domingo, outubro 30, 2005

Inglório

Desperdiçámos ontem dois pontos contra a Naval, após um resultado que acabou por ser inglório face à forma como os nossos jogadores se bateram durante a partida, disputada sob condições muito adversas.

Devo dizer que logo de início não estava muito confiante para este jogo. Primeiro devido à ausência do Simão (já mal me lembrava do que era um jogo do Benfica sem ele em campo). Depois devido ao estado do relvado, encharcado e muito pesado, o que à partida prejudica sempre a equipa a quem deve pertencer a iniciativa do jogo, e que com certeza iria afectar o nosso estilo de jogo habitual, com muita circulação de bola pelo chão. Na ausência dos habituais extremos titulares, o nosso treinador optou por colocar o João Pereira na direita, e o Ricardo Rocha como lateral esquerdo, avançando o Léo para o meio campo. Em termos práticos isto resultava no mesmo esquema táctico do costume. Mas como o João Pereira, ao contrário do Geovanni, tem muito mais tendência a jogar junto à linha em vez de fugir para o centro, o Nélson contou com muito mais apoio pelo seu flanco do que é habitual. Na posição de apoio ao Nuno Gomes, o escolhido voltou a ser o Karyaka, ficando o Karagounis no banco. Dadas as condições do terreno, e a deficiente condição física do grego, pareceu-me uma boa opção. É que o jogo da próxima quarta-feira é muito importante.

Apesar das más condições do campo, o Benfica assumiu com facilidade as despesas do jogo, conseguindo manter a bola em seu poder durante largos períodos de tempo. Até porque do outro lado estava um adversário que, apesar de afirmar não ter medo nenhum, não estacionou o autocarro em frente da baliza, estacionou logo um TIR, apostando em tentar de vez em quando o contra-ataque. Oportunidades de golo na primeira parte, quase nem vê-las. Para nós houve uma (ou duas, ambas na mesma jogada), quando na sequência de um livre bem marcado pelo Manuel Fernandes a bola acabou por ser passada ao Anderson, que na linha da pequena área conseguiu o feito de atirar por cima. Por parte da Naval houve um cabeceamento muito perigoso, que passou a centímetros do poste.

Na segunda parte, pareceu-me que a Naval abdicou ainda mais do ataque, remetendo-se quase exclusivamente à manutenção do empate. E o Benfica parecia também não ter grande capacidade para fazer funcionar o marcador. Só que, como tantas vezes acontece no futebol, acabou por sair a sorte grande à equipa que menos fazia para tentar ganhar o jogo. Houve uma perda de bola absolutamente idiota por parte do Petit no meio-campo (que ficou a reclamar falta), e num contra-ataque rápido conduzido pelo lado esquerdo da nossa defesa eles acabaram por chegar ao golo. A repetição do lance mostra que o Fogaça está ligeiramente adiantado em relação à defesa, mas não me choca que o lance tenha sido validado, nem me sinto prejudicado por isso. O fora-de-jogo não é escandaloso, e em caso de dúvida deve favorecer-se a equipa que ataca. O único motivo para mencionar esta situação é porque consigo imaginar o que se diria e escreveria se fôssemos beneficiados num lance idêntico. Como é provável que isto possa acontecer lá mais para a frente, num outro jogo, fica aqui registrada esta situação em que a decisão não foi a nosso favor.

Fiquei muito satisfeito com a forma como o Benfica reagiu ao golo. Sofrer um golo assim, completamente contra a corrente do jogo, e a menos de vinte minutos do fim não é nada fácil. Mas a equipa teve calma, e lançou-se numa pressão fortíssima sobre o adversário, muito mais próxima da área (adoro a forma como este ano somos capazes de exercer uma pressão tão elevada), e com as oportunidades a começarem a aparecer. A Naval nesta altura só tentava sobreviver, e foi divertido ver a cara de desespero do Cajuda no banco, enquanto via a oportunidade dos seus quinze minutos de fama a fugir-lhe entre os dedos (eu até gosto do Cajuda, mas achei toda esta novela entre ele e o Koeman um disparate). O golo do empate surgiu menos de dez minutos depois do golo da Naval, como corolário desta pressão. E foi fabricado pela dupla que já muitas alegrias nos deu esta época: Nélson a assistir, e Nuno Gomes a finalizar, após um bom trabalho dentro da área. E como o Benfica continuou em cima da Naval, acreditei que ainda seria possível chegar à vitória. O Mantorras ainda falhou uma grande oportunidade, viu outra ser-lhe negada por um fora-de-jogo muito, mas mesmo muito mal assinalado, e o Manuel Fernandes desperdiçou um livre perigosíssimo mesmo a acabar o jogo (se lá estivesse o Simão...).

Melhores no Benfica foram o Nélson (que surpresa...), o Nuno Gomes, e o Manuel Fernandes. O João Pereira também esteve bem. Pela negativa, para mim, o Petit (aquela perda de bola não lembra o diabo, e começo a ficar um bocado farto de o ver desperdiçar lances de bola parada), e o Anderson também esteve estranhamente inseguro.

O empate acabou por ser um mal menor, mas foi um resultado inglório dado o esforço que a equipa realizou, e o quão superior demonstrou ser à Naval. Mais uma vez, e apesar da Naval não ter jogado a meio da semana, os nossos jogadores pareceram estar numa grande condição física. Num terreno pesadíssimo, e apesar de terem que assumir as despesas do jogo durante praticamente os noventa minutos, pareceram chegar ao fim muito mais frescos que os nossos adversários, e terminaram o jogo em rotações ainda mais elevadas do que o iniciaram, em pressão constante sobre o adversário. Fico triste pelo resultado, mas ao mesmo tempo satisfeito com aquilo que vi. Tenho poucas dúvidas que o ano passado, nas mesmas condições, teríamos perdido este jogo.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Golo!

Retrocedendo uns passinhos, até ao meu post sobre o Ricardo Gomes, eu menciono um golo que ele marcou que me ficou sempre na memória como um golo espectacular. Pois o S.L.B. resolveu recorrer ao seu já mítico arquivo audiovisual do Glorioso (para quando uma edição em DVD? ;)), e de lá retirou o registro desse mesmo golo, tendo a amabilidade de mo enviar, permitindo-me assim rever imagens que já não via há cerca de quinze anos.

