Frustrante
Uma primeira parte brilhante foi desbaratada por uma meia hora final disparatada, o que acabou por resultar num empate frustrante porque significou deitar fora a oportunidade para deixar resolvida de vez a questão doapuramento. Continua tudo nas nossas mãos, mas seria certamente preferível entrar em campo na última jornada tendo já tudo resolvido.
A primeira parte do Benfica foi simplesmente brilhante. Foi no fundo uma continuação do último jogo da taça, contra o Marítimo. Domínio total do jogo, uma equipa perfeitamente oleada e entrosada, com grande dinâmica, os alas a aparecerem frequentemente pelo meio para dar superioridade numérica e permitirem as entradas dos laterais, e a fecharem bem o seu lado no apoio ao lateral quando não tínhamos a bola. Num instante o Benfica conseguiu emudecer o inferno turco e vulgarizar o Besiktas, que tal como o Marítimo no último jogo mal conseguia fazer uma jogada com mais de três passes seguidos, pois jogávamos num bloco sólido com a defesa muito subida no terreno a sufocar o adversário no seu próprio meio campo. Esta superioridade acabou por reflectir-se de forma natural em golos, e foram logo três durante a meia hora inicial. Primeiro pelo Gonçalo Guedes, que isolado por um passe do Salvio contornou o guarda-redes com classe para marcar, depois pelo Nélson Semedo, um golão num remate de pé esquerdo à entrada da área, e finalmente pelo Fejsa, numa jogada quase inacreditável. Canto marcado na direita do nosso ataque, cabeçada do Mitroglou à barra, recarga de cabeça do mesmo Mitroglou novamente à barra, nova cabeçada, desta vez do Salvio, ao poste, e finalmente a recarga final vitoriosa do Fejsa. Com meia hora decorrida, o Benfica parecia ter praticamente carimbado o apuramento. Mas era necessário manter o nível, porque mesmo com a vantagem de três golos confesso que tive sempre o pressentimento de que se o Besiktas marcasse, ainda passaríamos um mau bocado - não é nenhuma premonição especial, eu no fundo penso assim em quase todos os jogos, porque para mim o 'resultado mágico' a partir do qual eu consigo pensar que o jogo está resolvido são quatro golos de diferença. Por isso ainda sofri um pouco à espera que o intervalo chegasse sem nenhum golo turco.
O Besiktas fez naturalmente alterações ao intervalo, mas o início da segunda parte não fazia temer o pior. O Benfica continuava seguro, e até parecia poder aproveitar o tudo por tudo dos turcos para explorar o contra-ataque e voltar a marcar. O que poderia mesmo ter acontecido logo nos primeiros mintuos, mas o Mitroglou desperdiçou de forma inacreditável o quarto golo, quando ficou completamente isolado depois de um passe do Salvio mas conseguiu atirar a bola um pouco ao lado da baliza à saída do guarda-redes. Foi pena, porque penso que esse golo teria acabado de vez com qualquer esperança turca, mas de qualquer maneira não pensei que acabaríamos o jogo a lamentar essa oportunidade perdida. Com um resultado destes, para mim a 'barreira psicológica' seria não sofrer um golo no primeiro quarto de hora, o que parecia pouco provável de acontecer dada a forma como o jogo ia decorrendo. Mas infelizmente foi mesmo a fechar esse período que o Besiktas marcou mesmo, provavelmente na primeira ocasião que criou até então. E foi um grande golo mesmo, um cruzamento largo da esquerda para a direita, onde apareceu um adversário a rematar cruzado de primeira, em pontapé de moinho, sem qualquer possibilidade de defesa para o Ederson. A parte infernal do jogo começou aí. É preciso dizer que o nosso treinador hoje não me pareceu ter acertado nas substituições: pouco depois do golo trocámos o Cervi pelo Rafa, e isto em nada nos beneficiou (não percebi mesmo o motivo da substituição). O Cervi é um jogador que consegue ter uma agressividade muito grande na recuperação da bola e apoia constantemente o lateral do seu lado nas tarefas defensivas. O Rafa não conseguiu fazer nada disso. E o golo dos turcos deveria ter sido o primeiro sinal de sério aviso para o que se estava a passar do outro lado do campo: o Salvio simplesmente eclipsou-se na segunda parte. O Besiktas deixou sempre um homem completamente encostado à direita da nossa defesa, e o Salvio simplesmente quase deixou de defender. O Nélson Semedo foi frequentemente confrontado com dois ou até três adversários sem ter qualquer apoio por parte do ala do seu lado.
