domingo, março 08, 2020

Desoladora

Mais uma actuação desoladora e mais um resultado negativo para juntar à série que teima em prolongar-se. Neste momento parece-me que os adeptos já não acreditam muito que a situação possa voltar a endireitar-se, mas o mais preocupante para mim é que os jogadores ainda parecem acreditar menos do que os adeptos.


Mudanças no onze para este jogo: Weigl e Rafa para o banco, entram Chiquinho e Cervi. Meio campo composto pelo Samaris e o Taarabt, com o Chiquinho no apoio ao Vinícius e as alas entregues ao Pizzi e ao Cervi. Declaração de interesses: não gosto do Vitória de Setúbal. Nunca gostei, e para mim nem deviam ter lugar na primeira liga dado que há anos e anos que furam as regras da concorrência, acumulando dívidas a jogadores que lhes deveriam valer a despromoção, mas de alguma forma vão continuando a fintar tudo e todos. Depois há aquele pormenor de há décadas abrirem declaradamente as pernas nos jogos contra o Porto. E hoje voltaram a ser uma equipa enervante, em que cada jogador rebolava três vezes no chão de cada vez que sofria um sopro, na esperança de arrancar cartões aos jogadores do Benfica. Objectivamente não jogam um caracol, limitaram-se a defender o tempo quase todo e fizeram para aí dois remates durante o jogo todo. Infelizmente, face ao momento que o Benfica atravessa, isso chegou para arrancarem um empate e poderem ir mais uma vez abanar a cauda orgulhosamente para o pé dos amigos do norte. Sim, porque a actuação do Benfica foi mais uma vez demasiado abaixo do exigível, sobretudo durante a primeira parte, em que atingiu níveis capazes de levar ao exaspero qualquer adepto fiel. Não foi só o deserto de ideias da equipa, incapaz de arranjar formas de ultrapassar a muralha defensiva do adversário. Até percebo que se tenha tentado trocar a bola na tentativa de fazer o adversário sair da sua área, mas eles estavam mesmo empenhados em agradar ao patrão do norte e não saíam lá de trás de maneira nenhuma. Mas o ritmo imprimido foi demasiado pausado e por vezes quase parecia haver menor empenho dos jogadores. Se o adversário não saía da defesa de maneira nenhuma, a jogar naquele ritmo é que não iríamos conseguir desposicioná-los de maneira nenhuma. O Benfica na primeira parte quase não criou ocasiões de perigo, tendo resolvido que a melhor solução eram pontapés para as costas da defesa adversária. Pontapés e não passes, porque na maior parte das ocasiões essas bolas nem sequer levaram a direcção aproximada de um jogador do Benfica.


Se esperávamos algumas melhorias na segunda parte, esta começou com o golo do Setúbal. Uma bola metida no espaço entre o Rúben e o Tomás Tavares, e finalização fácil já no interior da área. Como sempre, não é necessário o nosso adversário atacar muito para marcar; basta ir lá uma ou duas vezes. Até houve reacção do Benfica ao golo. Não tanto em termos de qualidade, mas pelo menos vi mais vontade nos jogadores, em contraste com a paupérrima primeira parte. O melhor que podia acontecer foi termos chegado ao empate poucos minutos depois. Um penálti sobre o Rúben Dias na sequência de um pontapé de canto (assinalado pelo VAR) foi convertido pelo Pizzi e tínhamos agora mais quarenta minutos para chegar à vantagem. E tentámos lá chegar, de forma mais ou menos sôfrega e atabalhoada. Entrou o Rafa para o lugar do Chiquinho, depois inevitavelmente acabou por entrar o Dyego e o Benfica continuou a pressionar um Setúbal que se encafuou na área e defendia o empate como se as suas vidas disso dependessem. Pouco depois de entrar o Dyego até ofereceu um golo de mão beijada ao Pizzi. Depois de fugir pela esquerda, fez um passe atrasado que encontrou o Pizzi completamente solto dentro da área, em posição frontal. O Pizzi deu sequência ao lance rematando de forma desastrada e sem grande convicção por cima da baliza. A quinze minutos do final, ocasião soberana para nos colocarmos em vantagem: novo penálti a nosso favor, por mão clara depois de um remate do Grimaldo. Chamado à conversão, o Pizzi repetiu a graça da passada segunda-feira e nem acertou na baliza. Três penáltis falhados em quatro tentativas já me parece um exagero. Mesmo a jogar mais com o coração do que com a cabeça, e já com o Weigl em campo para evitar que o Samaris fosse para a rua (já tinha amarelo e a intensidade dos mergulhos, cambalhotas e gritaria dos jogadores do Setúbal de cada vez que o Samaris se aproximava deles dava para perceber que queriam a todo o custo provocar a sua expulsão) voltámos a ter uma grande ocasião para golo, e desta vez foi o guarda-redes a corresponder a um remate do Grimaldo com uma grande defesa. Depois foi um cabeceamento do Dyego Sousa que saiu à figura do guarda-redes quando a situação exigia melhor finalização. Mesmo a jogar mal o Benfica produziu ocasiões mais do que suficientes para vencer este jogo, mas quando as coisas não estão bem e a confiança não abunda, acaba por correr tudo mal.


