Melhores
A pergunta que me ocorre quando penso no jogo desta noite é a seguinte: por que razão é que o sportém precisava tão desesperadamente de um ponto, ao ponto de se apresentar na Luz como uma qualquer Naval ou Leixões desta liga? Eu sei que as coisas andam mal ali para os lados do Alvalixo, mas também não era necessário começarem já a incutir naquela equipa a mentalidade de quem luta para não descer. Felizmente, aconteceu aquilo que tantas vezes acontece no futebol, em que a equipa que não joga para ganhar acaba por ser justamente castigada com uma derrota. Aliás, nem é preciso estarmos à procura de moralismos nisto. O que se passou foi perfeitamente natural, e simplesmente a lei da vida: ganhámos porque somos melhores. Muito melhores. Sim, foi preciso ter alguma paciência na primeira parte, mas já sabemos que jogos contra equipas que jogam assim são sempre jogos de muita paciência. A Naval, por exemplo, ainda conseguiu aguentar oitenta e nove minutos a dar-nos cabo da paciência. A lagartagem ficou-se pelos sessenta e oito. Bem vistas as coisas, esta diferença diz muito sobre este sportém.
Ainda o jogo não tinha começado, e já a lagartagem mostrava que apesar dos títulos de visconde, no fundo eles são é daquela nobreza burgessa que não se pode levar a lado nenhum ou convidar para nossa casa, porque imediatamente cospem para o chão e põem os pés em cima da mesa, já que fizeram logo questão de escolher o campo 'ao contrário', não respeitando a tradição (de certeza que houve dedo do Cientista nisto). Quanto à nossa equipa, órfã do Saviola desde que este se lesionou, apresenta sempre uma grande dúvida antes de todos os jogos: a quem caberá o ingrato papel de o substituir no onze inicial? Hoje o escolhido foi o Éder Luís, e quanto ao resto do onze, de notar a natural presença do Rúben Amorim à direita da defesa, no lugar do castigado Maxi. Do outro lado, o Cientista apresentou a única coisa que parece saber fazer, que é um comboio à frente da baliza. Equipa arrumada em 4-2-3-1, com dois médios bem recuados, e no trio que jogava um pouco mais à frente conseguia ter o criativo e ofensivo Moutinho no apoio mais directo ao isolado Liedson, e um lateral direito adaptado a médio (João Pereira). Parece-me que o Cientista andou a ver muitos vídeos do Liverpool, e terá pensado que copiando a táctica deles - até porque entre um Moutinho e um Gerrard, um Djaló e um Kuyt, ou um Subnutrido e uma vagabunda espanhola as diferenças são irrisórias - poderia vir a ter sucesso. O que na verdade acabámos por ver foi um sportém não à Liverpool, mas sim à Marítimo da primeira jornada. O maior elogio que posso deixar ao sportém é que eles se comportaram exactamente como seria de esperar de uma equipa do seu calibre. Ou seja, uma equipa que entra no relvado da Luz com vinte e três pontos de desvantagem.
Mas as coisas até nem começaram mal para a lagartagem. O Benfica entrou bem no jogo, é certo, mas depois dos primeiros dez minutos, fruto do trabalho dos jogadores da frente, que pressionavam bem a nossa saída de bola, e da acumulação de jogadores no meio campo, o sportém conseguiu trazer equilíbrio ao jogo. A principal obsessão da lagartagem era anular o jogo do Benfica e segurar o empate, e isto eles iam-no conseguindo. O problema é quando não se sabe mais do que isto (o que não surpreende numa equipa orientada pelo Cientista), e por isso em termos ofensivos a produção é quase nula. Com o jogo ofensivo do Benfica a ser anulado pelo sportém - por mérito da estratégia deles, e também por demérito nosso, já que os nossos jogadores não pareciam estar particularmente inspirados, falhando demasiados passes, não pressionando muito o adversário, e ainda com um erro de casting que foi o Éder Luís, já que este pareceu estar sempre perdido em campo, incapaz de se assumir como um parceiro de ataque do Cardozo ou de recuar para vir buscar jogo ao meio campo e fazer a ligação com o avançado - e o sportém a não saber fazer mais do que aquilo, este equilíbrio resultou num jogo aborrecido, em que os guarda-redes não tinham trabalho quase nenhum. A lagartagem parecia entusiasmada com o sucesso da sua estratégia e teve até a sua morning glory entre os vinte e os trinta minutos, período em que conquistou diversos cantos, resultantes de contra-ataques rápidos que desenhavam após recuperarem a bola, mas que eram invariavelmente mal concluídos. Apenas nos minutos finais da primeira parte o Benfica pareceu começar a conseguir libertar-se do espartilho da lagartagem (até porque seria difícil ao sportém aguentar muito mais tempo a pressionar daquela forma, já que a pressão não era feita de forma organizada por toda a equipa, mas era sim fruto do esforço individual dos jogadores mais adiantados, que corriam desalmadamente atrás da bola).
