sexta-feira, abril 02, 2010

Double-Decker

Confesso que no final do jogo, enquanto saía da Luz, estava com dúvidas se teríamos acabado de defrontar o Liverpool, cinco vezes campeão europeu, ou a Naval 1º de Maio. Porque sinceramente, aquilo que o Liverpool fez esta noite na Luz não foi muito mais do que aquilo que vi a Naval fazer quando jogou no mesmo estádio. Preocuparam-se acima de tudo em jogar o empate, tendo passado a grande maioria do tempo encafuados no seu próprio meio campo. A diferença foi que o Liverpool teve duas oportunidades durante todo o jogo, e marcou uma delas, conseguindo assim sair da Luz com um resultado lisonjeiro e que lhes abre boas perspectivas para a segunda mão.

Talvez este post não seja muito simpático com o Liverpool, mas eu não consigo esconder o quanto eu detesto este clube. Eu sei que muitos benfiquistas que simpatizam com eles, mas talvez porque as imagens do Liverpool que me ficaram marcadas na infância foram duas eliminações da Taça dos Campeões às mãos deles (ainda por cima uma delas marcada por uma noite infelicíssima de um dos meus heróis, o Bento) e a tragédia de Heysel Park, nunca consegui gostar deles (sempre preferi o Everton). Por isso, se normalmente desejo uma vitória do Benfica acima de tudo, esse sentimento era ainda mais forte esta noite, por estarmos a defrontar uma equipa que é um dos meus ódios de estimação (a outra é a Juventus). O Benfica sofreu um rude golpe para este jogo, que foi a lesão do Saviola. o disse diversas vezes que creio que mesmo sem estar inspirado na finalização, a sua simples presença em campo é fundamental, pois as suas movimentações atrapalham qualquer defesa e permitem a abertura de espaços para os colegas. Perante a sua ausência, a opção tomada foi a esperada, ou seja, avançou o Aimar para a sua posição, ficando o Carlos Martins nas funções de organizador de jogo. Do outro lado, o Liverpool apresentou-se num 4-2-3-1, com o Gerrard a apoiar aquela serigaita espanhola (Fernando Torres) que jogava com bastante liberdade para vaguear por toda a frente de ataque. Uma estratégia cautelosa, e que apostava sobretudo em lançamentos longos para os homens da frente.

O jogo iniciou-se com o Benfica na procura do ataque, mas cedo ficou marcado pelo golo do Liverpool. Aos nove minutos de jogo, um duplo erro da nossa equipa (primeiro na perda de bola, que levou à falta sobre o Gerrard, depois na falha de marcação que permitiu que três jogadores do Liverpool surgissem soltos para rematar) acabou por dar ao Liverpool a oportunidade de se colocar na frente do marcador, pois na sequência da marcação de um livre quase sobre a linha do lado direito da nossa área, o defesa central Agger apareceu solto a finalizar de calcanhar um centro rasteiro e atrasado. O Benfica não acusou o golo, e lançou-se de imediato na procura do empate. Apenas um minuto depois do golo, poderia -lo conseguido, mas o Cardozo deu o primeiro sinal de não estar numa noite particularmente acertada, e conseguiu falhar um golo quase certo, quando apareceu solto após centro do Di María na esquerda. O Benfica continuou a ter a iniciativa atacante no jogo, enquanto que o Liverpool, se estaria satisfeito com um empate, apanhando-se a vencer remetia-se cada vez mais ao seu meio campo, gastava tempo (com o Reina a destacar-se neste particular durante o jogo todo), e limitava-se a tentar lançamentos longos para a rapariga na frente, que regra geral desfalecia ao primeiro bafo que sentia na nuca.

