Nostalgia
Ontem, excepcionalmente, assisti ao jogo da selecção (apenas a segunda parte, que isto há prioridades e durante a primeira parte estive mais interessado em ver os nossos rapazes do futsal, apesar de uma arbitragem grotesca, derrotarem o Freixieiro no primeiro jogo das meias-finais do playoff, perante o desânimo dos comentadores da SIC). Confesso que, quando sobre o final do jogo, o Bruto Alves (a jogar já a avançado, tal era a aflição) acorreu ao balão desesperado lançado sobre a área albanesa e marrou na bola, dirigindo-a para o fundo da baliza, não consegui evitar soltar um impropério. Isto porque me lembrei imediatamente que agora teríamos que continuar a aturar o Queirósz a vender-nos a ideia de que a qualificação está mesmo ali ao lado, e que dado o brilhantismo do nosso futebol, isto são favas contadas. Mas quando o apito final soou pouco depois, e vislumbrei o sorriso triunfante do mesmo Queirósz enquanto saía do campo, de repente fez-se luz no meu espírito.
Convenhamos, como eventuais adeptos da selecção nacional, os últimos anos deixaram-nos mal habituados. Apuramentos para fases finais em barda, boas classificações nas mesmas, vitórias concludentes sobre adversários fáceis, tudo isto contribuiu para nos tornarmos de certa forma arrogantes, e encarar cada jogo como apenas mais um para vencer. Deixámos de dar o devido valor a cada vitória, o que, no meu caso, contribuiu para me desligar ainda mais da selecção nacional. Porque eu não consigo reconhecer ou identificar-me com essa selecção. Não foi essa a selecção com que eu cresci. A minha Selecção era aquela que ganhava por três a dois a Malta no Estádio da Luz, com a contribuição de um golo de um José Rafael, e que sofridamente conseguia uma qualificação para um Mundial após vinte anos de ausência. Depois chegava lá, fazia um brilharete no primeiro jogo, e dava um terrível mau aspecto logo a seguir, dando-nos vontade a todos de apedrejar os jogadores. Era esta montanha russa emocional que dava a emoção necessária para que acompanhar a Selecção fosse tão interessante. Ver-nos ganhar 8-0 ao Liechtenstein não tem piada nenhuma. Já ver-nos iniciar um jogo contra a RFA, em que tínhamos necessidade absoluta de vencer, num portuguesíssimo esquema táctico de 7-2-1, tinha (reclamo para Portugal a invenção do esquema táctico de um único avançado).
Durante a minha infância, havia algo de épico em cada vitória da Selecção. Essas vitórias eram como que arrancadas a ferros, com defesas impossíveis do Bento, bolas a bater nos ferros, árbitros constantemente a favor dos estrangeiros, (porque 'ninguém liga nenhuma a Portugal'), golos caídos do céu, e no final, mesmo depois da tal vitória épica, corríamos para a calculadora para calcular as nossas hipóteses de qualificação - quase sempre remotas, já que normalmente dependiam de algo como uma vitória de Malta por seis a zero em Estocolmo. Foi por isso que ontem, ao ver Queirósz caminhar triunfantemente para os balneários, me senti invadido por um sentimento de profunda nostalgia. Naquele momento, reconheci finalmente, após todos estes anos, a minha Selecção Nacional perdida. A sensação de triunfo após uma vitória contra uma selecção cujo público festeja ruidosamente a conquista de um pontapé de canto não engana: Portugal está de volta! É este o plano de Queirósz: fazer regressar os adeptos da minha geração que andam há tantos anos afastados, devido à falta de identidade desta imitação que nos andou a enganar durante os últimos anos. É, convenhamos, uma estratégia brilhante.
Como que a confirmar a minha teoria, eis que olho para a capa d'A Bola, e tudo bate certo (peço desde já desculpa por colocar a imagem chocante de um cro-magnon apanhado no preciso instante em que solta um grito de acasalamento):
Está tudo ali. Voltámos a ser Portugal. O estádio digno de uma Segunda Divisão B, repleto dos tais adeptos que celebram ruidosamente a conquista de um pontapé de canto, passou a 'Inferno'. A vitória sofridíssima e medíocre frente a uma selecção da cauda da Europa é-nos vendida como um feito de proporções épicas. Isto sim, é a minha Selecção. Nada mais me resta senão curvar-me perante a sapiência do Professor Queirósz, sabendo de antemão que o apelo para voltar a assistir a jogos da selecção se tornará irresistível. A África do Sul está mesmo ali à mão. É só Malta fazer o jeitinho em Estocolmo, vão ver...
14 Comments:
Não poderia concordar mais contigo.
Bem está o araujo hj:
"felizes de nós por ele não ter vindo para o Glorioso".
Saudações aos bravos do basket e do futsal.
Ganhámos auma das melhores selecções do mundo, sim que a albânia é uma das 100 melhores equipas do mundo, estando em 92o lugar no ranking FIFA/Coca-Cola.
Já me sinto mais à vontade para o jogo de preparação contra o 113o do tal ranking.
Já agora, qual a vossa opinião sobre a hipotética vinda do jasus? Aqui em Gaia é mais uma espécie de anti-cristo, o homem é desprezado pelos benfiquistas.
Se vier para o Benfica não vai ter espaço para errar.
A selecção não foi com os porcos este fim-semana mas vai no próximo jogo.
Se o Jesus for o treinador do Benfica, só tenho que lamentar!
