quinta-feira, setembro 20, 2018

Receio

Duas equipas de planetas diferentes. Creio que todos nós temos a perfeita noção de que o Bayern é bastante mais forte, e que seria sempre difícil e até algo surpreendente alcançarmos um resultado positivo esta noite. Mas custou-me um pouco deixar o estádio com a sensação de que entrámos em campo convencidos que essa surpresa seria impossível. Pareceu-me que houve excessivo respeito pelo adversário da nossa parte, ao ponto de se poder confundir com receio.


A história do jogo é simples de contar. O Benfica raramente conseguiu incomodar o Bayern, que pareceu estar sempre bastante confortável no jogo. O Benfica até deixava homens na frente para travar a saída de bola dos alemães, mas depois a pressão sobre o portador da bola era relativamente macia, com os nossos jogadores a mostrarem demasiada cerimónia em meter o pé. O Bayern nunca pareceu ter que carregar muito, mas com os jogadores que tem na frente pode sempre criar um golo num abrir e fechar de olhos. E vimos isso acontecer logo ao fim de dez minutos. Entrada do Ribéry pela nossa direita, bola passada para o Alaba, que subiu desacompanhado, e centro feito desde a linha de fundo para o Lewandowski, que teve a calma e a classe de evitar rematar de primeira para deixar o defesa cair, antes de colocar a bola no poste mais distante. Até parece fácil. Já para o Benfica, atacar parecia tudo menos fácil. Com os três jogadores da frente a terem uma noite particularmente desinspirada, o golo parecia quase uma miragem. De um modo geral, o Bayern foi sempre deixado quase à vontade para trocar a bola na sua zona defensiva. Os nossos jogadores não arriscavam pressionar os adversários em cima, e quando subiam um pouco mais rapidamente o Bayern colocava a bola em passes longos para os homens da frente criarem perigo. O Renato Sanches em particular recebia quase sempre a bola à vontade no meio do campo e depois tinha uns bons vinte ou trinta metros de terreno livre à sua frente para progredir. E por isso quase sem se dar conta, o Bayern criou mais duas ocasiões soberanas na primeira parte para voltar a marcar. Valeu-nos o Odysseas, que em ambas evitou o golo do Robben quando este lhe surgiu isolado, uma delas depois de um erro inadmissível do Rúben Dias. Nos minutos finais o Benfica adiantou-se mais no terreno e começou a conseguir recuperar bolas no meio campo adversário, mas sem criar grandes situações de finalização. Raramente conseguimos entrar na área adversária ou sequer fazer cruzamentos, e a única ocasião de perigo criada resultou de uma rara situação em que a defesa adversária foi pouco lesta a tirar a bola, acabando com um remate do Salvio já muito perto da baliza que foi defendido pelo Neuer para canto.


Não esperava grande evolução na segunda parte, e ela foi tão parecida à primeira que o Bayern até marcou mais ou menos na mesma altura, e numa jogada quase igual à do primeiro golo. Realce para o facto do golo ter começado numa situação em que o Benfica até tinha subido para pressionar os jogadores do Bayern junto à sua área. O Kimmich parecia estar mesmo em apuros, mas ao fim de poucos segundo a bola estava dentro da nossa baliza. Bastou um toque do Robben a libertar o Renato Sanches, que mais uma vez se apanhou solto e com dezenas de metros para correr com a bola. Levou-a desde o meio campo defensivo alemão até perto da nossa área, soltou-a para a direita da nossa defesa no Lewandowski, e este esperou pela entrada de um colega, mais uma vez desacompanhado, e que mais uma vez fez o centro desde a linha de fundo para a zona frontal da baliza, onde o Renato apareceu completamente à vontade para fazer o golo. Não o festejou, como era previsível, e foi bastante aplaudido pelo gesto, como era igualmente previsível. O golo foi uma espécie de ponto final no jogo. Não é que alguma vez me parecesse que o Benfica mostrasse capacidade para discutir o resultado, mas com dois golos de desvantagem nem sequer poderíamos ter esperança que algum lance fortuito nos permitisse o empate. Ainda respondemos com a melhor situação de golo em todo o jogo, um cabeceamento do Rúben Dias num canto que obrigou o Neuer a uma grande defesa, mas pouco depois pareceu que o próprio Benfica percebeu que dificilmente chegaria lá. Pelo menos as substituições do Salvio e do Pizzi passaram para o público a ideia de que estaríamos já a poupar dois jogadores importantes para o próximo jogo. Não é que algum deles estivesse a ter uma noite particularmente brilhante (a exibição do Salvio então foi atroz) mas são sempre dois jogadores de quem se espera um lance decisivo. Mas mesmo sem eles em campo, na fase final do jogo o Bayern relaxou um pouco e deu mais espaço na defesa. Não o aproveitámos muito (sempre alguma cerimónia na altura de rematar, e depois quando o fazíamos já não era na situação ideal) mas surgimos mais frequentemente perto da baliza adversária e até deu para equilibrar um bocadinho a estatística dos remates, que chegou a estar muito desnivelada. Perto do final, ainda deu para o Odysseas negar o golo ao Robben pela terceira vez.


Como destaques escolho o Grimaldo e o Odysseas. O primeiro pareceu-me ser dos poucos que jogaram a um nível parecido ao que nos habituaram, nunca desistindo de tentar atacar pelo seu flanco, mesmo que desta vez mal acompanhado pelo Cervi. O guarda-redes pouco podia ter feito nos golos sofridos, mas salvou as três situações referidas frente ao Robben.

Foi uma má forma de iniciar mais uma campanha na Champions. Todos sabemos que o Bayern é mais forte, mas pareceu-me que a vitória alemã foi demasiado fácil. Seguem-se dois jogos fora, e é imperativo conquistar pontos em ambos se queremos alimentar qualquer esperança de seguir em frente.

1 Comments:

At 9/21/2018 5:21 da tarde, Blogger joão carlos said...

Simplesmente não podemos entrar com os mesmos jogadores com que entramos para um jogo perante uma qualquer equipa nacional e nem estou a falar por causa da qualidade dos jogadores ser diferente, essa é obvia, mas sobretudo porque as características das equipas e dos seus jogadores são diferente e por isso alguns dos nossos jogadores também tem eles de ter características diferente daquelas que são necessárias nos jogos perante equipas nacionais, e isso não implica, muito pelo contrario, perder a identidade da equipa que pode, e deve, ser a mesma.
Não ponho em causa, nem critico, a opção de não arriscar nas substituições e até poupar jogadores poderia ter feito diferente mas não acho merecedora de critica o que eu não percebo é tendo em conta isto não se ter dado minutos ao ponta de lança que estava no banco e que por vir de lesão está mais do que necessitado de competição para mais quando aquele que tem sido aposta sabemos que não passa do que temos visto, o que é muito pouco, e claramente é muito insuficiente para o que precisamos e desejamos.
Continuar a insistir no mesmo jogador para o miolo do meio campo jogador que não sabe defender, nem sequer fazer contenção, não sabe fazer marcação, alias basta ver os dois lances que eles concretizaram para ver isso até à exaustão é persistir sempre no mesmo erro e esperar resultados diferentes e ou alteramos passando a ter no miolo do meio campo jogadores que saibam defender, sejam agressivos, que façam marcação e condicionem o jogo adversário ou vamos continuar a ter os mesmos resultados que obtivemos anteriormente nesta fase da competição.

 

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