quinta-feira, abril 17, 2014

Épico

Simplesmente épico. Este foi um dos jogos a que assisti na Luz que mais prazer me deu ganhar. Foi um jogo em que o Benfica foi enorme, foi buscar forças onde provavelmente nem imaginávamos que existiriam, foi inteligente e soube reagir a todas as adversidades que lhe apareceram pela frente, e que incluíram uma expulsão madrugadora, e sofrermos um golo no primeiro (e único) remate digno desse nome que o Porto fez na direcção da nossa baliza.


Foram afinal várias as alterações que fizemos (algumas forçadas) no nosso onze habitual: Oblak, Luisão, Fejsa, Markovic e Lima, por um motivo ou outro, ficaram fora da equipa inicial. Como tem sido habitual, quem avançou para os seus lugares cumpriu a missão. Neste caso, Artur, Jardel, André Gomes, Salvio e Cardozo. Em relação ao jogo propriamente dito, começo por dizer que creio que nunca tinha visto um Porto entrar tão medroso na Luz, e já vi muitos jogos entre as duas equipas. O Porto entrou verdadeiramente 'borrado' em campo, encafuado no seu meio campo e procurando desde o apito inicial congelar o jogo e queimar tempo. O Benfica, pelo contrário, entrou como tinha que ser, caindo em cima do adversário e submetendo-o a pressão constante, o que ficou bem evidente quando assistimos a uma situação quase inédita de uma boa meia dúzia de cantos consecutivos a favor do Benfica. Houve jogadores como o Reyes (um jogador que voltou a parecer-me bastante medíocre e que o Porto quer fazer acreditar que nos 'roubou') que tremiam e muito sempre que pressionados, e no ataque o Porto era simplesmente inofensivo. Ou nem chegava lá, ou quando chegava o Quaresma encarregava-se de jogar sozinho e estragar quase todas as jogadas. O corolário lógico da nossa pressão foi o primeiro golo, construído em mais uma bonita jogada de envolvimento da nossa equipa, com o Gaitán a ser lançado na esquerda e depois a encontrar, com um cruzamento largo, o Salvio ao segundo poste, que cabeceou para o golo - a bola ainda bateu no poste antes de entrar. Demorámos dezassete minutos a anular a vantagem do Porto, e agora tínhamos pela frente mais cerca de uma hora e um quarto de futebol para vencer a eliminatória. E a julgar pelo que íamos vendo em campo, não parecia nada difícil conseguir isso. 


Mas o cenário alterou-se abruptamente ainda antes da meia hora, altura em que o Siqueira viu dois amarelos de rajada e nos deixou reduzidos a dez - não sei se o primeiro amarelo foi justo ou não, mas um jogador com um amarelo não podia ter entrado daquela forma, e por isso acho que foi um lance de profunda burrice da parte dele. O Benfica teve obviamente que se reorganizar e o sacrificado foi, naturalmente, o Cardozo, que cedeu o seu lugar ao André Almeida - nos últimos três jogos, contra o AZ jogou a lateral direito, contra o Arouca jogou a trinco, hoje jogou a lateral esquerdo, e em todos eles cumpriu. Só depois do Benfica assumir uma postura mais cautelosa, privilegiando sobretudo a organização defensiva, é que o Porto conseguiu passar a ter um pouco mais de bola e jogar mais no nosso meio campo, mas nunca conseguiu vincar qualquer tipo de superioridade em campo, criar uma oportunidade de golo, ou explorar a vantagem numérica. Apenas numa saída pouco ortodoxa do Artur, na sequência de um (raro) canto conseguiram criar algum tipo de sensação de perigo, mas para ser sincero, continuei sempre com a ideia de que continuavam com demasiado medo do Benfica.


A segunda parte não pareceu mostrar grandes diferenças em relação a isto. O Benfica manteve-se organizado, o Porto sem mostrar capacidade para fazer mossa. Foi por isso de forma algo surpreendente que, um pouco caído do céu, surgiu o golo do Porto. Foi uma boa iniciativa individual do Varela, que parecia não ter grande possibilidade de sucesso, mas que aproveitou o que me pareceu alguma passividade do André Almeida, que teve demasiado medo de meter o pé e fazer falta, furou pelo meio da defesa e rematou cruzado para o golo. O Benfica via-se agora em desvantagem numérica e na eliminatória, precisando de marcar dois golos. A resposta do Benfica foi à Benfica. Não houve baixar de braços (nem da equipa, nem do público), houve sim um arregaçar de mangas, ir buscar todas as forças possíveis, e partir para cima do adversário. O mais interessante foi que o Benfica não jogou exclusivamente em contra-ataque; o Benfica, apesar da inferioridade numérica, criava ocasiões de perigo em ataque organizado, em jogadas onde jogadores como o Enzo, Rodrigo, Gaitán, Salvio, Maxi, André Gomes pareciam multiplicar-se em campo e conseguir aparecer em todo o lado. O Porto não tirou qualquer benefício motivacional do golo, e pouco depois do golo já o Rodrigo desperdiçava uma ocasião quase de golo feito, a passe do Gaitán. Mas logo a seguir o Reyes derrubou claramente o Salvio na área, e incrivelmente o Pedro Proença assinalou penálti a nosso favor, que o Enzo transformou com muita calma e a fazer parecer que era fácil. 