À meia hora de jogo, teve mesmo razão para cair, que a entrada que sofreu do Luisão foi dura, o que valeu o amarelo ao nosso capitão. Na confusão que se seguiu, o Babel foi expulso e a partir daí o pouco que tinha havido do Liverpool até então tornou-se zero. Claro que, para desvalorizar a vitória do Benfica, a expulsão será sempre utilizada como argumento. Mas na primeira meia hora de jogo o Liverpool fez apenas um remate, que foi o que lhes deu o golo. De resto, pouco ou nada tinha feito, e a expulsão apenas acentuou a vontade do Liverpool em não deixar jogar e segurar um resultado que lhe interessava. Não foi pela expulsão que o Benfica passou a dominar o jogo, porque nessa altura o dominava praticamente desde o apito inicial. Infelizmente, o acerto na zona perto da baliza nunca foi muito (com o Cardozo em particular destaque). A ausência do Saviola no ataque notou-se (e isto será um problema a resolver para as próximas semanas), em particular por não haver ninguém que caísse sobre o lado direito do ataque para explorar o espaço entre os centrais e o lateral, no que é um movimento característico do Saviola (curiosamente, quando joga naquela posição o Aimar tem mais tendência para se fixar no centro). Do outro lado, o Di María não estava muito inspirado, e apesar de tentar dinamizar o ataque por ali, perdeu-se muitas vezes em exageros individuais ou tentativas de toques artísticos.

Mais do mesmo para a segunda parte, com o Liverpool inexistente no ataque e o Benfica, a exemplo do que tem sido habitual esta época, a ter uma reentrada forte no jogo e a carregar ainda mais no ataque, mas a revelar dificuldades para furar a muralha defensiva inglesa. Com cinco minutos decorridos, e após um canto do Di María, o Cardozo conseguiu falhar estrondosamente a baliza quando saltou à vontade e tinha tudo para marcar. A insistência do Benfica acabou por ser recompensada após treze minutos. Primeiro, um livre descaído para a direita, por falta sobre o Cardozo. Depois, o mesmo Cardozo marcou o livre, levando a bola a embater com estrondo no poste. Quando se preparava para a recarga, o Aimar foi derrubado em falta (infelizmente o árbitro 'esqueceu-se' de mostrar o segundo amarelo ao Insúa no lance) e na marcação do respectivo penálti, o Cardozo não deu hipóteses. O empate motivou ainda mais o Benfica, que empurrou o Liverpool para o último terço do campo, e praticamente não os deixava passar do meio campo, pois com uma pressão muito alta conseguíamos recuperar a bola ainda dentro do meio campo adversário. A única excepção a isto poderia ter deitado tudo a perder. Faltavam quinze minutos para o final e, após mais uma das inúmeras tentativas de lançamentos longos do Gerrard para a espanholita, esta ultrapassou o Luisão facilmente e ficou isolada, com tudo para fazer o golo. Incrivelmente, não acertou na baliza. Dois minutos depois, novo penálti para o Benfica. Em mais uma incursão do Di María pela esquerda, o seu centro foi cortado pelo Carragher com o braço, e pela primeira vez na vida vi o árbitro de baliza tomar uma decisão num jogo, informando o árbitro principal da falta. Mais uma vez o Cardozo marcou, desta vez enviando o guarda-redes para um lado e a bola para o outro. Infelizmente, depois do segundo golo a dinâmica do Benfica foi interrompida com o mau comportamento do público, que depois de vários petardos terem sido ouvidos ao longo do jogo, alguém na zona da claque enviou um para perto do árbitro de baliza. O jogo esteve interrompido durante pelo menos um par de minutos, e daí até final pouco mais de relevante se passou no jogo.

Não foi exactamente uma exibição brilhante, mas julgo que o Benfica foi esta noite claramente superior ao Liverpool, que desde o início mostrou vir jogar para o empate. No Benfica gostei daqueles que ultimamente têm mostrado atravessar um bom período de forma, ou seja, David Luiz (ganhou claramente os duelos individuais com a muchacha), Fábio Coentrão e Javi García. O Di María irritou-me por ter abusado das iniciativas individuais. Mas depois começo a pensar nas melhores ocasiões do Benfica, e reparo que quase invariavelmente ele esteve envolvido. Talvez tenha uma bitola demasiado alta para ele, e acabe por reparar mais naquilo que ele faz de mal. O Cardozo, ironicamente, depois de um jogo em que ele se revelou perdulário, acaba com dois golos e fica para a história como o responsável pela reviravolta. São dois 'mitos' que ficam abalados esta noite: o de que o Cardozo não sabe marcar penáltis decisivos, e o de que este Benfica não consegue dar a volta a resultados (depois do Marselha, voltamos a fazê-lo com o Liverpool).

