sábado, outubro 08, 2005

Mundial

E pronto, a selecção nacional já está apurada para o Mundial da Alemanha em 2006. Estou relativamente satisfeito, mas não particularmente entusiasmado. Para começar porque, sinceramente, eu sou mais benfiquista do português. A verdade é que normalmente um jogo do Benfica contra um Estrela da Amadora me acelera mais as pulsações do que a grande maioria dos jogos da selecção nacional. Com algumas excepções, claro, porque há certos jogos memoráveis de Portugal que me ficaram marcados. Jogos como o França x Portugal das meias-finais do Euro'84, o Alemanha x Portugal de Estugarda, no apuramento para o Mexico'86, o Marrocos x Portugal nesse mesmo Mundial (e a exibição sobre-humana do guarda-redes marroquino Zaki), novamente o França x Portugal nas meias-finais do Euro 2000, ou o Portugal x Inglaterra para o Europeu o ano passado. Mas isso são excepções, porque regra geral os jogos da selecção passam-me um bocado ao lado, e às vezes até me esqueço deles (hoje acho que cheguei a adormecer durante a primeira parte do jogo, e só despertei com aquela obra-prima do Ricardo e do Paulo Ferreira).

A qualificação para o Mundial não me deixa particularmente entusiasmado porque, francamente, apenas cumprimos a obrigação de ganhar aquele que provavelmente terá sido o grupo de apuramento mais fácil da história dos Mundiais de futebol. Ainda assim, não conseguimos vencer fora nenhuma das duas equipas dignas desse nome que faziam parte do grupo, e fomos os autores de uma anedota e meia contra o Liechtenstein (a meia foi hoje, em que lá nos safámos a cinco minutos do fim).

Não sou grande fã do Scolari. Tacticamente acho que deixa muito a desejar, e uma das maiores provas disso foi a forma como foi 'comido' pelo Rehhagel não uma, nem duas, mas três vezes seguidas. Não posso confiar muito num treinador que é incapaz de reconhecer os seus próprios erros, e se deixa embalar na mesma táctica adversária três vezes seguidas. Isto é um sinal da casmurrice de Scolari, casmurrice essa que nos custou a final do Euro. Esta casmurrice também se revela nas convocatórias da selecção, em que são convocados sempre os mesmos, estejam bem ou estejam mal, joguem ou não nos respectivos clubes. Para mim a selecção deveria ser isso mesmo: uma selecção dos jogadores em melhor forma deste país, mas Scolari prefere gerir a selecção como se fosse uma espécie de clube de futebol, com um plantel fixo.

Claro que ele também tem qualidades. É um líder forte e disciplinador, e com ele acabaram-se as vacas sagradas que praticamente mandavam na selecção no tempo do António Oliveira. Com Scolari, tenho a certeza que não vamos passar vergonhas como as que passámos em Saltillo em '86 ou na Coreia há três anos. Além disso ele conseguiu unir os portugueses à volta da selecção, e gerar um entusiasmo que estava a desaparecer. Estou agora curioso para ver se conseguirá resultados no Mundial. É que a única altura em que fomos realmente testados foi durante o Euro, em que jogámos em casa, e mesmo assim nunca fiquei grandemente convencido. Antes do Europeu só houve jogos amigáveis, e esta fase de qualificação foram peanuts. O Mundial vai ser o primeiro teste a sério à selecção de Scolari.

10 Comments:

At 10/09/2005 1:44 da tarde, Blogger Harry Lime said...

Não podia concordar mais com esta tua posta.

No Scolari chateia-me exactamente essa mentalidade de "clube". Por exemplo: uma das razões pelas quais a selecção não joga com dois avançados (que neste momento seriam o Pauleta e o Nuno Gomes) é que para isso seria necessário fazer sair uma das 3 maiores vedetas da nossa selecção (Figo, C.Ronaldo ou Deco... neste cenário o elo mais fraco é sem duvida o Figo). A questão do guarda redes tambem é polémica. O Ricardo não está em condioções de defender qualquer baliza do Mundo. Até o Pewseiro já percebeu isto!

