domingo, setembro 20, 2009

A ferros

Não deixou de ser uma vitória justa, alcançada pela única equipa que lutou realmente por esse objectivo, mas teve que ser arrancada a ferros. O adversário não ajudou, pois fez o seu trabalho e manteve sempre a organização defensiva (e convém salientar que não recorreu ao antijogo), mas no fundo foi o Benfica quem acabou por criar mais dificuldades a si próprio. Hoje, pela primeira vez esta época, consegui ficar irritado com a equipa em alguns momentos, por ver que insistíamos demasiado em tentar aquilo que não funcionava, mostrando alguma incapacidade para variar o nosso estilo de jogo.

O primeiro destaque a dar ao jogo é mesmo a 'mini-Luz' que vimos hoje em Leiria. A onda vermelha está em plena força, e hoje vimos mais uma demonstração da sua força. Foi a maior enchente de sempre do Municipal de Leiria, e mais de 95% dos espectadores presentes eram benfiquistas. Quanto à equipa, muitas alterações (cinco) em relação à equipa que jogou na Liga Europa, sendo que a inclusão do Keirrison no lugar do Cardozo foi surpresa maior, já que os regressos de Quim, Aimar, Shaffer e Saviola seriam mais ou menos esperadas. Do outro lado, conforme não deixaram de no-lo recordar durante toda a semana, a melhor defesa da Liga, com apenas um golo sofrido nos quatro jogos efectuados. Pois essa defesa aguentou quatro minutos contra nós, altura em que o Saviola desviou com classe um livre do Aimar na esquerda para o fundo da baliza. Melhor começo era difícil. O Leiria, no entanto, não se desorganizou com este golo. A equipa estava montada na forma expectável, ou seja, para segurar o empate e depois tentar um golo num eventual contra-ataque ou bola parada. Colocando-nos em vantagem, esta estratégia acabaria por ser desmontada, mas com tanto tempo ainda para jogar não fazia sentido que o Leiria se lançasse imediatamente no ataque.

Foi por isso pena que não conseguíssemos manter-nos em situação de vantagem por muito tempo, porque passados apenas quinze minutos o David Luiz teve uma intervenção desastrada, também após um livre lateral, e fez um autogolo. Em termos de atitude, o Benfica reagiu bem a este golo, acelerando o ritmo e pressionando o Leiria. Mas a qualidade do nosso jogo esteve abaixo do habitual. Pareceu-me que insistimos muito em entrar pelo meio, e o Leiria estava prevenido para isto, já que sobrepovoou a zona central, em frente à sua área. Por isso havia sempre um pé ou uma cabeça para cortar a bola quando tentávamos a progressão nas habituais tabelas rápidas. Foi nesta altura que me irritei mais, porque continuámos a insistir nisto e a explorar pouco os flancos. Mesmo o Di María insistia em fugir para o centro, em vez de tentar ganhar a linha. Outro factor que terá influenciado a qualidade do nosso jogo terá sido o relativo apagamento do Ramires, que hoje esteve bastante menos activo que o habitual. O próprio Aimar, que nunca se escondeu e esteve sempre em jogo, parecia um pouco menos esclarecido na altura do último passe. O empate ao intervalo não foi por isso muito surpreendente, porque a verdade é que a seguir a sofrermos o golo não conseguimos criar situações de grande apuro para a baliza adversária.

A segunda parte trouxe um domínio territorial ainda mais notório por parte do Benfica, com o Leiria a apostar claramente em tentar surpreender-nos num contra-ataque. A 'teimosia' que demonstrámos na primeira parte, ao insistir no mesmo estilo de jogo, mantinha-se, e neste cenário parecia ser difícil que conseguíssemos evitar o empate. Com vinte e cinco minutos para jogar, o Jorge Jesus fez duas substituições, entrando o Cardozo e o Nuno Gomes para os lugares dos apagados Ramires e Keirrison, e o Benfica passou a jogar num esquema mais próximo do 4-3-3. O Saviola passou a ter mais liberdade de movimentos, o que somado às movimentações do Nuno Gomes acabou por criar novos problemas ao Leiria. O golo da vitória surgiu a pouco mais de dez minutos do fim, através de um penálti. Confesso que esfreguei os olhos, tal foi a incredulidade. O Jorge Sousa, a assinalar um penálti decisivo a nosso favor? Definitivamente, algo está a mudar esta época. O Cardozo aproveitou para espantar mais alguns fantasmas, e marcar o golo decisivo (o penálti até nem foi particulamente bem marcado, mas quando o remate é feito com a velocidade que ele consegue dar à bola, ela já está dentro da baliza antes mesmo do guarda-redes conseguir chegar ao chão). Este golo confirmou que tinha razões para lamentar termos 'oferecido' o empate tão cedo. Porque o Leiria, não podendo lutar para segurar o resultado, desmoronou-se e desapareceu completamente do jogo. O tempo até final do jogo foi passado da forma mais tranquila possível, com um domínio completo do Benfica e a ausência total de reacção do Leiria, que passou o tempo a correr atrás da bola, enquanto esta circulava de pé para pé dos nossos jogadores. Neste período, fomos mesmo nós quem mais perto esteve de voltar a marcar.