Potencialmente, será uma segunda mão complicada. Mas acredito completamente na capacidade do Benfica para marcar golos em Anfield. Se o Liverpool é considerado o grande candidato à conquista da Euroliga, esta noite mostrámos que está ao nosso alcance. Mas isso é de certa forma secundário. O que eu quero mesmo é ganhar à Naval na segunda-feira. E o autocarro (de dois andares) vindo de Liverpool deve ter sido um óptimo treino para esse jogo.

12 Comments:

At 4/02/2010 10:21 da manhã, Anonymous Filipe said...

Não gostei muito deste jogo. Apesar de termos criado mais ocasiões, não fiquei com a sensação de termos feito um bom jogo. Com o Cardozo a falhar golos daquela forma( conto-lhe algumas 5 oportunidades para marcar) e sem Saviola, vai ser complicado...A reviravolta foi feita com mais um em campo e de penalti!

 
At 4/02/2010 2:58 da tarde, Blogger D'Arcy said...

Os penáltis existiram, e ainda ficaram mais por marcar. Não vejo razão para desconsiderarmos a reviravolta apenas por os golos terem sido obtidos de penálti.

 
At 4/02/2010 3:11 da tarde, Anonymous JFilipe said...

Sejamos positivos: o Cardozo falhou neste jogo o que tinha a falhar na eliminatória, no próximo jogo entram todas.

Quanto aos petardos, continuem a dar palmadinhas nas costas aos NN e dizer que tudo é obra de um ou dois vândalos. Não voltei a pagar cotas nos últimos anos para pagar os prejuízos causados por estes animais. É identificar cada gajo com cachecois e bandeiras desses cretinos e repartir a conta entre eles. Sobretudo se tivermos que disputar o próximo jogo à porta fechada com milhões de euros de prejuízo.

 
At 4/02/2010 3:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Falhar.

Foi com esta síndrome que evoluímos neste jogo.

Logo a começar, o Aimar falha um de muitos passes e no seguimento da recuperação d ebola o Liverpool cria desiquilibrios e originam a falta que resultou no golo do Liverpool

No livre a defesa do Benfica falha redondamente. Como se pode abordar a defesa do livre daquela forma. Se não fosse o Aggner seria outro adversário. pois estavam mais 2 ou 3 em situç\ao previligiada para marcar.

à passagem dos 10min o Cardoso falha um golo que quase mais ninguém falharia.

Até ao intervalo o Benfica falha mais 3 claras oportunidades de marcar

Começa a segunda parte e o Aimar continua a falhar passes e o Cardoso continua a falhar recepções de bola.

Di Maria falha constantemente acções ofensivas inicialmente trabalhadas pelos companheiros

Julio César falha dois pontapés de baliza obrigando o Luisão a acções de recurso (um em cada parte)

Ramires falha várias vezes, realizando uma exibiçõ muito abaixo do normal. Será cansaço ?

O Jorge Jesus falha nas substituições, principalmente a primeira, tendo a equipa a partir daí um decréscimo acentuado na eficácia do jogo.

A claque do Benfica (ou não é claque) ? falha redondamente nas suas acções prejudicando o clube e acabando com o jogo pressionate que a equipa vinha exercendo sobre o adversário. A partir da interrupção o Benfica nunca mais se conseguiu concentrar. Não tenho nomes nem adjectivos que possa escrever on-line que caracterizem as acções destes indivíduos.

Porém e perante várias falhas (algumas grosseiras) ganhámos a uma das principais equipas Inglesas.
O Jogo da segunda mão vai ser muito complicado.

Para terminar, tenho que assinalar que, apesar de enormes falhas, os jogadores abordaram o jogo com grande honestidade.
E isto é relevante, é uma característica essencial para obter sucesso.
Observámos, atitude, aderência e principalmente honestidade perante os espectadores e perante o clube e perante o objectivo deste jogo.

E eu valorizo muito esta caracteristica

 
At 4/02/2010 4:21 da tarde, Anonymous Filipe said...

