sábado, janeiro 24, 2009

Desinspiração

Esta é mais uma daquelas ocasiões em que, muito sinceramente, é muito pouca a vontade que tenho de estar agora aqui, em frente ao computador, a escrever sobre um jogo que mais me apetecia esquecer. Isto porque a irritação que o resultado final me causou é bastante. E se queremos procurar os maiores responsáveis pelo nulo, só podemos olhar para nós próprios, já que nos faltou inteligência e discernimento no ataque para conseguirmos chegar ao golo. A desinspiração ofensiva dos nossos jogadores é preocupante.

O Benfica apresentou o onze previsível, sem qualquer surpresa. Apesar do mau tempo e da chuva que teimou em cair durante quase toda a partida (acho que ainda não sequei completamente), o jogo iniciou-se a um ritmo agradável, bastante rápido e com as duas equipas interessadas em atacar. Melhor o Benfica nestes primeiros minutos, a criar duas grandes oportunidades pelo Aimar, mas o argentino parece estar embruxado e não há maneira de acertar com a baliza. No entanto, com o passar do tempo, o Belenenses foi-se encolhendo, mostrando claramente que o empate era um resultado do seu agrado. Por outro lado, o relvado foi ficando cada vez mais pesado, e estes dois factores conjugados acabaram por fazer a qualidade do jogo (não a intensidade) cair. Uma coisa que logo na primeira parte fui notando, e que me desagradou de sobremaneira durante o resto do jogo, foi o mau acerto no passe por parte dos nossos jogadores. Em mais do que uma ocasião, houve a oportunidade de sair no contra-ataque e criar perigo, sendo no entanto as jogadas estragadas devido a um mau passe, invariavelmente feito para os pés de um adversário. Mais dois lances de realce para o Benfica: um cabeceamento do Aimar por cima, e um livre do Suazo na sequência do qual o Rúben Amorim chegou ligeiramente atrasado para a recarga. Nos minutos finais do primeiro tempo, o Belenenses cresceu um pouco, mas sem ameaçar seriamente a nossa baliza, chegando o intervalo com um nulo no marcador que, na altura, já me começava a parecer que seria difícil alterar.

A segunda parte praticamente iniciou-se com a melhor oportunidade do Benfica no jogo. Nela o Suazo, isolado na cara do guarda-redes, optou por não rematar e tentar em vez disso ultrapassá-lo. Alargou demasiado a finta e depois acabou por estatelar-se de uma forma tão patética que ao árbitro não restou outra opção senão amarelá-lo. Até acredito que ele possa ter sido tocado pelo guarda-redes, mas se o foi, então deveria ter caído na altura, e não três ou quatro passos depois, porque assim deixou mesmo a ideia de ter sido uma simulação. Logo a seguir, mais uma boa oportunidade para o Benfica, desta vez numa incursão do Maxi Pereira, que terminou com um remate que foi correspondido com a defesa mais difícil do guarda-redes do Belenenses no jogo. O Benfica, durante esta segunda parte, foi claramente a equipa que mandou no jogo. No entanto, conforme disse no início, faltou muita inteligência e alguma calma no ataque para chegarmos ao golo (com o Suazo em particular destaque no capítulo da falta de inteligência). Fomos, durante este período, a única equipa em campo que mostrava vontade de vencer o jogo, enquanto que o Belenenses se ia mostrando cada vez mais interessado no empate. Neste particular aspecto, até houve uma situação bastante ridícula, exemplificativa desta atitude. Com apenas dez minutos decorridos desta segunda parte, o Belenenses faz a primeira substituição. Assim que foi levantada a placa com o número do jogador que iria ser substituído, o jogador em questão, que ia caminhando normalmente, foi como que fulminado por uma trombose múltipla, estatelando-se no relvado, e só dali saindo em maca (assim que chegou cá fora comportou-se como um verdadeiro Lázaro).