Para a segunda parte, o Jorge Jesus fez uma alteração que veio a revelar-se chave, retirando o Éder Luís e colocando o Aimar em campo. Este recuou um pouco mais no terreno em relação ao homem que substituiu, colocando-se entre as duas linhas de médios. Conseguiu assim ajudar na luta do meio campo, e ainda encontrou liberdade para deambular e tabelar com os colegas, fazendo uso da sua inteligência e qualidade. Não deixa de ser algo irónico que a solução para romper uma muralha defensiva tenha sido trocar um avançado por um médio. Para além disso, toda a equipa do Benfica subiu, pressionando o sportém ainda na sua metade do campo, o que resultou num sportém inofensivo. Não sei quantas vezes terá o sportem sido capaz de passar do meio campo em ataque organizado antes do Benfica estar na frente do marcador, mas os dedos de uma mão devem chegar e sobrar para contá-las. Com um David Luiz soberbo a empurrar a equipa para a frente, a bola passou a rondar a área da lagartagem com maior frequência, e não surpreendeu portanto que o Benfica chegasse à vantagem. Estavam decorridos sessenta e oito minutos de jogo, quando o Rúben Amorim (que esteve pouco atrevido no ataque hoje, porventura atento à velocidade do Djaló) teve uma iniciativa fantástica pela direita, ultrapassando vários adversários até entrar na área, mas depois fez um cruzamento demasiado largo. Do outro lado apareceu o Coentrão a recuperar a bola, que depois rematou cruzada. O remate não levava a direcção da baliza, mas o instinto goleador do Cardozo fez o resto, colocando a bola na baliza com um simples toque, em antecipação aos defesas. Ele marcou literalmente o golo ao pé-coxinho, já que estava lesionado na altura e preparava-se para ser substituído, o que aconteceu mesmo logo a seguir ao golo.
Conforme disse, equipa treinada pelo Cientista não parece saber muito mais do que defender e destruir jogo, aparentando sentir-se extremamente desconfortável numa situação em que tem que assumir as despesas do jogo, em vez de ficar na expectativa. Quando este, logo a seguir ao golo, desfez o 4-2-3-1 para reverter ao losango o Benfica agradeceu. Agradeceu o Benfica, e agradeceu o Aimar, tamanhos passaram a ser os espaços dados no meio campo do sportém. E foi numa destas ocasiões que ele matou o jogo, dez minutos depois do primeiro golo. Solto nas costas do médio defensivo, e com uma avenida pelo meio dos centrais, aproveitou o passe do Ramires para, com toda a calma e classe, correr para a baliza, ultrapassar o Patrício e, de ângulo apertado, finalizar de pé esquerdo. Daqui até final o Benfica geriu tranquilamente o resultado, sem que a lagartagem tivesse ameaçado sequer uma vez a nossa baliza. Foi até divertido ver a forma quase desesperada como, a perderem por dois e com poucos minutos para o final, se apressavam para repor a bola em jogo em qualquer interrupção. Isto quando, enquanto estiveram empatados, e desde o primeiro minuto, tinham tentado queimar tempo em todas as reposições, com particular destaque para o Patrício. Nada que não tenhamos visto e revisto já esta época, sempre que qualquer equipa que luta pela manutenção nos visitou.
No final do jogo, fiquei a saber que, de uma forma absolutamente previsível, a lagartagem justificou a derrota com a arbitragem. Sim, foi precisamente por isso que eles perderam. Não foi por não jogarem nada, não foi por terem o Cientista como treinador, não foi por terem jogadores como um Túnel ou um Grimi, foi sim por causa do árbitro. Foi o Cientista (homem experiente nestas coisas das desculpas esfarrapadas), o chorão do Moutinho (que por acaso enfiou uma cacetada impressionante no Ramires, e nem amarelo viu) , e no fim até o Costeletinha, rapaz que, enquanto jogador, sempre primou pela correcção e respeito pela integridade física dos adversários, a queixarem-se do mesmo. Aquilo estava mesmo bem ensaiado, e até aposto que vieram no autocarro a caminho da Luz a combinar a estratégia. Como não há penáltis ou golos anulados, fala-se de uma expulsão que devia ter acontecido porque a paixão platónica do Veloso foi expulsa contra o Rio Ave, 'campo inclinado' e faltas genéricas, que são expressões engraçadas que dão títulos bonitos nos jornais, e que dão muito jeito quando não se consegue elaborar. Mas suponho que seria difícil ser-se honesto e dizer-se 'Perdemos porque não jogamos um corno, o que aliás fica bem expresso pelos vinte e seis pontos que levamos de atraso'. No fundo, esta atitude lá veio mais uma vez confirmar que apesar das apóstrofes e das duplas consoantes nos apelidos, eles sentem-se bem mesmo é a ir passear para os centros comerciais aos fins-de-semana, de fato de treino e chinelos com meias.