No meio campo também há vacas sagradas como o Maniche que não tem jogado nada!

Mas pronto esta é a selecção que temos e este é o seleccionados que temos... e desta vez nem sequer tivemos de sofrer muito.

 
At 10/09/2005 7:14 da tarde, Blogger MB said...

Penso que o motivo de Portugal só jogar com um avançado não passa pela necessidade de manter as vedetas no onze. Até porque neste jogo o Deco estava suspenso.
Se o Scolari opta por só jogar com o Pauleta na frente, é porque, quer joguemos com o Brasil quer joguemos contra o Belize (para não dizer Lietchenstein), ele não muda o sistema!

 
At 10/10/2005 12:08 da manhã, Blogger Pedro F. Ferreira said...

E o Nuno Gomes??? Um toque na bola... um golo!!! ;)

 
At 10/10/2005 1:49 da manhã, Blogger tma said...

Concordo ipsis verbis com a tua opinião sobre o "Chocolari": é casmurro, convoca sempre os mesmos, mas ele é que manda (o que é bom, mas seria melhor se fosse menos casmurro) e tem uma grande capacidade para unir os jogadores.
O facto de gerir a selecção como se fosse um clube tem a vantagem de fazer com que os jogadores se identifiquem com a selecção e faz com que a selecção tenha uma identidade (o que seria melhor ainda não fosse a casmurrice).
De facto, prefiro que ele jogue sempre com o mesmo sistema (1 PL fixo), pq qdo não o faz, ele só inventa: normalmente sacrifica os extremos...
Já agora, outro "intocável" parece ser o Pauleta, o "chutador de bolas de queijo", que para marcar um golo, precisa de 10 oportunidades, o que faz com que ele praticamente só marque a selecções da treta). Se o Nuno Gomes tem o defeito de rematar de menos, o Pauleta remata sempre que pode e mesmo quando não é a melhor opção. Em qq dos casos, fá-lo normalmente mal.
O Paulo Ferreira, só nos jogos da selecção é que mete água (e fá-lo praticamente em todos).
Qto ao Ricardo, sentia-me mais seguro se à baliza estivesse aquele defesa do Liechtenstein que defendeu o remate do Figo (e que só o árbitro e o fiscal de linha não viram que foi com a mão)...
Seja como for, acho que no mundial a selecção vai jogar mais concentrada, e mesmo que as coisas não corram bem, dificilmente será a vergonha que foi na Coreia/Japão (cujo mal começou antes, com a palhaçada do Baía).

 
At 10/10/2005 2:22 da manhã, Blogger tma said...

Já agora, na melhor das hipóteses, vibro tanto com um jogo da selecção como com um jogo do Benfica.
Eu prefiro nem comparar a satisfação pelos êxitos da selecção com a satisfação pelos êxitos do Benfica. São coisas diferentes.
Mas se pudesse escolher, nunca trocaria uma vitória do Benfica por uma vitória da selecção!

 
At 10/11/2005 11:36 da tarde, Blogger tma said...

Caro Koelhone,
só não estou de acordo com uma coisa: que ele tenha aberto uma guerra contra o FCP (pelo menos premeditadamente).
A imprensa obviamente tirou partido da não convocação do Baía para fazer novela e o PC não perdeu a sua oportunidade para dar as suas "bicadas" do costume.
E a convocatória do Bruno Vale (que realmente fez estalar a polémica) creio que foi uma reacção típica do Scolari para afirmar "não admito que os clubes me digam quem devo ou não convocar e se intrometam no meu trabalho".
De resto, creio que a forma estranha como foi dada a titularidade ao Baía no mundial 2002 está por trás da sua não convocatória.
Da minha parte, por vezes prefiro que ele não convoque jogadores do Benfica, sobretudo desde aquela lesão grave do Simão naquele jogo ridículo em que fomos goleados pela Finlândia.
De facto o Scolari só teria a ganhar se convocasse um GR que estivesse num momento minimamente razoável de forma, o que definitivamente não é o caso do Ricardo. Caso contrário, é ele próprio que está a desautorizar-se.

