quarta-feira, setembro 27, 2006

Medo

Para mim, foi a principal razão para não termos conseguido vencer o Man Utd esta noite, e acabarmos mesmo por perder o jogo para um adversário que entrou na Luz para não perder, saindo-lhe a sorte grande no final. Falta audácia ao Benfica, mas sobretudo parece-me que falta confiança em si próprio. Os ingleses tremeram quando o Benfica pressionou, mas não fomos capazes de os apertar mais, e ao invés revelámos um excessivo receio de mandar no encontro.

Ao nosso 4-2-3-1 responderam os ingleses com um 4-3-3, no qual era o Rooney quem jogava sobre o lado esquerdo. Os ingleses pareceram iniciar bem o jogo, mas a verdade é que apenas alguns minutos passados deu para perceber que o interesse principal deles era não perderem. O Benfica ia mandando no jogo, mas quase que parecia que o fazia a contragosto. Sempre que pressionávamos um pouco mais perto da baliza deles, o que se via era que o Man Utd perdia facilmente a bola, recorria a faltas para travar os nossos jogadores, fazia passes errados, etc. O problema é que o Benfica parecia não querer fazer isto de uma forma mais constante. Além disso, quando o que se exigia era que tentássemos jogar o mais rápido possível, o que eu vi quase sempre foi nas saídas para o ataque ficarmos praticamente à espera que os ingleses recuassem todos para o seu meio-campo e organizassem a defesa, enquanto a bola ia circulando ainda no nosso meio-campo entre os defesas e os médios defensivos, e só então nos dignávamos a atacar. Aliás, a forma mais comum de um ataque nosso se iniciar, durante todo o jogo, era a bola sair do Quim para o Alcides, este ficar parado com ela e simular umas três vezes que ia despachá-la para a frente, e depois dos ingleses já terem recuado todos, o Alcides finalmente tocava a bola para o lado para o Luisão.

Ainda em relação ao Alcides (tenho que focar este meu ódio de estimação) é notável que algum treinador tenha algum dia descortinado nele qualquer tipo de aptidão para as funções de defesa lateral. Imagino a cena como algo semelhante ao início do '2001: Odisseia no Espaço' do Stanley Kubrik. Ao som do Also Sprach Zarathustra de Richard Strauss, imagino o treinador a olhar para o Alcides como um daqueles símios a olhar para o monólito negro (em termos de graciosidade, agilidade e jeito para jogar à bola as diferenças entre ambos não são muitas, embora o monólito leve uma ligeira vantagem), e a chegar à brilhante conclusão 'Acho que há aqui um defesa-direito!'. Claro que o facto de estar perante uma espécie de tronco rude, com dois alcatruzes no lugar dos pés, e um cérebro futebolístico que eu juro que consigo ouvir chocalhar dentro da cavidade craniana desde o terceiro anel não foi suficiente para deitar por terra esta brilhante conclusão. Por isso agora sou presenteado todas as semanas com um cepo que não sabe atacar, não sabe defender como um lateral, não sabe fazer um passe, tem dificuldade em distinguir as diferenças entre colegas e adversários, e basicamente leva-me ao desespero em quase todos os jogos. Ele ainda copiou o penteado do Nélson, o que lhe deu alguma vantagem dado que passou a ser a característica que mais o assemelha a um defesa-direito, mas eu já o topei. E sim, eu sei que o Alcides apesar de ter jogado mal (nada de novo, portanto) nem sequer foi dos maiores responsáveis pela derrota desta noite, mas eu já ando a encher há meses e hoje estou chateado e apetece-me desabafar, pronto.

Alcides revela-se como lateral-direito

Voltando ao jogo. A primeira parte do Benfica acabou por nem ser má de todo, apesar da incapacidade ofensiva, e do excessivo respeito mostrado por uma equipa que, também ela, mostrava algum receio. As estatísticas, que de pouco valem, no final dos primeiros 45 minutos mostravam superioridade do Benfica em todos os aspectos (remates, posse de bola, etc). Mas os efeitos práticos disso eram quase nulos: apesar disto tudo, nunca na primeira parte fiquei com a sensação de que o Benfica estava ali para ganhar, e que estava perto de o conseguir. Pelo contrário, fiquei com aquela sensação de que faltava um bocadinho 'assim' para lá chegarmos, sendo que esse bocadinho poderia ser confiança ou atitude ganhadora. No fundo sempre me pareceu que se o resultado ficasse como estava, pouca gente na equipa ficaria muito incomodada com isso.