Afinal não estava a romantizar muito o golo. É que ele é mesmo espectacular, e não é todos os dias que se vêem golos destes, particularmente marcados por um defesa central. Assim sendo, e porque recordar é viver (peço desculpa ao HMémnon pelo plágio...), partilho estas imagens com os leitores deste blog, para que possam viajar um bocadinho até ao passado (e já agora, saber do que é que eu falo, porque eu sou um chato e volta e meia lá estou eu a mencionar este golo).


Taça dos Campeões Europeus 1989/90

Dnepr Dnepropetrovsk 0-3 Benfica
Lima(2),
Ricardo

Golo do Ricardo (~5MB)


Normal

Rapaziada, ouçam bem o que vos digo, o Simão é nosso amigo... Simão Sabrosa!


O Benfica conseguiu esta noite seguir em frente na Taça de Portugal, após uma vitória normal e esperada sobre o Leixões, mas que acabou por se revelar um pouco mais difícil de obter do que o previsto. E tudo devido à arte e talento do nosso capitão, que com dois momentos mágicos coloriu o resultado para o nosso lado.

Muitas alterações no onze inicial do Benfica, a apresentar apenas quatro jogadores da equipa titular (Anderson, Léo, Manuel Fernandes e Simão). A disposição táctica era o habitual 4-2-3-1, cabendo ao Karagounis apoiar o ponta-de-lança Mantorras. E em relação a este aspecto particular, apesar de achar que o Karagounis é um óptimo jogador, não creio que ele seja o jogador ideal para assumir estas funções. Isto porque ele é um jogador muito móvel, que recua frequentemente para vir buscar jogo, e assim deixa sempre o ponta-de-lança muito desacompanhado, pois é muito raro o grego aparecer em posição de finalização dentro da área adversária. Conforme já foi dito num comentário feito neste blog há uns dias, o Karyaka parece ser o jogador com melhores características para este posto.

O jogo começou com o Benfica, naturalmente, a assumir uma atitude mais atacante. Primeiro houve uma falha do guarda-redes leixonense que deixou o Mantorras isolado, sendo desarmado in extremis, depois houve uma ameaça do Karagounis com um remate de fora da área que foi correspondido com uma boa defesa, e finalmente veio o primeiro grande golo da noite do Simão. Ele recupera uma bola à frente da grande área, e descaído para a direita faz um remate em jeito que sobrevoa o guarda-redes adversário e resulta num grande golo. Com um golo cedo, e tendo em conta o que fui vendo do Leixões durante os minutos que passavam, fiquei convencido que o jogo não teria grande história, até porque as oportunidades de golo adversárias eram quase inexistentes, e eles quase só se aproximavam da área quando dispunham de livres a meio-campo, que aproveitavam para despejar a bola para as imediações da baliza. Defesas do Rui Nereu, nem vê-las. Só que a cinco minutos do intervalo, o Leixões marcou mesmo, através de um livre em posição lateral. Para mim é um golo com todas as responsabilidades para o Rui Nereu, porque não é admissível um guarda-redes sofrer um golo num remate feito a dois metros da linha de fundo.

Na segunda parte, e sem alterações, o Benfica entrou mal, mas a verdade é que do outro lado, perigo nem vê-lo. É que nem sequer remates para fora eram feitos. O que se viu sim foi uma táctica 'gilvicenteana' de jogadores leixonenses a atirarem-se para o chão de cinco em cinco minutos (cãimbras aos 60 minutos de jogo, ainda por cima sem terem jogado no fim-de-semana? Por amor de Deus!) e a pedirem a entrada da maca. Passada uma hora de jogo, o Koeman resolveu fazer entrar alguma da artilharia pesada que tinha no banco (Karyaka e Nuno Gomes), e o jogo mudou. O Benfica passou a aparecer muito mais perto da área adversária, e o Karyaka dispôs de duas boas oportunidades para marcar, que desperdiçou. Quando o jogo parecia encaminhar-se para prolongamento, o Leixões dispôs daquela que foi praticamente a única oportunidade de golo a sério de toda a partida, após uma perda de bola inadmissível do Anderson. Quase a seguir, o Simão fez magia outra vez e colocou o Benfica na 5ª Eliminatória. Mais uma bola recuperada nas imediações da área, e de bastante longe um remate perfeito, em arco, ao canto superior da baliza leixonense. Game Over.

Acho que o Benfica hoje não esteve bem, e apenas melhorou um pouco com as entradas do Nuno Gomes e do Karyaka. É certo que faltavam vários titulares, mas os que jogaram chegavam e sobravam para vencer este Leixões. Não houve nenhum jogador, para além do Simão, que me tivesse impressionado particularmente. O Beto esteve mal durante a primeira parte, mas subiu de produção durante a segunda. Também me pareceu que o Mantorras esteve mal durante a partida, mas tem como atenuante o facto de ter passado grande parte do tempo muito sozinho lá na frente. Bem, o que interessa é que seguimos em frente, conseguimos poupar uma série de titulares, e ainda assistimos a dois golos soberbos do nosso capitão. O segundo deu-me particular gozo por dois motivos: naquela altura já estava furioso com as fitas dos jogadores do Leixões para queimarem tempo, e sabe-me sempre bem quando uma equipa que entra nesse esquema leva um golo bem perto do final; e o lagartão do meu vizinho já andava a urrar na esperança que o Leixões marcasse um golo, por isso voltou a ficar de cabeça inchada (já deve estar habituado; ultimamente todas as semanas incha duas vezes: quando a equipa dele dá barraca, e quando o Benfica ganha).

terça-feira, outubro 25, 2005

O meu onze ideal (V)

Após um interregno algo prolongado, retomo a escolha daquele que é, para mim, o onze ideal do Benfica, constituído por jogadores que eu tive a oportunidade de ver jogar.

Defesa Central

Ricardo Gomes

No final da época de 1987/88, em que o Toni, pegando na equipa a meio da temporada, e com um grupo de jogadores em geral pouco conhecidos chegou à final da Taça dos Campeões Europeus, os benfiquistas sofreram um rude golpe. Numa manobra traiçoeira, quebrando o pacto de cavalheiros vigente, o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, 'roubou-nos' dois jogadores titulares indiscutíveis, e que tinham sido pedras fundamentais nessa boa campanha europeia: Dito e Rui Águas (também, quem é que estaria à espera que Pinto da Costa respeitasse um acordo de cavalheiros, se ele nunca soube o significado da palavra 'cavalheiro'?).