 
At 10/12/2005 4:18 da tarde, Blogger D'Arcy said...

Eu sempre estive convencido que a não convocação do Baía está relacionada com motivos extra-futebol. Claro que ele não pode vir a público afirmar isso, porque até se arriscaria a levar com um processo em tribunal. Mas o Baía era uma das vacas sagradas da selecção, e já li que a sua convocação e posterior titularidade no Mundial em 2002 (após uma época em que praticamente não jogou por lesão, e em que o Ricardo tinha sido o titular em toda a qualificação) tinha sido exigida ao Oliveira pelos outros jogadores, precisamente devido ao peso que o Baía tinha.

Quanto ao conflito com o FCP, ele foi iniciado e alimentado pelo próprio FCP. Depois, pressionado, o Scolari acabou por ter atitudes menos correctas nessa questão. Mas recordo que após o Mundial havia um jogador de cada um dos grandes que deixou de ser convocado, e que era anteriormente titular indiscutível da selecção: JVP, Petit, e Baía. Apenas o FCP (e mais especificamente o PC e o Mourinho) resolveu fazer barulho sobre isso. Dos três, apenas o Petit acabou por conseguir regressar, mas apenas depois de mais de um ano sem ser convocado.

Neste conflito com o FCP, acho que a principal causa foi a partcular predilecção que o presidente do FCP tem por guerrilhas e quezílias. Aliás, é completamente incongruente que ele por um lado ande a fazer barulho por o Baía não ser convocado para a selecção, e por outro tenha andado a tentar forçar o Nuno Valente a abdicar da mesma.

 
At 10/12/2005 4:53 da tarde, Blogger tma said...

Koelhone,
OK, tenho de reconhecer que a (minha) memória tem tendência a ser selectiva, e que o facto de eu não gostar do FCP terá certamente a sua influência.
A minha dúvida (poderei ser eu que tenho a mania das teorias da conspiração) é se há algum motivo para esta má vontade do Scolari em relação ao FCP ou se é simples embirração.
A segunda hipótese até nem seria de admirar, já que o Scolari embirra por tudo e por nada.
De qq forma, e tal como apontou o D'Arcy, creio que no início da cronologia está a não convocação do Baía. O facto de o PC ter manifestado estranheza e conhecendo a personalidade do Scolari, logo aí ele (Scolari) pode ter resolvido "embirrar" com o FCP, ao considerar que essas declarações do PC (e do Mourinho) eram uma intrusão no seu trabalho. Até porque sabemos (e o Scolari de certeza que também já o sabia nessa altura) que raramente as afirmações do PC são feitas inocentemente.

 
At 10/12/2005 6:56 da tarde, Blogger S.L.B. said...

É precisamente por ele fazer frente ao clube regional que eu gosto do Scolari. Ele faz o que ninguém mais tem coragem de fazer, principalmente os jornalistas que ficam todos embevecidos com as palavras "na sua habitual ironia" do presidente do clube regional e ninguém lhe faz as perguntas devidas do tipo: "como é que o senhor, que é arguido num caso de corrupção de árbtiros, tem moral para falar de arbitragens?" ou então "tendo tido na sua equipa jogadores como o Paulinho Santos, Jorge Costa e Costinha, acha que tem legitimidade para falar num eventual castigo ao Petit?". Acho muito bem que o Scolari trate o clube regional da maneira que trata! Ao menos haja alguém!

 
At 10/12/2005 9:39 da tarde, Blogger tma said...

Ao colocar o Quim a jogar, o Scolari demonstrou que ainda é capaz de proceder racionalmente. Provavelmente ele até já teria tomado a decisão, só não gostou de se sentir pressionado a tomá-la... Gostemos ou não, irritar-se é a maneira de ele lidar com as críticas dos jornalistas.
Claro que há a outra questão: porque é que o Moreira não é convocado, mas isso já outra história, até pq a questão Quim vs. Moreira tb se põe no Benfica.

 

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