domingo, outubro 30, 2005

Inglório

Desperdiçámos ontem dois pontos contra a Naval, após um resultado que acabou por ser inglório face à forma como os nossos jogadores se bateram durante a partida, disputada sob condições muito adversas.

Devo dizer que logo de início não estava muito confiante para este jogo. Primeiro devido à ausência do Simão (já mal me lembrava do que era um jogo do Benfica sem ele em campo). Depois devido ao estado do relvado, encharcado e muito pesado, o que à partida prejudica sempre a equipa a quem deve pertencer a iniciativa do jogo, e que com certeza iria afectar o nosso estilo de jogo habitual, com muita circulação de bola pelo chão. Na ausência dos habituais extremos titulares, o nosso treinador optou por colocar o João Pereira na direita, e o Ricardo Rocha como lateral esquerdo, avançando o Léo para o meio campo. Em termos práticos isto resultava no mesmo esquema táctico do costume. Mas como o João Pereira, ao contrário do Geovanni, tem muito mais tendência a jogar junto à linha em vez de fugir para o centro, o Nélson contou com muito mais apoio pelo seu flanco do que é habitual. Na posição de apoio ao Nuno Gomes, o escolhido voltou a ser o Karyaka, ficando o Karagounis no banco. Dadas as condições do terreno, e a deficiente condição física do grego, pareceu-me uma boa opção. É que o jogo da próxima quarta-feira é muito importante.

Apesar das más condições do campo, o Benfica assumiu com facilidade as despesas do jogo, conseguindo manter a bola em seu poder durante largos períodos de tempo. Até porque do outro lado estava um adversário que, apesar de afirmar não ter medo nenhum, não estacionou o autocarro em frente da baliza, estacionou logo um TIR, apostando em tentar de vez em quando o contra-ataque. Oportunidades de golo na primeira parte, quase nem vê-las. Para nós houve uma (ou duas, ambas na mesma jogada), quando na sequência de um livre bem marcado pelo Manuel Fernandes a bola acabou por ser passada ao Anderson, que na linha da pequena área conseguiu o feito de atirar por cima. Por parte da Naval houve um cabeceamento muito perigoso, que passou a centímetros do poste.

Na segunda parte, pareceu-me que a Naval abdicou ainda mais do ataque, remetendo-se quase exclusivamente à manutenção do empate. E o Benfica parecia também não ter grande capacidade para fazer funcionar o marcador. Só que, como tantas vezes acontece no futebol, acabou por sair a sorte grande à equipa que menos fazia para tentar ganhar o jogo. Houve uma perda de bola absolutamente idiota por parte do Petit no meio-campo (que ficou a reclamar falta), e num contra-ataque rápido conduzido pelo lado esquerdo da nossa defesa eles acabaram por chegar ao golo. A repetição do lance mostra que o Fogaça está ligeiramente adiantado em relação à defesa, mas não me choca que o lance tenha sido validado, nem me sinto prejudicado por isso. O fora-de-jogo não é escandaloso, e em caso de dúvida deve favorecer-se a equipa que ataca. O único motivo para mencionar esta situação é porque consigo imaginar o que se diria e escreveria se fôssemos beneficiados num lance idêntico. Como é provável que isto possa acontecer lá mais para a frente, num outro jogo, fica aqui registrada esta situação em que a decisão não foi a nosso favor.

Fiquei muito satisfeito com a forma como o Benfica reagiu ao golo. Sofrer um golo assim, completamente contra a corrente do jogo, e a menos de vinte minutos do fim não é nada fácil. Mas a equipa teve calma, e lançou-se numa pressão fortíssima sobre o adversário, muito mais próxima da área (adoro a forma como este ano somos capazes de exercer uma pressão tão elevada), e com as oportunidades a começarem a aparecer. A Naval nesta altura só tentava sobreviver, e foi divertido ver a cara de desespero do Cajuda no banco, enquanto via a oportunidade dos seus quinze minutos de fama a fugir-lhe entre os dedos (eu até gosto do Cajuda, mas achei toda esta novela entre ele e o Koeman um disparate). O golo do empate surgiu menos de dez minutos depois do golo da Naval, como corolário desta pressão. E foi fabricado pela dupla que já muitas alegrias nos deu esta época: Nélson a assistir, e Nuno Gomes a finalizar, após um bom trabalho dentro da área. E como o Benfica continuou em cima da Naval, acreditei que ainda seria possível chegar à vitória. O Mantorras ainda falhou uma grande oportunidade, viu outra ser-lhe negada por um fora-de-jogo muito, mas mesmo muito mal assinalado, e o Manuel Fernandes desperdiçou um livre perigosíssimo mesmo a acabar o jogo (se lá estivesse o Simão...).

Melhores no Benfica foram o Nélson (que surpresa...), o Nuno Gomes, e o Manuel Fernandes. O João Pereira também esteve bem. Pela negativa, para mim, o Petit (aquela perda de bola não lembra o diabo, e começo a ficar um bocado farto de o ver desperdiçar lances de bola parada), e o Anderson também esteve estranhamente inseguro.

