segunda-feira, setembro 26, 2016

Suor

Antevia-se um jogo difícil e as previsões não saíram furadas. O Benfica foi obrigado a pagar com suor para infligir a primeira derrota do Chaves no campeonato, com a tarefa tornar-se particularmente complicada depois de uma primeira parte aquém do exigível - também por culpa da boa réplica do adversário.


Uma única alteração no onze em relação ao último jogo, tendo o Ederson voltado a ocupar a nossa baliza. Imagino que tenhamos adoptado uma política de alternância na baliza, porque o Júlio César até tinha sido um dos melhores no jogo contra o Braga. O jogo na primeira parte foi essencialmente de muita posse de bola da parte de Benfica, mas pouca inspiração ou imaginação para fazer grande coisa com essa posse de bola. O André Horta pareceu jogar demasiado recuado, a aparecer mais na zona do Fejsa do que a fazer a ligação com o ataque. O Pizzi pela esquerda nunca é o mesmo jogador e perde influência no centro. Por isso pelo meio não se viu grande coisa. Pelas faixas, era sobretudo pela esquerda e devido à constante acção do Grimaldo e algumas movimentações do Gonçalo Guedes ou do Pizzi que conseguíamos criar algumas situações mais interessantes - a melhor delas foi uma combinação entre o Grimaldo e o Pizzi logo nos primeiros minutos com um passe atrasado, que só não deu bom resultado porque o Mitroglou e o Gonçalo Guedes se atrapalharam um ao outro. Do outro lado, era para esquecer. O Salvio esteve num daqueles dias em que resolve jogar sozinho e ainda por cima não estava inspirado, e o Nélson Semedo não esteve muito melhor. O Chaves jogava de forma a explorar o contra-ataque. Pressionava o Benfica ainda no seu meio campo, e assim que recuperava a bola conseguia sair rapidamente com três ou quatro jogadores e com o mínimo de passes possível, de preferência a tentar explorar o espaço nas costas da nossa defesa. A partir da meia hora de jogo pareceu-me que esta situação se agudizou. Até então o Chaves não tinha criado muito perigo, mas no último quarto de hora da primeira parte o Benfica começou a perder mais frequentemente a bola, com demasiados passes errados, e a revelar muito maior permeabilidade aos contra-ataques do Chaves. Até foi nesta fase em que o Mitroglou conseguiu fazer um golo que acabou por ser mal anulado por suposto fora de jogo, já que ele estava em linha com a defesa, mas aceito a decisão porque acho sempre ridículo estar a discutir questões de centímetros. A situação mais complicada para nós apareceu a cinco minutos do descanso, quando na mesma jogada o Chaves acertou por duas vezes no poste direito da nossa baliza, e depois ainda falhou a recarga de baliza aberta. Ficou o sério aviso para o Benfica.


A segunda parte só poderia ser melhor. O André Horta apareceu em terrenos mais avançados e isso ajudou logo a melhorar um pouco o nosso jogo apenas pela presença dele naquela zona. Por outro lado, o Chaves foi progressivamente pagando a factura do intenso esforço a que a pressão que tentou exercer durante a primeira parte o obrigou. Mas o factor decisivo acabou por ser a alteração feita à hora de jogo, quando o inconsequente Salvio deu o lugar ao Cervi. Não só pela entrada do Cervi, mas também porque nessa altura o Gonçalo Guedes se fixou mais na esquerda e o Pizzi passou a ocupar preferencialmente a zona central. A conjugação destes factores todos foi-nos dando cada vez mais superioridade no meio campo - algo que em que estivemos claramente deficitários durante a primeira parte. O próprio Nélson Semedo subiu de rendimento depois do Salvio sair (ajuda ter à frente dele alguém que faça jogadas com ele em vez de constantemente baixar a cabeça e partir sozinho para cima de três adversários) e foi sobre ele que foi cometida a falta da qual nasceu o primeiro golo do Benfica. O livre foi marcado pelo Grimaldo de forma tensa e na direcção da baliza, e depois quase na pequena área surgiu o Mitroglou, mesmo pressionado por um defesa, a tocar ligeiramente de cabeça na bola e a desviá-la do guarda-redes. Isto aconteceu aos sessenta e nove minutos, e face ao que estava já a ver naquela altura fiquei convencido que depois de termos feito o mais difícil, só um golpe de azar nos tiraria a vitória. Parecia-me aliás muito mais provável o Benfica aumentar a vantagem, e esse cenário confirmou-se no resto do jogo. O Chaves durante toda a segunda parte foi quase inofensivo no ataque, e o golo do Benfica pareceu esvaziar por completo o pouco ar que ainda restava no balão. O segundo golo do Benfica e o da confirmação dos três pontos apareceu mesmo, a seis minutos do final. Mais um livre marcado pelo Grimaldo, quase sobre a linha da área, a bola embateu na barreira e na recarga o Pizzi rematou de forma colocada e sem hipóteses de reacção para o guarda-redes adversário. E quase no final até poderia ter mesmo surgido o terceiro golo (que, admito, seria um castigo demasiado pesado para o Chaves) mas o Carrillo viu o guarda-redes fazer uma grande defesa para evitar esse golo.


