Arranque
Apesar do mau historial recente em jogos contra o Porto, creio que todos os benfiquistas tinham hoje uma crença quase absoluta na vitória. Simplesmente não era imaginável outro resultado que não a vitória no clássico. E os nossos jogadores corresponderam a esta expectativa. Não com um jogo rico em pormenores técnicos de qualidade, mas com muita raça, empenho e concentração, oferecendo-nos uma vitória que há demasiado tempo nos fugia, numa tarde que fica marcada pela linda homenagem ao nosso King Eusébio antes do início da partida.
A grande surpresa para mim foi a manutenção da titularidade do Oblak. Não que não fosse justificada, porque a verdade é que depois de uma série infeliz de jogos consecutivos a sofrer golos, desde que o Oblak assumiu a baliza que nem por uma vez a bola voltou a tocar as nossas redes. Não sei se tem tido muito trabalho ou não, mas o que tem tido, tem-no feito bem. Menos surpreendente foi a manutenção da aposta nos dois avançados que, confesso, não é do meu agrado em jogos contra o Porto. A primeira parte do jogo foi muito pouco interessante no que à qualidade do futebol diz respeito. As equipas acabaram por encaixar uma na outra, houve pouco espaço para jogar e muitos lances divididos, sempre disputados com grande intensidade. Os desequilíbrios e oportunidades de golo foram poucos, e a primeira vez que isso aconteceu resultou no golo do Benfica. Com uma dúzia de minutos decorridos, o Markovic aproveitou um mau passe de um adversário para recuperar a bola perto do círculo central, arrancou por ali fora com a bola controlada deixando adversários para trás, e na altura certa passou a bola para o Rodrigo que, descaído sobre a esquerda, desferiu um remate de primeira imparável para o golo. Ao contrário do que aconteceu com alguma frequência nos jogos mais recentes contra o Porto, desta vez fomos nós a adiantarmo-nos no marcador relativamente cedo, e isso fez muita diferença. O Benfica esta época parece jogar pouco para a nota artística, e em vez disso ter um espírito mais virado para o 'resultadismo'. Se calhar noutras épocas recentes, a seguir ao primeiro golo o Benfica embalaria na busca de um segundo. Desta vez optou por manter uma atitude mais resguardada e sóbria, controlando um Porto que se viu obrigado a ir em busca do golo. E, verdade se diga, fizeram-no exemplarmente. É que o Porto, que durante a primeira parte teve mais posse de bola, não conseguiu construir uma oportunidade de golo - não me recordo de, nas últimas épocas, alguma vez ter visto um Porto tão inofensivo na Luz. A única forma que o Porto tinha de levar a bola para perto da nossa baliza era através de livres, que eram aproveitados para despejar a bola para a área a partir de qualquer posição dentro do nosso meio campo, mas a nossa defesa hoje esteve sempre concentrada, e não foi por aí que criaram qualquer perigo.
A segunda parte começou praticamente com um livre muito perigoso a favor do Porto, à entrada da área, que acabou com a bola nas mãos do Oblak. O Benfica respondeu com uma ocasião do Markovic, defendida para canto. Na sequência desse canto, houve um penálti flagrante cometido pelo Mangala, por mão na bola, que incompreensivelmente não foi assinalado. A jogada seguiu para novo canto, e na marcação deste, quando ainda se reclamava o penálti não assinalado, surgiu a entrada fulgurante do Garay, que de cabeça fuzilou a baliza do Porto. O golo aconteceu logo aos oito minutos, havendo portanto ainda muito tempo para jogar, mas praticamente dissipou quaisquer dúvidas sobre o vencedor, porque este Porto nunca pareceu mostrar qualquer capacidade para poder anular uma desvantagem de dois golos. O Benfica, com muito empenho e raça de todos os jogadores, continuou a manter o adversário longe da sua baliza, e tal como na primeira parte o Porto foi incapaz de criar uma oportunidade de golo que fosse. O Benfica, pelo contrário, em transições rápidas ia ameaçando dilatar ainda mais a sua vantagem, e dispôs de mais do que uma ocasião para o fazer. A melhor de todas esteve nos pés do Rodrigo, que se isolou e em frente ao Hélton acabou por chutar com o seu pior pé (o direito) por cima da baliza. A um quarto de hora do final o Porto ficou reduzido a dez, e a nossa tarefa ficou ainda mais facilitada. Se calhar o Benfica até poderia ter forçado na procura de mais um golo, mas o jogo já estava ganho e não valia a pena correr riscos desnecessários. Nestes últimos anos já vi o Benfica jogar de forma bem mais vistosa contra o Porto e não ganhar. Prefiro ver-nos jogar de forma mais realista e conseguir o resultado que nos interessa. Após o final do jogo, fiquei infelizmente com a nítida sensação de que o Matic se despediu do público da Luz.
O maior destaque do jogo de hoje é para a equipa num todo. Tiveram a atitude e concentração certas para vencer um jogo sempre difícil, e que foi de luta intensa. Já há algum tempo que não via o Benfica impor-se ao Porto de forma tão natural. Em termos individuais, é com agrado que vamos assistindo à evolução do Markovic na vertente táctica do seu jogo. Depois, o talento natural dele ajuda a fazer a diferença, o que foi o caso hoje. O Rodrigo está a atravessar um momento bom de forma (ao contrário do Lima, que continua francamente desinspirado). Se calhar, agora que ele parece estar a regressar à forma 'pré-atropelamento pelo Bruto Alves', arriscamo-nos a vê-lo ser vendido. Gostei do Enzo e do Garay, o Maxi continua a subir de forma, e por fim o Matic, naquele que poderá ter sido o seu último jogo na Luz, despediu-se com mais uma boa exibição.
Debaixo de constantes críticas da imprensa e dos seus próprios adeptos, a ter que superar a carga psicológica negativa do terrível final da época passada, com diversos jogadores fulcrais indisponíveis por lesão, com o treinador suspenso durante um mês, o Benfica foi a melhor equipa da primeira volta do campeonato, mesmo que outros tenham sido os campeões das loas. Estamos em primeiro com todo o mérito, e apesar das inúmeras contrariedades que nos têm afligido. Espero que a vitória de hoje possa ser o arranque definitivo para a conquista desta Liga.
1 Comments:
A crónica mais uma vez esta com a qualidade que nos tens habituado.
A opção feita pelo treinador para a baliza também me surpreendeu de facto não estava à espera dela muito provavelmente, como muitos dizem, foi feita porque com este se corresse mal o publico não lhe caia em cima e se fosse o nosso anterior titular e corresse mal provavelmente era o fim da linha para o treinador não sei se foi essa a razão se foi por isso foi pelas razões erradas mas era a decisão que se impunha.
Quanto à táctica eu tinha a esperança que fosse outra até porque com um dos avançados lesionados e o outro que não treinou praticamente durante toda a semana eu pensei que isso daria poça margem de manobra ao treinador e o obrigaria a jogar com um meio campo reforçado mas a teimosia do treinador é uma coisa absolutamente incrível e desta vez resultou porque duas das pedras mais ofensivas fizeram um jogo atípico para aquilo que tem apresentado defendendo muito e bem e porque o outro, o nosso segundo avançado, esta numa forma muito boa e desta forma conseguiu desempenhar um duplo papel de avançado médio ofensivo que quando não esta no seu melhor não consegue fazer.
Desta vez não só marcado um golo de canto o que ultimamente é uma raridade como a forma como o fizemos foi muito idêntica a muito golos que até a muito pouco tempo andávamos a sofre e deste modo permitiu fazer a homenagem merecida ao nosso grande ídolo.
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