Mas, tal como parece estar a acontecer hoje no caso Miguel/Nélson, há males que vêm por bem. Do Brasil, mais especificamente do Fluminense, veio o então capitão da selecção brasileira: Ricardo Gomes. Juntando-se ao Mozer, o Benfica passou então a ter a dupla de centrais titular do Escrete. E embora corra o risco de ser acusado de clubite aguda, afirmo sem dúvidas que, para mim, os benfiquistas tiveram durante a época de 1988/89 o privilégio de ver no seu clube a melhor dupla de centrais que alguma vez passou pelo futebol português, e que na altura seria também uma das melhores duplas do futebol mundial. Era uma confiança total aquela que esta dupla me dava em termos defensivos. E depois havia ainda a parte atacante, porque o Ricardo e o Mozer juntos valeram cerca de 20 golos essa época.

O Ricardo Gomes era o meu ídolo. Em termos de admiração, conseguiu até superar a que eu tinha pelo Mozer. Porque vê-lo jogar era ver a mais pura classe em campo. Era um central duro, mas sem ser violento. Inultrapassável no jogo aéreo (para mim era ainda mais forte que o Mozer neste aspecto), parecia fazer tudo com uma calma imperial. Nunca havia aflições, e saía quase sempre a jogar, com a bola bem colada ao pé esquerdo. Nos lances de bola parada, era o terror dos adversários, e marcava golos suficientes para justificar esse medo (julgo que numa das épocas chegou a marcar 13 golos). Sempre que havia um livre ou um canto, eu não tirava os olhos do Ricardo desde que ele chegava à área adversária. Estava sempre à espera de um golo. Tenho mesmo a recordação de ele ter marcado um dos golos mais bonitos que vi, num pontapé acrobático à entrada da área contra o Dnepr Dnepropetrovsk, na segunda mão dos quartos-de-final da Taça dos Campeões (tenho a certeza de que foi um golo espectacular, mas a verdade é que não vejo imagens desse golo há quinze anos, por isso posso estar a romantizar um pouco o lance...).

Foi o primeiro estrangeiro na história a capitanear a equipa do Benfica, e não consigo pensar em mais nenhum que fosse, aos meus olhos, mais digno desse feito. Era um senhor dentro do campo, respeitado por toda a gente. Quando o Artur Jorge foi para o PSG em '91, levou-o, juntamente com o Valdo, mas trouxe-o de volta em 1995/96 para fazer uma última época. Já não era o mesmo Ricardo que eu conhecia, porque tinha perdido muita velocidade, e confesso que me fez alguma pena que esta última época viesse de alguma forma 'estragar' as memórias que eu tinha dele. Não que ele tivesse jogado mal, ou feito uma má época. Até ganhámos a Taça de Portugal nesse ano, mas tudo o que ele fez durante esta última época foi pálido, muito pálido quando comparado com o brilho da sua primeira passagem.

O Ricardo é o meu maior ídolo do Benfica desde que considero que comecei a perceber minimamente o futebol. Em termos de admiração desde que me lembro de ser benfiquista, talvez só seja suplantado pelo Nené, mas esse era uma daquelas admirações quase irracionais de infância (era o tipo que marcava os golos).

Jantar Ep.II

Depois da agradável experiência que foi o primeiro jantar da blogosfera benfiquista, realizado em Junho deste ano, ficou resolvido que deveria haver uma segunda edição do mesmo. Assim sendo, e muito devido à iniciativa do S.L.B., decidimos então realizar esta segunda edição. A data acordada, que parece ser a mais conveniente, é a de 12 de Novembro (um Sábado) às 20h00, e o local o único condigno de uma reunião destas, ou seja, o Estádio da Luz (mais especificamente, a Catedral da Cerveja).

Fica aqui o link para o post que o S.L.B. fez sobre este assunto. Os interessados em participar, e passar um serão em conversa agradável sobre o Benfica e não só, podem contactar o S.L.B. no seguinte endereço electrónico: naosemencioneoexcremento@hotmail.com.

domingo, outubro 23, 2005

Cinco

Apesar de uma exibição não tão conseguida como nos últimos jogos, o Benfica acabou por conseguir a quinta vitória consecutiva no campeonato, graças sobretudo a uma boa segunda parte, e mais dois centros inspirados do Nélson.

Nada de grandes novidades no onze inicial do Benfica; apenas a entrada do Karyaka para o lugar do Karagounis em relação ao que seria o onze mais esperado, e a equipa a dispor-se no 4-2-3-1 habitual, com o Karyaka a apoiar mais directamente o Nuno Gomes. Quanto ao Estrela, apresentou-se num 4-4-2, utilizando dois avançados muito móveis e com muita tendência para cair para as faixas laterais, não se entregando assim à marcação dos nossos centrais. A primeira parte mostrou um Estrela com a lição bem estudada: a equipa a preencher bem os espaços vazios, com os jogadores a actuarem muito próximos uns dos outros, e a pressionarem imediatamente o jogador do Benfica que tinha a bola, frequentemente mesmo à saída da nossa área. Um pormenor que revela a atenção que o Estrela teve à nossa forma de jogar foi que o Semedo, a jogar sobre a esquerda, era praticamente um segundo defesa esquerdo, a jogar mais adiantado no terreno, e sempre atento às subidas do Nélson.


A jogar assim, o Estrela conseguiu sempre controlar o Benfica durante toda a primeira parte, sendo raríssimas (ou mesmo inexistentes) as oportunidades de golo de parte a parte. E como as coisas não corriam bem, muitos dos nossos jogadores optavam por tentativas de jogadas individuais, que não surtiam efeito. A meio da primeira parte, o Quim confirmou aquilo que se suspeitava, ou seja, que não estava em condições para jogar. Desde o início que já me parecia suspeito que ele não marcasse qualquer pontapé de baliza, ou sequer chutasse qualquer bola para a frente, vindo em vez disso um defesa sempre recolher a bola. Bastou que ele chutasse uma única bola para que a lesão cedesse, e nos obrigasse a queimar uma substituição. Não me parece correcto que se dê um jogador nestas condições como apto para jogar. Para o lugar do Quim entrou mais uma vez o Rui Nereu, que desta vez pareceu estar mais nervoso do que em Villarreal, até porque numa das primeiras intervenções deixou entrar a bola na baliza naquilo que me pareceu que seria um enormíssimo frango, não fosse o árbitro considerar que a bola já foi centrada fora do terreno.

