quinta-feira, março 10, 2016

Brilhante

Com um central disponível. Com um (enorme) guarda-redes a estrear-se na Champions - e que se estreou no passado fim-de-semana na liga. Com um golo adversário claramente precedido de uma ilegalidade. Mesmo assim, vitória e brilhante apuramento para os quartos da Champions League. E tudo isto sem cérebro.


Era uma tarefa complicada que tínhamos pela frente, quer pela margem mínima que levávamos para a Rússia, quer pelas ausências por lesões e castigos na defesa. Foi necessário recuar o Samaris para jogar ao lado do nosso quarto central do plantel, enquanto que na direita jogou o Nélson Semedo. No meio campo, em boa hora regressou o Fejsa. Quem esperava que o Benfica fosse jogar dedicado exclusivamente à defesa da magra vantagem deve ter tido uma surpresa, porque fomos tudo menos uma equipa defensiva na primeira parte. Tentámos jogar o jogo pelo jogo, sabendo que a vantagem era demasiado curta para podermos passar os noventa minutos a defendê-la, e sabendo que  um golo deixaria o desfecho da eliminatória muito favorável para as nossas cores. Por isso mesmo a posse de bola foi bastante repartida entre as duas equipas, com ataques de um lado e de outro. Na defesa, cedo se viu que o Samaris não estava a estranhar a nova posição, e que não seria por ali que a equipa iria tremer, até porque a dupla de centrais contou com a preciosa contribuição do Fejsa, que regressou ao mesmo nível em que estava quando se lesionou. Não foram muitas as ocasiões de perigo durante a primeira parte, e as que houve foram igualmente distribuídas entre as duas equipas. A nossa melhor ocasião foi um remate do Renato Sanches, que passou muito perto do poste, e do outro lado houve duas ocasiões nos pés do mesmo jogador, Dzyuba. Numa, o remate cruzado também passou muito perto do poste, e na outra foi o Ederson quem saiu aos pés do avançado e evitou o pior. À saída para o intervalo, as perspectivas eram as melhores: não só nunca passámos por nenhum sufoco, como a probabilidade do golo aparecer parecia ser igual para ambas as equipas, o que obviamente nos favorecia.


O segundo tempo não mostrou grandes mudanças logo no início, embora fosse já visível que era o Zenit quem agora conseguia ter mais posse de bola, mas depois do primeiro quarto de hora decorrido o cenário alterou-se bastante. Após uma dupla substituição operada pelos russos, a pressão destes aumentou e o perigo passou a rondar mais frequentemente a nossa baliza. Depois de algumas ameaças, a vinte minutos do final o golo chegou mesmo, quase a seguir à nossa primeira substituição (Jiménez no lugar do Mitroglou) e num lance em que pareceu haver uma falta clara cometida sobre o Nélson Semedo. Mas como não foi assinalada, o Zhirkov pôde progredir sem oposição até entrar na área e depois, já mesmo sobre a linha de fundo, centrar para a entrada de cabeça do Hulk já dentro da pequena área. Com o Zenit a chegar ao empate na eliminatória desta forma, isto podia ter sido um golpe capaz de abalar a confiança da equipa, mas isso não se verificou e a resposta surgiu quase de imediato. No seguimento de um canto o Lindelöf cabeceou a bola para o sítio certo, mesmo ao ângulo superior da baliza, só que o guarda-redes russo correspondeu com uma enorme defesa. O jogo voltava a ficar mais equilibrado, mas a grande oportunidade que se seguiu voltou a ser dos russos, quando o gigante Dzyuba resolveu arrancar com a bola por ali fora, deixando para trás todos os nossos jogadores que lhe saíram ao caminho até que o Ederson, que era o último obstáculo entre ele e o golo, conseguiu defender o remate. E a cinco minutos do final, numa altura em que o espectro do prolongamento já pairava, o Jiménez inventou um remate fantástico ainda de muito longe que levou a bola mais uma vez na direcção do cantinho superior da baliza. E mais uma vez o guarda-redes russo fez uma defesa fabulosa, só que desta vez fez a bola ir bater na trave e ressaltar para a frente da baliza, onde apareceu o Gaitán completamente à vontade a cabecear para o golo. A eliminatória ficava ali resolvida mas não o jogo, porque o Talisca, que tinha entrado já no período de descontos, ainda foi a tempo de, na primeira intervenção que teve e literalmente na última jogada da partida, aproveitar uma insistência do Gaitán pela zona central para tirar um adversário da frente e de pé direito marcar o golo da vitória.


Numa exibição muito personalizada e sólida da nossa equipa, o destaque maior vai para o regressado Fejsa, que foi um gigante no meio campo. Se dúvidas houvesse, o jogo de hoje só mostra o quanto o Benfica tem andado a perder com a sua indisponibilidade por lesão. Os miúdos Ederson e Lindelöf voltaram a mostrar que podemos contar com eles para o que der e vier, e o Samaris esteve praticamente impecável no centro da defesa - se calhar até melhor do que no meio campo, porque optou por jogar simples e limpar as jogadas, em vez de fazer daqueles passes de risco que ele por vezes resolve inventar. De resto, praticamente toda a equipa esteve num nível elevado, embora tenha sido visível o motivo pelo qual o Nélson Semedo não conseguiu recuperar a titularidade e é o André Almeida quem continua a merecê-la.

Aconteça o que acontecer daqui por diante, este é já um desempenho notável da nossa equipa nesta edição da Champions, ainda para mais tendo em conta todas as ausências e consequentes dificuldades para formar uma defesa para este jogo. Agora temos que mudar o registo e pensar no campeonato, pois segue-se a primeira das nove finais que temos para disputar. Depois de duas importantes e difíceis vitórias, a recepção ao Tondela tem que ser encarada com exactamente a mesma mentalidade desses dois jogos. O maior obstáculo que pode haver no caminho para o título somos nós quem o pode criar, se entrarmos num registo de excesso de confiança.

1 Comments:

At 3/10/2016 7:57 da tarde, Blogger joão carlos said...

A analise ao jogo esta muito bem conseguida.


O que merece mais destaque nesta passagem de eliminatória é ela ter sido feita com uma defesa tão inusitada e tão de recurso não só pela falta de entrosamento da mesma como num dos casos pela falta de experiencia do lugar a que temos de somar a grande juventude da maioria dos seus componentes.
Nesta altura em que os jogos se começam a acumular e que ainda se vão mais acumular por este resultado é necessário a recuperação dos vários jogadores lesionados que por essa via vão trazer não só a experiencia, e qualidade, como a frescura à equipa já que o nosso treinador não é adepto de mudanças ainda que se impunha uma ou outra, não tanto para dar frescura, mas para substituir jogadores que estão claramente abaixo da sua melhor forma e saído da equipa mais rapidamente poderiam recuperar os seus melhores índices para voltarem na melhor da s suas formas.
Se analisarmos todos os jogos feitos até agora com equipas de valor igual ou superior ao nosso podemos ver que em quase todos os jogos fazemos muito boas primeiras partes quase todas com bons resultados até ao fim desse período mas depois na segunda parte vamos gradualmente perdendo qualidade que se acentua com as substituições deles e que só conseguimos melhorar após as nossas substituições, que por norma são tardias, o que tem explicado os menos bons resultados quando estas são feitas quando já em desvantagem é uma situação claramente a rever já que em quase todos os casos nunca actuamos de modo a refrescar a equipa, sobretudo o meio campo, mas sim em resposta ao adversário e muitas das vezes tarde de mais.

 

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