As substituições trouxeram-nos o Reyes, Nuno Gomes e Carlos Martins, por troca com o Rúben Amorim, Aimar e Di María (este, a deitar os bofes pela boca, pediu mesmo a substituição, porque eu vi-o fazer sinal ao banco). Pouco alteraram no cariz do jogo, mas eu confesso que fiquei irritado por, mais uma vez, não termos recorrido ao Cardozo. A mim, que pouco percebo disto, parecia-me que, com o terreno nas condições em que estava, e com a bola escorregadia, o Cardozo e a sua capacidade de remate poder-nos-iam ser muito úteis - e ainda foram alguns os livres de que beneficiámos a uma distância da baliza com a qual o pé esquerdo do Cardozo não se assustaria. Infelizmente o Quique não parece morrer de amores pelo paraguaio, e assim se manteve ele sentado no banco. A pouco menos de dez minutos do final, o Miguel Vítor cometeu um (raro) erro, que lhe valeu o segundo amarelo e consequente expulsão. Isto acabou por provocar a maior explosão de alegria e manifestação de orgulho belenense em toda a partida. Mas, mesmo em superioridade numérica, será que o Belenenses resolveu arriscar um pouco mais no ataque? Nem pensar. Dedicaram-se apenas, durante alguns minutos, a atirarem-se para o chão dentro da nossa área, depressa regressando ao afã de segurar o empate, ao ponto de verem um jogador admoestado por demorar demasiado tempo a executar um lançamento lateral. O Benfica, honra seja feita aos jogadores, continuou sempre a insistir mas, utilizando um jargão da bola, sempre mais com o coração do que com a cabeça, por isso foi natural que o nulo se arrastasse até ao final.

Não quero falar muito da arbitragem. Considero o Elmano Santos um árbitro não muito exímio na arte de apitar. Tem, em particular, um critério disciplinar deveras bizarro e aleatório, que torna quase impossível prever se um determinado lance vai ou não ser merecedor de punição (por exemplo, fiquei com a nítida sensação de que os jogadores do Belenenses bateram muito mais nos nossos do que o contrário; no entanto nós acabámos o jogo com tantos cartões como eles, e ainda reduzidos a dez). Mas não me custa admitir que hoje ele não deve ter tido uma tarefa nada fácil. Com o relvado no estado em que estava, os jogadores pouco fizeram para o ajudar. Abusaram das entradas no limite e, para piorar as coisas, não foram raras as vezes em que optaram por simulações. Não vi ainda qualquer resumo do jogo, e por isso não faço ideia se ele errou muito ou não. Mas, seguramente, ele tinha obrigação de ter visto a falta descarada que o Suazo, ainda na primeira parte, sofreu praticamente sobre a linha da grande área. Se não viu, devia ter visto. Se viu, então faltou-lhe coragem para apitar.

Os dois centrais do Benfica portaram-se bem neste jogo. Estava até a gostar muito, mais uma vez, do jogo do Miguel Vítor, mas acabou por borrar um pouco a pintura com a expulsão. Gostei também do Maxi Pereira e do Katsouranis. Yebda bem na luta do meio campo, mas desinspirado no passe. Quanto aos que estiveram menos bem, só podem ser elementos do ataque. O Di María fez um jogo quase inconsequente. E o Suazo, após uma primeira parte de bom nível, pareceu ter ficado marcado pela oportunidade escandalosa falhada logo no início da segunda parte, que deu o mote para uma exibição pejada de imbecilidade. Desmarcações para o lado errado, agarrões inúteis aos defesas, que resultaram em faltas atacantes, e uma tendência irritante para esbarrar contra os adversários fizeram-me perder a paciência.

