quarta-feira, janeiro 05, 2005

Derby



Vem aí o derby. O verdadeiro. A imprensa desportiva tem a tendência para chamar também de derby os jogos entre os grandes de Lisboa e o FC Porto. Como se pode ver pela própria definição da palavra, isso não são derbies. São jogos grandes, e importantes, entre clubes rivais. Mas não os chamem de derbies. Derbies são os jogos entre o Benfica e o nosso velho rival e vizinho, ou os jogos com o Belenenses, ou ainda entre o FC Porto e o Boavista. Mas o jogo de Sábado (e a retribuição da visita, na 2ª volta) é o derby.

Para mim a sensação que este jogo me dá é completamente diferente da de um jogo contra o FC Porto. Claro que eu não gosto do FC Porto, quero muito ganhar quando jogamos contra eles, e doem-me muito as derrotas (que eu, nos últimos anos, num comportamento inexplicavelmente masoquista, insisto em ir ver ao vivo nas Antas - mas há sempre aquela réstia de esperança que um dia virá aquela vitória que fará esquecer todos os desgostos das derrotas anteriores). Mas uma derrota no derby dói muito, muito mais.




Este é o jogo que eu mais quero ganhar todas as épocas. Não admito sequer o empate. Temos que ganhar, temos que jogar para ganhar (e já estou um bocado aborrecido antecipadamente por ter medo que o nosso Trapattoni se mantenha fiel à sua mentalidade tradicional, e se apresente em Alvalade com um esquema defensivo para segurar o empate). Se estivermos a ganhar por um, eu quero que a equipa lute para ganhar por dois. E se o conseguir, que continue a lutar para chegar ao terceiro. O derby para mim é assim. Não me basta 'apenas' ganhar. Quero ganhar, quero merecer ganhar, e se possível quero humilhar. Porque 'eles' são, para mim, os nossos verdadeiros e históricos rivais. O FC Porto é um fenómeno recente, cuja rivalidade connosco foi sobretudo criada pelo presidente Pinto da Costa. Com os nossos vizinhos é diferente. Sempre foram os nossos rivais, desde os primeiros anos de vida dos dois clubes, em que inclusivamente quase provocaram a nossa extinção. Mesmo que o jogo não interesse para nada, mesmo que estejam os dois clubes a meio da tabela, o derby é para ganhar. Se na semana a seguir perdermos contra o Gil Vicente porque os nossos jogadores se lesionaram ou foram expulsos para nos ajudar a ganhar o derby, não importa. Porque pelo menos ganhámos o derby.




O derby é o jogo que me faz esquecer um bocado o fair-play na derrota. Se perdemos, a culpa tem que ser de algum factor estranho. Do árbitro, do 'sistema', dos jogadores adversários que foram desleais, ou jogaram dopados. Mas admitir graciosamente a derrota no derby é que não. Este jogo é sempre especial, dá-me sempre uma emoção diferente. Desde 88 que não perco um derby em Alvalade, e estou habituado a sair de lá contente na maior parte das vezes. Algumas das melhores recordações que guardo de jogos de futebol estão ligadas ao derby. Foi nestes jogos que me surpreendi abraçado a um desconhecido, a chorar de alegria debaixo de uma chuva torrencial, enquanto o João Pinto demolia a arrogante equipa de Carlos Queirós e eu gritava até perder a voz. Que, como num filme em slow-motion, vi o Sabry calmamente beijar a bola, ajeitá-la, e num arco supremo colocá-la no fundo da baliza de um atónito e estático Peter Schmeichel a 5 minutos do fim, provocando o fim do mundo entre um pequeno grupo de 1500 benfiquistas, rodeados de 50.000 adversários ávidos de celebrarem o título pela primeira vez em 18 anos. E aquele gesto supremo do Sabry depois do golo, aquele dedo em riste colado aos lábios cerrados: 'Shhhhh!'. Que depois repetimos vezes sem conta no dia seguinte aos nossos amigos sportinguistas: 'Shhhhh'. Que importa que tenham sido campeões na jornada seguinte? Não o foram contra nós! Ganhámos o derby caraças!

Há algo neste jogo particular que me consegue fazer perder a compostura e calma habitual que mantenho durante um jogo de futebol, e me põe a vociferar contra o fiscal-de-linha, ou a chamar nomes ao Beto. Não há outro jogo no ano que me ponha a pensar em comprar bilhete semanas antes do jogo, que me faça ranger os dentes de ódio quando vejo aquelas camisolas verde e brancas entrar em campo (detesto tanto aquelas camisolas que nunca consegui, por exemplo, simpatizar com o Celtic de Glasgow), que me deixe com um nó no estômago quando o árbitro apita para o início do jogo, e os joelhos a tremer e os punhos cerrados enquanto o jogo decorre.

Sim, eu adoro o derby. Football doesn't get any better than this.

4 Comments:

At 1/05/2005 3:32 da tarde, Blogger Harry Lime said...

You`re a looney!

:))

 
At 1/05/2005 4:37 da tarde, Blogger D'Arcy said...

Essa da relatividade não pega. Um derby é um derby, e ponto final. Um Benfica x Porto é um jogo grande, mas falta-lhe a rivalidade que só existe entre vizinhos. Se seguirmos a lógica da relatividade, o FC Porto x Once Caldas também foi um derby, o que não faz sentido nenhum :)

Claro que também gosto muito dos derbies em que a minha equipa não entra, especialmente quando têm imensas expulsões e casos. Mas o meu ódio de estimação pelos de Alvalade é muito forte, e estou sempre a torcer pelo Porto. Nesses jogos quase que me transformo num adepto portista (já cheguei a celebrar golos do Porto...).

 
At 1/06/2005 9:53 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Também não são celebrações assim muito esfuziantes, são apenas uma manifestação de agrado por ver o meu ódio de estimação sofrer um golo. Isto é importante - o que eu celebro na realidade não é o Porto a marcar um golo, mas sim os outros a sofrerem um.

O benfiquismo é uma doença irreversível, não há passos dados na direcção certa :)

 
At 1/08/2005 6:45 da manhã, Blogger Quetzal Guzman said...

Grande posta!!!

 

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