Não consigo fazer destaques. A primeira parte foi tão confrangedora que não me sai da cabeça. Não se pode dizer que algum jogador tenha actuado sequer a um nível minimamente próximo da sua valia. O Pizzi voltou a ser um desastre. Compreendo que as coisas não saiam bem, mas tenho muita dificuldade em aceitar desânimo. Não gosto de ver jogadores a recuar a passo ou de cabeça caída, e muito menos quando envergam a braçadeira de capitão - o capitão deve liderar como exemplo, ser uma voz de comando, motivar e empurrar a equipa para a frente. Não vi nada disso no Pizzi. Fazer uma gracinha de vez em quando não serve para apagar 80 minutos apagadíssimos. Ponham a braçadeira no Rúben Dias, por favor.

Foram dois jogos seguidos que deveríamos ter ganho e empatámos, e que caso tivéssemos ganho nos deixariam agora no comando com três pontos de vantagem sobre o segundo. O sentimento de desperdício é absolutamente frustrante. Esta equipa pode e sabe fazer muito melhor, como nos mostrou durante um ano inteiro. Não há explicação lógica para tamanha descrença e quebra de qualidade e produtividade no futebol jogado.

terça-feira, março 03, 2020

Desperdício

E pronto, está consumado o desperdício completo da vantagem confortável que tínhamos conseguido construir no topo da tabela. Oito pontos perdidos em apenas quatro jogos significaram a literal entrega do ouro aos bandidos, depois de mais um jogo em que repetimos os equívocos que já se vão tornando um hábito.


Começámos o jogo com o mesmo onze que venceu em Barcelos na última jornada. Uma dupla de médios de maior contenção no Samaris e no Weigl, mas neste jogo o alemão apareceu mais frequentemente em zonas um pouco mais adiantadas, ficando o Samaris mais recuado. O Benfica tomou conta do jogo desde o apito inicial, com o Moreirense a responder apenas em contra-ataques muito esporádicos, mas que ainda assim deram para criar uma ocasião de perigo, resolvida pelo Vlachodimos. Achei que mais uma vez voltámos a mostrar falta de agressividade na reacção à perda da bola, sendo frequentes as situações em que o jogador adversário, depois de recuperada a bola, conseguia progredir quarenta ou cinquenta metros sem que nenhum jogador do Benfica lha caísse em cima ou apertasse. Para isto contribui bastante a falta de apetência dos nossos alas para defender quando perdemos a bola, em especial do Pizzi, que eu vejo repetidas vezes a recuperar a passo. Mas o Benfica esteve claramente por cima durante toda a primeira parte e conseguiu criar diversas oportunidades para marcar, que foi desperdiçando ou por má finalização, ou por infelicidade, ou por mérito da defesa e guarda-redes adversários, que se acantonavam na sua área e iam barrando os caminhos para a baliza. Hoje aliás voltámos a ver um Benfica muito mais rematador, algo que tinha andado ausente dos últimos jogos. Taarabt, Pizzi, Rafa, Samaris e até o Rúben Dias, que apareceu a apoiar o ataque como se fosse um avançado ou extremo, tiveram ocasiões que podiam e deveriam ter acabado em golo, com a bola em algumas dessas ocasiões a passar a centímetros da baliza. Como vem sendo habitual, Taarabt e Rúben Dias eram dos principais impulsionadores da equipa, com o Tomás Tavares demasiado encolhido e a evitar aventurar-se no ataque, preferindo jogar quase sempre pelo seguro - já agora, os assobios por parte do público a um jogador que, não estando a jogar com confiança, opta por não arriscar certamente que não serão uma ajuda para lhe recuperar a confiança.


Isto alterou-se logo no início da segunda parte. O Benfica continuou bastante por cima do adversário - aliás, ainda mais por cima, porque conseguiu aumentar o ritmo do jogo. Imagino que alguma coisa terá sido dita ao Tomás Tavares, porque ele apareceu muito mais adiantado e os resultados foram imediatos. Um passe longo a solicitar a sua entrada acabou num penálti assinalado a nosso favor quando o seu cruzamento foi cortado pelo braço de um jogador do Moreirense. Chamado à conversão, o Pizzi fez o guarda-redes cair para um lado e atirou para o outro... ao lado da baliza. Quase na jogada seguinte, novo passe longo do Samaris a abrir no Tomás Tavares na direita, cruzamento perfeito para a boca da baliza, e de alguma forma o Pizzi conseguiu não marcar golo e acertar de forma atabalhoada na bola de forma a enviá-la ao poste. Depois o Rafa aproveitou a atrapalhação entre um defesa e o guarda-redes do Moreirense e fez golo, mas o VAR assinalou um toque do Pizzi com a mão e o golo foi invalidado. Obviamente que estes dois lances terão contribuído para aumentar o nervosismo de uma equipa que está numa sequência má de resultados e que via o tempo passar sem que o golo chegasse, apesar de estar claramente a dominar o jogo. Nestas situações o meu nervosismo aumenta também porque acho que é imperioso conseguirmos marcar antes que o treinador decida mexer na equipa. É que nos últimos tempos é mais que certo que a primeira alteração é sempre para meter mais um avançado. Desta vez não havia o Seferovic (lesionado) mas havia o Dyego Sousa (eu ainda estou a tentar perceber qual a utilidade desta contratação). Vejamos: o Benfica está claramente em cima do adversário, está a construir ocasiões de golo umas a seguir às outras, temos pelo menos mais meia hora para jogar. Qual a necessidade de fazer alterações tácticas? Se fosse trocar um jogador por outro para refrescar a equipa, acharia normal. Mas ao trocar o Weigl pelo pinheiro Sousa o equilíbrio da equipa foi destruído. O Samaris a descair mais sobre a esquerda e o Weigl sobre a direita iam dando o equilíbrio necessário a uma equipa cujos alas não defendiam. Não foi coincidência que apenas minutos depois desta alteração, e praticamente na primeira vez que o Moreirense passou do meio campo na segunda parte, tivesse chegado ao golo. Vejam, se puderem, a repetição do lance. O lateral esquerdo do Moreirense arranca ainda antes do meio campo e o Pizzi fica literalmente a marcá-lo com os olhos, sem reacção. Depois foi fazer um 2x1 fácil sobre um desprotegido Tomás Tavares, cruzamento e golo. A partir daqui todos percebemos que seria muito difícil darmos a volta à situação. Não critico muito os jogadores, que bem ou mal continuaram a dar tudo para chegar ao golo, mas o Moreirense fechou-se ainda mais atrás e a tendência do Benfica era agora tentar cruzamentos que eram na maioria das vezes facilmente afastados. A troca do Rafa pelo Cervi foi positiva e dinamizou a ala esquerda, mas a troca do Taarabt pelo Jota foi difícil de perceber. Até percebo a lógica de colocar o Jota em campo, já que a estratégia passava por cruzar bolas para a área, mas retirar um dos principais dinamizadores do jogo e deixar o Pizzi em sub-rendimento até final para mim não fez sentido. Um penálti sobre o Cervi ainda nos permitiu chegar ao empate pelo Pizzi, na recarga depois de ter voltado a falhar o penálti, mas já não deu para mais e acabámos assim por entregar a liderança num jogo em casa contra o Moreirense.


