Categórica
Eram oito vitórias consecutivas, agora são nove. Nove são também os pontos ganhos ao Porto desde a alteração no comando técnico da nossa equipa. Foi uma vitória categórica no Porto contra um adversário difícil e ainda outros obstáculos que foram surgindo durante o jogo, e que concretizou a ultrapassagem ao adversário desta noite e a conquista do lugar no topo da tabela.
O onze inicial do Benfica foi o esperado e não teve surpresas. Mesmo não sendo um génio das tácticas como o Sérgio Conceição, qualquer benfiquista deve ter sido capaz de adivinhar a equipa com que entrámos em campo. Teste de fogo para a a jovem dupla de centrais Rúben/Ferro, mas nada que intimide os nossos jovens, incluindo um Marega miraculosamente recuperado com baba de caracol. A entrada do Benfica no jogo até foi algo tímida e o Porto teve algum ascendente na fase inicial, chegando ao golo aos dezoito minutos, numa recarga a um livre perigoso depois de uma falta do Rúben sobre o Brahimi quase sobre a linha da área. Houve dúvidas sobre a posição do Pepe no lance, mas já sabemos que sempre que um lance vai ao crivo do VAR nunca é decidido a nosso favor. Por isso siga para golo, tal como seguiu o jogo quando minutos antes o Pizzi foi agarrado em plena área do Porto. Paradoxalmente, o golo fez bem ao Benfica, porque a partir daí fomos claramente a melhor equipa em campo. Quase na resposta só não chegámos imediatamente ao empate porque o Pizzi, em frente ao guarda-redes, rematou contra as pernas do Casillas. Mas aos vinte e seis minutos o empate chegou mesmo, resultado da habitual pressão alta do Benfica: recuperação de bola do Gabriel, completada pelo Seferovic, que depois progrediu pela esquerda e passou a bola para o centro da área, onde o João Félix recebeu à vontade e finalizou com aparente facilidade. O Benfica apresentava-se a jogar no Porto como há muito não via: com um enorme à vontade e a jogar o seu futebol (que diferença em relação a todas aquelas vezes em que vimos o Benfica mudar completamente de cara sempre que lá ia e apresentar-se encolhido e receoso). Não fomos para o intervalo a ganhar apenas porque, na sequência de uma grande jogada de saída de pressão em que a bola foi quase sempre jogada ao primeiro toque entre vários jogadores, o Seferovic rematou mais uma vez à figura do Casillas quando estava sozinho.
No início da segunda parte veio a sequência lógica daquilo que tínhamos visto a acabar a primeira parte. O Benfica cedo se colocou em vantagem, resultado mais uma vez das linhas bem subidas e dentro do meio campo do Porto. O corte do Filipe a um passe para o João Félix fez a bola ir cair nos pés do Rafa, que tabelou com o Pizzi (grande trabalho deste, dentro da área e rodeado por três adversários) e em posição frontal rematou para fazer a bola entrar rasteira e junto ao poste. Fazendo um ponto de situação: nesta altura eu achava que o Benfica era claramente a melhor equipa em campo e que se as coisas continuassem como estava seria muito mais provável um terceiro golo nosso do que o Porto chegar ao empate. Objectivamente, o Porto tem três planos de jogo: a) Chutar bolas para o Marega; b) Dar a bola ao Brahimi; c) Pôr o Alex Telles a despejar bolas para a área. Nada disto estava a resultar, e assistimos mesmo ao Porto a utilizar estratagemas que são mais típicos de equipas pequenas quando vêm jogar à Luz, em que aproveitam livres quase sobre a linha do meio campo para despejar a bola para a área, já que é das poucas formas que têm de conseguir lá chegar. A única razão pela qual a minha confiança na vitória não era absoluta era porque já são muitos anos a ver o Benfica jogar no Porto, e coisas esquisitas têm sempre tendência a acontecer quando o Porto está em apuros. Ainda por cima era mais do que visível a vontade dos jogadores do Porto em levar o jogo para quezílias e arranjar confusões, por isso todo o cuidado era pouco (ficou-me na retina um tentativa do Pepe, uma das criaturas mais asquerosas que alguma vez pisou um campo de futebol, arranjar confusão com o João Félix, que basicamente o ignorou). Então quando ao fim de uma hora de jogo entrou o Otávio em campo, o nível de arruaça elevou-se para valores demasiado perigosos. O Porto apenas por uma vez conseguiu criar uma grande ocasião, valendo-nos um desarme incrível do Samaris quando o Herrera já puxava o pé atrás para rematar para o que seria quase inevitavelmente golo. Aquele desarme valeu tanto como um golo. Logo a seguir, o Otávio fez aquilo que sabe melhor, arranjou uma confusão com o Gabriel e aquele que estava a ser o nosso melhor jogador em campo acabou expulso (o Otávio obviamente que se safou com um amarelo, e na confusão e ajuntamento que se seguiu, que incluiu uma espécie de agressão do Brahimi ao Rúben Dias, toda a gente passou impune). A partir deste momento então o jogo mudou completamente, e o Porto carregou muito mais à procura do empate. Mas a equipa mesmo reduzida a dez não abanou e manteve-se sempre muito organizada e lúcida. Destacam-se duas situações em que o Vlachodimos esteve muito bem, num grande remate de longe do Felipe, e depois num remate à queima roupa do Marega - fiquei com a sensação de que estaria em posição irregular, mas ainda bem que ele defendeu a bola porque já sabemos que não nos podemos fiar no VAR, e em posição irregular ou não o mais provável seria o golo ser validado caso a bola entrasse. Na fase final, e perante a alteração táctica do Porto em que colocou o Danilo em campo para passar a defender apenas com três e fazer dos seus laterais alas, o Benfica reagiu com a colocação do Corchia na direita e juntado o André Almeida ao meio para ajudar na marcação ao Soares.
