segunda-feira, abril 03, 2017

Pouco

No final, soube-me a pouco. Fiquei com a nítida sensação, como julgo que também terão ficado os milhares de benfiquistas que lotaram a Luz, de que perdemos uma grande oportunidade para dar um golpe quase decisivo no campeonato. Fomos a melhor equipa em campo, e fugiu-nos a possibilidade de vencer o jogo e deixar para trás o nosso adversário directo na luta pelo título.


Até fiquei um pouco surpreendido com a entrada do Benfica no jogo. Olhando para os onzes das duas equipas, a presença do Rafa nas nossas escolhas iniciais e a opção do Porto por um meio campo reforçado, abdicando de jogar com dois avançados fazia crer que assistíssemos a um cenário em que o Benfica entregaria mais a iniciativa de jogo ao adversário, para depois partir rápido para o ataque quando recuperasse a bola, enquanto que o Porto privilegiaria a posse de bola e um jogo mais seguro. Mas o Benfica entrou forte e caiu em cima do adversário desde o apito inicial. Para isso contribuiu muito quer as frequentes movimentações do Salvio e do Rafa para o meio, que nos davam equilíbrio e até superioridade numérica nessa zona e abriam espaço para a subida dos laterais - em particular do Nélson Semedo, já que o eliseu não arricou tanto - e ainda um Jonas muito activo, com um raio de acção muito alargado em que vinha frequentemente buscar jogo até à linha do meio campo. Durante este período inicial praticamente só deu Benfica, e o resultado disso foi imediato. Aos sete minutos o Salvio ultrapassou dois adversários pelo centro do terreno e deixou a bola no Jonas, que foi derrubado dentro da área. Encarregue da conversão, o aniversariante não falhou e colocou-nos em vantagem no marcador. Após isto o Benfica foi progressivamente acalmando o ritmo, e ao fim de mais alguns minutos o jogo caiu então no cenário que me parecia ser mais provável. Baixámos e juntámos as linhas, permitindo ao Porto ter mais bola, e depois tentávamos as saídas rápidas para o ataque, sobretudo através das faixas. E na verdade, fizemos o nosso trabalho muito bem feito. É que apesar de ter mais bola, o Porto nada mais conseguia fazer com ela a não ser circulá-la lateralmente até que eventualmente chegasse aos pés do Brahimi, que tentava então alguma iniciativa individual. Tanto assim foi que apenas consigo lembrar-me de uma ocasião de perigo para o Porto durante toda a primeira parte, naquele que terá sido também o único remate que fez. E este surgiu através de um livre cavado pelo Brahimi à entrada da área, marcado pelo mesmo e que obrigou o Ederson a uma grande defesa, evitando que a bola entrasse junto à base do poste. Da nossa parte, o maior lamento veio de uma jogada em que o Rafa mostrou ter o dobro da velocidade do Maxi, mas para não variar quando chegou à área definiu mal a jogada e não conseguiu colocar a bola no meio, onde tinha o Jonas e o Mitroglou completamente à vontade. Ao intervalo, o jogo parecia estar calmamente controlado.


Infelizmente para nós a reentrada no jogo acabou por deitar tudo a perder. Houve algum descontrolo e o Porto conseguiu alcançar o empate logo nos minutos iniciais. Tudo começou num disparate do Pizzi, que tentou sair a jogar com a bola nos pés e acabou por perdê-la para um adversário. A partir daí a bola chegou até ao Brahimi, que no 1x1 desequilibrou e depois numa jogada confusa em que na minha opinião houve demasiada apatia para afastar decisivamente a bola da área, ao fim de algumas recargas o Maxi acabou por empatar. Talvez se pudesse temer algum descontrolo do Benfica depois do golo, mas nada disso se passou. O Porto, obtido o empate, pareceu encantado com a sua sorte e pouco ou nada mais procurou do jogo - estranhei, já que quem ouvisse os especialistas ao longo destas últimas semanas ficaria convencido que o Porto era imparável e a vitória na Luz eram favas contadas. Já o Benfica, apoiado pela Luz, reagiu e foi à procura do segundo golo. E o maior motivo de queixa para não o termos conseguido é a falta de eficácia. O Porto em todo o resto da segunda parte apenas numa ocasião conseguiu assustar, numa bola metida para as costas da nossa defesa que obrigou o Ederson a sair aos pés do Soares. Quanto a nós, passámos outra vez a ter muito mais bola, e construímos ocasiões soberanas para marcar que, quando se falham, pagam-se. Foram pelo menos quatro situações claras que nos deveriam ter dado o golo e os três pontos. Pelo Jonas, assistido pelo Salvio após uma das melhores jogadas do jogo, quase toda ao primeiro toque, à qual o Casillas correspondeu com uma grande defesa. Depois foi novamente o Casillas a negar o golo ao Mitroglou, e logo a seguir ao Jonas na recarga (pelo menos pareceu-me que foi ele, mas pode ter sido algum jogador do Porto a cortar quase em cima da linha). E novamente o Jonas, no seguimento de um canto, surgiu completamente solto ao segundo poste e cabeceou um pouco ao lado da baliza. Nos minutos finais então o Porto já nem disfarçava, e o Casillas queimava deliberadamente tempo sempre que podia enquanto fazia gestos provocatórios para a bancada - imagino que aqueles que tanto se abespinharam com perdas de tempo num jogo que teve doze minutos de descontos já tenham entretanto mudado de opinião. No final a festa do Porto foi elucidativa do quanto queriam o empate, e da fé que colocam na outra metade da santa aliança antibenfica para fazer o resto do trabalho. No final veremos se justificada - é que o ano passado o pessoal do Lumiar nem sequer conseguiu fazer o trabalho para seu próprio benefício, portanto esperar que o façam em benefício de outros este ano pode ser um bocado optimista.


