Recital
Acho que por mais que tente, não conseguirei encontrar as palavras certas para descrever com exactidão a exibição do Benfica esta noite contra o Marítimo, nem a satisfação que senti a ver este jogo. Cada um dos cerca de trinta mil espectadores que esteve na Luz esta noite deve sentir-se privilegiado por ter tido a oportunidade de assistir a um verdadeiro recital de futebol dado pela nossa equipa.
E esta opinião nem é exclusivamente assente no resultado de meia dúzia de golos sem resposta. Há jogos em que jogamos muito bem e perdemos (a derrota em casa contra o Porto, a época passada, é um exemplo disso) e outros em que nem jogamos nada de especial e goleamos. Hoje foi a conjugação quase perfeita entre o resultado e a exibição. Não houve poupanças nenhumas para este jogo, pese o próximo compromisso decisivo para a Champions. À parte a troca na baliza, onde o Júlio César rendeu o Ederson, apresentámos aquele que seria à partida o onze mais forte que seria possível apresentar nesta altura. As poupanças foram feitas no próprio jogo: resolvendo-o cedo e gerindo depois o ritmo do mesmo como nos era mais conveniente (embora nunca tenha sequer parecido ter havido um abrandamento evidente por parte dos nossos jogadores). O domínio do Benfica no jogo foi simplesmente absoluto. Nem um, um único remate para amostra conseguiu o Marítimo fazer durante toda a primeira parte. Na segunda parte fez dois, e ambos de livres à entrada da nossa área. A nossa equipa actuou de forma quase perfeita, com todos os jogadores entrosados e sabendo exactamente o que fazer em campo, e mais importante ainda, colocando o imenso talento que possuem ao serviço do colectivo (é um chavão, mas foi mesmo o que aconteceu). Toda a equipa vestiu o fato de gala quando a bola estava na nossa posse, e o fato de trabalho quando se tratava de recuperá-la - por isso mesmo o Marítimo perdia a bola tão rapidamente que mal conseguia passar do meio campo, e nós criámos diversas ocasiões de perigo resultantes de recuperações de bola ainda nas imediações da área adversária.
Depois resta a história dos golos. Uma entrada de rompante, com um golo do Cervi logo ao segundo minuto de jogo - precisamente depois de uma recuperação de bola do Salvio e centro atrasado, na sequência de uma grande ocasião do Mitroglou defendida pelo guarda-redes. O segundo golo surgiu apenas aos trinta e oito minutos. E escrevo 'apenas' porque nessa altura já há largos minutos que o Benfica tinha justificado não só um segundo golo, mas mais ainda. O Mitroglou rodou e ganhou posição à entrada da área, soltando a bola para a entrada do Pizzi pela direita, que depois com um remate rasteiro e colocadíssimo fez a bola entrar junto do poste do lado oposto. E cinco minutos depois foi a vez do próprio Mitroglou marcar, num lance com grande mérito do Nélson Semedo. Começa num passe do Samaris a rasgar a defesa do Marítimo, a bola parece perdida mas o Nélson não desiste e com um toque de calcanhar mantem-na dentro do campo, saindo ele pela linha de fundo. Ainda foi a tempo de recuperá-la, com uma reviravolta à Zidane tirou o defesa da jogada, fez uma primeira tentativa de centro atrasado que não resultou, e a bola voltou-lhe aos pés para assistir o Mitroglou, que apenas teve que cabecear quase em cima da linha de golo. Saímos assim para intervalo com o apuramento para a próxima eliminatória praticamente no bolso, podendo agora gerir esforços para a deslocação à Turquia na próxima quarta.