Na segunda parte o Benfica, sem alterações, entrou melhor, e felizmente não foi necessário esperar muito pelo golo. Após cinco minutos, mais um cruzamento trademark do Nélson (feito com o pé esquerdo) para o interior da área, e o Karyaka a aparecer na zona do ponta-de-lança a finalizar bem de cabeça. Foi o primeiro golo do russo pelo Benfica, e este golo ajuda a camuflar um pouco uma exibição que, para mim, não foi muito conseguida. Ele ainda me parece um pouco lento, e durante a primeira parte estragou alguns lances devido a um deficiente controlo de bola quando esta lhe era passada. Logo a seguir ao golo assistiu-se a um período de algum equilíbrio, durante o qual o Estrela dispôs da melhor (e quase única) oportunidade de golo de toda a partida, quando o Semedo rematou à malha lateral após um cruzamento rasteiro do Manu (pareceu-me um bom jogador, e fico contente por saber que pertence ao Benfica).


Este período de equilíbrio durou cerca de dez minutos, e acabou abruptamente com o segundo golo do Benfica. Mais um cruzamento do Nélson do lado direito, e o Nuno Gomes de cabeça ao segundo poste a fazer o oitavo golo nos últimos cinco jogos para o campeonato. Nesta altura o que pensei, e comentei com os meus colegas de bancada, foi 'Obrigado Miguel'. Sim, obrigado ao Miguel y sus muchachos por nos terem dado a oportunidade de irmos buscar o Nélson, porque caso contrário arriscávamo-nos a vê-lo vestido com a camisola de um dos nossos rivais ainda esta época. Este segundo golo atirou o Estrela ao tapete, e daqui até final só deu Benfica. Já com o Karagounis em campo (que esteve muito bem), e com o Geovanni (muito movimentado ontem) e o Simão a fazerem uso da sua velocidade, o Estrela foi incapaz de voltar a pegar no jogo, e o terceiro golo era uma ameaça constante. Só não chegou porque me pareceu que o Amoreirinha fez uma boa defesa a um remate do Nuno Gomes, já sobre o final do jogo.


Quanto a destaques, e isto já começa a tornar-se monótono, Nélson, claro, com mais duas assistências para golo. Também gostei do Karagounis quando entrou, e os dois médios defensivos voltaram a estar em muito bom nível. O Simão também fez um bom jogo, e esteve muito activo e confiante no um para um. Mas durante a primeira parte pensei diversas vezes que o Miccoli faz muita falta, especialmente quando as equipas conseguem fechar-se bem como o Estrela o fez; e embora o Ricardo Rocha não tenha estado mal, também senti a falta do pendor ofensivo do Léo por aquele lado.

Nota-se que a equipa está confiante, e ontem soube ter paciência perante o bom jogo do Estrela na primeira parte. O próprio público da Luz demonstra uma boa empatia com a equipa, e continuou a apoiá-la mesmo quando as coisas não corriam bem. Os únicos assobios que se ouviram foi quando o Koeman optou por fazer entrar o Beto a dez minutos do fim, quando o público pedia o Mantorras. Mas o angolano é um caso aparte de popularidade no Benfica.

terça-feira, outubro 18, 2005

Positivo

O resultado desta noite com o Villarreal pode-se considerar positivo. Empatar fora de casa na Champions League, ainda para mais em casa daquele que considero o nosso adversário mais directo do grupo, é sempre um bom resultado. Mas no final dos noventa minutos, a mim sabe-me a pouco, e julgo que à maioria dos benfiquistas também. Com o empate a zero no outro jogo do grupo, em Old Trafford, entramos na segunda volta com tudo em aberto neste grupo, tendo as quatro equipas boas possibilidades de se apurar para a segunda fase.

No onze desta noite, uma pequena surpresa, com o Koeman a optar pelo Ricardo Rocha em detrimento do Léo para a posição de lateral esquerdo. Confesso não ter ficado muito satisfeito com isto, primeiro porque não gosto muito de ver o Ricardo jogar naquela posição, e segundo porque sou fã do brasileiro, e das combinações que faz com o Simão na ala esquerda. Presumo que o Koeman tenha optado por dar mais alguma segurança defensiva à equipa, já que o Ricardo raramente passa da linha do meio-campo, enquanto que o Léo arrisca muito mais no ataque. No restante onze, nenhuma surpresa, com o Geovanni a ocupar, conforme previsto, o lugar do Miccoli, jogando encostado à direita e ficando o Karagounis nas costas do Nuno Gomes, para formar o habitual 4-2-3-1.

A razão para este empate me saber a pouco prende-se sobretudo com a forma como decorreu a primeira parte. Apesar das muitas individualidades do Villarreal, julgo que o Benfica demonstrou inequivocamente que tem melhor equipa. Controlou e dominou o jogo à vontade, e dispôs de algumas oportunidades para marcar, infelizmente desperdiçadas. Muito boa circulação de bola, e uma grande atitude dos jogadores. O Nélson esteve muito activo na direita, a conseguir ganhar diversas vezes a linha de fundo. Quanto ao Villarreal, revelou-se uma equipa estranhamente macia, a perder muito facilmente a bola, e depois praticamente não pressionava o Benfica para recuperá-la. Fizeram apenas um único remate perigoso, da autoria do Jose Mari. A meio desta primeira parte, uma contrariedade com a lesão do Quim, a forçar a estreia do Rui Nereu na equipa principal do Benfica, e logo num jogo da Champions. Quando o intervalo chegou, senti-me bastante frustrado, pois achava que o domínio do Benfica deveria ter sido concretizado pelo menos num golo.