Na minha opinião, e até confesso a minha surpresa por isto, o Samaris foi um dos melhores jogadores do Benfica neste jogo. Aproveitou bem o espaço adicional de que beneficiou pelo facto dos médios do porto andarem excessivamente preocupados com o Jonas e o Pizzi para jogar um pouco mais adiantado no terreno e assumir até mais protagonismo na organização de jogo do que o próprio Pizzi. Em termos defensivos esteve mais disciplinado do que é habitual em termos posicionais, e até ganhou vários lances em antecipação, muito ao estilo do que o Fejsa costuma fazer. O Jonas fez também um bom jogo, mas infelizmente foi demasiado perdulário. A vitória do Benfica neste jogo perdeu-se nos pés (e na cabeça) dele. Luisão (meteu o Soares completamente no bolso, não o deixando usar a única arma que tem, que é o físico) e Nélson Semedo também num bom nível. O Salvio voltou a fazer muita asneira, mas esteve na jogada do golo e ainda ofereceu o segundo ao Jonas. Mas de qualquer forma pareceu-me acertada a sua substituição. Continuo é com dificuldade em perceber porque motivo o Cervi não joga mais.

Esquecendo a frustração pelo empate e olhando as coisas pelo lado positivo, mantemo-nos no primeiro lugar e somos a única equipa dependente apenas de si própria. A situação em que nos encontramos não difere muito daquela que enfrentámos a época passada, e que conseguimos superar com distinção. A receita é simples, temos sete finais pela frente e temos que as ganhar todas. Não me parece que o calendário do Porto seja particularmente mais fácil do que o nosso, e a exibição neste jogo deixa-me confiante para o que resta do campeonato, saiba a nossa equipa manter a atitude demonstrada. Além disso poderemos ter os 'reforços' Fejsa e Grimaldo para esta fase final, o que significará um plantel na máxima força para proporcionar todas as opções ao nosso treinador. Nunca como agora precisámos tanto de nos unir e empurrar a nossa equipa. Temos ao nosso alcance um objectivo histórico, e para lá chegarmos temos que começar já por pintar Moreira de Cónegos de vermelho no próximo fim-de-semana.

1 Comments:

At 4/04/2017 7:17 da tarde, Blogger joão carlos said...

A crónica é fiel aquilo que se passou em campo.


Num jogo como este de tamanha importância não podemos falhar tantas e tão claras oportunidades, alias coisa que já tinha acontecido no jogo anterior embora nem em tanta quantidade nem tão claras, para mais quando este é o segundo ano consecutivo a falhar oportunidades escandalosas de marcar e em quantidade assinalável e em ambos com resultados que nos penalizam.
Mais uma vez voltamos a entrar muito mal no recomeço do jogo a equipa entra apática mal preparada e parece pouco avisada para a mais que provável entrada forte do adversário e este tem sido recorrente este ano já tinha sido na primeira volta com este mesmo adversário, já tinha acontecido no ultimo jogo em casa valeu a bola no poste, é que este momentos de desatenção no inicio e recomeço dos jogos são incompreensíveis, até porque são fáceis de preparar, alias a ideia que passa por serem tão recorrentes é que a equipa vem mal preparada.
Não podemos sofrer um golo em que a equipa por cinco ou seis vezes teve a bola em seu poder e em todas essas vezes decidiu mal, e se alguma precipitação se percebe quando esses erros ocorrem perto, ou dentro da área, aquele que aconteceu junto à linha de meio campo é indesculpável perder uma bola quando se tem linhas de passe, algumas até sem risco nenhum é imperdoável, mas isto é o que faz jogarmos com um jogador adaptado na posição oito e que, principalmente neste jogos, não tem nem capacidade física nem técnica para a posição quer no aspecto defensivo quer ofensivo e enquanto não resolvermos o problema desta posição jogos como este de maior equilíbrio vai ficar sempre mais difícil de obtermos resultados positivos.

 

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