terça-feira, março 22, 2016

Dificílimo

Foi uma vitória arrancada a ferros no último suspiro de um jogo dificílimo, que deve servir de exemplo para aquilo que nos espera nas sete finais que sobram. Mas a nossa equipa nunca desistiu de perseguir esta vitória e foi recompensada com os três pontos e a importante motivação adicional que ganhar um jogo desta forma proporciona.


Dificilmente o Benfica poderia ter mais contrariedades para formar uma equipa para este jogo. Mais de meia equipa indisponível - Júlio César, Luisão, Jardel, Fejsa, Gaitán, Mitroglou seriam, em condições normais, titulares - significaram um onze com muitas alterações. O Ederson manteve-se naturalmente na baliza, o Samaris formou dupla com o Lindelöf no centro da defesa, e na direita jogou o Nélson Semedo para permitir que o André Almeida jogasse no meio campo. O Salvio foi titular pela primeira vez esta época e 'empurrou' o Pizzi para a esquerda, tendo sem surpresas o Jiménez ocupado a vaga do Mitroglou no ataque. Com uma equipa tão alterada foi natural que o nosso jogo tenha sofrido com isso. O Pizzi perde influência na esquerda, no meio campo o André Almeida não tem a mesma influência no início da construção de jogo que o Samaris consegue ter - aliás, vi por diversas vezes o André Almeida a ficar atrás enquanto era o próprio Samaris quem subia da defesa com a bola, para dar início aos ataques - o Nélson Semedo e o Salvio ainda parecem estar longe da forma ideal, e no ataque o Jiménez dá uma presença na área menos forte do que o Mitroglou, que serve de referência e prende mais os centrais adversários. Por via disso o Vinícius teve muito mais liberdade para andar por ali a ser o bombeiro de serviço e a limpar quase tudo o que lhe aparecia pela frente, e o Jonas acabou também por ter menos liberdade. O Boavista fez o que podia para nos complicar ao máximo a tarefa, exercendo pressão quase no campo inteiro e inclusivamente atribuindo ao Renato Sanches a honra de ter um jogador praticamente dedicado a marcá-lo homem a homem assim que o Benfica tentava sair para o ataque. Depois houve também o incendiário de serviço, um tal de Rúben Ribeiro, que à menor brisa que lhe soprasse se deixava cair em estertores agonizantes, enquanto tentava armar quezílias e provocar qualquer jogador nosso que lhe passasse ao alcance. Resultou tudo isto num jogo em que dispusemos de uma quantidade anormalmente baixa de ocasiões de golo. Na primeira parte apenas me recordo de duas situações, uma num remate acrobático do Jiménez que foi defendido por instinto pelo Mika, para depois o Lindelöf fazer a recarga por cima, e a outra numa boa iniciativa do lado esquerdo, com a bola a chegar ao Pizzi que, depois de evitar bem um adversário, já dentro da área rematou ao lado. O Boavista tentava surpreender em saídas rápidas para o contra-ataque, mas apenas deu verdadeira sensação de perigo num lance em que o Ederson foi obrigado a sair aos pés do adversário para evitar males maiores. Nulo algo natural ao intervalo, portanto, e perspectivas de muitas dificuldades para o resto do jogo.


Perspectivas essas que se confirmaram, porque muito pouco se alterou no regresso do descanso. O Benfica tinha mais bola mas continuava a ter dificuldades em arranjar espaços para rematar à baliza adversária, e o Boavista começou até a conseguir ser mais perigoso nos contra-ataques, aproveitando os riscos cada vez maiores que o Benfica corria. Foi aliás deles o primeiro sinal de perigo, num remate cruzado que desviou ligeiramente no Lindelöf e fez a bola passar muito perto do poste da nossa baliza. Apesar do evidente domínio territorial do Benfica, começava a ser desesperante a incapacidade para o transformar em lances de perigo e a desinspiração da equipa para conseguir ultrapassar a pressão constante que os jogadores do Boavista continuavam a conseguir exercer sobre o portador da bola. Quando se quer e se precisa de ganhar um jogo, se não conseguimos sequer rematar à baliza então a nossa tarefa está muito complicada. As melhores ocasiões da segunda parte pertenceram, aliás, ao Boavista, que sempre a jogar em contra-ataque acabava por conseguir por vezes situações potencialmente perigosas em que apanhavam a nossa equipa com muito pouca gente a defender. Para além do remate que já referi, pelo menos por duas outras ocasiões criaram perigo, valendo-nos que os remates nunca saíram na direcção da nossa baliza. Na segunda dessas ocasiões, a cinco minutos do final, o Boavista saiu para o contra-ataque numa situação de três para apenas dois defesas nossos, e com um pouco mais de calma poderiam ter dado um golpe fatal no jogo. Nessa altura já o Benfica jogava em modo de risco quase total, com três avançados em campo (o Jovic tinha-se estreado, entrando para o lugar do Pizzi) mais o Talisca atrás deles, o Eliseu como uma espécie de lateral/extremo a fazer o flanco esquerdo todo, o Carcela na direita, o Renato era o meio campo do Benfica e a estratégia era despejar bolas para perto da área o mais depressa possível. Felizmente o que nos faltou em inspiração nunca faltou em querer, e já com dois minutos decorridos do período de descontos esse querer foi recompensado. O Eliseu despejou a bola para a entrada da área, o Carcela apareceu mais ou menos à vontade (com tanta gente na frente, alguma bola haveria de sobrar para nós) para tocá-la de cabeça para o interior, e o Jonas, descaído para a esquerda e talvez na primeira vez que conseguiu aparecer solto durante todo o jogo, rematou suavemente e de primeira com o pé esquerdo para marcar o golo que fez explodir o Bessa.