Na segunda parte tudo na mesma do lado do Benfica, mas uma alteração importante no Villarreal, com a entrada do Josico para o lugar do Arruabarrena. O Josico foi para o meio-campo, enquanto que o Sorín foi ocupar a sua posição natural de lateral-esquerdo. Com esta alteração o Villarreal passou a dominar o centro do terreno, e os primeiros minutos da segunda parte mostraram uma diferença como que da noite para o dia em relação à primeira parte. O Villarreal crescia, e ia-se aproximando cada vez mais da nossa baliza. Foi nesta altura que o Rui Nereu mostrou não estar nada nervoso com a estreia, e teve algumas boas intervenções, incluindo uma defesa incrível a um remate de um adversário isolado, após um passe fabuloso do Riquelme. Isto é uma coisa que não compreendo: o Benfica estava mais que avisado que praticamente todo o jogo ofensivo do Villarreal passa pelos pés do Riquelme, e no entanto nesta fase ele tinha toda a liberdade para se movimentar, receber a bola, e até parar para pensar no que fazer. A continuar assim, só poderia dar problemas.

E problemas deu. Mais um grande passe do Riquelme a isolar o Sorín, e um penalty absolutamente cretino, concretizado pelo Riquelme, a dar a vantagem ao Villarreal. Digo que o penalty é cretino apesar de não ter a certeza absoluta se é penalty ou não, mas quando se entra a um lance daqueles da forma como o Ricardo Rocha entrou, as probabilidades de dar penalty são elevadas. Em termos globais, o resultado naquela altura era claramente injusto, mas por outro lado era o corolário lógico do que o Villarreal vinha fazendo desde o reinício do jogo. Além de que, para mim, era um castigo justo para a atitude relaxada com que me parecia que os nossos jogadores estavam a encarar o jogo desde o intervalo. A simples alteração táctica no Villarreal não justificava tamanha diferença na exibição. E a prova disso é que assim que sofreu o golo, o Benfica soube voltar a pegar no jogo e a pressionar o adversário. E bastaram somente cinco minutos para repormos a igualdade, através de um grande golo do Manuel Fernandes, a matar a bola no peito e a rematar de primeira, sem deixar a bola cair. Acreditei que ainda fosse possível obter algo mais deste jogo, mas a verdade é que o Benfica pareceu satisfeito com o empate, e o final do jogo chegou sem grandes sobressaltos.

Quanto a jogadores, e para manter o hábito, gostei do Nélson, sobretudo na primeira parte. E é preciso não esquecer que ele tinha pela frente 'só' o Juan Pablo Sorín, um dos melhores laterais esquerdos do mundo. Gostei também muito do Manuel Fernandes, e não só pelo golo. A defesa voltou a estar geralmente bem, mas falhou duas vezes, embora haja muito mérito nos dois passes do Riquelme. Claro que menciono também o Rui Nereu, que não acusou a responsabilidade da estreia e esteve sempre seguro, tendo apenas sido batido de penalty. Hoje o Petit irritou-me. Esteve sempre mal nos livres e cantos, mastigou muito o jogo em termos ofensivos (perdeu uma série de jogadas em que se embrulhou com a bola, perdeu-a, e depois ficou a reclamar falta), e mesmo em termos defensivos não esteve tão activo na recuperação de bolas como é habitual. Voltei também a achar o Karagounis muito complicativo, e para além disso fez uma série de faltas, o que pode indicar que a condição física dele ainda está longe da ideal.

O jogo chave da qualificação poderá agora ser daqui a quinze dias, quando recebermos o Villarreal na Luz. Uma vitória nesse jogo poderá ser um passo de gigante para passarmos à segunda fase. E atendendo ao que vi hoje, esta equipa do Villarreal parece estar perfeitamente ao alcance da nossa equipa, embora admita que eles devam ser bastante mais perigosos a actuar em contra-ataque.

domingo, outubro 16, 2005

Limpinho

Eu disse que haveria de estar lá para ver quando acontecesse, e agora posso dizer: eu estive lá! O post vai ser se calhar um pouco extenso, mas caramba, esperei catorze anos por isto!

Pus-me a caminho do Dragão ainda bem cedo. Gosto sempre de fazer o caminho a pé, ao longo da Av.Fernão de Magalhães, tendo assim a oportunidade de passar pelo meio dos adeptos e fazer uma auscultação às expectativas destes. Confiança, muita confiança era o que se via nas hostes portistas, embora alguns manifestassem receio pela defesa. Ouvi previsões de goleadas, outro apostava num 5-4 a favor do FCP, e um até dizia aos amigos que ficava 2-1 para o Benfica, porque 'não confio nada naquele gajo' (o Co Adriaanse, entenda-se). Assisti a uma cena engraçada, em que um rapaz supostamente 'ultra' tentava ensinar a avó a colocar o cachecol do FCP 'à Ultra'.

Chegado ao estádio, primeira nota positiva em comparação com as antigas Antas: o acesso é muito, mas muito mais fácil. Apesar de ser um jogo grande, com casa cheia, foi muito fácil e rápido entrar no recinto do estádio. Bastante melhor do que, por exemplo, o nosso estádio. Existem diversos pontos de entrada onde somos revistados, ao contrário dos apenas três que temos na Luz e que normalmente provocam um tempo de espera elevado para entrar, sobretudo se se chegar mais perto do início do jogo. Lá fora, uma quantidade grande de gente ladeava a estrada de acesso, presumo que à espera dos autocarros, mas o do Benfica acabou por entrar pelo outro lado. Entro no estádio, e mais uma impressão positiva: o estádio é bastante bonito e agradável (ao contrário das tétricas Antas). Procuro o meu lugar, e não podia ficar mais satisfeito: central, num plano elevado, quase ao lado da bancada de imprensa. Dá-me uma visão sobre o campo praticamente igual à que tenho do meu cativo na Luz, o que é uma agradável mudança em relação às vezes que tive de assistir a jogos do Benfica nas Antas a partir de um canto. Entretanto, tive o primeiro vislumbre de vermelho da noite (excluindo os adeptos que já se encontravam no sector benfiquista): uma senhora entrou com um cachecol do Benfica, acompanhada de um portista trajado a rigor. Juro que, mais uma vez, ao longo de toda a Av.Fernão de Magalhães, não vi um único símbolo de apoio ao Benfica.