Rúben Dias, Taarabt ou Samaris foram os que estiveram em maior evidência. O Cervi entrou bem no jogo e acho que não se justifica que tenha perdido a titularidade. O Pizzi esteve desastroso neste jogo. Não vou fazer dele o vilão, até porque já perdi a conta ao número de vezes em que foi ele a resolver jogos a nosso favor. Mas o Pizzi atravessa uma fase de claro sub-rendimento e dar-lhe lugar cativo na equipa ou mantê-lo em campo o jogo todo, ainda por cima quando ele parecia claramente afectado pelo penálti falhado, é na minha opinião um erro.

Estamos agora na situação em que ninguém quer estar: dependentes de terceiros. A culpa é exclusivamente nossa. Não podemos estar sempre a repetir erros e a fazer as coisas exactamente da mesma maneira à espera de resultados diferentes. Não é assim que conseguiremos dar a volta a esta situação.

sexta-feira, fevereiro 28, 2020

Macia

Empatámos a três com o Shakhtar e ficámos pelo caminho. Uma eliminação europeia que se fica a dever em muito à forma quase anedótica como a nossa equipa defendeu. Nem é um apontar de dedo exclusivo à defesa, mas sim à equipa num todo, porque é como equipa que se defende. E quando uma equipa defende de forma assim tão macia, torna-se demasiado fácil marcar-lhe golos.



Dyego Sousa e Chiquinho no onze, Vinícius no banco e Samaris na bancada. A entrada do Benfica no jogo foi excelente. Arrisco mesmo dizer que devem ter sido os melhores dez minutos que vi o Benfica fazer nos últimos dois meses. E o desfecho lógico disso foi o golo que nos colocava desde logo no comando da eliminatória. Uma iniciativa individual muito boa do Pizzi, a partir da esquerda para o meio e finalizada com um remate cruzado para o poste mais distante. Infelizmente nem deu para saborear a situação de vantagem, porque praticamente de seguida o Shakhtar marcou, naquela que deve ter sido a primeira vez que passou efectivamente do meio campo. Tudo simples: passe longo para a esquerda, Rafa inadmiss´ivelmentemente nas covas a não acompanhar a subida do lateral, e na tentativa de evitar a finalização ao adversário que surgiu no centro da área para dar seguimento ao cruzamento pareceu-me que o Rúben Dias acabou por marcar na própria baliza. O Shakhtar voltava à vantagem na eliminatória com zero remates feitos. O Benfica abanou e não voltou à exuberância daqueles primeiros minutos, mas continuou por cima no jogo. Havia no entanto aquela sensação de permanente insegurança, porque bastava o adversário aproximar-se um pouco da nossa baliza (algo que pouco fizeram na primeira parte) para pressentirmos o perigo: bastou um balão metido à toa para dentro da área para que o Grimaldo mais uma vez ficasse muito mal na fotografia, permitisse a antecipação de um adversário quando tinha o lance perfeitamente controlado, e a bola acabasse por ainda bater no poste. Mas o que jogámos justificava a vantagem, e esta chegou num cabeceamento do Rúben Dias depois de um pontapé de canto marcado pelo Pizzi. Saída para intervalo com a eliminatória empatada e sabendo que bastaria marcar um golo para passarmos.


