segunda-feira, fevereiro 11, 2019

Perfeito

Foi um jogo praticamente perfeito da nossa equipa, daqueles que a nossa geração provavelmente nunca terá visto e que dificilmente conseguirá voltar a ver. O mais próximo disto que vi só talvez a goleada por 8-1 ao Setúbal na primeira época do Jorge Jesus, mas mesmo assim achei o jogo de hoje alguns furos acima desse.


O onze apresentado pelo Benfica não teve surpresas. É aquele que será o onze base do Bruno Lage, com os regressos do Vlachodimos à baliza, do Rafa para o lugar do Salvio, e com o Ferro a ocupar o lugar do lesionado Jardel e a estrear-se como titular na equipa principal. E o que escrever sobre um jogo que o Benfica ganhou 10-0? Todos os adjectivos que tente encontrar para elogiar o que a nossa equipa fez não farão justiça. Acho que só mesmo quem viu o jogo, sobretudo no estádio, é que conseguirá perceber a enormidade daquilo que jogámos e a alegria e vontade de jogar que os nossos jogadores mostraram e fizeram transbordar para as bancadas. O resultado começou a ser construído aos 33 segundos de jogo, altura em que o Grimaldo marcou o primeiro golo sem que os jogadores do Nacional tivessem sequer tocado na bola - desta vez a bola entrou mesmo, numa jogada muito semelhante à primeira que fizemos no último jogo contra o Sporting, em que isso não aconteceu. Foram 33 segundos para mostrar ao Costinha que a estratégia pífia de trocar a escolha dos campos de nada serviria. Tudo o que de bom esta equipa tem andado a produzir esteve no terreno de jogo, cada vez mais refinado. Pressão alta e constante. Ataque permanente aos espaços vazios quando temos a bola, com toda a gente em movimento para oferecer opções de passe ao jogador que a transporta (que diferença para tempos recentes em que víamos a equipa parada a olhar quando um colega transportava a bola). A palavra mais forte para descrever o nosso futebol parece-me ser 'dinâmica'. É uma equipa em constante movimento, com imensa fome de bola, em que vemos dois e três jogadores a pedir a bola ao colega que a tem, e que nunca parece ficar saciada. Podia simplesmente enumerar os golos do Benfica e os seus marcadores, e não seria necessário escrever mais nada. O segundo surgiu pouco depois dos vinte minutos, e já depois do Benfica ter ameaçado várias vezes que ele aí vinha, tendo inclusivamente visto um golo anulado. Não valeu o golo do Rafa, mas valeu o do Seferovic que se isolou pela zona central quase da mesma maneira - recuperação de bola no meio campo defensivo adversário pelo Gabriel, passe do João Félix a isolar o suíço. Antes da meia hora já lá morava o terceiro, que começou num passe soberbo do Rúben Dias a desmarcar o André Almeida, que depois cruzou a bola rasteira para o Seferovic encostar na zona do segundo poste. Logo a seguir, foi por muito pouco que o Benfica não marcou aquilo que seria um dos golos da época, numa jogada que mostrou o quanto esta equipa se está a divertir a jogar futebol. Pizzi, André Almeida, João Félix em trocas sucessivas ao primeiro toque, que incluíram passes de calcanhar, com o Seferovic a não conseguir finalizar. Nos minutos finais da primeira parte o Benfica pareceu acalmar um bocadinho o furacão e o Nacional teve tempo para respirar um bocado, mas toda a gente percebia que assim que o Benfica voltasse a forçar os golos voltariam a aparecer.


Foi com essa expectativa que os adeptos regressaram do intervalo. Pensávamos em fazer uma segunda parte ao nível da primeira e com sorte marcar outros três golos. Qual quê. Não interessa se há jogo europeu a meio da semana, esta equipa tinha fome de bola e foi para cima do adversário como se o resultado ainda estivesse a zeros e precisasse desesperadamente de marcar. O Pizzi abriu o livro e deu festival, ao fim de onze minutos já tínhamos dobrado o resultado e com mais de meia hora ainda para jogar já se perspectivava um resultado histórico. Começou com o João Félix a marcar de cabeça ao segundo poste depois de um livre do Pizzi. Depois foi o Pizzi a converter um penálti cometido sobre si mesmo, na sequência de mais uma transição rápida. Logo a seguir, canto do Pizzi e o Ferro subiu ao segundo andar para juntar à estreia a titular também a estreia a marcar pela equipa principal. Pouco depois, de assinalar a estreia de mais um menino do Seixal na equipa principal, quando o Samaris cedeu o lugar ao Florentino. Fico particularmente satisfeito com isto porque é um dos nossos jovens jogadores em quem eu deposito mais esperanças e que mais admiro já há alguns anos, acreditando que acabará inevitavelmente por ser titular da equipa principal. Já que o tema eram os jovens da nossa formação, depois do golo do Ferro e da estreia do Florentino, logo a seguir veio um golo do Rúben Dias. Novo livre do Pizzi, corte defeituoso de um defesa e o Rúben a aproveitar para finalizar de cabeça, já perto da baliza. Eram já sete, estávamos com sessenta e cinco minutos de jogo, e seria compreensível que começássemos a pensar no encontro europeu. Mas entretanto o Jonas regressou à equipa e veio naturalmente com vontade de mostrar serviço. E isso resultou em mais três golos nos minutos finais do jogo. O primeiro de livre directo, marcado pelo Jonas numa jogada estudada, em que o Rúben e o Florentino se baixaram na barreira para deixar a bola passar. Depois veio um golo do Rafa, que há muito o procurava e cuja exibição mais do que o justificava. Foi uma intercepção de um mau passe de um jogador do Nacional e depois uma boa combinação com o Pizzi, que não foi nada egoísta e ofereceu ao Rafa uma finalização fácil. Com nove golos marcados e o jogo a acabar o público da Luz deve ter tido vontade de ver o marcador chegar aos dois dígitos, porque pela primeira vez pediu em coro mais um golo. E o Jonas fez-nos a vontade, marcando o décimo depois de se isolar pela zona central, numa altura em que os jogadores do Nacional provavelmente só desejariam encontrar um buraco bem fundo para se enfiarem lá dentro. Estavam completamente perdidos dentro do campo e reclamavam frequentemente uns com os outros.