O empate acabou por ser um mal menor, mas foi um resultado inglório dado o esforço que a equipa realizou, e o quão superior demonstrou ser à Naval. Mais uma vez, e apesar da Naval não ter jogado a meio da semana, os nossos jogadores pareceram estar numa grande condição física. Num terreno pesadíssimo, e apesar de terem que assumir as despesas do jogo durante praticamente os noventa minutos, pareceram chegar ao fim muito mais frescos que os nossos adversários, e terminaram o jogo em rotações ainda mais elevadas do que o iniciaram, em pressão constante sobre o adversário. Fico triste pelo resultado, mas ao mesmo tempo satisfeito com aquilo que vi. Tenho poucas dúvidas que o ano passado, nas mesmas condições, teríamos perdido este jogo.

10 Comments:

At 10/31/2005 2:12 da manhã, Blogger tma said...

D'Arcy, pegando na tua frase final, no ano passado também ganhámos jogos em que jogámos claramente pior do que ontem.
De facto, parece ser um sentimento comum: ontem o Benfica jogou bem (sobretudo na 2ª parte), fez tudo para ganhar, mas não ganhou.
O Anderson terá ficado perturbado com aquele falhanço frente ao Leixões? É que ontem realmente parecia menos seguro (até pela maneira como cortava os lances, às vezes despachava a bola para fora sem parecer haver necessidade).
Falhou um golo inacreditável, e mesmo considerando o off-side (ainda que não muito pronunciado) do Bruno Fogaça (que também teve mérito na forma como concluiu a jogada), precipitou-se na tentativa de corte.
O João Pereira talvez seja quem melhor personifique o Benfica de ontem: boa entrega ao jogo mas alguma falta de classe, aquela capacidade para fazer a diferença, que, em jogos deste género, é fundamental para os resolver. Ou seja, se a falta do Miccoli é importante, a do Simão é ainda mais pois é ele o líder (em qq dos casos, são dois grandes marcadores de livres directos). Para não falar do Geovanni, que neste contexto, acabou por também fazer muita falta (poderia, por exemplo, ter jogado à esquerda, como aconteceu uma vez ou outra na época passada, jogando o Léo a lateral - e sempre é melhor que o Petit a marcar livres directos...).

Voltando ao início: a boa exibição (mesmo que o que conte seja o resultado, que foi negativo) permite-nos continuar a acreditar que a equipa tem todas as condições para fazer um bom campeonato. Já que a perda de pontos acaba por ser inevitável, ao menos que tenha sido num jogo em que se conjugou uma série de adversidades. Ainda assim, a vitória teria sido uma prova de que o Benfica, também em condições adversas, consegue ganhar. Não ganhámos, paciência. Ainda há muito campeonato para jogar, e tal como referiste, a equipa parece bem preparada fisicamente, a julgar pela forma como consegue terminar os jogos.
De qq forma, espero que o mês de Janeiro seja bem aproveitado para reforçar a equipa. E espero que o Simão só saia no fim da época (admitindo que a sua saída é inevitável...).

Quarta-feira: lá estarei para ver o Benfica a ganhar ao Villareal! Pelo menos, e sobretudo se o Simão recuperar (e a recuperação do Quim também é importante), acho que o Benfica tem todas as condições para ganhar o jogo. Também será bom poder contar novamente com o Geovanni.

 
At 10/31/2005 2:31 da manhã, Blogger D'Arcy said...

O que eu disse foi que 'nas mesmas condições' perderíamos o jogo. Ou seja, sofrendo um golo contra a corrente do jogo, a poucos minutos do fim. aliás, o ano passado revelámos sempre pouca capacidade para inverter resultados. Um exemplo flagrante do ano passado de uma derrota completamente injusta, que não conseguimos inverter foi aquela em Penafiel.

O João Pereira não dá mais que aquilo. Não se pode pedir que ele faça mais do que aquilo que sabe. Mas ontem gostei da entrega e disciplina táctica dele, além de que se movimentou sempre bem para combinar com o Nélson (e compensou-lhe as costas quando ele subia). Quanto ao Geovanni, tenho a ideia de que ele teria sido uma nulidade num terreno como o de ontem. Mas fico contente por tê-lo de volta para quarta-feira.

 
At 10/31/2005 9:12 da manhã, Blogger Caio de Gaia said...

Se o Braga ganhar hoje este campeonato começa a ficar interessante.

Eu fiquei um bocado apreensivo quando vi a equipa inicial: três defesas laterais, três defesas centrais, dois trincos, um médio atacante que não sabe receber a bola, um guarda-redes inexperiente e ... um ponta de lança que está numa forma incrível. Apesar de tudo as coisas não correram tão mal como isso mas manter aquela equipa durante uma hora foi excessivo. O Koeman pelos vistos quis ver como paravam as modas no que se refere ao físico mas frente a uma equipa com uma defesa tão fraquinha devia ter arriscado mais, pelo menos o Mantorras devia ter alinhado de início. Quando o angolano entrou passámos a entrar facilmente na área deles. Aí viu-se que em condições normais aquele era um jogo para goleada.