Foi, para mim, um mau resultado. Dois pontos perdidos frente a uma equipa que, pelo que me foi dado a ver nos dois últimos jogos, nos é manifestamente inferior. O que me preocupa no Benfica não é que o futebol seja pouco atractivo. É mais a incapacidade que temos vindo a demonstrar para marcar golos. Tem faltado muita inspiração e, sobretudo, confiança no ataque. Hoje não consigo zangar-me com a atitude dos jogadores. Tentaram conforme podiam, e jogaram sempre para ganhar. Foi talvez das poucas coisas positivas que vi neste jogo. Mas, apesar de muito importante, é preciso algo mais do que atitude se queremos acabar a época em primeiro lugar.

P.S.- Apesar do tempo horrível, apesar da hora do jogo, mais uma vez os adeptos do Benfica compareceram e foram inexcedíveis no apoio à equipa. Não foi por falta do nosso apoio que deixámos hoje dois pontos no Restelo.

5 Comments:

At 1/24/2009 4:15 da manhã, Blogger Baresi said...

O lance aos 14 min sobre o Suazo, alem de não ser marcada a falta e respectivo vermelho, mostrou logo o que iriamos ter ao longo do jogo.
A explulsão do Miguel Vitor, é no minimo, anedótica.

 
At 1/24/2009 7:44 da manhã, Blogger Rocha said...

Eu pergunto "até quando temos que aturar o Suazo???"

Ontem foi um dia de burrice da nossa equipa.

Alguém tem de explicar à gazela que temos no ataque, que o objectivo do jogo é marcar golos (especialmente se estivermos isolados à frente do guarda-redes), e não ganhar penalties , até porque a gazela não os consegue marcar.

Alguém tem de explicar ao guarda-redes da nossa equipa que, se falhamos 100% das reposições de pontapé de baliza, é melhor não mandar mais balões lá para a frente (ainda mais válido para dias de temporal....)

E aproveitar, explicar ao mesmo sr. guarda-redes, que se é para socar bolas em cruzamento, convém socar para cima e evitar acertar nos adversários.....

E, já agora, alguém explica ao (mer)Quique, que contra autocarros, o Cardozo é bem mais eficaz que a gazela?

Dasse...........

 
At 1/24/2009 8:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Coño!!
É preocupante um ataque que não marca golos há muitos jogos.
Suazo não está bem , e o Aimar não sabe finalizar ali naquela zona.É impressionante a falta de instinto assassino, de codícia, de ratice.
O que me intriga é que como o Benfica muitos milhões de Euros depois não consegue arranjar um ponta de lança móvel e rápido que saiba jogar em pequenos espaços dentro da área...tipo Liedson ou Lizandro, para o tipo de futebol que se pratica em Portugal estes são o tipo de avançados que resolvem jogos... tivemos o Miccoli, pois.

 
At 1/24/2009 3:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não foi por falta de apoio dos adeptos, nem foi por falta de vontade dos jogadores, foi por vontade do apitador de serviço que perdemos os dois pontos.
É assim tão dificil de verbalizar ?

 
At 1/24/2009 3:28 da tarde, Blogger D'Arcy said...

Em relação às reposições de bola do Moreira, só quero acrescentar um pormenor. Foram diversas as vezes em que o Moreira quis repor rapidamente a bola em jogo, entregando-a a um colega que estivesse perto. Infelizmente (e eu vi isto acontecer inúmeras vezes), quase todos os jogadores do Benfica voltavam-lhe as costas, como que mostrando que não queriam recebr a bola, e portanto ele acabava por ter que chutá-la para a frente. Os adeptos acabavam a reclamar com o Moreira, mas a verdade é que ele não tinha outra opção. O único jogador que pedia para que a bola lhe fosse metida nos pés nessas situações era o Katsouranis. Isto mostra falta de confiança dos jogadores. Aliás, falta de confiança parece-me ser o que mais se vê, em particular, no ataque. Só assim se explica que o Suazo, isolado, não tenha arriscado o remate, e em vez diss tenha tentado sacar um penálti (o que me deu uma sensação de déjà vu de um lance do Nuno Gomes em Rosenborg).

 

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