terça-feira, outubro 02, 2012

Natural

As minhas expectativas para esta noite já eram praticamente nulas, e o jogo em nada as contrariou. Superioridade claríssima do Barcelona, que fez o seu jogo do costume sem que nós conseguíssemos fazer o que quer que fosse para o contrariar. A derrota por dois golos sem resposta foi perfeitamente natural.


A fórmula do Benfica para tentar fazer frente ao jogo do Barcelona nada teve de diferente em relação ao que quase todas as equipas tentam fazer. Meio campo reforçado com a entrada de mais um jogador (Bruno César), abdicando-se do segundo avançado (Rodrigo), e depois tentar juntar as linhas o mais possível, abrindo o mínimo de buracos possível para que, uma vez recuperada a bola, se tentasse sair rápido para o ataque. Muitos já o tentaram e falharam, e o Benfica junta-se a essa lista crescente. Até porque a estratégia começou a ruir logo aos cinco minutos, quando o Messi se escapou pelo lado direito da nossa defesa e centrou para o golo do Alexis, que na pequena área se antecipou aos nossos defesas. A resposta do Benfica foi a melhor oportunidade que tivemos durante todo o jogo, mas o Lima permitiu a defesa ao Valdés. Durante alguns minutos desta primeira parte o Benfica ainda foi dando um ou outro sinal de inconformismo, mas foi perdendo cada vez mais velocidade nas saídas para o ataque, até se tornar inofensivo. Muitos dos nossos jogadores mostravam excesso de respeito (ou receio mesmo) do Barcelona, sendo os casos mais evidentes o Artur e, estranhamente, o Garay. O Barcelona ia fazendo o seu jogo e ameaçando o segundo golo, com o Alexis Sánchez a conseguir ter demasiada liberdade pelo nosso lado direito. Só uma grande defesa do Artur negou esse segundo golo, num remate do Messi após mais uma jogada do Alexis.


A segunda parte foi ainda pior. A entrada do Carlos Martins para o lugar do Bruno César revelou-se absolutamente inútil, e a posse de bola do Barcelona foi ainda mais avassaladora. Logo a abrir, e praticamente sem que o Benfica tocasse na bola durante mais de um minuto após o apito do árbitro, o Messi ofereceu o segundo golo ao Alexis, mas o remate deste passou ao lado. Com dez minutos decorridos, o Barcelona praticamente sentenciou o jogo, mais uma vez com o Messi a decidir. Depois de progredir com a bola pelo meio, rodeado de uma multidão crescente de jogadores do Benfica, soltou-a no momento certo para o Fàbregas que, descaído para a direita da nossa área, fez o segundo golo. O único sinal de relativo perigo dado pelo Benfica foi um remate de meia distância do Salvio, que o Valdés defendeu com alguma dificuldade para canto. De resto, a maior parte do tempo foi passada a ver os jogadores do Barcelona a trocar a bola entre si. Eles nem criam muitas oportunidades de golo (o Benfica até terá rematado mais), mas quase sempre que criam uma, é uma oportunidade clara. As entradas do Aimar e do Nolito nada alteraram (pelo contrário, notou-se a saída do Pérez) e os últimos quinze minutos de jogo foram passados perante um Estádio da Luz (que esteve cheio e com um ambiente fantástico esta noite) quase silencioso, também ele adormecido pelas soporíferas trocas de bola do Barcelona, e que apenas despertou quando o Busquets conseguiu ser expulso sobre o final do jogo.


É difícil julgar o desempenho dos nossos jogadores num jogo em que quase não tivemos bola, mas creio que o Matic terá estado a um nível aceitável - talvez se tenha destacado mais por ser dos poucos que constantemente arriscava meter o pé para tentar roubar a bola ao Barcelona. Por muito receio que se possa ter da adaptação do Melgarejo, a verdade é que os lances de maior perigo do Barcelona aconteceram quase todos pelo outro lado, o do Maxi, que foi várias vezes ultrapassado pelo Alexis. Aliás, já em jogos anteriores tem sido o corredor direito a dar-nos mais motivos de preocupação. A entrada do Carlos Martins no jogo saldou-se por um zero absoluto. O Bruno César não tinha estado particularmente feliz na primeira parte, mas o Carlos Martins conseguiu estar ainda pior.

Em décadas a ver jogos do Benfica, julgo que este terá sido o jogo em que eu mais vi uma superioridade tão avassaladora de um adversário sobre a nossa equipa. Era esperada, diga-se. Pelo menos por mim, embora um dos poucos factores de algum interesse neste jogo tenha sido o facto de ter alguns benfiquistas à minha volta que aparentemente nunca tinham visto um jogo do Barcelona, e como tal indignaram-se por ver o Barcelona conseguir trocar a bola daquela forma. O Barcelona não é do nosso campeonato, há muito tempo que não o é, e esse é um dos motivos para que eu me irrite quando vejo o objectivo do campeonato ser hipotecado por causa da Champions. Devemos aspirar a tentar conquistar o segundo lugar no grupo, em disputa com o Spartak e o Celtic (aquela equipa fraquíssima em casa de quem empatámos, que não iria ganhar um único jogo nesta Champions, mas que trouxe os três pontos de Moscovo), mas sem nunca esquecer que a conquista do campeonato tem que ser o grande objectivo.

1 Comments:

At 10/03/2012 7:39 da tarde, Blogger joão carlos said...

Crónica de uma derrota anunciada quando decidimos não contratar ninguém para colmatar as saídas do miolo do meio campo quando elas eram previsíveis, e neste jogo ficou claramente em evidência que jogar apenas com um médio que defende bem não chega e este problema ainda se vai agravar mais quando o nosso único médio defensivo já tem dois amarelos em outros tantos jogos e já esta à beira da suspensão antevendo mais outro problema para a equipa.
Mas eu não gostei não tanto pela derrota que mais ou menos já se antevia mas sobretudo pelo medo que a equipa demonstrou e que se traduziu sobretudo no modo em como a equipa atacou em que privilegiou o chutão e a jogada individual em vez do ataque apoiado e em trocas de bola que nos caracteriza, alias das únicas vezes que o fizemos nos primeiros minutos do jogo criamos sempre perigo. Mais que discutir se devia ter pressionado mais e mais alto e se não devíamos ter recuado tanto acho que o nosso grande mal foi termos atacado no estilo pontapé para a frente e isso é que é táctica de equipa pequena não o jogar em 433 como advoga o nosso treinador.

 

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