Nem foi preciso esperar muito na segunda parte para que isso acontecesse. Logo nos primeiros minutos uma pressão mais agressiva sobre a defesa ucraniana resultou num mau passe para o guarda-redes (aliás a defesa ucraniana tremia frequentemente sempre que o Benfica fazia isto) que foi interceptado pelo Dyego Sousa para depois deixar a bola para o Rafa fazer um remate à entrada da área a levar a bola a entrar bem junto ao ângulo superior. Um grande golo, e o Benfica novamente em vantagem na eliminatória. E mais uma vez, nem deu para apreciar devidamente esse momento ou corrigir o que quer que fosse de forma a segurar essa vantagem. Porque foi literalmente bola a meio campo, pontapé de canto, golo. Uma entrada de um médio vindo de trás que não foi devidamente acompanhada e cabeceamento fácil para o golo. Em três situações, o Shakhtar marcou dois golos. Assim é quase impossível ganhar o que quer que seja. E aqui achei que apesar de precisarmos apenas de mais um golo para voltar à situação de vantagem, perdemos definitivamente a eliminatória. O Shakhtar começou a gerir a posse de bola de forma muito mais cautelosa, e veio ao de cima aquele que me parece ser um dos problemas mais evidentes do Benfica actualmente, que se agravou com a ausência do Gabriel: uma gritante falta de agressividade. Quase não há jogadores que metam o pé, que encostem nos adversários, que façam mesmo falta se tal for necessário. A marcação é quase sempre feita à zona. Talvez por isso mesmo haja tanta vontade em ver o Samaris no onze ou a titularidade do Cervi acabe por ganhar mais relevância (duvido que tivessemos sofrido o primeiro golo com ele em campo), já que eles acrescentam algo que está claramente em falta neste momento. E isto é ainda mais notório na reacção à perda da bola. Eu gostaria que quando perdêssemos a bola imediatamente houvesse quem caísse em cima do portador da bola para o impedir de se voltar para a nossa baliza, ter tempo para pensar ou organizar a saída de bola. Em vez disso os nossos jogadores preocupam-se sobretudo em regressar à posição (alguns deles fazem-no inclusivamente a passo) e deixam os adversários demasiado à vontade para jogar. E por isso foi sem surpresa que o Shakhtar chegou ao empate, que acabou com as dúvidas na eliminatória. Da nossa parte houve apenas muita correria sem grande critério, claramente insuficiente para dar a volta à situação.


Para não variar o Taarabt e o Rúben foram dos melhores. O Pizzi esteve melhor do que nos últimos jogos, mas foi desaparecendo na segunda parte. Mal os dois laterais, quase sem um cruzamento feito com sucesso e com deficiências a defender.

A Europa acabou esta época e agora temos que nos voltar para a defesa da liderança no campeonato. Mas será preciso mudar muito, porque a jogar desta forma será muito difícil que não tenhamos dissabores em breve.

terça-feira, fevereiro 25, 2020

Sucesso

Uma vitória complicada num campo onde poucos tinham passado. Não foi uma exibição de encher o olho, mas nesta altura o mais importante era mesmo voltar às vitórias e somar os três pontos.


A principal novidade neste jogo foi o regresso do Samaris à titularidade, o que significou o avançar no terreno do Taarabt para apoiar o Vinícius. Na esquerda, o escolhido foi o Rafa e o Cervi ficou no banco. O Benfica teve uma boa entrada no jogo. O que aliás seria a atitude mais avisada. Depois do cansaço do jogo a meio da semana somado à viagem longa até à Ucrânia e com novo jogo já daqui a três dias, o pior que poderia acontecer seria deixar o nulo arrastar-se durante muito tempo. O Benfica entrou a pressionar alto e a cortar cerce a saída de bola do Gil Vicente, que até ao golo do Benfica praticamente não conseguiu montar uma jogada de ataque. Golo que surgiu relativamente cedo: precisamente quando estava decorrido o primeiro quarto de hora. Depois de um livre a favor do Benfica ser mal marcado na direita pelo Pizzi (para variar) o Taarabt recolheu a segunda bola do outro lado do campo e junto à esquina da área fez um cruzamento perfeito que levou a bola a encontrar o Vinícius completamente sozinho bem no centro da área. O cruzamento foi tão bem feito que o Vinícius até conseguiu marcar de cabeça, quase nem precisando sequer de saltar. Foi muito importante termos marcado primeiro e ainda numa fase inicial do jogo. Face ao momento da equipa, o arrastar do nulo ou, pior ainda, um eventual golo inaugural por parte do adversário poderiam ter consequências desastrosas. Depois de obtida a vantagem, houve uma natural reacção por parte do Gil Vicente, que começou a conseguir finalmente surgir no ataque com perigo, mas o Benfica ia sempre respondendo e ameaçando chegar ao segundo. Aliás, chegou mesmo, mas este foi anulado porque a equipa de arbitragem considerou que o Vinícius, em posição irregular no início da jogada, terá tido influência na mesma. É discutível mas posso aceitar, embora consiga imaginar o que se escreveria se o lance fosse ao contrário. Já tenho muito mais dificuldades em aceitar que não se tenha assinalado penálti por um corte com a mão a um cruzamento feito em esforço pelo Grimaldo. Depois do penálti absurdo marcado contra nós no Estádio do Ladrão não há nenhuma justificação que me possam dar para que isto não tenha sido penálti. No Benfica notou-se uma clara preocupação do Samaris em ajudar a fechar o lado esquerdo, já que seria previsível que o Gil Vicente tentaria explorá-lo. E quando o nosso adversário conseguia rematar à baliza, o Vlachodimos esteve sempre em bom plano. Perto do intervalo o Vinícius esteve muito perto de fazer o segundo golo depois de uma incursão do Rúben Dias como autêntico extremo direito.


