domingo, dezembro 12, 2010

Vontade

A passagem aos oitavos de final da Taça de Portugal foi obtida com uma vitória incontestável sobre o Braga esta noite. O que podemos concluir é que mesmo se mostrarmos alguns dos pontos fracos do nosso jogo esta época, quando os jogadores entram em campo com a atitude certa, a probabilidade de serem (e nos deixarem a nós, adeptos) felizes é muito maior. E foi o que aconteceu esta noite, apesar de ser perfeitamente dispensável o prolongado sofrimento num jogo que, com um pouco mais de inspiração da nossa parte no ataque, poderia ter terminado com uma goleada das antigas.

Com um onze em que a única alteração ao que seria esperado foi a troca de guarda-redes (Júlio César no lugar do Roberto), os nossos jogadores mostraram desde início estar com vontade de resolver esta eliminatória a contento. Com cinco minutos decorridos já o Carlos Martins dispunha de uma boa ocasião para marcar, mas a sua tentativa de chapéu ao guarda-redes saiu demasiado alta. Infelizmente, algo de que nos podemos queixar esta época é de uma menor eficácia no ataque, desperdiçando mais oportunidades do que seria normal, e este lance foi apenas o mote para mais um jogo em que nos podemos queixar disto. Perante um Braga praticamente inofensivo, fomos assistindo ao Benfica a ser invariavelmente melhor e mais perigoso no jogo, com o marcador a manter-se teimosamente em branco, às vezes por culpa nossa, outras vezes por inspiração do guarda-redes adversário, como no lance em que, com uma defesa incrível, tocou na bola com a ponta dos dedos o suficiente para desviar para canto um remate cruzado do Luisão que levava o selo de golo (o nosso capitão acabou por ceder o seu lugar ao Sídnei pouco tempo depois, ainda antes da meia hora de jogo, por lesão). Só perto do intervalo é que conseguimos finalmente chegar ao golo: após um lançamento lateral do Maxi, o Javi García tocou de cabeça para trás, onde apareceu o Saviola, antecipando-se a dois adversários, a rematar de primeira para o fundo da baliza. Mesmo sobre o apito para o intervalo, mais um desperdício enorme do Benfica, ao esbanjar uma ocasião em que, após uma recuperação de bola do Aimar, ficámos com três jogadores para um defesa do Braga - mérito também do guarda-redes do Braga ao conseguir parar o remate do Cardozo.

A segunda parte pouco trouxe de diferente. O Benfica continuou a ser superior e a desperdiçar oportunidades, e o Braga a ser quase inofensivo. Saviola e Cardozo mostraram-se particularmente perdulários, e o resultado foi assim mantendo-se com uma incerteza muito enganadora. Após vinte minutos, o nosso treinador fez uma alteração que se impunha, entrando o Salvio para jogar bem encostado à direita (por onde o Braga atacava preferencialmente) e saindo o Carlos Martins, que após uma boa primeira parte e início da segunda, estava agora a apagar-se no jogo. A entrada do extremo argentino veio dinamizar o nosso jogo, e passámos a criar muito mais perigo por aquele lado - e consequentemente, a desperdiçar ainda mais oportunidades para colocar um ponto final no jogo. Conforme já escrevi, o Braga foi praticamente inofensivo nesta partida, mas já sabemos que quando andamos a desperdiçar muito a sorte tem tendência para ser madrasta, e isto quase que aconteceu outra vez hoje. Na única verdadeira oportunidade de golo que criou em todo o jogo, a dois minutos do final, o Braga quase empatou. Valeu-nos a grande defesa do Júlio César, a salvar praticamente em cima da linha um cabeceamento do Alan ao primeiro poste, após um canto. Pouco depois, e já no período de compensação, lá acabámos com as dúvidas ao marcar o segundo golo, mas até para isto foi preciso sofrer: primeiro remate do Salvio ao poste, recarga do Rúben Amorim para defesa do guarda-redes, e finalmente o Aimar, de cabeça, a fazer o golo que o Benfica já merecia há muito.