Apesar de ter iniciado a segunda parte aparentando uma atitude mais agressiva, depressa se verificou que o Benfica estava na mesma. Aliás, pior, porque parecia ainda mais satisfeito com o rumo dos acontecimentos, e agora já nem pressionava tanto os ingleses no seu próprio meio-campo na procura da bola. Para mim o jogo estava mesmo com cara de 0-0, a não ser que houvesse algum lance genial ou caricato a resolvê-lo. Infelizmente o lance decisivo aconteceu mesmo, mas para o lado errado. Na sequência de um ataque do Benfica, a equipa está toda avançada, e demora uma eternidade para recuperar as posições defensivas. O Man Utd sai para o contra-ataque quando o Benfica tem apenas os dois centrais cá atrás (o Petit parece que só a meio do lance é que descobre que tem mesmo que começar a correr a sério) e consegue uma situação de dois para dois, em que o Luisão fica com o Ronaldo e o Anderson fica com o portador da bola (Saha). Aqui entra em acção a inteligência deste homem, que este ano realmente está em todas. Tendo em conta que a única opção de passe do Saha está bloqueada pelo Luisão, era óbvio que a alternativa possível para este era tentar o lance individual. Em vez de cair imediatamente em cima dele, e pressioná-lo para junto da linha lateral ou para o canto, o Anderson opta por dar-lhe quase dois metros de espaço, e ir recuando enquanto ele se vai aproximando da área, ao mesmo tempo que estupidamente lhe 'oferece' o lado de dentro para a finta, quando deveria ter feito exactamente o oposto. Claro que o resultado foi o previsível: junto da área finta para dentro e remate de pé esquerdo, que o Anderson ainda conseguiu tocar de forma a tornar a defesa do Quim impossível. Realmente não consigo compreender o que é que se passa com este tipo este ano (mais tarde voltou a ter uma paragem cerebral quando após um centro do Carrick da direita decidiu não meter o pé à bola, seguindo esta para o Saha que no risco da pequena área conseguiu não acertar com a baliza).

Claro que uma vez em desvantagem, fiquei sem grandes esperanças de que conseguíssemos algo de positivo no jogo. Até porque ai chegou a altura do terceiro membro da trindade, o Santo de todos os Santos, saltar para as luzes da ribalta. Ele reagiu como qualquer treinador de Football Manager reagiria (mentira: eu sou treinador de FM e não faço nada disso): desatou a mandar avançados para dentro do campo. Mas o que eu acho brilhante mesmo é a forma como se consegue fazer substituições para que tacticamente não se altere nada. No fundo troca-se um jogador por outro, mandando o último fazer exactamente o que o primeiro estava a fazer. Vejamos: o problema pode até ser meu, porque obviamente não tenho nenhum curso de treinador. Mas não percebo, palavra que não percebo, porque é que se substitui o extremo-direito Paulo Jorge (um extremo de raíz - que até nem estava a jogar mal, já que era dos poucos que tentava jogar para a frente quando recebia a bola) e depois se mete o Nuno Assis (que não é extremo) em campo para ir jogar a extremo-direito. Deve ser alguma variante táctica que me é inatingível.

O Miccoli entrou, mas não foi jogar para ponta-de-lança. Foi desempenhar as funções ofensivas do Karagounis (as defensivas foram atiradas ao ar, ficando para quem as apanhasse). Finalmente entrou o Mantorras, que foi assumir as funções de Mantorras. Ou seja, correr alegre e desmioladamente atrás da bola, ao melhor estilo daquilo que eu e os meus colegas da escola primária fazíamos quando jogávamos à bola no recreio. A única vantagem desta última alteração foi que saiu o Anderson, tendo a falta dele paradoxalmente dado maior segurança à defesa. Claro que o Benfica nunca esteve perto de marcar, sendo até o Manchester quem, perante a balbúrdia táctica que resultou das brilhantes movimentações estratégicas congeminadas nas mentes que se sentam no nosso banco, esteve mais perto de chegar ao segundo golo. Não chegou porque o Saha falhou o já referido lance da paragem cerebral do Anderson, e porque o Quim fez três defesas seguidas incríveis num lance em que, na sequência de um livre directo, teve dois adversários à boca da baliza a recargarem à queima roupa.