Na segunda parte a palavra de ordem foi segurar o resultado. Não sei se houve fadiga do jogo anterior ou gestão de esforço a pensar no próximo jogo, mas recuámos as linhas e arriscámos muito menos no ataque - apesar de termos tido uma grande ocasião logo a abrir o segundo tempo, mas o Vinícius primeiro controlou mal a bola, e depois o remate que ainda conseguiu fazer desviou num defesa e passou ligeiramente ao lado. Ao contrário do que vem sendo habitual, as maiores preocupações acabaram por surgir não na esquerda mas na direita, onde o Tomás Tavares revelou dificuldades para estancar as iniciativas do Gil Vicente, tendo até cometido alguns erros básicos que resultaram em situações complicadas. O Gil Vicente conseguiu equilibrar um pouco as contas no que à posse de bola diz respeito e foi muito mais rematador, embora a grande maioria desses remates não tenham levado grande perigo à nossa baliza. A situação mais perigosa foi um remate do recém entrado Hugo Vieira, que apareceu solto sobre a direita e rematou à figura do Vlachodimos (depois do Tomás Tavares ter perdido o duelo aéreo junto à linha final). No Benfica, o momento alto foi uma jogada individual do Taarabt, que dentro da área recebeu um passe longo no peito, com o pé direito tirou o defesa do lance, e com o esquerdo rematou de primeira e fez a bola acertar com estrondo na barra. Teria sido um golo olímpico. Só nos dez minutos finais é que o Bruno Lage mexeu na equipa, tendo feito trocas quase directas: Vinícius por Dyego, Rafa por Cervi e Samaris por Chiquinho (o Taarabt recuou para o meio campo). A equipa até ganhou algum fôlego com as alterações e na fase final do jogo conseguiu manter o Gil Vicente longe da nossa baliza sem grande dificuldade (nem sei se o Gil Vicente voltou a conseguir rematar) tendo até construído uma boa oportunidade para sentenciar o jogo, que o Cervi não conseguiu concretizar.


Para melhores no Benfica escolheria o Vlachodimos e o Rúben Dias. Têm sido dos jogadores em melhor nível durante esta fase mais titubeante da nossa equipa, e hoje não fugiram à regra. O Taarabt não esteve mal, mas por motivos óbvios a jogar nesta posição mais avançada perdeu protagonismo, já que não intervém tanto no jogo. O Samaris foi útil a ajudar a fechar aquele espaço entre o Grimaldo e o Ferro, mas esteve muito mal no passe. Pizzi e Rafa continuam abaixo daquilo que precisamos, e o Tomás Tavares foi o jogador que maiores dificuldades revelou durante todo o jogo. Foram demasiados duelos individuais perdidos (também é verdade que foi muitas vezes deixado em situações de 1x1) e somou a isso erros graves, como um passe atrasado péssimo que quase deixou um adversário isolado, ou perdas de bola infantis.

Era um campo complicado e um jogo que muitos tinham esperança que desse continuidade à senda de maus resultados que atravessamos. Por isso mesmo era importantíssimo ganhar, mesmo que fosse a jogar mal - era mesmo uma situação em que tínhamos primeiro e acima de tudo que jogar para o resultado. Sob esse ponto de vista, este jogo foi um sucesso. Claro que teria preferido uma exibição convincente e uma vitória por uma margem folgada, mas nesta fase eu aceito tudo o que for um passo na direcção desejada. Agora é preciso aproveitar para reforçar os níveis de confiança da equipa e dar sequência à vitória. Esgotámos toda a margem de manobra que tínhamos, por isso agora teremos que andar sempre no fio da navalha.

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

Lisonjeiro

Face ao que jogámos, a derrota por 2-1 na Ucrânia acaba por ser um bom resultado, que permite trazer a discussão da eliminatória para a Luz na próxima quinta-feira. Mas será necessário melhorar muito se queremos ter qualquer possibilidade de passar.


Para este jogo as mudanças passaram pelas entradas do Seferovic e do Chiquinho no onze para os lugares do Vinícius e do Rafa. Uma pequena novidade táctica na colocação do Chiquinho sobre a direita, com o Pizzi no apoio directo ao avançado - o que na prática significou não termos ataque, porque à ineficácia e indiferença do Seferovic juntou-se um Pizzi que vem jogando quase sempre a passo e a complicar tudo. O Florentino também regressou, mas isso era uma inevitabilidade face à suspensão do Weigl. De uma forma geral, as melhorias exibicionais que se viram no jogo contra o Braga (apesar da derrota) desapareceram todas neste jogo. Estamos no meio de um ciclo pobre em termos de futebol jogado, e o jogo de hoje esteve ao nível dos piores que temos feito. Defendemos pessimamente e atacámos ainda pior. Ainda mantivemos uma certa solidez durante a primeira meia hora de jogo, mas depois começámos a meter água por todos os lados. Um fora de jogo no limite evitou o golo do Shakthar ainda na primeira parte, depois de um erro clamoroso do Florentino, mas nessa altura já o Shakhtar ia conseguindo criar diversas ocasiões de perigo. E a tendência não só se confirmou como ainda se acentuou no regresso para a segunda parte. Até ao ponto em que nem o Vlachodimos ou o poste conseguiram impedir o inevitável golo ucraniano, num remate rasteiro muito colocado ainda de fora da área. Tivemos a felicidade de pouco depois chegar ao empate e ao importante golo fora de casa, porque a reacção ao golo sofrido até foi positiva. Uma boa iniciativa do Tomás Tavares permitiu-lhe marcar à boca da baliza depois de uma insistência do Cervi, mas o VAR anulou o golo para assinalar penálti sobre o Cervi, que o Pizzi converteu. Era um resultado muito bom e muito lisonjeiro também. Mas depressa voltámos a entregar o ouro ao bandido com mais um erro defensivo inacreditável. O Rúben Dias, quando tentava proteger a saída de bola pela linha final, deixou-se desarmar e o passe atrasado que se seguiu permitiu uma finalização fácil. Na fase final, já com o Vinícius e o Rafa em campo, ainda tentámos acelerar um pouco o jogo e pressionar mais, mas sem quaisquer efeitos práticos.

