Masoquismo
Antes do jogo (e durante o mesmo), eu e o Gwaihir (meu colega de sofrimento - bastante mais cruel no caso dele - durante as penosas quase duas horas que acabámos de viver) perguntávamo-nos se seríamos 'normais'. Perante um estádio desoladoramente vazio, uma exibição fraca do nosso Benfica contra uma equipa para nós desconhecida, vinda da Ucrânia e constituída maioritariamente por armários e outras pesadas peças de mobilíário de mogno maciço, um frio de cortar a alma, enfim, uma das noites mais deprimentes que me recordo de alguma vez ter passado num estádio de futebol, continuava no entanto a não haver qualquer dúvida de que estávamos onde queríamos estar naquele momento. Daí a pergunta, se esta espécie de masoquismo será normal. Pior ainda, no final, depois de todo aquele tormento ter terminado, partimos com a certeza que, caso as circunstâncias se repetissem, voltaríamos a pagar para lá estarmos. O que lança sérias dúvidas sobre a nossa sanidade (e eu não tenho a desculpa de estar sob efeito de medicamentos).
Julgo que nenhum benfiquista minimamente realista pensaria que haveria uma possibilidade concreta de vencermos este jogo pelos utópicos oito a zero. Nem sequer os responsáveis da equipa, certamente, já que a equipa apresentada, não sendo claramente uma equipa de reservas, ainda assim mostrava a poupança de alguns dos jogadores mais importantes (Luisão, Katsouranis, Aimar, Reyes, Suazo) e dava a oportunidade a alguns dos jogadores menos utilizados ultimamente para acumularem alguns minutos nas pernas (Miguel Vítor ou Urreta, por exemplo). Pareceu-me que a intenção inicial do Benfica era jogar em losango, com o Yebda sobre a direita e o Fellipe Bastos na esquerda, enquanto que o Nuno Gomes e o Urreta iam alternando no vértice mais adiantado, ficando o Binya como jogador mais recuado. Com o decorrer do tempo, no entanto, o Benfica acabou por arrumar-se num 4-4-2 clássico, no qual se destacava sobretudo a inadaptação do Yebda na posição de médio direito. O jogo foi, em geral, mal jogado. Períodos um pouco mais animados, pontuados por algumas jogadas bem conseguidas, alternavam com outros períodos da mais pesada monotonia, durante os quais nenhuma das equipas parecia ser capaz de fazer dois passes seguidos. Mesmo com este futebol aos repelões, o Benfica conseguiu, durante esta primeira parte, criar pelo menos três oportunidades claríssimas de golo. O Urreta, por duas vezes (a passe do Nuno Gomes e do Cardozo), e o Maxi (mais uma vez a passe do Nuno Gomes) ficaram cara a cara com o guarda-redes, mas o resultado foi, respectivamente: remate ao lado, remate à barra, e remate contra o guarda-redes. Conforme disse, não esperava de forma alguma vencer por 8-0, mas esperava, com toda a certeza, pelo menos vencer o jogo. Mas a falhar oportunidades destas, começava a parecer-me difícil que isto acontecesse e por isso, uma vez mais esta época, chegámos ao intervalo em branco (até agora apenas contra o Desp.Aves, para a Taça de Portugal, conseguimos marcar golos na primeira parte de um jogo caseiro).
A segunda parte veio sem alterações, e com mais do mesmo, ou seja, mesmo sem deslumbrar o Benfica ia criando oportunidades e desperdiçando-as ao mesmo ritmo com que as criava. Quase invariavelmente o perigo aparecia por intermédio do Cardozo. De cabeça, obrigou o guarda-redes ucraniano a uma boa defesa, e teve mais um par de remates muito perigosos, com um deles a embater na rede lateral e a dar quase a sensação de golo. Com a entrada, ainda cedo, do Balboa para o lugar do Fellipe Bastos, o 4-4-2 do Benfica ficou mais bem definido, com o Balboa na direita e o Urreta na esquerda. O Nuno Gomes conseguiu isolar-se, mas adiantou demasiado a bola, e logo a seguir, de uma forma algo estranha, foi substituído. Digo que foi estranho porque, pelo menos para mim, ele estava a ser um dos jogadores com melhor rendimento em campo. Entrou o regressado Di María. O Benfica continuou a procurar o golo, enquanto que o Metalist dava a ideia de ir jogando para um empate que não lhes serviria para nada. Voltou o Benfica a estar perto de marcar, para não variar pelo Cardozo, que após uma boa jogada do Benfica conseguiu acertar no poste da baliza ucraniana. E claro, como se estivéssemos a ver um filme pela enésima vez, todos parecíamos adivinhar as cenas que estavam para vir. A cinco minutos do fim o Metalist conseguiu criar a sua primeira ocasião flagrante de golo em todo o jogo, colocando um jogador na cara do Moreira. O Benfica tinha criado se calhar umas seis ou sete, e não concretizou nenhuma. O Metalist criou uma, e marcou golo. Esta foi a diferença, e esta diferença ditou o resultado final e a derrota do Benfica, fechando assim sem honra ou brio uma das piores participações nas provas europeias de que me recordo do nosso clube.