Nos minutos a seguir ao golo o Besiktas pressionou bastante mais, mas o Benfica foi resistindo e o pior até parecia ter passado quando o jogo foi interrompido para assistência ao Ederson a cerca de um quarto de hora do final, após um choque com o Quaresma. O Benfica tinha entretanto tentado reforçar o meio campo com a entrada do Samaris para o lugar do Gonçalo Guedes, adiantando-se um pouco o Pizzi, mas para mim o problema não estava ali, era mesmo do lado direito, e na minha modesta opinião teria sido melhor trocar o Salvio pelo Samaris, encostando o Pizzi à direita, onde ele sabe muito bem ajudar a fechar. De qualquer forma, o Benfica parecia que seria capaz de resistir e sair de Istambul com a vitória, mas em seis minutos já perto do final deitámos tudo a perder. Numa altura em que os turcos já se limitavam a despejar bolas a torto e a direito para a área (quase sempre a partir da direita da nossa defesa, onde o Nélson Semedo às vezes devia pensar que apanhava pela frente metade da equipa adversária) o Lindelöf faz um penálti perfeitamente disparatado ao jogar a bola com o braço depois de falhar uma cabeçada. O Quaresma fez o segundo golo e a nossa equipa aí perdeu mesmo o Norte. O Besiktas continuava a fazer exactamente o mesmo, bombear bolas a torto e a direito para as imediações da área, mas agora os nossos jogadores já não tinham discernimento nenhum. Durante a maior parte do jogo, mesmo quando o Besiktas tentava pressionar-nos logo à saída da área, nós conseguíamos trocar a bola, ultrapassar assim a primeira linha de pressão, e sair a jogar. Agora os nossos jogadores simplesmente chutavam a bola para onde estavam virados, o que obviamente significava entregar logo a bola novamente ao Besiktas, para que voltassem a despejá-la para a área. Sem conseguirmos causar qualquer tipo de perigo no ataque, só convidávamos o adversário a avançar ainda mais e a acumular mais gente junto da nossa baliza. O golo do empate, surgido a um minuto do final, foi um exemplo do desnorte da nossa equipa. Houve um primeiro cabeceamento, perigosíssimo, do Aboubakar, que o Ederson defendeu de forma brilhante. Depois disso a bola andou quase um minuto sem sair das imediações da nossa área, a ser cruzada de um lado para o outro, sem que fôssemos capazes de a afastar dali. Até que finalmente um cruzamento do Quaresma (do lado direito da nossa defesa, claro) para a molhada acabou por resultar numa bola solta dentro da pequena área que o Aboubakar aproveitou.
A diferença das exibições da primeira parte para a última meia hora do jogo foi tão grande que é muito difícil dar grande destaque a alguém. Nalguns casos foi um verdadeiro 'Jekyll and Hyde', como por exemplo o Lindelöf, que foi brilhante na primeira parte e depois acabou por ficar directamente ligado ao empate. O Cervi foi um dos melhores, porque não esteve em campo precisamente na fase mais negra do jogo. O Nélson Semedo esteve absurdamente bem na primeira parte, mas na segunda apagou-se naturalmente perante a avalanche de adversários que surgiam pelo seu lado, que o deixavam exclusivamente dedicado a tarefas defensivas - e apesar de ter sido por aquele lado que surgiram os golos, eu não o culpo por isso, porque era difícil fazer melhor sem grande apoio. O Mitroglou não pode falhar aquele golo. Se tivéssemos ganho se calhar nem pensaríamos nisso agora, mas não foi o caso. O Pizzi foi outro jogador que desapareceu do jogo quando foi adiantado no terreno após a entrada do Samaris. Estranhamente, até pareceu que estaria a ser mais eficaz a defender do que o Samaris. Sobre o Salvio, acho que já disse quase tudo. Praticamente arrastou-se em campo durante a pior fase da nossa equipa.
Foram dois jogos contra o Besiktas em que tivemos a vitória na mão e a deixámos escapar nos minutos finais. Ao nível da Champions, este tipo de erros costumam pagar-se muito caro. Felizmente ainda temos mais uma oportunidade para compensar estes erros, deixando a questão do apuramento exclusivamente dependente de nós, num último jogo em casa. Convenhamos que a insatisfação por este resultado se prende sobretudo com a marcha no marcador e a forma como o empate aconteceu. Se antes do jogo me perguntassem se eu quereria empatar em Istambul, ainda por cima com um resultado que me garantisse a vantagem no confronto directo com o adversário, eu quase de certeza que responderia que sim. Um empate fora na Champions é normalmente um bom resultado. Mas é óbvio que temos motivos para ficar insatisfeitos e até preocupados com a forma como a equipa quebrou no último terço do jogo. Esta equipa já nos habituou a ter uma enorme personalidade e a manter a compostura em situações muito complicadas, e este tipo de comportamento é por isso uma surpresa. Enfim, há que olhar para o lado positivo da coisa e pensar que absolutamente nada está perdido. E a seguir, ganhar ao Moreirense.
1 Comments:
E verdade que aquelas oportunidades que desperdiçamos no inicio da segunda parte poderiam ter acabado com o jogo mas mesmo assim a vantagem era confortável temos que o golo deles mudou o jogo e lhes deu o animo que eles já não tinham mas mesmo assim pese embora tudo isso eles não criaram uma única oportunidade entre o primeiro golo e a situação do penalty completamente absurdo e disparatado e mas se torna ainda quando já faltava pouco tempo para o fim este é um erro clamoroso que não pode acontecer sobretudo quando o jogador nem sequer estava pressionado.
As substituições tem sido pior deste treinador e voltaram novamente a ser e a agora ainda pior se por um lado quem entra é sempre uma incógnita agora quem sai não é e tirar aquele que atava a ser um dos melhores em campo até ao momento não tem pés nem cabeça depois o que vemos são vários jogadores em quebra física e vamos adiando as substituições quando as que faltam nem sequer são suficientes para mudar todos os que são necessários temos usado e abusado disso em vários jogos e agora voltamos a fazer o mesmo.
Este desnorte da equipa num curto espaço de tempo ao contrario do que dizes não era inédito até este jogo já tinha acontecido em Itália este ano em que num curto espaço de tempo sofremos quatro golos com a equipa completamente perdida como desta vez por vezes perante uma ou outra contrariedade a equipa perde completamente o rumo e fica perdida sem saber o que fazer e se da outra vez a muita juventude da equipa poderia ser uma das razões desta vez esse nem era o caso já que esta equipa era claramente mais velha que em Itália e convêm analisar bem a situação e corrigir é que já não é um caso isolado.
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