Para não variar, em termos individuais safa-se o Vlachodimos. Não fosse ele e regressaríamos a Lisboa com muito poucas hipóteses de discutir a passagem. O Taarabt voltou também a ser dos poucos a conseguir dar alguns safanões no jogo ofensivo da equipa, mas em contraponto cometeu diversas falhas no aspecto defensivo. A defesa no geral esteve péssima. Pela direita o Ismaily passou vezes sem conta pelo Tomás Tavares, o Rúben ofereceu um golo, o Ferro voltou a cometer vários erros e o Florentino esteve pavoroso. Na frente, já não há palavras para classificar o Seferovic. É um jogador completamente descrente, que não ataca uma bola, não tenta antecipar um lance e simplesmente limita-se a esconder-se atrás dos defesas na esperança que de alguma forma ele deixe passar a bola. O Pizzi está claramente muito abaixo de forma e complica mais do que ajuda - por mais de uma vez tivemos lances de ataque que morreram nos seus pés quando se exigia dar muito melhor continuidade aos mesmos.

Não consigo prever qual o nosso futuro nesta eliminatória. Se jogarmos aquilo que sabemos e já mostrámos esta época, passamos facilmente. Se mantivermos o mesmo registo dos últimos jogos, seremos inevitavelmente eliminados. O que me preocupa mais é que este jogo não mostrou grande evolução ou sinais de que podemos deitar para trás das costas a fase menos positiva. É urgente regressar às vitórias o quanto antes.

domingo, fevereiro 16, 2020

Incompetência

Continuamos a sequência de exibições menos conseguidas e perdemos pela segunda vez consecutiva na liga, algo que não acontecia há largos meses. Foi uma derrota algo absurda, apenas possível pela conjugação de muita incompetência em diversos aspectos.


Nada de assinalável no onze apresentado: foi o esperado, no qual o Weigl regressou à titularidade e o Florentino regressou à bancada. Jogámos no esquema táctico habitual frente a um Braga que se apresentou com três defesas centrais e dois laterais projectados para o ataque,  que se dispunha em 3-4-3 quando em posse. Com excepção do guarda-redes e de um dos centrais, o execrável Raúl Silva (não é de ontem, detesto este tipo desde os tempos do Marítimo) que se dedicaram a perder tempo desde o apito inicial, a atitude do Braga foi tentar jogar o jogo pelo jogo. Tentavam sempre sair a jogar, o que acabou por lhes provocar vários calafrios sempre que o Benfica conseguia fazer a pressão de forma exigida. Infelizmente, cedo se começou também a perceber que estávamos em dia não no que à finalização diz respeito. O Rafa deu o sinal inicial quando, depois de recuperar bem uma bola depois de pressionar um defesa, ficou isolado e nem sequer conseguiu acertar na baliza. Foi só uma situação, à qual se seguiram outras do Cervi, do Pizzi, e sobretudo do Vinícius, que ontem esteve absolutamente desastrado na finalização - e não só isso, como parece andar a aprender com o Seferovic a deixar-se apanhar quase sempre em posição irregular. O golo que ele falha quando depois de um centro do Pizzi apareceu completamente sozinho em frente à baliza, nem sendo necessário tirar os pés do chão para cabecear, é inacreditável. O Braga, pese a tentativa de jogar e atacar, na verdade só conseguia chegar perto da baliza do Benfica de uma forma: qualquer livre conquistado no meio campo do Benfica era despejado para a área. Em bola corrida o Benfica até conseguiu controlar de forma bastante eficaz o Braga, inclusivamente quando tentavam entrar pelo nosso lado esquerdo - e foram diversas as tentativas de solicitação de entradas do Esgaio por aquele lado. Infelizmente para nós, já em tempo de descontos, lá arrancaram mais um livre ameio do nosso meio campo e depois do Vlachodimos ter salvo o golo com uma grande defesa, no canto que se seguiu nada conseguiu fazer perante um cabeceamento à queima-roupa do Palhinha, que surgiu solto entre os nossos centrais. Uma falha de marcação imperdoável.


