segunda-feira, dezembro 24, 2018

Redenção

And now for something completely different. Ganhámos bem. Jogámos bem. Dominámos o jogo e não deixámos a menor sombra de dúvida sobre qual era a melhor equipa em campo. E no final destroçámos por completo uma das equipas mais fortes e regulares deste campeonato, podendo afirmar sem dúvidas que o resultado não é melhor do que a exibição; pelo contrário, adequa-se-lhe perfeitamente.


Entrámos em campo com um onze sem surpresas, que será o mais previsível nesta altura. A defesa habitual, o Gedson a completar o trio do meio campo, e as alas entregues ao Zivkovic e ao Cervi. O Braga entrou na Luz disposto a justificar o estatuto de candidato ao título jogando de peito aberto, num 4-4-2 no qual os alas tentavam compensar a inferioridade numérica no meio. Durante os minutos iniciais até me pareceu que o Benfica não iria conseguir explorar isso, porque o Pizzi aparecia demasiadas vezes muito adiantado, ou encostado à direita, onde se sobrepunha ao Zivkovic e era redundante, ou perto do Jonas. Mas a partir dos dez minutos tudo isso mudou, com o Pizzi a aparecer em zonas mais centrais e recuadas, para pegar no jogo. Mas a principal diferença no nosso jogo esta noite, e que permitiu construir este resultado, residiu na atitude. Uma grande agressividade à perda de bola, com pressão quase constante sobre o adversário, muitas vezes com mais do que um jogador a atacar o portador da bola. E depois, uma vez recuperada, muito maior velocidade na transição, em particular pelo Gedson mas também pelo Cervi, Zivkovic ou Grimaldo. O domínio do Benfica começou a tomar forma, e depois de uma boa jogada colectiva o Jonas apareceu solto ao segundo poste em boa posição, mas falhou a tentativa de rematar de trivela e a bola saiu ao contrário daquilo que se queria. O Braga afastou a bola, e na insistência um passe do Grimaldo encontrou o Pizzi ainda na frente, descaído sobre a esquerda. Veio para o meio, tirou o defesa da frente, e rematou cruzado para o poste mais distante. 


Um belíssimo golo, a dar início às festividades na Luz, e ao qual se viriam a somar muitos outros golos de belo efeito. Estavam decorridos dezanove minutos de jogo, e nos minutos que se seguiram ao nosso golo o Braga teve o seu melhor período no jogo, deixando a ideia de que estava na discussão do resultado e que o empate poderia surgir. Foram três boas situações as que conseguiu construir: um remate de longe do Fransergio que ainda raspou na barra, um remate à malha lateral por parte do Dyego Sousa depois de um contra-ataque, e uma situação em que o Ricardo Horta apareceu em situação privilegiada para marcar, mas o Vlachodimos fez bem a mancha. Foram quase quinze minutos de equilíbrio, mas o lance do Horta foi o canto de cisne do Braga no jogo, porque a partir daí o Benfica pegou nele e não mais o largou. E aos trinta e nove minutos aumentou a vantagem, num cabeceamento do Jardel após canto marcado pelo Zivkovic na direita do nosso ataque - depois da longa travessia no deserto, dois jogos seguidos a marcar na sequência de pontapés de canto, ambos marcados pelo Zivkovic. Este golo fez lembrar um pouco o frango do Ricardo com o Luisão, que nos deu o título no ano do Trapattoni. O guarda-redes saiu para agarrar a bola e quando estava à espera que ela lhe chegasse às mãos, a cabeça do Jardel chegou primeiro. O segundo golo, mesmo obtido perto do intervalo, não foi sinal para que o Benfica abrandasse, e só não aumentámos para três logo no minuto seguinte porque o guarda-redes bracarense conseguiu fazer bem a mancha aos pés do Jonas, que lhe apareceu isolado à frente depois de um mau corte de um defesa. Até ao apito para intervalo continuámos sempre a procurar com afinco o terceiro golo.