Não sei se consigo escolher um jogador do Benfica para destacar após um jogo assim, porque de certeza que haverão diversas opiniões díspares sobre este assunto. Talvez, pela segunda parte que fez e pelo que tentou, escolha o Cardozo. Merecia o golo. Não desgostei do Binya, mesmo contando com alguns daqueles passes estranhos que lhe saem. E, apesar de um ou outro descuido, o miúdo Miguel Vítor não esteve mal. Quanto aos piores, creio que o David Luíz fez um jogo bastante fraco como lateral esquerdo. É uma adaptação, não é a posição natural dele, e isso nota-se claramente. O Urretavizcaya tirou-me do sério. Eu sei que ele tem apenas dezoito anos, e que ainda está em formação. Mas há ali muita coisa a corrigir, e eu francamente estou com alguma falta de de paciência para a ingenuidade - ou melhor, deixemo-nos de eufemismos, para a verdadeira burrice - que continua a demonstrar em muitos lances, quer nas decisões que toma, quer mesmo na forma como se movimenta e posiciona quando não tem a bola. É verdade que conseguiu criar duas situações na primeira parte (que falhou), e que ninguém o pode acusar de falta de entrega e vontade, mas o número de bolas e lances perdidos por ele fizeram-me perder a paciência. Não estou a dizer que o Urreta foi um dos piores, longe disso. Estou apenas a desabafar acerca de algumas das coisas que nele me irritam e que me parece termos todo o interesse em corrigir.
Preocupa-me a aura negativa que me parece estar a adensar-se em redor da nossa equipa. Espero que na próxima segunda-feira, com estes jogadores ou com o Reyes, o Suazo, o Luisão e quem mais for necessário, consigamos dar a volta a isto e garantirmos a passagem do ano na liderança. Neste momento, sinto que este simples facto assume uma importância muito, muito grande. Contra o Nacional, contra autocarros e chicharros, mais do que nunca até agora esta época, é importante vencermos. E eu, com masoquismo ou não, lá estarei mais uma vez.
10 Comments:
Escolher o Cardozo é que é ser masoquista. Com tanta oportunidade ele tinha obrigação de marcar um golo. Quanto a mim podem dar-lhe o banco até final da época. Raiosparta o gajo.
A maior parte das oportunidades do Cardozo, se bem me recordo, foram construídas por ele próprio. Ele é que conseguiu criar os espaços para rematar. Há mérito nisso.
Ouvi o relato e só gostei da Conferencia de Imprensa do Quique...De resto parece que os suspeitos do costume...jogaram o do costume...Balboa, Urreta, NG, Bynia, Di Maria...
Esta época terá sp o label da péssima campanha da UEFA mas esperem até perdermos o 1º lugar e verão como o Quique e o Maestro serão corridos pela massa adepta...
Já nem estou triste, mas começo a ficar revoltado...e depois os 5x1 de Atenas...são inaceitáveis...
Já agora? onde anda o CMartins?
Já agora? E que tl uma análise às nossas contas e ao impacto da campanha europeia?
Saudaçoes benfiquistas
Caro D'Arcy:
Ao contrário do que é costume, não posso concordar contigo desta vez.
Não tivemos sorte, é certo, mas também não tivemos atitude. Aliás, durante toda esta fase da UEFA fomos uma caricatura, uma vergonha.
Não tivemos mínimos de entrega, de vontade, de profissionalismo...
Com estes ou com outros jogadores, com um mínimo de atitude estes coitados do Mete na Lista levavam 5 sem grande esforço.
Será que só eu é que vi que eles eram FRACOS, FRACOS, FRACOS?
E que nós fomos uma nódoa em termos de presença?
Cardozo? Banco ou para onde ele quiser. Eu gosto dele como jogador, mas com a atitude que tem demonstrado, a falta dela, pode ir. E ontem, perdoa-me, mas foi a coisa mais inoperante, abatida e pálida que andou em campo. Não tem rasgo, não tem vontade, não se aplica.