Neste momento o meu raciocínio quando o Benfica chega ao intervalo de um jogo em desvantagem é sempre o mesmo: que consigamos marcar antes que o Seferovic entre. Nem é só pelo Seferovic em si - embora o absoluto desastre que ele tem sido esta época já seja suficientemente desmotivante - é sobretudo pelas mudanças tácticas que essa substituição acarreta. E normalmente, quando nada resulta dessa substituição (o que é o mais normal) depois vamo-nos enterrando cada vez mais à medida que novas alterações vão sendo feitas. O Benfica até começou bem a segunda parte, com o Vinícius a acertar no poste logo nos primeiros minutos. O jogo foi decorrendo com o Benfica naturalmente mais em cima do Braga, e poucos minutos depois vimos o Rafa a isolar-se em direcção à baliza, descaído sobre a direita. Com imenso tempo para decidir o que fazer, hesitou, hesitou, e acabou por preferir tentar um passe para o Vinícius no meio, que foi facilmente interceptado. Parece-me que o facto de não ter tentado finalizar será um reflexo da falta de confianção. Depois disto, começou o disparate que eu temia. Entrada do Seferovic, saída do Cervi, o nosso lado esquerdo desapareceu e a partir daqui foi sempre a descer. A única ocasião de real perigo que conseguimos criar foi uma iniciativa individual do Pizzi, que foi ultrapassando vários adversários pela zona frontal da área até rematar de pé esquerdo para um grande defesa do guarda-redes. Houve ainda outra situação em que o Pizzi se isolou pelo meio, e pressionado por um defesa tentou ultrapassar o guarda-redes em vez de rematar, acabando o lance por se perder. O Braga também criou uma grande ocasião, mas felizmente o remate do Ricardo Horta saiu quase à figura do Vlachodimos, que defendeu por instinto. Depois fizemos entrar o Chiquinho para o lugar do Weigl, o que na prática significou fazer o único jogador que estava a ser capaz de acelerar e causar desequilíbrios (Taarabt) recuar para junto dos centrais e assim afastá-lo da zona de decisão. Finalmente, para os minutos finais, o golpe fatal, que foi exactamente igual ao do Dragão: fazer entrar o Dyego Sousa. Gosto muito do Lage, acho que percebe de futebol a rodos e certamente muito mais do que eu, mas por mais voltas que dê à cabeça não consigo perceber esta opção dos três avançados. Ainda por cima duas vezes seguidas. É que depois não só deixamos de construir o que quer que seja como nem sequer conseguimos fazer a bola chegar à área através de futebol directo - tenho sérias dúvidas que o Dyego tenha sequer chegado a tocar na bola. Por isso o apito final chegou sem sobressaltos e voaram três pontos, dando oportunidade para o Raúl Silva ter mais uma atitude de desrespeito para com o Benfica, acabando expulso já depois do fim do jogo.


No Benfica acho que posso destacar o Vlachodimos, que não teve quase trabalho nenhum, mas no pouco que teve fez duas grandes defesas e nada podia fazer no golo. Também o Taarabt voltou a ser dos jogadores com nota positiva. O Tomás Tavares estava em crescendo quando saiu da equipa, e neste jogo pareceu ter revertido ao estado inicial, quase incapaz de ter qualquer tipo de contribuição na manobra ofensiva da equipa. O Pizzi claramente precisa de descanso. Está num momento muito mau - basta atentar que das primeiras três ou quatro vezes em que tocou na bola no jogo acabou por perdê-la para o adversário - mas como num momento fugaz pode sempre decidir, acaba por ter lugar cativo. O Rafa também está claramente longe do melhor. E agora até o Vinícius parece estar longe do ideal em termos físicos, para além de ter desperdiçado ocasiões que não são nada habituais nele. Basta ver que de cada vez que perdíamos uma bola no ataque este trio (Rafa, Pizzi e Vinícius) deixavam-se lá ficar e recuavam a passo, o que era logo meio caminho andado para que algum deles voltasse a ser apanhado em posição irregular.

Estamos a atravessar a pior fase da era Lage. Parece-me que a equipa está em défice físico e também numa crise de confiança. A exibição na primeira parte até nem foi das piores, mas quem falha tanto no ataque num jogo destes acaba inevitavelmente por sofrer as consequências, e uma vez em desvantagem a falta de confiança vem ao de cima e torna tudo pior. Uma vez mais voltamos a fazer aquilo em que parecemos ser especialistas: dar vida e confiança a um adversário que estava quase de rastos. Fazer as coisas da maneira mais fácil não é para nós. Espero bem que saibam dar a volta a esta situação rapidamente, porque agora a margem de manobra acabou.

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Sofrimento

E pronto, lá conseguimos chegar à final da Taça de Portugal. Foi à custa de transpiração e mais uma exibição pouco conseguida, que nos obrigou a todos ao sofrimento enquanto esperávamos pelo apito final.


Algumas alterações num regresso a um onze mais rotinado, com o Cervi de volta e apenas com a surpresa da titularidade do Florentino em vez do Weigl - a presença do Tomás Tavares era uma certeza face à lesão do André Almeida. A primeira parte nem foi má de todo. Achei que jogámos como era necessário jogar. Estávamos em vantagem e não havia necessidade de nos lançarmos numa correria desenfreada à procura do golo, mas tivemos quase sempre maior iniciativa no jogo e conseguimos gerir aceitavelmente a posse da bola. O Famalicão ameaçava em contra-ataques, sem surpresa nenhuma quase sempre pelo nosso lado esquerdo, onde o nosso Diogo Gonçalves fazia a cabeça em água à nossa defesa. O Ferro jogou vários anos ao lado dele, o Grimaldo treinou com ele no ano em que o Diogo fez parte do plantel principal, e já deveriam conhecê-lo o suficiente para não serem sistematicamente ultrapassados. O Benfica por mais de uma vez desperdiçou lances de contra-ataque de dois para dois ou até mesmo de dois para um porque o passe final foi sempre mal feito: ou saía demasiado curto, ou demasiado longo. Mas aos vinte e quatro minutos fizemos o mais importante, que era marcar primeiro - se tivesse sido o Famalicão a fazê-lo ficariam imediatamente em vantagem na eliminatória e não sei se o Benfica teria capacidade para inverter a situação. Mérito maior para o Cervi, que acreditou num cruzamento de recurso feito pelo Vinícius na esquerda, já quase sobre a linha final. O Cervi conseguiu, quase em cima do guarda-redes, tocar a bola de calcanhar para trás e o Pizzi atirou para a baliza desprotegida. Parabéns também à magnífica realização da SportTV, que conseguiu repetir o lance várias vezes a partir de uma câmara que insinuava que poderia ter havido falta do Vinícius no início da jogada (só mostrava o Vinícius a meter o pé e depois cortava o resto) - aliás, a realização foi notoriamente tendenciosa, não se cansando de repetir lances inócuos na esperança de inventar polémica. Em vantagem, foi tempo para o Vlachodimos brilhar, impedindo por duas vezes o empate. Sempre pelo lado esquerdo. Primeiro foi o Martínez que roubou a bola ao Ferro, isolou-se, e o Vlachodimos fez uma defesa milagrosa com o pé. Depois foi o Diogo Gonçalves que pegou na bola, passou por todos os que lhe saíram ao caminho (Grimaldo, Ferro, Florentino), foi por ali fora isolado, e mais uma vez o nosso guarda-redes levou a melhor. Já no período de descontos o Famalicão introduziu mesmo a bola na baliza no seguimento de um livre indirecto. O lance acabou anulado por posição irregular e ainda bem, porque duvido que quer a queda do Rúben, quer o choque com o Vlachodimos nesse lance tivessem sido considerados falta. A anulação do golo levou ao desespero muito morcão que claramente infestava as bancadas em Famalicão.