Julgava que com o FS já tinhamos descido ao inferno. Mas não! Faltava o Jesus para nos levar até lá! Ironia do destino!
Ao que isto chegou! Até este azemola vai treinar o SLB.
Depois dos jogadores de merda a vestir o manto sagrado, só faltava um treinador à altura! Se calhar eu é que estou errado. Para alunos burros, professores burros. Modernices!
Ó D'Arcy... E o facto de Portugal ter jogado sem um único jogador de Benfica e (argh, splut, blharc) Sportem não é também um facto a salientar?
Se alguém tivesse dúvidas da viragem à cedofeita que o nosso futebol está efectuar elas ficaram desfeitas no Sábado.
Agora é que eles controlam as coisas a seu belo prazer na FPF... E a CS avençada e fraudulenta não teve responsabilidade na saída do Socolari da Selecção?
É a diferença entre ter uma boa ou submissa CS e ter uma má ou avençada CS. E assim se derrubam treinadores, se ganham campeonatos e se satisfazem os interesses ocultos dos empresários dos jogadores de futebol.
Lembro-me também de uma afirmação do Carlos Queiróz referente à justificação da não convocação do Nuno Gomes. Segundo este iluminado catedrático do futebol (semelhante a este só o Gabriel Alves o qual mesmo assim ainda tinha o condão de nos fazer sorrir) o Nuno Gomes não é convocado porque não era titular no benfica com assiduidade.
Quntos jogos fez o Boa Morte a titular ultimamente? Quantos jogos fizeram o Deco, o Ricardo Carvalho e o Pepe a titulares ultimamente?
Ah "poizé"!
"António Bagão Félix garante que não irá candidatar-se e alega motivos pessoais."
Fdx...
qd me disserem onde é que o edinho ou o hugo almeida são melhores que o Nuno Gomes.... ou até mesmo que o postiga .....volto a ver os jogos da selecção
A par da imagem uma enorme fragilidade esta direcção acaba de dar mais uma machadada no espirito benfiquista ao retirar espaço e tempo ao aparecimento de alternativas que pudessem discutir o clube como ele merece ser discutido, mas isto só pode ser surpreendente para quem andou a dormir estes anos todos embalado no populismo de Vieira.
Penso no entanto que se aparecer uma personalidade suficientemente federadora e credível pode à vontade ganhar as eleições.É dificil mas é possivel, este ciclo está totalmente esgotado.
A entrevista do Vilarinho foi deploravel, não me admirava nada se o Henrique Vieira decidisse não continuar a treinar o basquetebol do Benfica. Assim como deploravel continua a ser o habitual programa de Opinião emitido de manhã na Benfiva TV.
O árbitro roubou uma grande penalidade à Albânia.
Está a chegar aí a altura em que se vai ver quem tinha razão em relação à Benfica TV. Vamos ver se é a televisão do Benfica ou do poder instituído no Benfica.
Não leves para a provocação D'Arcy, porque não o é nem tens porque levar, eu sei.
É uma mera curiosidade.
Cumprimentos,
Benfica Sempre!
Só votarei no caso de aparecer alguma personalidade, cuja credibilidade esteja acima de qualquer suspeita! Já era dificíl isso acontecer...com eleições antecipadas muito menos! Ninguém sério se mete assim num projecto a correr....
Já ver-nos iniciar um jogo contra a RFA, em que tínhamos necessidade absoluta de vencer, num portuguesíssimo esquema táctico de 7-2-1, tinha (reclamo para Portugal a invenção do esquema táctico de um único avançado).
Eu lembro-me deste. Do ar alucinado do Carlos Manuel depois de ter marcado num remate em que nem ele acreditava.
Lembro-me de eu e dos putso da minha rua termos vindo festejar para a rua, não o apuramento para a final de um europeu ou para as meias finaias de um mundial, mas o apuramento para a fase final de um mundial.
O jogo da albania trouxe-me este sabor nostalgico da minha infancia. Agora acredito que para o pessoal mais novo-- putos com que acordaram para o futebol nos ultimos 10 anos-- toda esta mediocridade da nossa selecção seja um choque. Mas eles que não se iludam: isto é o que nós sempre fomos. A excepção foram os últimos 10 anos :):):)
Que o grande Manitu te ouça Filipe.
Estou farto deste inculto à frente do Benfica, o clube é cada vez mais uma sociedade unipessoal.
Mas mesmo que ninguem credível apareça e o Vieira ganhe as aleições,como é provavel, não terá vida facil daqui para a frente.
Custa aceitar que num clube tão grande, não apareça alguém cuja seriedade está acima de qq suspeita e que como dizia Bagão, "faça melhor gestão do silêncio".
hehe o Queiroz meteu de facto a nossa selecção ao nível das equipas entre o 90 e 120o do ranking FIFA/Coca-cola.
Para os que falam em desacerto, reparem nos resultados que começam a surgir nas modalidades e nas camadas de formação do futebol. A direcção pode errar a fazer contratações mas o trabalho de base que nos garante o futuro está lá. Não vamos desatar a dizer mal só por dizer. Votem em quem quiserem, mas por favor nada de Vales e Azevedos.
Nos seniores, enquanto o Porto conseguir sustentar equipas ao nível da nossa, o "resto" vai fazer a diferença. Daí o desespero com que tentam vender o substituto do Bergessio na selecção argentina.
Enviar um comentário
<< Home