Urreta, por exemplo, até gostei. E nem o acho assim tão burro, muito menos quando comparado com o DiMaria...
Numa coisa, sempre de acordo: apoiar é agora. Bem, agora e sempre!
Cumprimentos,
Disseste uma coisa que costumo dizer muitas vezes em jogadores como o Urreta ou o Bynia por exemplo...Acho que são jogadores com pouca inteligência.
Este ano andamos aos soluços. Fazemos grandes jogos, como com o Nápoles e Zbording, e jogos fracos como o Olympiacos e Naval.
Ontem, com aquela equipa até que fizemos um jogo agradável. Criámos oportunidades e tivemos alguns bons momentos. Foi uma época Europeia triste, a fazer lembrar o Bastia e uns Suecos quaisquer. Vejamos como nos corre o campeonato.
O F. Bastos foi o jogador que a mim mais enervou, será que ele tá lesionado? O moço sempre que era só esticar a perna ele só olhava. Fiquei sempre com a sensação que ele poderia dar sempre um pouco mais nos lances. É novo e nota-se que tem uma boa leitura do jogo, mas parece-me um jogador relaxado. Típico Brasileiro...
A cena do masoquismo leva-me a pensar que qualquer dia a equipa entra de preto com um chicote nas mãos:)))
Bem...desde que haja um patrocinador disponivel já acho tudo possivel!
O gasoduto ucraniano pagará caro o descaramento do Metallist, assim como a Grécia pagou caro o atrevimento do Olimpyakos, Manitu não dorme, por vezes engana-se é na dose, e no doente.
O Nacional será o nosso Pai Natal.
Depois do que o Quique disse ontem no final, acho que quem vai passar a andar com um chicote nas mãos é ele... :p
Ontem recusei-me a ir ao Estádio da Luz! Se bem me recordo já não falhava um jogo na Luz à alguns anos, mas ontem não fui. E não foi pelo resultado, pois contra o Celta de Vigo também era uma tarefa impossível, mas eu lá estava.
Mas ontem ainda tinha bem presente o jogo com o Setúbal,e a desesperante eliminação perante o leixões para a taça. São coisas que acontecem dizem uns, mas não pode acontecer ao Meu Benfica, pelo menos com esta frequência.
Nem sequer vi o jogo, ou ouvi o relato. Mas enquanto estava a decorrer o jogo sentia que me faltava qualquer coisa. Faltava-me saber do Meu Benfica.
Mas segunda feira lá estarei, a apoiar e a tentar perceber que Benfica é este.
Mas sabendo sempre que lá estarei.
Ele aí esteve muito bem.Penso é que o problema de que ele fala (e que todos conhecemos há uma data de anos) não atingiu o seu máximo ontem, pois desde o inicio da época houve jogos onde a anomia foi maior. Nem a equipa de ontem estava rotinada o suficiente (era nitidamente uma segunda linha) para que pudesse receber sózinha todas as "culpas". Penso que ele falou por uma acumulação de situações que culminaram na derrota de ontem.
Mas o mais incompreensivel (ou não) para mim é a falta de estrutura que o Benfica tem para resolver os casos em que a equipa revela menor rendimento, qualquer percalço ou "desvio" que é normal acontecer em futebol aos grandes clubes (shit happens) durante uma época competitiva ao alto nível.
Não quero ser cruel mas basta ver os nossos dois maiores rivais e perceber que para alem das incidências dos árbitros, boa imprensa, e demais mercearia do dia a dia, eles têm uma estrutura mais forte que reage melhor a estes casos, e essa estrutura vai para alem do treinador de ocasião, é como que uma ética de trabalho aliada a uma cultura de clube.
O Benfica com a sua grandeza ou por causa dela, ainda não conseguiu recriar a mais famosa e melhor cultura de estrutura de clube que já houve em Portugal.
E isso não se consegue ganhando um campeonato ou uma Taça, não vive de estímulos imediatos, é uma "criação" do dia a dia e que se vê a médio longo prazo, e é nitidamente uma questão de liderança.
E não basta dizer que aquele ou aqueloutro transporta a mistica como se ela se pudesse transmitir como que por osmose. Isso não basta e por vezes faz mais parte do problema do que da solução.
Detesto o messianismo quando se trata do Benfica.É não perceber o clube e a sua génese.
Estou com o numerário Quique a 200%, ele é o homem. Já errou e errará ainda mais, mas acho que a percepção dele do Benfica, do plantel e do momento do clube, estão correctas. Hasta la muerte!!
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