sábado, janeiro 14, 2017

Disparates

Pagámos com dois pontos os disparates cometidos sobretudo na fase inicial de um jogo que mesmo assim poderíamos (e deveríamos) ter ganho. Vendo as coisas pelo lado positivo, ainda conseguimos salvar um ponto num jogo em que cedo nos apanhámos com uma enorme desvantagem.


É sempre fácil falar depois das coisas acontecerem, mas comecei logo a ficar com uma ligeira irritação ao ouvir a constituição inicial da nossa equipa. Iniciar um jogo em casa, contra uma equipa que previsivelmente se iria fechar atrás, sem um ponta de lança de raiz pareceu-me logo uma má ideia. Mas a opção foi fazer alinhar a dupla Jonas/Gonçalo Guedes, provavelmente como recompensa pela boa exibição do Guedes em Guimarães. A outra opção algo surpreendente foi a presença do Rafa no lugar do Cervi, na esquerda do ataque. Não é que os jogadores em questão tenham falta de qualidade ou que fosse impossível vencer com eles no onze, simplesmente pareceu-me uma estratégia errada. Depois, sabem aqueles jogos em que ao fim de cinco ou dez minutos ficamos logo com receio de que as coisas corram mal? Este para mim foi um desses jogos. Por causa da velocidade e forma de jogar da nossa equipa. Não quero chamar-lhe sobranceria, mas achei que estávamos a jogar de forma demasiado lenta, e muito pouco como equipa, com vários jogadores a agarrarem-se demasiado à bola e a insistirem em iniciativa individuais. Ainda construímos uma grande ocasião de golo nos primeiros minutos, na qual o Guedes, isolado, atirou ao lado. Mas aos catorze minutos, num livre directo muito bem marcado pelo Iuri Medeiros, o Boavista colocou-se em vantagem, naquele que terá sido o primeiro remate que fez. O Benfica não pareceu abanar e pelo contrário, reagiu bem e começou a jogar com maior velocidade, começando a criar ocasiões, às quais o guarda-redes do Boavista se foi opondo bem. Mas aos vinte minutos o Boavista, de forma muito fria, voltou a ir à frente e a marcar. Livre apontado do lado direito da nossa área, e no poste oposto surgiu um adversário a ganhar nas alturas para o cabeceamento vitorioso. E cinco minutos depois, novo ataque do Boavista e novo golo. Mais um cruzamento do lado direito, onde os nossos jogadores ficaram a marcar os adversários com os olhos e lhes deram o espaço e tempo mais do que necessário para construir a jogada, e do lado oposto surgiu uma jogador do Boavista completamente à vontade para receber e assistir um companheiro no meio, que marcou à vontade. Vinte e cinco minutos decorridos, e desvantagem de três golos. O Boavista praticamente em três subidas à nossa área foi mortífero e colocava-se numa posição extremamente vantajosa no jogo e no marcador. Era difícil conseguirmos pior, e não sei se alguma vez tinha assistido a um início de jogo tão desastroso da nossa equipa em casa.


Desde o momento que o Benfica ficou em desvantagem que tinha alterado a sua forma de jogar, impondo maior velocidade no jogo e as ocasiões de golo começaram naturalmente a surgir, mas a concretização não foi a melhor, para além de ter apanhado pela frente um guarda-redes inspirado. Notava-se também alguma falta de presença na área, e como não havia propriamente muito mais para esperar, ainda antes de chegar o intervalo o nosso treinador fez a alteração que se impunha, enviando o Mitroglou para dentro do campo. Foi aos trinta e oito minutos, e o sacrificado foi o Rafa, passando o Gonçalo Guedes para a esquerda. O resultado foi quase imediato, pois a quatro minutos do intervalo o Mitroglou fazia o nosso primeiro golo. Depois de um remate do Pizzi, em posição frontal, que o guarda-redes conseguiu defender com pé, a bola subiu e foi recuperada pelo Salvio ainda dentro da área, assistindo depois o Mitroglou para um golo fácil, já que apenas teve que empurrar a bola para a baliza. Este golo reforçava a crença de toda a Luz - e nunca me pareceu que se tivesse sequer deixado de acreditar - de que ainda era perfeitamente possível conquistar os três pontos neste jogo. E podíamos até ter saído para intervalo com apenas um golo de desvantagem e o jogo completamente relançado. Uma bola alta, aparentemente perdida, foi na direcção da área do Boavista. Houve uma hesitação entre um defesa do Boavista e o seu guarda-redes, o André Almeida acreditou, e de repente viu-se completamente sozinho na área, com a bola controlada. Só que em vez de fazer o que o Salvio tinha feito no primeiro golo - um simples passe para o meio, onde o Mitroglou estava completamente sozinho - tomou a péssima decisão de tentar ele concretizar de ângulo mais apertado, quando tinha o guarda-redes quase em cima. Não sei se o facto dele nunca ter marcado um golo oficial pelo Benfica o terá influenciado, mas o caso é que foi a pior decisão possível, já que a concretização era difícil e o guarda-redes, como era mais provável, defendeu o remate. Pelos vistos o André estava distraído no lance do terceiro golo do Boavista, ou no do nosso primeiro golo. Se tivesse feito o que o Iuri e o Salvio fizeram nos referidos lances, muito provavelmente teria sido golo.


