quarta-feira, agosto 03, 2011

Passeio

Sem sobressaltos, o Benfica quase que passeou e passou a eliminatória na Turquia, tendo ficado como único amargo de boca a sensação de termos desperdiçado uma boa oportunidade para vencer o jogo. No mínimo, porque na melhor das hipóteses, até teria dado para um resultado robusto.

O Benfica entrou em campo com onze jogadores... do Benfica. E escrevo isto porque à custa de tanto alarido sobre as nacionalidades do onze que iria alinhar, às tantas comecei a ficar com receio que o Benfica acabasse por entrar com menos do que onze jogadores, ou com algum jogador do Trabzonspor lá metido pelo meio. O Jorge Jesus optou por inovar um pouco em termos tácticos, colocando a equipa a jogar com apenas um avançado de raiz, num esquema que na época passada eu achei que tanto jeito nos daria em alguns jogos - mas para o qual não tínhamos jogadores no plantel. O Saviola foi o jogador mais avançado, com apoio directo do Aimar, e o Witsel entrou no onze para dar mais consistência ao meio campo. Natural também a presença do Nolito, no lugar do lesionado Pérez.

Se alguém esperava algum inferno em Istambul, então o que viu foi um inferno muito frio. O estádio estava muito longe de ter os tais cinquenta ou sessenta mil fervorosos adeptos turcos, e logo nos primeiros minutos o Benfica fez questão de arrefecer os ânimos aos que lá estavam, e tranquilizar os benfiquistas, porque depressa se viu que seria muito difícil que deixássemos fugir o controlo do jogo. Começámos por pressionar muito alto - grande esforço do Aimar neste aspecto - raramente permitindo ao Trabzonspor jogadas organizadas e em posse de bola, porque o nosso meio campo reforçado ocupava os espaços e fazia as marcações quase na perfeição. E quando recuperávamos a bola, às vezes até parecia demasiado fácil a forma como conseguíamos abrir buracos na defesa turca. E o golo surgiu com toda a naturalidade, já depois de algumas ameaças, quando estavam decorridos vinte minutos. Num lançamento lateral o Saviola apareceu 'esquecido' na área, e depois passou a bola ao Nolito, que rematou entre dois defesas para o golo. Se dúvidas havia sobre quem passaria, terão terminado todas aqui. O Trabzonspor conseguiu empatar cerca de dez minutos depois, num lance em que explorou um buraco deixado pelo Maxi na direita da defesa, mas foi um lance perfeitamente fortuito e contra a corrente do jogo - foi o único remate que os turcos fizeram à baliza em noventa minutos de jogo, durante os quais o Artur foi pouco mais do que um mero espectador. O Benfica não acusou o golo, continuou com o controlo do jogo, só não chegando ao intervalo em vantagem porque o Gaitán, numa noite muito displicente, conseguiu não acertar com a baliza quando tinha tudo para marcar.

A segunda parte começou com o Benfica a mostrar que nada iria mudar: logo no primeiro minuto o Nolito perdeu mais uma oportunidade soberana para marcar, num lance precedido de penálti sobre o Saviola. Antes de terminado o primeiro quarto de hora, o cenário ficou ainda mais negro para os turcos, que se viram reduzidos a dez após expulsão do Mierzejewsky por cotovelada na cara do Maxi (o maior especialista no uso dos cotovelos, o número dezassete Burak, conseguiu no entanto aguentar-se em campo os noventa minutos sem ver um amarelo sequer). E a partir daqui só foi aumentando a minha irritação por não marcarmos pelo menos mais um golo, que nos daria a vitória no jogo. Oportunidades para isso não faltaram, mesmo com o Benfica a jogar quase em ritmo de treino (e o Gaitán a jogar quase como se estivesse numa peladinha entre amigos). A mais flagrante de todas surgiu a dez minutos do final, com o Witsel a conseguir acertar na trave (o que era mais difícil do que marcar) depois de se ver cara a cara com o guarda-redes após uma boa iniciativa do Matic. Mas a verdade é que depois da expulsão, a sensação com que fiquei é que bastaria o Benfica forçar um bocadinho para desbaratar completamente aquela defesa.

