Ferros
Vitória arrancada a ferros sobre o Moreirense, num jogo em que mais uma vez jogámos muito mal durante a maior parte dele, para depois começar a resolver o problema que nos criámos a nós próprios outra vez a partir do minuto setenta e quatro. Acabou por ser um jogo bastante semelhante ao do Estoril, mas com duas diferenças: o resultado foi menos desequilibrado e, ao contrário desse jogo, desta vez quem o ganhou foi mais o querer e a qualidade individual dos jogadores e não tanto a equipa como um todo.
Desta vez o Victor Andrade foi titular no lado direito do ataque, sendo esta a única alteração ao onze que tinha iniciado o jogo frente ao Arouca. Quanto ao jogo jogado, infelizmente vi mais do mesmo. Ou até menos do que o mesmo a que me tenho vindo a habituar, porque sinceramente achei que hoje até jogámos pior do que nos jogos anteriores. Jogo muito mastigado, previsivelmente lento, e portanto uma presa demasiado fácil para um Moreirense que, sem surpresas, se acantonou à frente da sua área na defesa do empate. A ideia subjacente ao tipo de futebol que o Rui Vitória pretende implementar no Benfica é dar mais 'conforto' aos jogadores, ou seja, um futebol de maior posse de bola e menos correrias. O problema é que até agora isto resulta num estilo de jogo extremamente lento e previsível, e que definitivamente não parece ser a fórmula mais eficaz para ultrapassar a forma como a maioria das equipas se apresenta frente ao Benfica. A mim parece-me que transições rápidas, em que fazemos a bola e vários jogadores chegar a zonas de finalização o mais rapidamente possível e em que apanhamos o adversário desorganizado, dá melhores resultados do que ataques organizados lentamente a partir de trás, com toda a equipa a avançar em bloco, e que quando chegamos à frente apanhamos com os defensores todos posicionados e organizados, acabando nós a batalhar contra uma muralha e a tentar furá-la sobretudo pelo meio. Mas isto é apenas uma opinião minha, eu não tenho cursos de treinador e estou longe de ser um entendido na matéria. Falo apenas daquilo que eu gosto ou não de ver dentro do campo. O que é certo é que mais uma vez o que quer que tenhamos tentado fazer na primeira parte não resultou, ficámos sobretudo dependentes de acções individuais para tentar criar algum perigo e, pior ainda, o Moreirense colocou-se em vantagem assim que conseguiu fazer um remate à nossa baliza. Só depois disso é que vi o Benfica criar uma flagrante ocasião de golo, mas o Jonas conseguiu fazer o mais difícil e rematou ao lado quando tinha tudo para marcar. Quanto ao Moreirense, se já vinha jogar para o empate e tinha começado logo desde o início a praticar antijogo (aos cinco minutos já o guarda-redes estava a pedir assistência), ao apanhar-se a ganhar tornou a coisa ainda pior e mais flagrante. Foi vê-los a cair como moscas, e o jogo a arrastar-se penosamente até ao intervalo.
Contra o Estoril foram as alterações após uma hora de jogo que começaram a mudar o seu rumo. Desta vez o Rui Vitória decidiu não esperar tanto tempo e fez logo duas substituições ao intervalo, deixando o Pizzi e o Victor Andrade no balneário e trocando-os pelo Talisca e o Gonçalo Guedes. O Talisca até trouxe mais alguma verticalidade ao nosso jogo e o Guedes mais alguma agressividade ao flanco direito, mas no geral pouco mudou e continuámos a revelar imensas dificuldades para criar grandes embaraços à defesa do Moreirense. No ataque o Mitroglou ainda parece estar demasiado lento e preso de movimentos, mas tem presença física e hoje conseguiu por algumas vezes segurar a bola e abrir espaços para os colegas. Foi assim que proporcionou a segunda grande ocasião de golo ao Jonas, que desta vez rematou por cima da baliza. Instantes depois foi o próprio Mitroglou a desperdiçar uma grande ocasião, vendo o guarda-redes defender um cabeceamento seu para a barra da baliza (poderia ter finalizado bem melhor). O tempo continuava a escoar-se e o resultado não se alterava, o que levou o Rui Vitória a recorrer basicamente à mesma alteração que tinha tentado contra o Arouca. Fez entrar um terceiro avançado (Jiménez) trocando-o pelo Eliseu, e colocando um extremo a lateral esquerdo. Desta vez foi o Gaitán, contra o Arouca tinha sido o Carcela. A alteração foi feliz, pois um minuto após a entrada em campo o Jiménez cabeceou de forma irrepreensível um cruzamento do Gaitán para empatar a partida. E ainda o público nem se tinha acabado de sentar todo após os festejos do primeiro golo quando o Samaris, num remate de fora da área depois de um bom trabalho do Mitroglou, colocava o Benfica em vantagem. Parecia mesmo um déjà vu do jogo contra o Estoril, mas desta vez pareceu-me que nos retraímos após a obtenção da vantagem. Como tínhamos em campo uma equipa muito descompensada, com três avançados e com o Gaitán a lateral, defender a magra vantagem seria sempre uma estratégia que envolvia riscos. Infelizmente o Moreirense voltou mesmo a marcar, no segundo remate que fez à baliza em todo o jogo. É certo que o golo foi precedido de um fora de jogo tão evidente que custa (ou se calhar não) perceber como foi possível validá-lo, mas o que é certo é que foi mesmo validado e agora víamo-nos empatados em casa com apenas cinco minutos para jogar. Felizmente não foi preciso sofrer muito, porque um novo cruzamento certeiro do Gaitán permitiu tirar o máximo partido da presença dos três avançados em campo, com o Jiménez a arrastar o defesa e o Jonas a surgir sozinho no interior da área para rematar de primeira e voltar a colocar o Benfica em vantagem (parecendo depois pedir desculpa pelas duas ocasiões falhadas). Vantagem que conseguimos então controlar até final sem sobressaltos.