A entrada do Benfica para a segunda parte foi de risco total. O Luisão não regressou, e no seu lugar veio o Cervi, com a função teórica de falso lateral-esquerdo. Na prática o Benfica alinhava com três defesas apenas, o Lindelöf a cair para a direita, o André Almeida a fazer o mesmo do lado oposto, e o Samaris recuar para o meio, permitindo que o Cervi e o Semedo se aventurassem mais no ataque. Era naturalmente importantíssimo, para que conseguíssemos reentrar no jogo, reduzir a desvantagem logo nos minutos iniciais, e o Benfica conseguiu-o mesmo. Um slalom individual do Cervi pela esquerda só terminou numa grande penalidade, que o Jonas se encarregou de concretizar facilmente. Tinham decorrido apenas oito minutos na segunda parte, e portanto havia tempo de sobra para ir em busca do empate e a seguir da vitória. Mas sinceramente, não achei que o Benfica tivesse jogado particularmente bem na segunda parte. Aliás, paradoxalmente, apesar de termos chegado ao intervalo a perder por dois golos, achei que mostrámos mais qualidade no nosso jogo ofensivo durante esse período do que na segunda parte. Houve muito coração da parte dos nossos jogadores, mas as coisas nunca foram feitas com muita cabeça, por isso, apesar de uma maior pressão, isso não se reflectia no número de ocasiões criadas. O Boavista, aliás, depois do segundo golo do Benfica tomou a opção inteligente de não se enfiar todo dentro da área, e tentou de alguma forma que os seus jogadores mais adiantados pressionassem logo a primeira fase da nossa construção de jogo. Obviamente que, tendo em conta a forma como o Benfica se dispunha em campo e se lançava para o ataque, qualquer bola recuperada pelo adversário numa zona mais adiantada poderia resultar em mais um golo que dificultaria ainda mais a nossa tarefa. Já com o Zivkovic no lugar do Gonçalo Guedes, a sorte acabou finalmente por nos favorecer, e um cruzamento do sérvio, a partir da esquerda, resultou num autogolo depois de um jogador do Boavista ter cabeceado, de costas, para a sua própria baliza. O empate surgia assim aos sessenta e oito minutos de jogo, o que significava que, contando com as eventuais compensações, o Benfica dispunha ainda de uns bons vinte e cinco minutos para ir à procura da vitória. Infelizmente todo esse tempo não foi suficiente para que a nossa equipa se dedicasse a essa tarefa com relativa calma. Na minha opinião, aliás, o período que se seguiu ao golo do empate foi mesmo o pior, em termos de qualidade de jogo, da nossa equipa. Durante todo esse tempo não me consigo recordar de uma única grande oportunidade de golo que tenhamos criado, enquanto que o Ederson foi obrigado a empenhar-se para evitar que o Boavista marcasse num par de ocasiões quando o Benfica já jogava praticamente sem táctica, com os jogadores a correrem pelo campo todo sem grandes preocupações posicionais. Por outro lado, os jogadores do Boavista foram fazendo o seu trabalho e se já desde o início do jogo que usavam e abusavam de uma 'excessiva calma', a seguir ao empate dedicaram-se de forma afincada ao antijogo, e assim conseguiram segurar um empate que foi celebrado como se uma vitória no campeonato se tratasse.


