domingo, setembro 29, 2019

Caro

O ponto está muito caro por estes dias. E esta noite, num jogo que em termos exibicionais encaixaria perfeitamente numa fase menos boa da era Rui Vitória, confirmámos isso mesmo. Somámos os indispensáveis três pontos mas foi preciso suar muito por eles, e resta por saber qual o preço exacto que pagámos por eles.


Voltámos ao onze mais habitual, sendo a maior novidade a aposta no Gedson para segundo avançado, relegando o De Tomas para o banco de suplentes. O jogo previa-se complicado frente ao mais do que esperado autocarro do Setúbal e infelizmente não foram necessários muitos minutos para se ficar com a certeza de que seria mesmo assim. Achei aliás que o lance em que, logo nos primeiros minutos, o Seferovic se isolou e conseguiu ir a correr direito ao guarda-redes e chutar desastradamente a direito contra ele (apesar do lance depois ser anulado por fora-de-jogo) foi um presságio para a falta de inspiração ofensiva da nossa equipa. O Setúbal foi jogar claramente para o nulo. Não admira que tenha apenas um golo marcado no campeonato, porque não mostrou a menor intenção de procurar o golo. Foi simplesmente defender com unhas e dentes, com um bloco muito baixo e toda a gente atrás da linha da bola, recorrendo ao antijogo se fosse necessário - logo na primeira parte já o guarda-redes se dedicava a perder tempo em qualquer reposição de bola. Só que perante equipas destas exige-se que o Benfica procure o golo de forma mais decidida do que o fez, porque senão apenas está a facilitar o trabalho à equipa adversária. Em relação ao Benfica que conquistou o último campeonato graças a uma segunda volta brilhante, este Benfica parece ter perdido muita objectividade. O que caracterizava o Benfica da época passada era uma procura incessante do golo, transições rápidas que faziam a bola chegar a zonas de finalização através de futebol vertical e simplicidade de processos, e depois muita gente a aparecer nessas zonas de finalização para resultar em muitas finalizações por jogo. Esta noite vi demasiada complicação de processos. Muitos passes desnecessários sem progressão (daí virem-me à memória jogos da era Rui Vitória) e a lentidão daí resultante a permitir sempre ao adversário reorganizar-se e preparar-se para cada ataque nosso. E quando a bola era metida para zonas mais próximas da baliza adversária, havia muita falta de presença na área - por diversas vezes andava lá o Seferovic sozinho (quando não estava em fora-de-jogo) no meio de cinco ou seis adversários. Por isso, mesmo tendo o jogo tido sentido único e sendo quase todo disputado no meio campo do Setúbal, o nulo ao intervalo não era surpresa.


Alteração imediata para a segunda parte, com a troca do Fejsa pelo Gabriel na tentativa de acrescentar maior capacidade de passe para desposicionar a camião TIR sadino. E o Benfica até melhorou mesmo e imprimiu mais velocidade ao seu jogo, mas curiosamente foi nessa altura que o Setúbal conseguiu pela primeira vez no jogo criar uma ocasião de maior perigo e fazer o seu primeiro remate, num contra-ataque que consistiu numa iniciativa individual pela direita que terminou num remate à malha lateral. Continuava a ser muito difícil ao Benfica ultrapassar o autocarro de Setúbal, e só à passagem da hora de jogo, quando o Vinícius rendeu o Pizzi, é que o Benfica conseguiu finalmente aumentar de forma notória a pressão sobre a baliza adversária. E não demorou muito até obter resultados directos disso, pois apenas quatro minutos depois de ter entrado o Vinícius conseguiu finalmente derrubar a muralha sadina. Na sequência de um canto marcado pelo Grimaldo o Makaridze fez uma defesa incrível a um primeiro remate do Ferro, tendo o Rafa recuperado a bola. Depois de ganhar a linha de fundo tentou o centro, o Makaridze tentou afastar a bola mas deixou-a ao alcance do Vinícius, e este com um bom trabalho individual antecipou-se à tentativa do guarda-redes de agarrar a bola e depois de se virar fez um remate algo enrolado que levou a bola a entrar bem junto do poste. O mais difícil estava feito, até porque o Setúbal não parecia mostrar capacidade para atacar e colocar a nossa baliza em risco. Foi aliás o Benfica a estar completamente por cima no jogo, entusiasmado pelo golo e pelo apoio nas bancadas. Pensei que caminharíamos para uma vitória mais ou menos tranquila, provavelmente com pelo menos mais um golo marcado, mas a dez minutos do final o lagartito do apito resolveu entrar em acção e dar mais emoção ao jogo - já tinha ficado com a impressão de que tinha ignorado um possível penálti sobre o Rafa quando este foi abalroado na área. Numa bola dividida em que o Taarabt entra em carrinho, joga a bola e acerta também no adversário, resolve expulsá-lo. A partir daqui o Benfica passou a jogar com nove, porque o Vinícius foi fechar a esquerda e foi literalmente um jogador a menos, incapaz de acompanhar o lateral daquele lado ou prestar qualquer tipo de auxílio a defender. O amarelo mostrado ao Vlachodimos mostrou a intenção do lagarto Martins: chegado a casa fui contar o tempo, e ele conseguiu amarelar o nosso guarda-redes por perda de tempo quatro segundos depois da bola ter saído pela linha final. Isto depois de ter permitido ao Makaridze tudo e mais alguma coisa no que diz respeito à perda de tempo. Mas o Setúbal é uma equipa demasiado rotinada a defender e portanto muito pouco capaz no que diz respeito a procurar o golo. Apesar do domínio territorial exercido até ao final e do natural nervosismo dos adeptos, o número de ocasiões de perigo criadas durante o tempo que passou até ao lagarto Martins desistir de tentar dar uma pequena alegria às suas hostes no meio de tanta desgraça foi exactamente zero. Não vou dizer que foi por causa do árbitro que o Benfica teve tantas dificuldades em vencer este jogo, mas a opinião com que fico (mesmo dando o desconto que tenho péssima opinião deste árbitro) é que foi uma arbitragem claramente desastrada e mesmo tendenciosa.