O jogador de que mais gostei foi o Witsel. É tacticamente muito certo, insistente na luta pela posse de bola, e sobretudo não inventa: faz aquilo que deve ser feito, na altura certa, e de forma simples. Merecia claramente que aquela bola que terminou na barra tivesse entrado na baliza. Gostei também do Nolito, em especial na primeira parte, porque à medida que o jogo caminhou para o final pareceu-me que foi perdendo o fôlego. Mas foi sempre um dos mais perigosos, e é outro jogador que ajuda muito a começar a pressão logo à saída da área adversária. Gostei também do Aimar, sobretudo pelo muito que trabalhou, e o Matic teve um entrada boa no jogo. O único jogador que me conseguiu irritar foi o Gaitán, simplesmente porque chegou a um ponto em que quase me pareceu estar a ser displicente na forma como jogava. Se não tentasse obter nota artística em alguns lances, o mais provável era que tivesse acabado o jogo com um (ou mais) golos marcados. Gostaria que ele tivesse tido uma atitude mais competitiva, e que tivesse levado o jogo mais a sério.

A obrigação de deixar os turcos pelo caminho foi cumprida, e esperemos agora para ver o que é que a sorte nos reserva para o play-off. A minha preferência é quase sempre a mesma para sorteios de competições europeias: equipas italianas não, por favor. Por isso, desejo qualquer equipa menos a Udinese.

4 Comments:

At 8/04/2011 8:36 da manhã, Anonymous Filipe said...

Acho o Aimar perfeitamente compatível com o Witsel, no entanto não gosto de ver o Benfica jogar com o Aimar tão adiantado.

O Aimar ontem correu kms, mas na minha opinião deve sempre fazer parte da construção de jogo da equipa.

 
At 8/04/2011 4:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E aí D'Arcy tudo fino?

Boa análise do jogo concordo inteiramente.

Engraçado como tb fui vitima dessa irritação crescente depois da expulsão.

Alguém q avise o Gaitan da diferença monetária entre ganhar ou empatar um jogo na europa, se o "menino" quer ser aumentado q interiorize isto e seja + objectivo e q guarde os malabarismos excessivos e vaidades para qd os resultados forem dilatados.

Prefiro ver um 11 sem portugueses do q ter q andar a levar com "peixotos", se bem q gostava q existisse 1 ou 2 a titular. De qq modo pelo menos temos vários jogadores nacionais jovens q têm tudo para começar a ser integrados na equipa aos poucos (N.Oliveira, D.Simão, Mika, M.Vítor, Roderick) e serem boas soluções a médio/longo prazo.

Quanto ao próximo adversário preferia evitar o Rubin Kazan e só depois a Udinese mas qq um deles está ao alcance do SLB.

 
At 8/05/2011 7:23 da tarde, Blogger joão carlos said...

Mais uma analise com muita qualidade.

Anonymous sobre os jogadores que referes os quatro primeiros tem muita qualidade mas só estão lá para fazer numero já que o treinador pouco ou nada conta com eles o quinto começo a ter muitas dúvidas sobre a qualidade dele e se alguma vez terá qualidade para ser opção valida.
O Ruben Amorim o Carlos Martins e infelizmente o Eduardo (acho que mal por mal não sei se não prefiro o Peixoto) são os únicos que tem hipóteses de jogarem e serem titulares.

 
At 8/06/2011 4:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

João Carlos por isso mesmo refiro a médio/longo prazo mas o Mika o Miguel Vítor, N.Oliveira e D.Simão só não têm espaço para ir jogando esta temporada com muita falta de vontade. Em relação ao Carlos Martins prefiro q se aposte no D.Simão para o seu lugar, tou farto de o ver a passar metade das épocas lesionado e a ñ apresentar condição física para fazer 90m, com o meio campo actual ñ vejo grande espaço para ele por isso q se aposte no futuro.
O N.Oliveira tb tem caracteriscas ímpares no plantel e qualidade, o Hugo Almeida ñ é melhor q ele e quem apostou no Kardeck pq ñ aposta neste?
Em relação ao Roderick ñ concordo mesmo nada contigo e se tens visto os jogos dos sub 20 talvez tivesses outra opinião, ñ sou como a maioria q depois da mão "parva" deste no limite da área q foi transformada em pénalti o torna numa espécie de bode expiatório de uma época frustrante. Acho q ele precisa sim é de ir rodar esta época para um clube onde jogue com frequencia, como o M.Vítor fez, para crescer e evoluir. Ou achas q Jardel é q é um bom central e de futuro?
Se realmente o JJ ñ contar com eles e estiverem só a fazer n. prefiro q os emprestem, mas então a conversa do LFV sobre começar a apostar nos jogadores da formação na equipa principal é mais uma tanga de propaganda. Penso q cabe a nós sócios e adeptos q se começe a exigir q a aposta nos bons valores da formação seja realmente feita.

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