Não tenho grandes destaques individuais a fazer neste jogo, já que achei que a equipa esteve quase toda abaixo do exigível. O Pizzi em particular teve um jogo desastroso. Raramente acertou um passe, tomou frequentemente as piores decisões, esteve desastrado no remate, e foi em geral lento a executar toda e qualquer jogada. E quando o Pizzi joga mal, a nossa equipa ressente-se. O Salvio também esteve particularmente irritante, tendo como única nota positiva a assistência para o golo do Mitroglou. De resto, os habituais disparates individualistas, onde agarra na bola, baixa a cabeça e não vê mais nada à frente. A nossa defesa em geral esteve muito abaixo do normal - ou não fossem três golos sofridos do Boavista prova evidente disso. Nem o Ederson esteve ao seu nível, com várias erros nas reposições, e pareceu-me também que no lance do segundo golo talvez pudesse ter feito melhor, já que estava à espera que tivesse saído ao cruzamento em vez de ficar sobre a linha de golo. O Samaris não é o Fejsa, isso já sabemos, e talvez também por aí tenha passado uma boa parte da insegurança na defesa. Por último, o nosso treinador: começar um jogo destes, em casa contra uma equipa que vem jogar à defesa, sem uma presença na área parece-me à partida uma decisão pelo menos discutível.

Foram dois pontos muito mal perdidos, e um ponto muito bem recuperado quando tudo indicava que seria quase impossível ir buscar alguma coisa deste jogo. Mas o que me causou maior frustração acabou mesmo por ser o mau futebol que apresentámos depois de ter conseguido o mais difícil, que foi recuperar dos três golos de desvantagem. Vinte e cinco minutos deveriam ter sido suficientes para conseguirmos chegar à vitória, ou pelo menos jogar com calma suficiente de forma a criarmos condições para isso. Pelo contrário, jogámos o nosso pior futebol durante esse período. Perdemos discernimento, jogámos de uma forma desorganizada e desgarrada, e com vários os nossos jogadores a parecerem ter dado um estoiro físico. Deitámos dois pontos fora, é passado, agora temos que focar-nos em vencer o Leixões e assegurar a passagem às meias-finais da Taça de Portugal. E para isso convém entrar no jogo de forma bem mais decidida do que o que fizemos hoje.

3 Comments:

At 1/14/2017 9:24 da tarde, Blogger Unknown said...

Caro D'Arcy, confesso que não costumo seguir o seu blogue e portanto não sei se é por opção própria ou se foi por puro esquecimento, mas dou-lhe os parabéns por conseguir manter-se tão impassível perante uma das piores arbitragens que tenho memória em mais de 30 anos a ver futebol.
Desde os golos irregulares (nada mais nada menos que 3 no total), à dualidade de critérios gritante no capítulo disciplinar e culminando nos ridículos 6 minutos (2 + 4) de desconto a premiar mais de 60 minutos do mais puro anti-jogo, pudemos assitir a um recital de como não dirigir um jogo de futebol.
Por muito menos já foram no passado irradiados àrbitros de futebol e de outras modalidades.

 
At 1/14/2017 9:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo que a exibição foi medíocre, que a equipa inicial não terá sido a mais adequada e, tal como o D'Arcy, também pressenti logo nos instantes iniciais que este seria um jogo a contribuir para o nosso descontentamento.
Também me pareceu que a defesa esteve abaixo do que tem feito ultimamente - Edersson incluído... - e reforcei a ideia que o nosso meio campo é um enorme "buraco", onde hoje o Pizzi esteve ao pior do que já fez no Benfica.