Na nossa equipa, sem grandes brilhantismos mas com muita garra em campo, destacaria jogadores como o Maxi Pereira, o Javi García ou o David Luiz. Jogo muito bom do Sídnei, entrado para substituir o Luisão (que, nos minutos que esteve em campo, estava também num bom nível). O Carlos Martins teve pormenores inspirados - o passe que ele fez sobre a defesa do Braga para isolar o Saviola foi excelente - e o Salvio entrou muito bem no jogo. Bem o Júlio César com uma intervenção decisiva quando foi chamado, mas gostaria que fosse mais expedito nas reposições da bola em jogo.

É certo que há coisas menos positivas que continuam a ser evidentes na nossa forma de jogar, e a mais preocupante delas é a lentidão de processos. Especificamente, a lentidão nas saídas para o ataque. Fazermos isto em velocidade valeu-nos incontáveis golos a época passada, mas este ano não estamos a conseguir repeti-lo com tanta facilidade, o que significa que muitas das vezes, quando chegamos lá à frente, esbarramos com um adversário completamente posicionado e organizado, o que obviamente dificulta muito as coisas. A já referida menor eficácia é também um problema. Mas o valor dos nossos jogadores e a vontade de vencer que eles puseram em campo hoje chegaram e sobraram para me convencerem que, no final, só por muito azar é que não sairíamos vencedores deste jogo.

6 Comments:

At 12/13/2010 10:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Tal como no ultimo encontro para o campeonato, também nesta eliminatória da Taça estiveram menos que 20000 espectadores.


No andebol, voltámos a perder.
Esta equipa de Andebol tem delipidado "fortunas de Euros" sem qualquer sucesso.

 
At 12/13/2010 11:33 da manhã, Blogger D'Arcy said...

E no voleibol voltámos a ganhar de forma brilhante e estamos em primeiro. E no futsal também. E no hóquei igualmente, e ao fim de 13 jornadas estamos em primeiro isolados, à frente dos campeões crónicos. No basket é o que se sabe. Parece-me que neste momento as modalidades de pavilhão do Benfica, em geral, estão de boa saúde. Porque é que temos que nos centrar sempre no negativo?

 
At 12/13/2010 11:39 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Ah, e no último encontro para o campeonato NÃO estiveram menos do que 20000 espectadores (foram 25984), tal como ontem não estiveram menos de 20000 (foram 26312). É bom? Não, eu espero muito mais. Mas mais uma vez: porquê essa vontade mórbida de nos centrarmos no negativo, e até tentar fazê-lo passar por ainda pior do que na realidade é? Podíamos por exemplo reparar que, apesar da inegável queda do número de espectadores, o Benfica continua a ser o líder das assistências na Liga, conforme vem noticiado no site da própria Liga.

 
At 12/14/2010 2:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ser o lider das assistências não é suficiente.

Nós somos o maior clube de Portugal, com mais adeptos e com mais sócios.

20000 ou 25000 pessoas na Luz é muito parco para tudo o que este clube representa.


O Andebol está mal desportivamente e muito mal financeiramente, pois não tem alcançado nenhum sucesso desportivo e tem tido volumosos orçamentos.

 
At 12/14/2010 8:23 da tarde, Anonymous JFilipe said...

D'Arcy a "vontade" vê-se nos jogos em que o adversário marca primeiro e é preciso dar a volta. Neste jogo fiquei danado, tivémos uma grande oportunidade de golear os brácaros e falhámos.

 
At 12/15/2010 7:37 da tarde, Blogger joão carlos said...

Mais uma crónica de grande valor.

JFilipe eu concordo com o D’arcy eles tiveram vontade, coisa que tinha faltado nos dois últimos jogos em que a equipa entrou displicente e sem garra. O Que tu referes com razão é mais falta de força anímica e de capacidade de superação em vez da apatia que tem dominado a equipa sempre que não consegue marcar primeiro.

 

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