O homem do jogo para mim foi o Gaitán, que já soma quatro assistências para golo nos jogos disputados esta época. Vão ser dois dias muito longos até ao fecho da janela de transferências, porque na minha opinião a sua saída será praticamente impossível de colmatar com a mesma qualidade. Os miúdos Victo Andrade e Nélson Semedo não estiveram tão bem hoje, pecando por excesso de individualismo. Mas neste momento a minha maior preocupação começa a ser a forma do Luisão. Para mim é talvez o jogador mais importante do Benfica, mas esta época ainda está longe do nível a que nos habituou. Para além de erros individuais, vistos também na pré-época, vejo-o muitas vezes em situações onde se encontra completamente desposicionado, o que não é nada habitual nele. Espero que volte o quanto antes ao nível a que nos habituou.
O resultado foi a vitória, mas ele não faz com que eu esqueça aquilo que vi esta noite. De uma forma sucinta, a opinião que tenho é que ganhámos este jogo sobretudo porque temos melhores jogadores do que o Moreirense. Porque em termos de equipa propriamente dita, o que eu vejo é ainda muita balbúrdia e indefinição dentro do campo. A justiça da vitória é incontestável e todas as estatísticas do jogo mostrarão que o Benfica fez muito mais do que o Moreirense para o ganhar, mas há muito que trabalhar e há muito que melhorar para atingirmos o nível que esperamos do futebol do Benfica. Nem sempre o talento individual dos nossos jogadores ou um lance fortuito mais bem conseguido conseguirá resolver um jogo no qual oferecemos demasiado tempo ao adversário. Como contra o Arouca.
1 Comments:
A crónica mais uma vez esta com a qualidade que nos tens habituado.
Acho que o erro não esta na forma mais controlada como jogamos, alias existem vários exemplos de equipas que o fazem e não é por isso que deixam de jogar bem ou marcar golos perante equipas igualmente fechadas, mais sim da forma como executamos essa forma de jogar lentos na execução, previsíveis e sobretudo sem linhas de passe alias este tem sido o grande problema que leva a que os jogadores da defesa e meio campo ou se agarrem mais à bola e por isso a percam ou que façam passes de elevado risco e com poucas hipóteses de sucesso e pior com probabilidades de isolar jogadores adversários.
No entanto alem da falta de dinâmica ofensiva que é para já o principal defeito a equipa ainda assenta em vários equívocos que o treinador tarda em resolver ter dois defesas laterais que defendem mal é um risco elevado para mais quando os dois tem liberdade para atacarem ao mesmo tempo e se porventura se pretende insistir nisso então um seis puro é obrigatório e o oito tem de ser um médio com muita capacidade defensiva e de compensação e a realidade é que de vários extremos direitos testados nenhum parece ser a solução e o titular infelizmente nem sequer deve jogar esta época.
Embora neste jogo defensivamente a equipa apenas tenha concedido uma oportunidade, que deu golo é certo, faltam fazer acertos até porque os centrais ficam muito sozinhos contra o mundo e mesmo que o nosso capitão esteja em forma, e claramente não esta alias dos três golos sofridos com ele em campo dois só existem porque é ele a colocar os marcadores em jogo e isso diz muito da má forma do nosso capitão, a sua idade e a falta de velocidade não são as características mais adequadas para se ter num esquema destes em que é necessário centrais rápidos no entanto nesta fase, até porque não temos mais ninguém sequer que possa em campo fazer o seu papel, a sua experiencia é importantíssima e imprescindível o que obriga a fazer acertos e concessões noutros sectores da equipa.
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