Foi um jogo de muita luta e pouco brilho individual, uma batalha entre duas equipas na qual não houve grandes oportunidades para brilharetes individuais. Parabéns portanto a todos os jogadores da nossa equipa, que juntos ultrapassaram mais este adversário, e apenas um cumprimento especial para o Jonas: uma oportunidade, um golo. Os grandes jogadores são mesmo assim.

Conforme escrevi no início, só com uma dose inusitada de infelicidade poderia o Benfica poderia apresentar-se mais desfalcado para um jogo do campeonato. Acho por isso perfeitamente natural que o nosso futebol tenha sofrido com isso, até porque do outro lado esteve uma equipa que nos complicou muito a tarefa. Por isso mesmo, por ter bem presentes as contrariedades que tivemos (e que temos tido nos últimos meses, para as quais a equipa continua sempre a encontrar soluções) quase me dá vontade de rir quando ouço 'especialistas' satisfeitos porque acham que este jogo mostra que o Benfica está em queda. Deviam era estar preocupados como facto de, mesmo assim, termos conseguido vencer e mantermo-nos no topo da tabela. É que nem assim perdemos pontos. E dificilmente voltaremos a apresentar uma equipa tão desfalcada até ao final da época.

1 Comments:

At 3/23/2016 6:31 da tarde, Blogger joão carlos said...

O post esta muito bem conseguido.


Não gostei da última substituição não por quem entrou mas porque foi o despejar de mais um avançado é verdade que resultou mas raramente resulta bem alem de revelar desespero e ser clara a partir dai a estratégia do pontapé para a frente a única coisa boa da substituição, e muito por isso é que resultou, foi a de passarmos a ter um avançado fixo e isso foi benéfico para os restantes jogadores.
Mais que as muitas alterações o que contribuiu para um jogo menos bem conseguido foi o facto de alguns jogadores terem jogado fora das posições onde rendem mais para a posição de defesa central não existia volta a dar alguém tinha de jogar fora da posição mas ainda assim até por aquilo que os jogadores foram fazendo e adaptando-se à nova situação a troca dos médios defensivos talvez fizesse mais sentido, e será até uma questão a rever, já a troca de um dos extremos da posição onde mais produz era perfeitamente evitável, e foi um erro do nosso treinador, até porque neste caso existia mais que uma solução que evitava tal mudança adicional mas isto tudo resulta de ainda não termos conseguido resolver o problemas das variadíssimas e sucessivas lesões que nos tem afectado.
Neste jogo vimos de forma mais clara, principalmente no ultimo quarto da partida, que alguns jogadores tentaram resolver a situação de forma individual agarrando-se muito à bola, esta é uma situação que nos momentos mais apertados de alguns jogos se vê por vezes, o que até certo ponto se compreende porque a muitos deste jogadores falta experiência que se nota mais nestes momentos mais difíceis mas temos de trabalhar este aspecto e evitar o individualismo já que leva quase sempre à perda de bola que foi o que aconteceu neste caso em que todos os lances de perigo deles neste período foram resultado dos nossos jogadores se agarrarem demasiado à bola e por isso a perderem é importantíssimo tentar reverter esta tendência do individualismo que se vai acentuar com o aumento cada vez mais da pressão que os jogos vão tendo.

 

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