À medida que o estádio foi ficando cheio, confirmei uma ideia que já tinha formada mesmo antes de lá entrar: o Porto não consegue, de forma alguma, criar o mesmo ambiente no Dragão que conseguia criar nas antigas Antas. Eles gritam, apoiam a equipa, mas não é a mesma coisa. O estádio é demasiado agradável. Eu disse num comentário há tempos que nas Antas eu tinha a sensação que conseguia quase sentir fisicamente a hostilidade no ar sempre que o Benfica lá jogava, e que esse tipo de ambiente motivava os jogadores portistas, ao passo que parecia fazer perder a cabeça aos nossos jogadores e influenciar as decisões dos árbitros. Nada disto parece acontecer no novo estádio. E confesso que quando me apercebi disto, a minha confiança aumentou ainda mais. As equipas entram para o aquecimento, e verifico satisfeito que vai jogar o onze que eu queria. Verifico ainda mais satisfeito que do lado adversário vai também jogar o onze que eu mais queria, particularmente a defesa e o meio-campo. O público vai-se animando com uns cânticos de 'Filhos da p... SLB!', com uns parabéns ao Baía pelo meio. A confiança entre os portistas continuava alta, embora um fosse avisando que era certinho que o Lucílio Baptista iria assinalar um penalti contra o FC Porto sobre o Simão, porque prejudica sempre o FCP. Sinceramente, acho que não havia esse risco. Eu considero o Lucílio Baptista um péssimo árbitro, porque é estupidamente caseiro sempre que pressionado. Assisti no antigo Estádio das Antas a um jogo do Benfica em que ele fez uma arbitragem horrorosamente caseira, e no fim para acabar em beleza expulsou o Ricardo Rocha sem que ele tivesse tocado sequer no Deco. Além disso foi ele quem, no jogo do derby em Alvalade há uns anos (o do golo do Sabry) conseguiu assinalar 453 livres à entrada da nossa área, na esperança que o André Cruz acertasse algum. Eu não o considero anti-Benfica, ou pró qualquer coisa. É apenas um árbitro mentalmente fraco, que acaba quase sempre a beneficiar os da casa.

O estádio está agora cheio. À minha volta, só azul, nem um bocadinho de vermelho para me fazer sentir mais acompanhado. À minha esquerda um adepto portista de meia idade muito exaltado, à minha direita um já mais entradote mas cheio de confiança. Apito inicial. O adepto à minha esquerda benze-se e beija um crucifixo. Pois, calculo que se considere a ajuda Divina como garantida quando o que está em causa é derrotar a moirama que vem lá de baixo. O Benfica alinha no que já começa a ser o tradicional 4-2-3-1 de Koeman (que há quem chame de 4-3-3), com o Karagounis a assumir uma função em tudo semelhante à do Beto em Manchester. Do lado do FC Porto, um 4-3-3 puro, em que o Jorginho e o Alan trocavam diversas vezes de posição. O jogo começa equilibrado, e noto que a nossa táctica, com o Karagounis a ter tendência para ir para o meio, deixa sempre uma avenida à frente do César Peixoto. Felizmente isso não foi aproveitado, pois os passes para essa zona eram quase sempre mal feitos, e mesmo quando a bola chegava ao César Peixoto este normalmente complicava demasiado.

Aos treze minutos, um golpe na minha confiança: o Miccoli cai sozinho agarrado à perna, e tudo parece indicar uma rotura, perante a satisfação de alguns adeptos portistas. Pior do que a saída neste jogo é a perspectiva de ficar sem ele durante um período prolongado, particularmente para a Champions League. Para o seu lugar entra o Geovanni, que se encostou à direita, derivando o Karagounis para o centro. Ironicamente, pareceu-me que a equipa ficou mais equilibrada assim, muito melhor distribuída sobre o terreno. É que o Soneca entrou com vontade de não justificar a alcunha, e fartou-se de correr, lutar e ainda ajudar o Nélson nas tarefas defensivas. Mas pouco depois foi também o FC Porto a ter que fazer uma substituição por lesão. E quando entrou o Diego, fiquei ainda mais contente. É que para além da má defesa que o FC Porto tem, na minha opinião o maior erro de Adriaanse é jogar sem médios defensivos. O Ibson, apesar de se esforçar muito, não é jogador com estas características, e quando no meio campo a ajuda que (não) tem é de jogadores como o Lucho e o Diego, que não defendem, se soubéssemos aproveitar isto era meio caminho andado para a vitória. Sempre que o Benfica atacava com velocidade havia uma clareira enorme mesmo à frente da defesa portista, que era preciso saber aproveitar.

A meio da primeira parte, a primeira grande oportunidade do jogo: centro largo do Nélson para o segundo poste, a defesa portista a ver a banda passar, e o Simão completamente à vontade a cabecear ao lado. Respondeu o Porto com uma boa oportunidade criada pelo McCarthy, a rodar bem sobre o Anderson e a proporcionar a defesa do Quim com os pés. Mal sabia eu que aquela seria a única oportunidade de golo digna desse nome de que o Porto dispôs durante o jogo. A primeira parte foi passando, com maior pendor ofensivo do FC Porto, mas que se traduzia apenas na obtenção de cantos, já que o Benfica não deixava que os remates fossem feitos. Os cantos eram quase todos mal marcados: ou para fora, ou para as mãos do Quim. Quanto ao Benfica, era um Benfica à Manchester: muito calmo, muito organizado, parecendo sempre ter os acontecimentos sob controlo. O nulo ao intervalo era justificado, mas a minha confiança subia em flecha ao ver os minutos passar. Entretanto o adepto da esquerda fumava cigarro atrás de cigarro, enquanto que o da direita dissertava sobre tácticas e me batia no braço para comentar os ataques do Porto. Eu ria-me por dentro.

Segunda parte com início atrasado devido à sempre louvável acção dos Super Dragões: fumos e arremesso de objectos ao Quim. Ao menos não houve petardos. Pouco depois do início, o Koeman fez uma alteração que para mim nos ajudou, e muito, a vencer: tirou o complicativo Karagounis, e fez entrar o Karyaka, que foi ocupar precisamente o tal espaço livre em frente da defesa de que eu falava. E não demorou muito até o marcador funcionar. O Karyaka solicita o Nélson na direita, que faz um cruzamento largo perfeito para a àrea. O Ricardo Costa fica a fazer não sei o quê, o Bosingwa parece que não sabe onde anda a bola, e o Nuno Gomes, sem tirar os pés do chão, a cabecear a bola para a baliza. Não sei como consegui ficar quieto, porque a primeira sensação foi mesmo 'Já está!'. Acreditei, pelo que tinha visto do jogo até à altura, que não havia maneira do FC Porto dar a volta. À minha volta (e em todo o estádio) silêncio, exceptuando a explosão naquele cantinho vermelho, o 'Sector Campeão'. E, meu Deus, como eu desejava estar ali! Para mais, aquele gesto sublime do Nuno, a apontar para as quinas na manga esquerda, a obrigar-me a afogar um sorriso do tamanho do mundo na garganta.