Mas... e a arbitragem? Não merece qualquer reparo?
É que, os 3 golos adversários tiveram muito mais de irregularidade factual do que inépcia da nossa equipa...
No primeiro golo, a falta do qual resultou foi imediatamente precedida, segundos antes, de uma claríssima falta (um "pisão" absoluto...) sobre Rafa, que tentava tirar a bola daquela zona. O apitador não quis marcar! Repito, não quis marcar, porque ver, tinha que ter visto. Estava de frente para o lance, a uma distância de uns oito a dez metros. É verdade que Edersson poderia ter feito mais, porque não chega a tocar na bola na sua trajectória para o poste, de onde lhe ressalta, depois, para as costas da mão, antes de entrar. Mas, claramente, o golo é muito mais "mérito" do árbitro do que demérito nosso...
No segundo golo, André Almeida é clara, e notoriamente, carregado pelo adversário, que apoia o seu braço direito no ombro, impedindo-o de saltar e, mais, projectando-o para o chão. O apitador da linha lateral não quis assinalar! Repito, não quis assinalar, porque ver, tinha que ter visto. Todos viram, mesmo os que estavam mais longe e em planos diferentes. Ele, o apitador da linha lateral, não tinha ninguém entre si e os protagonistas do lance. É verdade que Edersson poderia ter feito mais qualquer coisa do que fez, porque, não só não saiu ao cruzamento, como também deixou a bola passar entre si e o poste esquerdo, junto ao solo. Mas, claramente, o golo é, também desta vez, muito mais "mérito" da equipa de arbitragem do que demérito nosso...
No terceiro golo... bem, no terceiro golo não há nada a fazer. Se um apitador de linha lateral não vê um fora de jogo daqueles, em que um jogador está claramente destacado do último defesa e se faz à bola, embora não a consiga tocar, e depois ainda volta a participar na jogada, rematando para a baliza, a passe de outro colega de equipa (também este em posição duvidosa...), então esse apitador não vai ver mais nenhum fora-de-jogo!

Se é verdade que não nos devemos "escudar" atrás dos erros de arbitragens - embora os nossos adversários o façam, e até usem de todos os meios, lícitos e ilícitos, para pressionar os "árbitros", com os resultados que estão à vista, como hoje na Luz... - também é verdade que não poderemos omitir os factos. E o que aconteceu hoje na Luz não pode ser aceite como erros de arbitragem. Foram muitos, tiveram pouco de erro, porque nem deixaram dúvidas, antes constituindo dano, grosseiro, sempre no mesmo sentido. E com influência directa no resultado final.
E se ainda restassem dúvidas acerca do prejuízo, e da sua premeditação, bastaria atentar no anti-jogo permitido e na compensação dada no final da partida. Ridículo!

Saudações benfiquistas.

(José C. S. Branco)

 
At 1/16/2017 8:06 da tarde, Blogger joão carlos said...

Neste jogo cometemos três erros que já havíamos cometido em jogos anteriores mas que neste juntamos todos ao mesmo tento mais uma vez entramos se não com sobranceria pelo menos com excesso de confiança que já aconteceu por varias vezes, sempre em casa, e que por isso temos conseguido resolver voltamos a ter uns minutos em que acontece uma paragem cerebral da equipa toda uma desorganização completa que nos leva a sofrer vários golos num curto espaço de tempo e este já é o terceiro caso em que isso nos acontece, esta equipa este jogadores já tem experiencia mais que suficiente para não se deixarem abalar assim, por fim voltamos a sofrer golos de cabeça de bola parada coisa que foi useira e vezeira no inicio da época.
De facto num jogo deste não utilizar um ponta de lança de raiz é um erro crasso mais ainda porque obriga o nosso melhor jogador, e marcador, a sair da posição onde melhor resultados tem, segundo avançado, para jogar numa posição onde fica muito limitado nas suas acções e onde por ser o único goleador neste caso na equipa fácil de marcar e de controlar mas existe agora muito esta teoria de que avançados moveis é que são bons, e basta ver as varias opiniões antes deste jogo por essa internet fora que pediam esta mesma dupla que iniciou o jogo, avançados bons são os que marcam muitos golos porque isto é um jogo que se ganha com golos.
Acabamos por pagar fisicamente, especialmente em dois jogadores, alias os com mais tempo de utilização até agora, o tempo em excesso que jogaram no ultimo jogo a meio da semana foi um erro não os ter tirado muito mais cedo no jogo, um acabou até por não sair, e pagamos isso com evidente desgaste dos dois com influencia na produção da equipa a que se soma que um até é uma adaptação e não temos, e devíamos ter, alguém que assumisse a posição quando as coisas não funcionam como foi este o caso, e isto até é uma situação que tem acontecidos outras vezes quando o nosso oito não produz a equipa não produz mas o pior é que não temos tem entre para mudar as coisas.

 

Enviar um comentário

<< Home