O pior deste jogo foi mesmo a nossa segunda parte. É difícil explicar o que aconteceu. Nós simplesmente recuámos as linhas para junto da área e literalmente desaparecemos no ataque. Entregámos completamente a iniciativa de jogo ao Famalicão, e dedicámo-nos a defender a vantagem, mesmo sabendo perfeitamente que um golo do Famalicão relançaria completamente a eliminatória. É que isto foi assim praticamente desde o apito para o recomeço, com o Vlachodimos a ser novamente obrigado a negar o golo ao inevitável Diogo Gonçalves. O mal menor era que, à excepção das entradas do Diogo Gonçalves pela esquerda, o Famalicão raramente conseguia submeter-nos a uma pressão intensa: jogávamos com as linhas mais encostadas à área mas o ritmo de jogo nem era particularmente intenso e o Famalicão não conseguia penetrar, e assim era obrigado a recorrer aos remates de fora da área. Felizmente que esses nunca levaram a direcção da baliza, mas foram vários aqueles que não passaram muito longe. A meio da segunda parte o Chiquinho rendeu o apagadíssimo Rafa e trouxe um bocadinho mais de animação. A única resposta digna desse nome do Benfica foi um contra-ataque conduzido pelo Vinícius, uma vez mais na situação de dois para um. A bola foi passada para o Pizzi, que à entrada da área se atrapalhou com ela e o lance perdeu-se. Depois aconteceu o que se temia: a doze minutos do final o Famalicão chegou mesmo ao empate. Já não será surpresa nenhuma dizer que o lance surgiu pela esquerda. Passe para o Diogo Gonçalves, que passou pelo Grimaldo como se ele nem lá estivesse e depois fez o cruzamento rasteiro para o Martínez se antecipar aos nossos centrais e marcar já dentro da pequena área. Esperava agora um sofrimento ainda maior, mas felizmente para nós o Famalicão não conseguiu criar mais nenhuma ocasião de perigo e continuou apenas a recorrer às tentativas de remates de fora da área para chegar à nossa baliza. O Benfica já tinha feito o Samaris entrar para o lugar do Cervi nos minutos finais, e já nos descontos trocou o Vinícius pelo Seferovic. Uma substituição para queimar tempo, mas mesmo assim o suíço ainda conseguiu dar mais uma demonstração do momento deplorável que atravessa, ao desperdiçar uma ocasião flagrante para acabar de vez com as dúvidas. Depois de uma jogada de insistência do Chiquinho, este deixou a bola para o Seferovic ficar completamente sozinho em frente ao guarda-redes. O Seferovic rematou de pé direito ao lado da baliza, numa atitude que quase pareceu displicente. Não sei se ele anda amuado por ter perdido a titularidade, mas não é assim que a vai conseguir reconquistar. Acabou por ser um ponto final a condizer com a qualidade de jogo que apresentámos na segunda parte.


Melhor do Benfica, obviamente o Vlachodimos. E tal como na primeira mão, o nosso melhor jogador de campo foi o Diogo Gonçalves, que estava do outro lado. Depois daquilo que o vi fazer nos dois jogos contra nós terei alguma dificuldade em perceber se não lhe for dada uma oportunidade para pelo menos fazer a próxima pré-época. Sobretudo quando sabemos que nos faltam alternativas ao Pizzi na direita. Uma menção também para o Rúben Dias, que devia servir sempre de exemplo pela atitude com que se entrega a cada jogo. Pode não ter braçadeira, mas tem a atitude de um líder. E falta de atitude também é algo de que o Cervi não pode ser acusado. Quanto ao resto, há jogadores que neste momento estão a atravessar o pior momento da época. Pouca inspiração, e nalguns casos parece até que estão visivelmente fatigados. Há os casos flagrantes do Grimaldo e do Ferro, mas também o Rafa esteve apagadíssimo e o Pizzi está no mesmo registo há alguns jogos - e é por demais evidente que quando não há Pizzi, há muito pouco Benfica. O próprio Vinícius parece estar muito cansado.

Estamos a atravessar o período mais complicado da época. É imperioso dar a volta a esta situação o mais depressa possível, para que não coloquemos em causa sobretudo o objectivo principal, que é a renovação do título de campeão. Vai ser necessário jogar muito, mas mesmo muito mais do que isto para levarmos de vencida o Braga já no próximo jogo. Quanto à Taça, e um previsível encontro com o Porto na final, prevejo já o habitual circo para que a final não se jogue lá, e depois um novo embate contra o Artur Pasteleiro ou então, como prémio especial de fim de carreira, uma despedida em grande do Xistra.