É muito difícil escolher algum jogador a destacar na exibição do Benfica esta noite. Gedson foi uma aposta falhada a segundo avançado. O Seferovic dividiu o seu tempo entre estar fora-de-jogo e falhar ocasiões. O Pizzi esteve apagadíssimo, o Taarabt, apesar de tentar passes de ruptura, quase sempre deu mais um toque na bola e atrasou o jogo o tempo suficiente para permitir a intercepção a um adversário. Talvez o Rafa, como de costume, tenha o mérito de tentar criar desequilíbrios mesmo que através de iniciativas individuais.

Como disse no início, vamos esperar para ver qual o preço a pagar por esta vitória. O André Almeida teve que ser substituído antes do final. O Rafa, um dos nossos jogadores mais influentes, terminou o jogo em grandes dificuldades, sobretudo por causa de uma trancada que levou no tornozelo num lance que não mereceu por parte da arbitragem o mesmo critério que utilizou em relação ao Taarabt. De qualquer forma parece-me que é evidente para todos, incluindo o Bruno Lage, que temos que começar a jogar mais do que isto. Senão vamos ter grandes dificuldades contra todas as equipas que se fecham assim atrás quando jogam contra nós. Que são quase todas as equipas do nosso campeonato.

1 Comments:

At 9/29/2019 7:09 da tarde, Blogger joão carlos said...

O post é o espelho daquilo que se passou em campo,


Cada vez se torna mais evidente o tremendo erro que foi não termos isso contratar um segundo avançado de raiz e passamos os jogos a testar jogadores, todos adaptações, atrás de jogadores que pese embora num ou noutro jogo perante uma ou outra equipa, ou momentos de alguns jogos, possam até ali actuar não tem as características para o fazerem de forma consistente na maioria dos nossos jogos e contra a maioria dos adversários que temos, no entanto quer parecer que dentro de todas as adaptações possíveis ainda não testamos aquele que poderá ser o único a ter condições para ali actuar, restando saber é se não vai produzir menos do que o faz no seu lugar actual e se temos quem o substitua nessa posição com o mesmo desempenho.
O facto do adversário ainda se fechar mais que o habitual e ter vindo só, e exclusivamente, para defender não ser de desculpa para o pouco que jogamos e para as muito poucas oportunidades até porque este jogo não foi uma excepção mas sim a regra, e continuação, daquilo que temos vistos desde que foi retomada a competição após a paragem para as selecções, e que as ausências por lesão não explicam tudo é que como vimos o ano passado elas também aconteceram e o impacto não foi o que estamos a ver agora onde as causas para o que se esta a passar a serem mais profundas.
Algo se passa temos jogadores que jogam de semana a semana e que andam presos por arames condicionados nos treinos e nos jogos, outros sem ritmo vindos todos à força para jogo porque são necessários alguma coisa tem de ser repensada na forma como esta a ser feita a preparação física, a recuperação entre jogos e a dos lesionados e ou se altera e muda a situação ou os problemas físicos e de lesões vão continuar e com eles vamos passar dificuldades.

 

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