E não foi preciso esperar muito para que o segundo chegasse. Arrancada do Geovanni na direita, a deixar para trás o Bruno Alves (onde é que andava o Peixoto?), cruzamento tenso, o Ricardo Costa (a maior invenção como defesa central desde o pão fatiado, e um sério candidato a destronar o Beto como o maior bluff do futebol português) a falhar o corte, e o Nuno Gomes ao segundo poste a empurrar para a baliza. À minha volta começaram a levantar-se pessoas e a sair, apesar de faltar quase meia-hora para o final do jogo. O adepto da esquerda tinha as mãos na cabeça, o da direita estava de cabeça baixa com os olhos no chão. E eu tão longe daquele canto vermelho...

O segundo golo acabou de vez com o FC Porto. Abriam-se buracos por todo o lado, e pensei que iríamos sair dali com um resultado ainda mais volumoso. Já não conseguia estar calado, tinha que aliviar a tensão, e fi-lo da única maneira possível: insultando os jogadores do Porto (em particular os da defesa) e o Adriaanse, enquanto que elogiava os benfiquistas como se estivesse chateado. Exemplo: 'Aquele sacana do Luisão não perde um lance!' ou ' Aquele Nélson foi uma grande contratação do Benfica, enquanto que o Porto foi buscar aquela merda de turco...'. Este tipo de comentários cairam bem nos adeptos da esquerda e da direita, que estavam completamente atónitos. A desorientação portista era tal que, perto do final, e depois do Simão ter desperdiçado escandalosamente um contra-ataque de três para um, o placard electrónico no estádio mostrava o resultado de 0-3 para o Benfica. No estádio já só se ouvia o cantinho vermelho, sobretudo o 'Ninguém pára o Benfica', 'Campeões, nós somos campeões' e o 'Cheira bem, cheira a Lisboa'. Ah, e muitos 'olés' também. Do lado do Porto acenavam-se alguns lenços brancos (sim, eram adeptos do FCP senhor Adriaanse), aos quais a claque benfiquista se juntou. Acabámos por não marcar mais, mas ainda deu tempo para as tradicionais expulsões dos derbies: o Bruno Alves por agressão, e o Léo a pedido, por uma falta banalíssima.

O jogo terminou, e eu ainda fiquei por ali bastante tempo. O adepto da esquerda já tinha ido, exasperado com tamanha blasfémia a que assistia, enquanto que o da direita se despediu cordialmente com um 'Até à próxima'. Acho que nenhum percebeu que eu era benfiquista. Não me apetecia sair, queria ficar ali a saborear uma vitória pela qual esperámos tanto tempo, e a ver a festa dos nossos adeptos. Se pudesse teria escrito este post logo ali, quando ainda me sentia eufórico com o que tinha acabado de ver.

Em jogos em que eu acho que a equipa esteve excelente, com um enorme espírito de entreajuda, é difícil estar a destacar nomes, mas obviamente que o Nuno Gomes (que tantas vezes me fez perder a cabeça em certos jogos) merece destaque pela eficácia: dois remates, dois golos. É mesmo à matador. Para além disso toda a defesa esteve excelente, particularmente os dois centrais, e ainda mais particularmente o Luisão, que foi simplesmente imperial. Ele esteve em toda a parte, e não perdeu um único lance de cabeça. Simplesmente fabuloso! E melhor ainda, os nossos centrais conseguiram jogar praticamente sem fazer faltas, porque não me lembro de livres perigosos a favorecer o FC Porto na zona central. E para isto contribuiu muito o grande jogo dos nossos médios defensivos, sobretudo o Petit. O Nélson voltou a fazer um grande jogo, e já nem me lembro do nome do gajo que ele veio substituir...

Enfim, uma vitória limpinha e sem espinhas, numa noite para recordar, para compensar todas aquelas noites tristes que estes jogos me proporcionaram. 'Sou do Benfica, e isso me envaidece...'. Desde ontem à noite que ando a cantarolar isto.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Porto

Sábado à noite lá estarei a ver o meu Benfica jogar no terreno que lhe é mais hostil no mundo. Temos um borrego de catorze anos para matar. Quando me perguntam porque é que vou lá se o Benfica perde quase sempre, respondo sempre o mesmo: algum dia o Benfica vai voltar a vencer no Porto. E nesse dia, eu quero estar lá para ver. Todos os anos vou com a fé que vai ser esse o dia.

sábado, outubro 08, 2005

Mundial

E pronto, a selecção nacional já está apurada para o Mundial da Alemanha em 2006. Estou relativamente satisfeito, mas não particularmente entusiasmado. Para começar porque, sinceramente, eu sou mais benfiquista do português. A verdade é que normalmente um jogo do Benfica contra um Estrela da Amadora me acelera mais as pulsações do que a grande maioria dos jogos da selecção nacional. Com algumas excepções, claro, porque há certos jogos memoráveis de Portugal que me ficaram marcados. Jogos como o França x Portugal das meias-finais do Euro'84, o Alemanha x Portugal de Estugarda, no apuramento para o Mexico'86, o Marrocos x Portugal nesse mesmo Mundial (e a exibição sobre-humana do guarda-redes marroquino Zaki), novamente o França x Portugal nas meias-finais do Euro 2000, ou o Portugal x Inglaterra para o Europeu o ano passado. Mas isso são excepções, porque regra geral os jogos da selecção passam-me um bocado ao lado, e às vezes até me esqueço deles (hoje acho que cheguei a adormecer durante a primeira parte do jogo, e só despertei com aquela obra-prima do Ricardo e do Paulo Ferreira).

A qualificação para o Mundial não me deixa particularmente entusiasmado porque, francamente, apenas cumprimos a obrigação de ganhar aquele que provavelmente terá sido o grupo de apuramento mais fácil da história dos Mundiais de futebol. Ainda assim, não conseguimos vencer fora nenhuma das duas equipas dignas desse nome que faziam parte do grupo, e fomos os autores de uma anedota e meia contra o Liechtenstein (a meia foi hoje, em que lá nos safámos a cinco minutos do fim).