Os melhores do Benfica num jogo em que não houve muito brilho foram, para mim, o Grimaldo e o Mitroglou. O espanhol conseguiu fazer o flanco esquerdo praticamente sozinho e nos piores períodos da equipa conseguiu ser o jogador que mais a empurrou para a frente. Ainda há quem o critique por defender mal, mas sinceramente parece-me que ele tem sabido progressivamente equilibrar cada vez mais o seu jogo e não é por aquele lado que a defesa treme. O Mitroglou voltou a mostrar as suas qualidades de matador. Foi o jogador mais rematador do Benfica, colocou a bola no interior da baliza adversária duas vezes e viu os golos serem anulados (um mal, outro bem) e à terceira desatou finalmente o jogo. Quanto à parte negativa, apesar de vários jogadores terem estado pouco inspirados (Nélson Semedo, André Horta, até mesmo o Fejsa não esteve tão bem como nos tem habituado) é impossível não destacar o Salvio pela negativa. Deve ter sido o pior jogo que eu alguma vez o vi fazer. Não sei se ganhou um lance individual, e não sei se terá havido algum lance em que terá optado por passar a bola em vez da iniciativa individual. Foi inacreditavelmente mau, e não foi coincidência que o jogo do Benfica tenha melhorado substancialmente quando ele foi substituído. Se vai insistir por esta via, será o candidato número um a sair da equipa assim que o Rafa recuperar.

Foi um jogo menos conseguido do Benfica na primeira parte, e fomos felizes naquele lance específico das duas bolas no poste. Mas de qualquer maneira parecem-me manifestamente exageradas algumas das apreciações ao jogo que já li ou ouvi. A vitória do Benfica foi perfeitamente justificada porque mesmo com um jogo menos conseguido fomos a melhor equipa no terreno de jogo. Que as coisas podiam ter sido muito diferentes caso o Chaves tivesse marcado no referido lance, não duvido. Mas não se pode resumir todo um jogo a esse momento. Por mim, fica a satisfação de termos dado mais um pequeno passo na direcção certa (e um passo que seria sempre difícil sob quaisquer circunstâncias porque não me parece que defrontar este adversário naquele campo seja um jogo fácil) mesmo continuando a ter várias baixas importantes.

1 Comments:

At 9/27/2016 4:55 da tarde, Blogger joão carlos said...

A análise é muito fiel ao que se passou em campo.


Já não é a primeira vez que quando o nosso médio centro tem um jogo apagado a equipa acaba por também o fazer e ser um reflexo dessa exibição sendo natural esta inconsistência para mais num jogador ainda muito jovem como ele é o que já não é nada natural é não termos no plantel outro jogador, sem ser uma adaptação, que faça aquele lugar e já nem estou a falar só dos impedimentos dele mas como neste caso em que as coisas não estejam a resultar não temos qualquer alternativa se quisermos mudar o rumo do jogo e é um erro repetido sucessivamente já o ano passado tivemos de recorrer à equipa B só que nem todos os anos a equipa B pode conseguir tapar as lacunas e penso que este ano é um deles em que nem ai parece existir solução para este problema.
Temos uma quantidade enorme de extremos até talvez um à mais do que o ideal, já que esse nem sequer foi inscrito nas competições europeias, mas depois existe um completo desequilíbrio na sua composição em que um apenas joga na direita dois deles só jogam bem na direita e na esquerda a diferença de qualidade é abismal para pior e outros dois ainda não se notando tanto a diferença preferem jogar do lado direito restando apenas um que tem como lado natural o esquerdo, é um desequilíbrio que não deveria existir ou pelo menos não deveria ser de forma tão acentuada e na contratação de jogador não basta atender à qualidade e potencial dos jogadores mas também ao equilíbrio do plantel.
Estamos a correr um risco enorme em jogar com dois laterais tão ofensivos ao mesmo tempo e que se projectam os dois ao mesmo tempo no ataque e como se viu em caso de perdas de bolas deixam os centrais isolados e a maioria das vezes em inferioridade numérica esta é uma situação que tem de ser corrigida ou com um deles a ficar atrás à vez ou com a entrada de um lateral mais defensivo e que equilibre mais a equipa é que só os centrais é pouco muito pouco até porque os adversários também reparam nisto e tendem a cada vez mais explorar a situação e ou corrigimos rapidamente a situação ou vamos passar por momentos difíceis.

 

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