O melhor em campo foi, para mim, o Javi García. Ele não foi simplesmente um médio; foi um meio campo inteiro. Gostava de ver a estatística de quantas bolas ele terá recuperado, quantos lances divididos terá ganho, quantas dobras e compensações terá feito - se o David Luíz sobe tão frequentemente, é porque sabe que assim que ele dá uns passos em frente, tem o Javi a tapar o buraco que ele deixou na defesa. Conforme disse antes, hoje o Ramires não esteve tão bem como tem sido habitual. Não digo que jogou muito mal, mas tendo como padrão aquilo que ele fez nos jogos anteriores, a exibição de hoje só pode ser considerada fraca (e por algum motivo, ao contrário do que costuma ser habitual, ele foi substituído quando ainda havia bastante tempo para jogar). O Keirrison voltou a estar muito apagado, e continua a ser um jogador desfasado com o resto da equipa.

Mais ou menos brilhantes, o fundamental foi conseguido. Uma vitória, num jogo verdadeiramente de campeonato. É também com vitórias destas que se conquistam títulos. E agora partimos para a próxima jornada em vantagem sobre os dois que pensam ser grandes, altura em que estes dois amigalhaços se defrontam. Se cumprirmos a nossa obrigação de vencer o Leixões na Luz, para a semana haverá uma data de gente com (ainda mais) azia, e à beira de um ataque de nervos.

8 Comments:

At 9/21/2009 8:06 da manhã, Anonymous JFilipe said...

Este foi um jogo à "antiga." Na primeira ocasião o adversário marca, aliás quem marcou foi um dos nossos.

Já que o JJ gosta de rodar jogadores, devia pensar em rodar os centrais. Esta não é a primeira paragem cerebral do David Luiz, e ao contrário de muitos adeptos quando o vejo arrancar por aí afora sinto calafrios.

Mas neste jogo o que me deixou parvo foi mesmo o penalti marcado a nosso favor. Nunca pensei que este árbitro conseguisse ser minimamente isento.

 
At 9/21/2009 9:29 da manhã, Blogger Unknown said...

Esperam-nos muitos jogos assim...e teremos que vencê-los!

O Keirrison nesta fase parece-me um jogador a menos...

É verdade que o David Luís por vezes tem paragens cerebrais, por vezes arrisca demais onde não devia, mas não deixa de ser um grande central e as subidas dele são importantes neste tipo de jogos, para criar desiquilibrios.

 
At 9/21/2009 10:06 da manhã, Anonymous JFilipe said...

O Keirrison era um goleador temível no Brasil. O Fabiano também não mostrou nada nos primeiros jogos que fez na Europa.

A única coisa que me desgosta é promover um jogador que não é nosso e que não tapa um buraco no plantel. Mesmo que o Tacuara estivesse queixoso, teria preferido ver o Nuno Gomes (que criou ocasiões e quase marcou) ou Weldon.

A menos que o empréstimo do Keirrison seja de longa duração (2 a três épocas) não percebo a aposta.

 
At 9/21/2009 5:35 da tarde, Anonymous FORZA SLB said...

Foi difícil e suado, o jogo em q se criou menos oportunidades, mas no final os 3 pontos foram conseguidos e isso é o + importante. Ganhar os jogos menos conseguidos é caminhar em direcção ao título.
O Keirrison ainda ñ me convenceu e achei arriscado em demasia ser titular nesta fase e num jogo desta importância. Ñ gostei do RAmorim os poucos minutos q esteve em campo, espero q ele e toda a equipa percebam q para atingir títulos tem de haver espírito de sacrificio e equipa e q cada um vai ter oportunidades.
Confesso q fiquei admirado em ser assinalada e bem a grande penalidade q deu a vitória, são por vezes estes pequenos pormenores q acomulados ditam quem é o campeão no final da época.
Grande JJesus e RCosta, força SLB

 
At 9/21/2009 11:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A pergunta que se impõe:

Alguém sabe se o Anselmo bateu o recorde do lançamento da medalha do Pedro Silva?

PS:The Damned United
http://hotfile.com/dl/12402730/55098ae/maldito.rar.html

 
At 9/22/2009 12:38 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Eu vi há pouco tempo um documentário sobre o Clough, em que a mulher do Clough, os filhos, e mesmo alguns dos jogadores do Leeds da altura dizem que aquilo que o livro descreve é praticamente tudo mentira. Inclusivamente, o Johnny Giles (um dos jogadores do Leeds) processou o autor do livro, e ganhou.

Por isso fiquei sem grande vontade de ver o filme.

 
At 9/22/2009 1:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Pois, mas o argumento do filme não é apenas sobre os 44 dias no Leeds, de facto já vi mais de metade do filme e 70% do tempo a acção passa-se nos tempos do Derby.

A familia esteve contra o filme por causa do livro, mas o filme é muito mais abrangente.

Os actores são muito bons.

 
At 9/22/2009 7:43 da tarde, Blogger António Pista said...

O desgaste do jogo de 5ª feira foi notório, no entanto excelente a gestão de JJ!

O Benfica tem tudo para conquistar a Liga e pelo menos uma taça!

Força Benfica!

http://aguia-de-ouro.blogspot.com/

 

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