quarta-feira, janeiro 26, 2005

Feiticeiro

Comemorando o facto de passarem hoje 100 anos sobre a data do nascimento do mais mítico treinador de sempre do Sport Lisboa e Benfica, Bela Guttmann, 'A Bola' publica hoje um especial sobre o treinador húngaro. Gostei particularmente da deliciosa 'entrevista' (construida a partir de diversas conversas entre o treinador e vários dos jornalistas d'A Bola).



Alguns dos pontos que achei mais interessantes nessa entrevista:

- Foi difícil ser treinador do Benfica?
- Contra o Benfica, todos valem, ou fazem por valer; o dobro daquilo que efectivamente valem. É uma guerra santa.

(Esta é uma ideia que já vi ser partilhada por outros treinadores do Benfica)

- A mística do Benfica é apenas um mito?
- Só quem está lá dentro do Benfica é que pode saber o que é a mística. Eu, antes, já tinha ouvido falar na mística. Mas encolhia os ombros. Não sabia o que era. Francamente, até pensava que não fosse nada, que não passasse de uma simples e vã palavra. Agora, porém, que a conheci, senti e vivi, afirmo-lhe que ela existe. Não há nenhum clube do Mundo que possua mística igual à do Benfica. E é este, afinal, um dos grandes segredos dos seus êxitos e da sua força.

(E agora pergunto eu: será que algum dos que agora 'está lá dentro' sabe o que é esta mística? Se calhar se pensarmos na resposta, descobrimos porque é que deixámos de ganhar nos últimos anos...)

- Não está a exagerar?
- Não. Tentarei explicar algumas das suas manifestações exteriores mais palpáveis. Veja, por exemplo, a sua massa associativa. Chove? Está frio? Faz calor? Que importa? Nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves da serra ou no meio das chamas do Inferno, por terra, por mar ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica, atrás da sua equipa. Grande, incomparável, extraordinária massa associativa!

(E mais uma vez a pergunta se impõe: e os que estão lá agora? Reconhecem a importância da nossa massa associativa? É que não são poucas as vezes que ouço pessoas com responsabilidades atacar-nos, e criticar as nossas atitudes. Nós vibramos e sofremos com o nosso clube, e quando reagimos mal é porque temos o coração ao pé da boca, e algo se passou que nos magoou. Quem foi um dos poucos treinadores que por cá passaram nos últimos tempos que constantemente se referia elogiosamente aos adeptos do Benfica? Pois é, foi o Camacho. Por algum motivo nós gostávamos tanto dele. No final de jogos como o do passado fim-de-semana por vezes penso que 'eles' não merecem a massa associativa que têm.)

- E os jogadores sentem esse clima?
- Nunca encontrei jogadores que sentissem tanto a camisola como os do Benfica. Mesmo que não sejam tecnicamente famosos, tornam-se futebolistas assombrosos e temíveis. É a mística do Benfica, compreende?

(Acho que neste ponto, e salvo honrosas excepções, a pergunta 'E os que estão lá agora?' é puramente retórica...).

[...]



- Há fórmulas simples no futebol?
- O «passa, repassa e chuta» é indispensável para chegar ao golo.

- Só isso?
- Marca e desmarca. Se a bola não é nossa, marca; se a bola é nossa, desmarca. Este é o princípio, o princípio fundamental.

- Outro conceito...
- O sistema para os homens, e não os homens para o sistema.

- Quer explicar melhor?
- Cada equipa precisa de ter um sistema próprio, adaptado às características dos seus jogadores. E assim como um alfaiate não faz o mesmo feitio de fato para um corcunda ou para um homem normal, do mesmo modo um treinador de futebol não pode dar a todas as equipas que treina o mesmo figurino de jogo.

(Está a perceber, Sr.Trapattoni, porque é que o seu 'fato' não serve ao Benfica?...)

[...]

- Considera-se um treinador de ataque?
- Sempre me interessou mais que o ataque fizesse mais golos do que obrigar a defesa a não os sofrer. Não me desgosta nada que o adversário marque três ou quatro golos desde que a minha equipa marque quatro ou cinco.

- Dito assim, parece simples...
- Primeiro, marcar golos; depois tentar não os sofrer. Eis a filosofia do meu futebol.

- E as tácticas defensivas?
- Como é que o futebol pode ser um espectáculo maravilhoso se lhe faltarem golos?

- Não abre excepções, é sempre ao ataque?
- As equipas orientadas por mim não costumam jogar à defesa. Os bons resultados conseguem-se jogando ao ataque. Quando muito tolero que se defenda o resultado se este for favorável e se cifrar na diferença mínima nos últimos dez ou quinze minutos do encontro. Mas só mesmo nessa hipótese.

(É engraçado como um homem nascido há 100 anos, há 40 anos já conseguia ter uma visão muito mais simples, positiva e actual sobre o futebol do que o 'actual' treinador do Benfica...)

4 Comments:

At 1/28/2005 4:38 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Grande treinador.
Escusava era de nos desjado a conhecida"maldição";
"Depois de mim o Benfica NUNCA MAIS VOLTARÁ A SER CAMPEÃO EUROPEU". Pelo menos dizem que esdta frase é atribuida a ele.

 
At 1/29/2005 12:43 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Dizem, mas dizem mal. A única 'maldição' que ele fez foi dizer que depois dele, nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa voltaria a ser bi-campeã europeia.

 
At 7/19/2007 3:14 da tarde, Blogger Júri Faustino said...

Gosto muito do teu blog e das tuas opiniões, mas tenho de deixar a alfinetada que mereces com este post. Espero que recebas por mail para o leres.
Então o trapatoni não prestava? Em Janeiro 2005 já tinhas tantas certezas? Fomos campeões graças a ele e à sua equipa espremidíssima, embora com ajuda dos enfraquecidos rivais.
Dá mais um tempinho ao Fernando Santos e vais ver que pode acontecer o mesmo.

 
At 7/20/2007 1:40 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A mística já não existe!
Enquanto continuar a haver simbolos no estádio, que não sejam o do Benfica, não vai haver mística nenhuma!
Está na altura de fazer o estádio tremer com o tremendo símbolo do nosso glorioso!

 

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