O jogador que fica indelevelmente ligado a esta vitória é o Aimar. A qualidade do nosso jogo melhorou da noite para o dia com a sua entrada, e o sportém não conseguiu encontrar uma forma eficaz de anulá-lo. E teve a justa recompensa de marcar o golo que sentenciou o jogo, revelando calma e classe na altura da decisão. Outro nome que não pode deixar de ser mencionado é o David Luiz. Foi simplesmente soberbo. Não se intimidou nada com a presença do Liedson por ali, e conforme é seu timbre, empurrou a equipa para a frente com frequentes subidas no terreno com a bola nos pés. Com a quantidade de olheiros que esteve na Luz, se calhar esta exibição terá selado a sua saída do Benfica. Espero que não, porque ele é um dos pilares e grande parte da alma deste Benfica. Bom jogo também do Ramires, do Rúben e do Cardozo. O golo que marcou, já lesionado, é de um grande oportunismo. Para além disso trabalhou sempre muito para os colegas, tendo estado mais eficaz a ganhar os duelos no ar e a segurar a bola para os colegas vindos de trás.
Foi mais um passo na direcção certa, dado ante um adversário cuja única intenção e objectivo neste momento era impedir-nos de o dar. Faltam agora quatro jogos, e nestes teremos que conquistar sete pontos para que possamos festejar a mais que merecida recompensa no final. A recompensa que aqueles que hoje encheram a Luz e lhe deram um ambiente fantástico de apoio à equipa, e todos aqueles que por esse mundo fora sofrem pelo nosso clube também ambicionam e merecem. Nada está ganho ainda, mas estamos cada vez mais perto. Para desespero de alguns, e alegria de muitos, muitos mais.
5 Comments:
Eu sei que é o Sporting e há uma tradição nestas coisas com os verde-ranho, mas caramba os homens estão a 15 pontos do terceiro. Não me deu aquela satisfação do costume.
Esperado
Foi o que seria espectável.
Uma vitória, a jogar na condição de visitado, contra um adversário que está a 23 pontos de distância.
Atendendo à referência do D´Arcy, quando se joga contra um adversário que apresenta jogadores como o Grimi e o Tonel, será quase uma "obrigação" vencer.
A primeira parte do Benfica foi muito má, os jogadores estavam ansiosos, com "medo" de ter a bola e daí resultaram erros constantes no passe.
Logo aos 8 minutos, o Quim falha mais uma vez a sair da baliza, aquando da marcação de um canto e poderiamos aí ter sofrido um golo.
Pouco depois o João Pereira surge isolado, mas descaído para a direita e também poderíamos ter aqui sofrido um golo.
Não mais o Sporting criou perigo sustentado na nossa baliza, mas até marcarmos o nosso primeiro golo, foram muitas as más decisões e várias vezes preconizámos jogadas mal construidas.
Nos ultimos encontros o Aimar tem feito figura de corpo presente, mas ontem foi decisivo na acção da equipa.
Ramires está mesmo fatigado.
...Ramires está mesmo fatigado, mas apesar de não ter jogado bem, tem o mérito de ter sido dele o passe para o Aimar que resultou no 2º golo
para mim o que mais gostei foi de ver o Pablo Aimar a beijar o emblema da camisola do Benfica...Momento LINDO!!!!!
Desta vez a crónica é simplesmente perfeita.
Anonymous a exibição do Aimar feita neste jogo é a razão porque o treinador tanto teimava em apostar nele era na esperança de ele tirar uma exibição destas, que resolve-se um jogo.
Não é só o Ramirez que demonstra cansaço o Javi Garcia também o demonstrou em dois ou três lances e não foi só neste jogo já na quinta-feira tinha acusado a quantidade de bolas que ele tem perdido é bem demonstrativa da falta de frescura.
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