A questão é que dois penaltis a favor da mesma equipa no mesmo jogo, não é frequente e a desinspiração ofensiva do Cardozo tem sido. Ele tem uma equipa praticamente a jogar para ele e falha uma mão cheia de golos!!!Tal como tem falhado nos últimos jogos...por isso dúvido que num jogo em que por exemplo o árbitro seja semelhante ao que apanhamos em Marselha nós conseguissemos marcar.
Confesso que não dou tanto valor à reviravolta por só conseguirmos marcar de penalti e por termos tido mais um em campo. Nestas condições era o que faltava não darmos a volta ao jogo!

O momento do jogo para mim, foi qd os adeptos do Benfica, chamaram palhaços a esses jumentos dos petardos. É preciso ser um perfeito idiota para vir para a taça uefa rebentar petardos. Esse jumento merecia era um murro nos cornos, mas provavelmente ainda ficou bem visto junto dos "colegas".

 
At 4/02/2010 4:40 da tarde, Anonymous JFilipe said...

A mim o que me dá confiança é que mesmo num jogo em que tudo nos correu mal, golo do adversário no primeiro remate à baliza, falhanços clamorosos, incluindo a bola no ferro do Cardozo, o nosso futebol foi de tal forma avassalador que o adversário foi obrigado a fazer penaltis sucessivos (houve 4, o árbitro marcou 2).

Filipe já me disseram que os "colegas" atiraram isqueiros e moedas aos adeptos que os criticaram. O clube tem que que começar a identificar estes indivíduos e mandar-lhes as contas dos prejuízos que nos causam.

 
At 4/02/2010 8:34 da tarde, Blogger D'Arcy said...

O Benfica vai tentar identificar os adeptos que atiraram os petardos. Acho bem que o faça, e os puna exemplarmente.

Quanto a vários penáltis a favor da mesma equipa num mesmo jogo, acho que depois do que se passou hoje em Braga estamos conversados :)

 
At 4/02/2010 10:38 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O que se passou com os brácoros é problema do CRAC, eles é que admitiram que a luta deles era com o Braga.

Nós só dependemos de nós na luta para o título. As osgas depois do jogo de hoje vão vir de peito feito.

 
At 4/03/2010 6:13 da tarde, Blogger joão carlos said...

Mais uma grande descrição.
Concordo plenamente contigo em relação ao Di Maria, irritou-me e esperava mais mas ao rever aquilo que fizemos ele de facto esteve na maioria dos lances de perigo criados.

Filipe os penaltys também contam para além de que estes foram cometidos para cortar grandes oportunidades de marcar e foram resultado da grande pressão feita pela equipa, para mais o golo deles também resultou de um lance de bola parada.

Anonymous o futebol é um jogo de falhas e de erros e cada vez mais existe a tendência para que a maioria dos golos resultem de falhas, normalmente quem falha menos ganha, se for feita uma analise idêntica a equipa adversaria também se encontram uma serie de falhas e erros, não sei se em maior ou menor numero mas existiram e muitas.

A razão supostamente de uma claque é apoiar a equipa sempre e sobretudo quando mais ninguém o faz, mas aquilo que eles fizeram, para alem da multa ou outras sanções possíveis, que foi interromper o jogo quando a equipa estava por cima, motivada e podia tirar partido de alguma intranquilidade provocada pelo segundo golo é de uma estupidez enorme é precisamente o contrario daquilo para que uma claque serve, fez mais pelo adversário, perder tempo, do que o guarda redes deles durante o jogo todo.

 
At 4/03/2010 8:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Com falhas continuam também as nossas modalidades.

Basket, Andebol, Hoquei, Voley,... todas falharam nas finais das taças de Portugal.

Hoje até o Futsal, com uma exibição miserável não conseguiu ganhar ao Boticas na 1ª mão da meia final

 
At 4/03/2010 10:46 da tarde, Blogger Mr. Shankly said...

"Double Decker" :)

Muito bom! E reminiscente do imortal "There is a light that never goes out".

 
At 4/05/2010 1:13 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Faltam 8 horas para se iniciar na Figueira da Foz um dos jogos mais determinantes da época,... já estou nervoso.

 

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