A passagem na eliminatória estava agora a um golo de distância, o Porto abanou ainda mais, e não fosse o Rodrigo ter escorregado no último instante (depois de mais uma asneira do inevitável Reyes) e talvez esse golo teria chegado logo a seguir. O jogo foi-se aproximando do final, com o Porto a continuar a ser inofensivo e o Benfica, mesmo estando potencialmente eliminado, a nunca perder a cabeça de cair na tentação de se atirar abertamente ao ataque, o que poderia proporcionar ao Porto a oportunidade de matar o jogo num contra-ataque. Até que, a dez minutos do final, apareceu o momento mágico e decisivo do jogo. Mais uma vez, num lance de ataque organizado, em que o Lima, o Gaitán e o André Gomes andaram a trocar a bola junto ao canto da área do Porto, no lado esquerdo, até que o Gaitán picou a bola para o André. Depois, dentro da área, ele recebeu-a no peito, sem a deixar cair levantou-a sobre o Fernando, e rodou para ficar cara a cara com o guarda-redes, rematando depois para o fundo da baliza para fechar um golo sublime. A Luz explodiu como poucas vezes a vi explodir, e apesar de ainda termos que enfrentar uns longos dez minutos até final, de alguma forma parecia ser quase impossível que o Porto conseguisse voltar a marcar um golo e impedir a nossa festa no final. A verdade é que até final pouco se jogou. Entre substituições, cartões, expulsões (de ambos os treinadores - e não percebo em que raio estava a pensar o Jesus para que de repente aparecesse dentro do campo - e do Quaresma, provavelmente com largos minutos de atraso) e o mero desnorte dos jogadores do Porto, a quem pouco mais ocorria do que enviar balões para a frente, já com o Mangala a avançado, os dezasseis minutos (dez de jogo mais seis de compensação) passaram a correr.


Mais uma vez, o maior destaque tem que ser a equipa. Uma equipa que ao ver-se em inferioridade numérica tão cedo nunca perdeu a cabeça, que soube reagir ao golo indo em busca daquilo que precisava para dar a volta à situação perante um adversário como o Porto, tem obrigatoriamente que ser uma grande equipa (e ainda por cima sabendo nós que nos faltaram jogadores que têm sido importantes esta época). Mas é impossível não ficar maravilhado com aquilo que jogadores como o Gaitán, o Enzo (encheu o campo), o Salvio (está definitivamente a regressar ao que nos habituou) ou o Rodrigo fizeram. Com o jogo enorme, e não, não é pelo golo, do André Gomes - já o elogiei antes e considerei injustas as críticas quase que formatadas que lhe fazem sobre a falta de velocidade ou intensidade: continuo a dizer que acho é um jogador que guarda bem a bola, sabe quase sempre o que vai fazer com ela assim que a recebe, e tem uma inteligência táctica invulgar. Com o pulmão do Maxi, a segurança do Garay, o espírito guerreiro do Jardel, hoje todos foram enormes.

Escreveu-se hoje uma página bonita da nossa história, mas o mais importante foi mesmo os fantasmas que foram exorcizados esta noite. A forma como fomos para cima do Porto, o receio e respeito que eles pareceram sempre ter por nós, até mesmo termos ganho um clássico arbitrado pelo Proença, tudo isto pode significar um passo muito importante para fazer desabar a 'estrutura' bafienta. A nossa Luz não esteve cheia, mas esteve muito bem composta e soube ser o décimo-primeiro jogador de que a equipa precisava, criando um ambiente incrível. Tenho pena de quem poderia ter ido e decidiu ficar em casa, porque perdeu uma noite linda de benfiquismo.

1 Comments:

At 4/17/2014 7:36 da tarde, Blogger joão carlos said...

A analise esta muito bem conseguida.


Sobre o nosso médio defensivo neste jogo já o tinha dito em ocasião anterior que não achava que a velocidade, ou a falta dela, que ele emprega nos jogos fosse o seu grande problema e ficou provado já que ele neste jogo não foi muito mais rápido do que outras ocasiões e isso não o impediu de jogar bem e ate de marcar, a grande diferença ontem teve na agressividade com que aborda os lances e neste jogo esteve bastante agressivo e num lance ou noutro até foi avisado que se volta-se a repetir poderia ser amarelado mas acabou por o não ser porque soube sempre fazer as faltas longe da nossa área em zonas que dão menos nas vistas e isso é outra melhoria já que ele tinha a tendência em não fazer falta onde as deveria fazer e depois ver-se obrigado a comete-las em zonas perigosas para a equipa e para ele disciplinarmente.
Existiu um momento decisivo no jogo e que penso que não se deu tanta importância quanto a devida que foi primeiro o facto do treinador ter feito a substituição que se impunha na primeira parte ainda terá hesitado um pouco mas acabou por faze-la uma equipa equilibrada é sempre muito melhor e mais perigosa do que uma equipa desequilibrada com jogadores fora das suas posições e depois no seguimento disso o facto de ter dado uma explicação ao jogador que ia ser sacrificado ainda antes dele sair ontem pela primeira vez no nosso clube soube ser um condutor de homens e p resultado final muito se deve a essa atitude.
Finalmente um jogo à Benfica já à muito tempo que não tínhamos um jogo assim foram jogos como este que tornaram o nosso clube glorioso e que temos andado um pouco arredados deles, depois fica mais uma vez demonstrado que jogadores com grande técnica também podem jogar à Benfica.

 

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