Não sou grande fã do Scolari. Tacticamente acho que deixa muito a desejar, e uma das maiores provas disso foi a forma como foi 'comido' pelo Rehhagel não uma, nem duas, mas três vezes seguidas. Não posso confiar muito num treinador que é incapaz de reconhecer os seus próprios erros, e se deixa embalar na mesma táctica adversária três vezes seguidas. Isto é um sinal da casmurrice de Scolari, casmurrice essa que nos custou a final do Euro. Esta casmurrice também se revela nas convocatórias da selecção, em que são convocados sempre os mesmos, estejam bem ou estejam mal, joguem ou não nos respectivos clubes. Para mim a selecção deveria ser isso mesmo: uma selecção dos jogadores em melhor forma deste país, mas Scolari prefere gerir a selecção como se fosse uma espécie de clube de futebol, com um plantel fixo.

Claro que ele também tem qualidades. É um líder forte e disciplinador, e com ele acabaram-se as vacas sagradas que praticamente mandavam na selecção no tempo do António Oliveira. Com Scolari, tenho a certeza que não vamos passar vergonhas como as que passámos em Saltillo em '86 ou na Coreia há três anos. Além disso ele conseguiu unir os portugueses à volta da selecção, e gerar um entusiasmo que estava a desaparecer. Estou agora curioso para ver se conseguirá resultados no Mundial. É que a única altura em que fomos realmente testados foi durante o Euro, em que jogámos em casa, e mesmo assim nunca fiquei grandemente convencido. Antes do Europeu só houve jogos amigáveis, e esta fase de qualificação foram peanuts. O Mundial vai ser o primeiro teste a sério à selecção de Scolari.

terça-feira, outubro 04, 2005

Difícil

O Benfica conseguiu esta noite uma vitória difícil sobre o Guimarães, permitindo-nos assim a aproximação ao primeiro lugar, em vésperas da deslocação ao Dragão.


O Benfica iniciou o jogo com a táctica habitual. Em relação a Old Trafford, a única alteração foi a entrada do Geovanni para a direita, para o lugar do Beto. Quanto ao Guimarães apresentou-se num 5-3-2, com o Moreno a mover uma marcação individual ao Nuno Gomes, e três jogadores muito móveis no meio campo (Svard, Neca e Benachour), com o último em apoio constante aos dois avançados (Targino e Saganowski). O jogo iniciou-se numa toada de equilíbrio, embora com um muito ligeiro ascendente do Benfica, que parecia procurar mais o golo, enquanto que o Vitória se mantinha mais na expectativa. Em relação aos últimos jogos, o Nuno Gomes parecia estar a actuar um pouco mais avançado, praticamente a par do Miccoli, não recuando tanto para o meio-campo. E o golo acabou por surgir na sequência de um livre, com a bola a ser cruzada para a área e a sobrar para o Miccoli, que marcou com facilidade.

A partir do golo, o Benfica retraiu-se inexplicavelmente, ao passo que o Guimarães abandonou a postura de expectativa e começou a mostrar que tem excelentes jogadores, e que sabe jogar. Devido ao não recuo do Nuno Gomes, o Guimarães apresentava-se quase sempre em superioridade no meio-campo, e em particular pareceu-me que estavam a ser concedidas demasiadas liberdades ao Neca, que aparecia sempre sozinho a receber a bola, e depois tinha todo o tempo do mundo para decidir o que fazer com ela. A equipa do Benfica parecia incapaz de pressionar, enquanto que o Guimarães fazia a bola viajar rapidamente entre os seus jogadores, e as oportunidades de golo começaram a aparecer. Não demorou sequer um quarto de hora até que o empate surgisse. E sem surpresas, acrescento eu, porque o Guimarães estava a jogar mais do que o suficiente para justificar esse golo (mesmo antes do golo já tinha enviado uma bola à barra). O domínio do Guimarães no jogo manteve-se até ao final da primeira parte, e foi por felicidade que não fomos para o intervalo a perder, graças a um corte do Nélson já sobre a linha de golo.


Na segunda parte o Benfica entrou com outra atitude, e foi para cima do Guimarães. Pouco depois do reinício podíamos ter marcado, com o Simão a falhar incrivelmente uma oportunidade me que ficou isolado dentro da área, com todo o tempo para decidir o que fazer. Decidiu-se (mal) pela tentativa de chapéu, que passou por cima. A pressão benfiquista manteve-se, muito devido à influência dos dois laterais, que ajudavam na luta do meio-campo e assim permitiram-nos recuperar o controlo daquela zona. O Jaime Pacheco tentou refrescar o seu meio-campo substituindo o Neca (e eu dei um suspiro de alívio), respondendo Koeman com a entrada de Karagounis para o lugar de um (mais uma vez) apagado Geovanni. Pouco depois surgiu o golo da vitória. Foi uma boa iniciativa do Simão do lado esquerdo, a ultrapassar dois adversários, e finalizar com um remate muito feliz que tabelou no Moreno e enganou o guarda-redes vimaranense.


Tentou responder mais uma vez o Guimarães, mas já não conseguiu assumir o controlo do jogo como na primeira parte. A entrada do Karagounis foi útil, porque o grego mostrou que sabe segurar muito bem a bola, e soltá-la no momento certo. Para além disso o balanceamento ofensivo do Vitória (que implicou a saída de um dos centrais) abria imensos espaços cá atrás, e esteve o Benfica mais perto de marcar o terceiro do que o Guimarães de empatar. O final do jogo chegou, os três pontos foram somados, e recuperámos cinco pontos para os nossos rivais. O Guimarães foi um bom adversário, e mostrou que tem jogadores com qualidade suficiente para estar muito acima do lugar que ocupa actualmente na tabela classificativa. Quanto aos nossos jogadores, o Léo parece estar cada vez mais entrosado e confiante, tendo feito um jogo muito bom, sempre em movimento no apoio ao Simão. Do outro lado o Nélson voltou a fazer um bom jogo, mas isso já não é novidade, já que parece que ele não sabe jogar mal.

Na próxima jornada lá iremos ao Dragão, onde espero ver esta equipa entrar em campo a jogar para ganhar, e não para o empate. E espero conseguir arranjar bilhete para lá estar a gritar pelo Benfica. Esta recuperação é para continuar.