O melhor do Benfica, para não variar do que têm sido quase todos os jogos desde que o Bruno Lage pegou na equipa, estava a ser o Gabriel até ao momento em que o Otávio arranjou maneira de o meter fora do jogo. É impressionante a quantidade de bolas que recupera e o nosso primeiro golo foi resultado directo disso. Grande jogo também do Samaris. Dois jogadores que praticamente não contavam para o treinador anterior são agora duas pedras fundamentais na recuperação do Benfica. Toda a equipa esteve bem e muito personalizada, mas fiquei particularmente agradado com a nossa jovem dupla de centrais, que deu provas que podemos contar com eles mesmo para jogos de dificuldade elevada.
Contra petardos e foguetório junto ao hotel na noite passada, contra apedrejamentos, contra arruaças, provocações, intimidações e faltas de respeito, contra as campanhas mais difamatórias e agressivas alguma vez vistas a ser movidas contra um clube, fomos ao Porto, fizemos o nosso trabalho com competência, conquistámos os três pontos e a liderança, e voltámos para casa. Sem arrogância, sem passar cartão a quem nos ofende constantemente e é incapaz de se comportar como gente civilizada. Agradou-me a atitude e as respostas do Bruno Lage após o jogo, e agradou-me ainda mais a incapacidade do Sérgio Conceição para perceber porque motivo o perdeu e de reconhecer mérito ao adversário. Enquanto assim continuar, será incapaz de aprender com os próprios erros e isso serve-nos bem. Nada está ganho e está muitíssimo longe de estar - não podemos cair no erro de pensar assim e relaxar. Daqui até final do campeonato - e ainda falta tanto - vão continuar a ser-nos atirados grandes escolhos ao caminho e só mantendo esta concentração, atitude e respeito pelos adversários é que será possível chegar ao objectivo final da reconquista.
2 Comments:
É isso tudo, mesmo, grande D'Arcy.
Gostaria muito que o Benfica e o Samaris chegassem a um acordo para a renovação. É alguém que prezo muitíssimo, como jogador e como pessoa. O pólo oposto, portanto, de rançosos como o Pepe le Pew, de facto um "jogador" que é a imagem perfeita daquele clube de merda.
A crónica esta muito bem conseguida.
Depois daquilo que se passou antes do jogo os jogadores já deviam estar mais do que avisados para o que se ia passar dentro de campo e não se percebe como é que acabamos por nos deixar cair numa mais que previsível provocação que poderia ter deitado tudo em causa, até porque eles tiveram mais oportunidades depois da expulsão do que até ai, e embora a maioria consegui não se deixar provocar, até mesmo aqueles que costumam ser mais nervosos, ainda existiu um ou outro que se deixou ir nestas já previsíveis e vistas provocações.
Mais uma vez se nota a tendência para o nosso treinador atrasar as substituições e não ter feito mais cedo mudança no ataque levou a que cedo a equipa deixasse de ser perigosa no ataque depois até com menos um soube equilibrar tacticamente a equipa, já a primeira substituição resultou bem, é pena é depois tardar em demasias as restantes.
Já são demasiadas as expulsões esta época, mesmo que algumas tenham sido exageradas e que outras se deveram a intranquilidade vivida com o anterior treinador, a verdade é que são muitas e sobretudo são demasiadas porque pese embora a necessária agressividade depois é preciso controlar a mesma depois de se já estar condicionado e ou rapidamente se trabalha e resolve esta situação ou então vamos passar por dificuldades já que ficarmos em inferioridade numérica nos limita muito.
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