Não houve melhores em campo neste jogo. Para ganhar por dez a zero toda a equipa tem que se exibir a um nível altíssimo. Mas menciono as quatro assistências e um golo do Pizzi, a importância que o Grimaldo ou o Rafa têm na dinâmica e velocidade com que jogamos, a enormidade que o Gabriel está a ser no meio campo, onde é omnipresente e consegue ser influente a atacar e a defender, na linha daquilo que no passado vimos jogadores como o Ramires ou o Witsel fazer. A equipa esteve excelente e qualquer jogador parece ser fundamental porque todos eles participam de forma muito activa no jogo. E mesmo considerando que isto não foi um jogo normal, gostei mesmo muito dos minutos de estreia do Florentino, porque mostrou muita da qualidade que lhe reconhecemos durante todos estes anos nas nossas equipas de formação. Um número considerável de desarmes e recuperações de bola, e sempre uma calma olímpica com a bola nos pés.

Não digo isto com arrogância ou com o objectivo de achincalhar o Nacional, mas de uma forma objectiva os 10-0 até são escassos para a produção ofensiva do Benfica esta noite. Se o jogo tivesse acabado com os proverbiais 'quinje a jero' não seria exagerado. É muito satisfatório jogar e ganhar assim, mas como é óbvio não podemos esperar que as coisas corram tanto de feição em todos os jogos. Foi uma bela demonstração de força no encurtar das distâncias para o topo da tabela, mas confio que saberemos evitar as euforias - pode ser apenas um pequeno pormenor, mas gostei muito que durante todo o jogo não se tenham ouvido uma única vez os quase inevitáveis 'olés'. Todo o cuidado é pouco - depois do jogo europeu teremos uma deslocação ao terreno de mais uma equipa orientada por um antibenfiquista primário, que certamente não olhará a meios para nos travar, muito provavelmente embalado por mais uma nomeação arbitral desagradável.

2 Comments:

At 2/11/2019 9:02 da manhã, Anonymous Adamastásio said...

Boas, D'Arcy. "Todos os adjectivos que tente encontrar para elogiar o que a nossa equipa fez não farão justiça". Assim de repente também não me ocorre nenhum adjectivo, mas há um verbo que se ajusta na perfeição ao caso. É pouco utilizado porque raras são as vezes que o justificam. Refiro-me ao verbo "Chalanizar". O Bostinha e a sua apesar de tudo brava equipa foram ontem chalanizados.

 
At 2/11/2019 7:15 da tarde, Blogger joão carlos said...

O post esta muito bem conseguido.


Para ser perfeito foi só pena que com o jogo encaminhado logo no início do segundo tempo as substituições não terem sido imediatas e mais cedo não só para dar mais tempo aos que entraram mas sobretudo um menos desgaste aos que saíram até porque ainda ficaram um ou outro em campo que deveriam ter saído, até porque a rotação continua a ser mínima e esses doeriam ser aquele que poderiam ter sido poupados a este jogo, assim fosse possível efectuar mais substituições.
Já tínhamos visto melhorias nas bolas paradas em jogos anteriores com a introdução de jogadas estudadas também com a introdução da incerteza no executante com vários jogadores a assumirem o papel de os executarem mas o que de novo temos visto que se acentuou ainda mais é que mesmo os que com o anterior treinador eram crónicos executantes, e cronicamente os executavam mal, hoje quando são chamados a essa função já tem um índice de execução muito, mas mesmo muito, mais elevado sintoma de que realmente alguma coisa não estava realmente bem.
Com o passar dos jogos e com cada vez mais os mesmos jogadores a acumularem minutos a rotação tem também de ser ela cada vez maior até porque ou a fazemos de livre vontade ou então a ela vamos ser obrigados pelas razões erradas e com isso a passar por dificuldades.

 

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