O Petit, enfim uma falha todos podem ter, mas alguém me explica porque razão é que o homem marca livres e cantos? Quanto aos nossos centrais, que raio, fartam-se de ganhar bolas na área, porque razão é que não marcam golos?

 
At 10/31/2005 10:45 da manhã, Blogger tma said...

D'Arcy, não há dúvida que, com a nossa capacidade de reacção à adversidade no ano passado, possivelmente nem teríamos empatado. O meu acrescento foi mais focado no aspecto exibicional, constatando (e contrastando) que nem sempre as boas exibições produzem resultados (e que nem sempre os resultados são fruto de boas exibições).
Mesmo que isso por vezes nos custe, é essa uma das razões pelas quais o futebol é desporto tão apaixonante...

Em relação ao João Pereira, não há nada a apontar em relação a ele nem ao facto de ter jogado de início (mas talvez devesse ter sido ele o substituido, não o Karyaka). Ele fez um bom jogo, deu tudo (por vezes excede-se pela negativa...) e não tem culpa de, tecnicamente, não ser dado a grandes rasgos individuais (também, não é para todos...). No entanto, não deixa de exemplificar o que foi globalmente o Benfica, a quem faltou algo mais do que jogar bem para ganhar.

Também concordo com o JFilipe, já que o Petit parece que cada vez chuta pior. Às vezes apetecia que o Koeman pudesse entrar em campo para marcar livres... (ainda este fds mostraram, na Eurosport, resumos de "clássicos" da CL entre equipas italianas e espanholas, onde não faltou o golo que o Koeman marcou à Sampdoria na final de 92)

 
At 10/31/2005 6:13 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Uma coisa que falhou neste jogo, e que o Koeman estranhamente não antecipou, foi que sem o Simão os adversários não tiveram qualquer problema em fazer faltas ao pé da área. É por isso que eu acho que o Mantorras devia ter jogado de início, quanto a mim no lugar do Léo. Com mais um avançado os defesas da Naval teriam ficado carregados de amarelos ao fim de poucos minutos de jogo, por muito boa vontade que o árbitro tivesse. Idem para os cantos, o SLB tem sido pouco mais que inofensivo, e aí o Mantorras é melhor que o Nuno Gomes. O Nelson costuma recuar para a defesa, mas talvez devesse ser ele a marcar os cantos. O Petit não serve.

Insuportável na tv foi ouvir aqueles comentadores a tecerem loas ao FCP. Devia haver uma opção para ter só o som do estádio.

 
At 10/31/2005 6:58 da tarde, Blogger S.L.B. said...

JFilipe: sendo o árbitro o Sr. António Costa, não sei até que ponto ele mostraria esses amarelos... Ele conseguiu a proeza de mostrar seis amarelos, mas só na 2ªparte e três deles nos últimos nove minutos de jogo!

 
At 10/31/2005 7:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Os cartões só no final do jogo não têm a ver só com a má vontade do árbitro mas com o facto de eles terem mudado o tipo de faltas. Com dois avançados tiveram que fazer entradas por trás ao jogador que se vai isolar, e o árbitro pode fechar os olhos à primeira mas depois mostra cartões. Os árbitros em Portugal são maus, deixam fazer antijogo, mas isso é algo com que se deve contar à partida.

Eu lembro-me do futebol nos anos 80, em que aí sim havia arbitragens tramadas (será que alguém tem um mpeg daquelas famosas corridas dos jogadores do FCP atrás dos árbitros?). Apesar disso o Benfica ganhou bastantes campeonatos.

A solução era alterar o tipo de jogo, o que o Koeman fez, mas levou logo com aquele golo. Mesmo saindo em fora de jogo temos que dar mérito ao avançado. Apesar de estar muito sozinho lá na frente, nunca desistiu e na vez em que o defesa falhou não perdoou. Não me lembro de o Benfica esta época ter conseguido virar um resultado. Sempre que o adversário marcou primeiro ou empatámos ou perdemos.

 
At 10/31/2005 9:27 da tarde, Blogger D'Arcy said...

No outro dia estava a dar essa famosa final da Supertaça em Coimbra, em que os jogadores do FCP desataram a correr atrás do Pratas após o golo do Benfica. O mais hilariante para mim ao rever essas imagens foi verificar que eles protestavam a legalidade do golo alegando que o Baía teria sido carregado... com o pormenor do lance ter sido quase à entrada da grande área, e ter sido o Baía quem saiu à toa e depois caiu em coma do Águas.

De qualquer forma o Pratas compensou, e pertinho do fim arranjou um penalty manhoso por suposta falta do Fernando Mendes sobre o Paulinho César.

 
At 10/31/2005 9:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

D'Arcy, o Baía cair em coma para ele era melhoria.

 
At 11/01/2005 12:45 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Era cair 'em cima', obviamente ;)

 

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