O regresso para a segunda parte nem sequer foi a continuidade do fecho da primeira, porque a atitude foi ainda mais decidida. Rapidamente recompensada com um golo do Grimaldo, que depois de um grande passe do Cervi entrou na área pela esquerda, aproveitou um mau corte de um defesa, e de pé direito colocou a bola entre o guarda-redes e o poste. O Braga respondeu rapidamente e reduziu três minutos depois pelo Dyego Sousa, que de cabeça concluiu um cruzamento da esquerda - a bola desviou ligeiramente no Zivkovic, o que terá ajudado a que o Rúben tivesse ficado completamente fora do lance. Mas o Benfica pagou na mesma moeda, e também três minutos depois voltou a repor a vantagem com um golo do Jonas, na conclusão de uma belíssima jogada colectiva. Toque de primeira do Cervi a desmarcar o Gedson, corrida deste em direcção à área e quando flectiu para o meio toda a gente, incluindo os jogadores do Braga, anteciparam que iria rematar. Em vez disso, soltou a bola para a esquerda onde o o Cervi, que acompanhou a jogada, recebeu solto e passou a bola para um Jonas completamente à vontade à entrada da pequena área, que apenas teve que encostar para o golo. Foi uma forma eficaz de cortar cerce quaisquer ambições que o golo tivesse dado ao Braga de entrar na discussão do resultado. O jogo era nosso e, para vincar bem isso mesmo, mais dois golos de rajada, aos sessenta e três e sessenta e sete minutos, já com o Seferovic em campo no lugar do Jonas. O primeiro foi numa jogada rápida, simples e eficaz. Lançamento de linha lateral na direita, toque de primeira do Seferovic a desmarcar o Zivkovic e passe atrasado para o interior da área, onde surgiu o Cervi com um remate de primeira a fuzilar a baliza. O segundo, uma prova de que era mesmo uma noite em que tudo corria bem. Canto na esquerda, bola metida no Pizzi, que depois de uma boa incursão individual para ganhar a linha de fundo colocou a bola para o segundo poste. Esta foi afastada para a zona central na entrada da área onde, contra todas as probabilidades, apareceu o André Almeida a rematar meio de pé esquerdo, meio de canela, quase em queda, e a fazer a bola descrever um arco perfeito que a colocou na gaveta. Entrou mesmo junto ao ângulo superior, com o guarda-redes a não poder fazer mais nada senão olhar. O golo foi de certa forma o ponto final no jogo, já que o Benfica deixou de procurar o golo com tanta intensidade e o Braga percebeu que não havia mesmo nada mais a fazer senão lutar pelo brio. Ainda conseguiu reduzir a quinze minutos do final, num remate colocado do João Novais, mas pouco mais digno de realce aconteceu até final.


Gedson, Pizzi, Cervi, Zivkovic, Grimaldo, todos eles se destacaram numa grande exibição da nossa equipa. De realçar o 'regresso' do Pizzi, depois de ter andado completamente ausente durante várias semanas. Este foi aliás um dos factores que eu julgo mais terem contribuído para tão drástica melhoria exibicional. O Gedson foi importantíssimo quer na pressão, quer nas transiçõpes, o Cervi marcou um golo e fez duas assistências, o Zivkovic é provavelmente o jogador mais inteligente que temos no plantel e o Grimaldo cada vez mais me convence que esta será a última época que o verei jogar com a nossa camisola, já que em breve dará o salto para mais altos voos.

Fez mais este jogo pela recuperação da confiança e crença da e na equipa do que os seis anteriores. Esta exibição, resultado e consequente salto de dois lugares na classificação podem muito bem significar a redenção desta equipa. Mas para isso é fundamental que saibamos transportar tudo o que de positivo retirámos do jogo de hoje já para o próximo jogo. Porque se voltarmos a apresentar o nível exibicional dos jogos anteriores, tudo terá sido em vão.

1 Comments:

At 12/24/2018 11:44 da manhã, Blogger joão carlos said...

A crónica esta muito bem conseguida.


A grande diferença para o que andávamos a ver nos últimos largos tempos foi a atitude e determinação que todos tiveram e isso fez toda a diferença até porque tendo a equipa jogado bem, muito melhor do que no passado recente, até nem teve muitas na primeira parte mas essa determinação e atitude levou a que fosse tremendamente eficaz coisa que depois transportou para a segunda onde por via da confiança que foi crescendo ai sim as oportunidade fora aparecendo.
Acho precisamente que foi o adiantamento do nosso segundo médio que fez a diferença já que é em zonas próximas, ou dentro, da área que ele faz a diferença e que mais evidencia as suas características como foi o caso, principalmente na primeira parte, ao contrario de quando joga mais recuado em que é lento a decidir e trava sempre o nosso jogo, ao contrario do que faz quando esta perto da área, alias as nossas transições foram quase sempre rápidas porque ele nunca participou nela no seu inicio mas sim já perto das zonas de finalização.
Finalmente as bolas paradas começam a sair não só com impacto no resultado mas sobretudo com oportunidades e numa larga maioria em perigo para isso muito contribuiu o facto de não ser sempre o mesmo a executar estes lances, até nos livres indirectos passamos a ter outros executantes, como principalmente os cantos passaram a ser executados de forma fechada em vez dos quase sempre inoperantes cantos abertos que seja para continuar e que se aprenda que não vale insistir até à exaustão em coisas que comprovadamente não funcionam porque nem em todos os jogos vamos ter tantas oportunidades nem ser tão eficazes em lances de bola corrida.

 

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