feito pelo ar, por todo e qualquer jogador, sem qualidade e que invariavelmente ou ficam no primeiro defesa ou em alternativa saem pela linha lateral oposta é uma coisa impressionante é que mesmo não sendo o nosso principal modelo de jogo, e até bem, pelo menos sempre serviriam para variar, e por isso, tirar partido da imprevisibilidade e apanhar de surpresa os adversários, até porque se existe gesto técnico que é fácil de treinar é este, e ou passamos a ter quem consiga fazer centros em condições ou então vamos passar por dificuldades.

 

Enviar um comentário

<< Home