Mas se alguém esperava algum relaxamento da parte do Benfica na segunda parte, não foi nada disso que se viu. O Benfica regressou com o mesmo onze e com a mesma atitude, quase como se o jogo ainda estivesse empatado. E a recompensa foi mais um golo com oito minutos decorridos, e mais um belíssimo golo também. Grande mérito para o passe do Cervi, que picou a bola para as costas da defesa e a corrido do Gonçalo Guedes. À saída do guarda-redes, toque ligeiramente atrasado para o lado e finalização de primeira do Mitroglou. Só depois começaram as poupanças, pois o grego foi substituído quase de seguida pelo Jiménez. Quem continuou a não querer abrandar nada foram os jogadores do Benfica ainda em campo, que mantiveram a pressão constante sobre o Marítimo. Provavelmente a única coisa que acabou por forçar alguma redução da velocidade foi mesmo a intensidade da chuva que entretanto caía, que tornou o terreno um pouco mais pesado. Mas isso não impediu que o Benfica marcasse mais um golo, a vinte minutos do final. Um bom cruzamento do Eliseu, uma defesa por instinto do guarda-redes a evitar que o cabeceamento do Jiménez desse golo, e depois um defesa do Marítimo impediu com o braço que a recarga do Salvio fosse para a baliza, sendo naturalmente expulso. Penálti convertido sem espinhas pelo Jiménez, e mais algumas poupanças, com a troca dos dois extremos: Salvio e Cervi pelo Carrillo e o Rafa, que assim teve direito à estreia no Estádio da Luz. Também não foi isto que fez com que o Benfica relaxasse, e até ao apito final foi ver os nossos jogadores a empenhar-se na luta por cada bola e a procurar ampliar o resultado. O prémio, quer para eles, quer para o público, chegou quase no final do jogo, na sequência de um canto - que tinha resultado de uma jogada em que o Pizzi quase marcava. O mesmo Pizzi marcou o canto para a entrada da área, onde o Gonçalo Guedes surgiu embalado para rematar de primeira, fazendo a bola entrar junto ao poste. Um grande golo, a fechar em beleza uma grande exibição da equipa e um desempenho fantástico do próprio Gonçalo Guedes.
Hoje é mesmo daqueles jogos em que não posso fazer destaques. Toda a equipa esteve fantástica, e durante o jogo pensei diversas vezes que gostaria muito de poder continuar a ver jogadores como o Nélson Semedo, o Lindelöf, ou o Gonçalo Guedes com a nossa camisola durante mais alguns anos. Sei que é difícil, mas quando olho para quantidade de talento que temos nesta equipa acho que será uma pena se não o pudermos apreciar por mais tempo. E isto numa época depois de termos perdido jogadores como o Gaitán e o Renato. E já nem vale a pena mencionar que não podemos contar com o Jonas, ou o Fejsa, ou o Jardel. Normalmente não é fácil eu sair do estádio completamente satisfeito. Há sempre uma coisa ou outra que me agrada menos ou que me irrita. Mas esta noite não tenho absolutamente nada a apontar à equipa. Foi uma exibição a roçar a perfeição, e que me fez sair da Luz com um sorriso. Se conseguirmos manter esta dinâmica na Turquia, temos enormes probabilidades de regressar de lá com o apuramento para a próxima fase garantido.
1 Comments:
A crónica esta com a qualidade que nos tens habituado.
Deste jogo o que mais realça foi a capacidade que a equipa teve de trocar a bola com velocidade e quase sempre ao primeiro toque e com uma segurança enorme, o que nem sempre tem acontecido, mesmo quando foi pressionada e por alguns momento ainda no nosso meio campo defensivo e foi este o sucesso para um jogo colectivo muito conseguido.
Sem o nosso melhor marcador do ano passado tem sido muito importante termos extremos que tem faro de golo ainda por cima quando o substituído directo na posição de segundo avançado, pese embora a sua muita qualidade e outros atributos que ele evidencia, não tem, ou ainda não tem, uma relação muito directa com os golos, talvez esses não sejam os melhores extremos que temos mas são aqueles com mais faro de golo e até não voltarmos a ter o nosso melhor marcador é preciso muito cuidado nas alterações que eventualmente possamos fazer nos dois lugares de extremos.
Se fizermos uma análise mais aprofundada verificamos que somos muito eficazes a marcar o primeiro golo quase sempre na primeira ou segunda oportunidade que temos em cada jogo mas depois estranhamente a equipa entra numa fase de enorme desperdício e ineficácia com uma sucessão de oportunidades que a equipa desperdiça ás vezes de forma displicente e é isso que tem feito com que em alguns jogos estes se arrastem num limbo sempre perigoso da vantagem mínima depois verificamos que depois de marcar o segundo voltamos a ter uma eficácia altíssima e em jogos com muita produção ofensiva isso implica o avolumar do resultado é por isso importantíssimo resolver a ineficácia entre o primeiro e o segundo golo até porque nem existe razão explicável para isso, alem de algum facilitismo, já que a resolução desse problema evitara a existência de muitos sobressaltos.
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