É uma derrota que me irrita de sobremaneira porque mais uma vez fiquei com a impressão que este Man Utd estava ao nosso alcance, mas que é um castigo adequado para os erros cometidos esta noite. No final do jogo viram-se os primeiros lenços brancos da época (e não, eu não acenei nenhum). O discurso do treinador não se altera: está sempre satisfeito com a equipa, e estamos cada vez melhor. O que eu sei é que surpreendentemente não conseguimos encher o estádio num jogo da Champions contra o Manchester (ao contrário do ano passado, em que o Koeman até nem era dos personagens mais queridos dos adeptos). A continuar neste ciclo, qualquer dia voltamos a ter 20.000 espectadores nos jogos em casa. E só não vê quem é o responsável por isto, e o péssimo efeito que está a ter na mobilização da massa associativa benfiquista a que temos assistido nos últimos anos, quem não quer. Eu quero, sinceramente que quero estar rotundamente enganado em relação ao Fernando Santos. Nada me daria mais prazer do que vir aqui engolir as minhas próprias palavras em relação a ele. Mas infelizmente, até agora ele continua a dar razão a todos os benfiquistas que, tal como eu, desesperaram assim que ele foi anunciado como treinador para esta época.

sábado, setembro 23, 2006

Inglório

Foram dois pontos perdidos de uma forma absolutamente inglória. Porque o foram devido a erros individuais, e porque sofremos um golo no último minuto de um jogo que controlámos praticamente do princípio ao fim, tendo desperdiçado mais que uma oportunidade de sentenciar a partida.

Com apenas uma alteração em relação à jornada anterior (Kikin por Miccoli), o jogo iniciou-se numa toada equilibrada, disputado quase sempre longe das balizas. Mas cedo se verificou que era o Benfica quem comandava as operações, sendo que a bola passava a maior parte do tempo nos nossos pés. Com uma progressiva aproximação à baliza adversária, não me surpreendeu que chegasse o golo, marcado pelo Katsouranis após uma jogada muito boa do Paulo Jorge na esquerda. A reacção do Paços limitou-se a um remate de longe, ao qual o Quim correspondeu com uma boa defesa.

Na segunda parte a toada manteve-se, até que o Léo, numa expulsão infantil, alterou as coisas. Não percebo como é que um jogador experiente como ele cometeu um erro daqueles. Ainda por cima tendo em conta que o árbitro é o Lucílio Baptista, que se não estou em erro já o tinha expulso o ano passado no Dragão. Depois da expulsão o Paços carregou mais, mas em grandes resultados práticos já que as oportunidades de golo não surgiam. E quando as equipas voltaram a ficar em igualdade numérica, parecia que a haver alguma alteração no marcador, seria para o lado do Benfica, já que o Paços arriscou em jogar com apenas três jogadores mais recuados para os três avançados do Benfica, e abriam-se enormes espaços sempre que o Benfica conseguia contra-atacar. Só que mais uma vez o Benfica voltou a revelar incapacidade para aproveitar isto, e matar de vez o jogo. O mais perto que chegámos foi meter duas bolas no poste (Luisão e Katsouranis).

Quando já nada o fazia prever, e o Paços já estava na fase do chuveirinho para a área, eis que o Anderson resolve deixar-se antecipar de cabeça e estava feito o empate. O rapaz está com um arranque promissor: dos quatro golos sofridos pelo Benfica até agora, três deles têm o seu cunho pessoal. Depois fica espantado por perder o lugar para o Ricardo Rocha. Foi um resultado muito frustrante, mas um castigo para os erros individuais de alguns jogadores e para a falta de killer instinct que a equipa revela. De positivo mesmo só a exibição do Paulo Jorge. Dá-me gosto ver a forma como sua a camisola, mesmo quando as coisas correm mal. E ontem até foi daqueles a quem lhe saiu quase tudo bem.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Melhorzito

É isso. Não chegou a ser tão bom para que merecessem um 'melhor', por isso fico-me pelo 'zito'. Notou-se alguma evolução, houve jogadores que mesmo sem as coisas sairem sempre bem pelo menos demonstraram uma boa atitude, e pelo menos o Benfica foi mais rematador do que nas últimas partidas. Ironicamente, na minha opinião um dos grandes responsáveis pela melhoria do Benfica foi o Giorgios 'Não conto com ele' Karagounis no onze inicial, aproveitando a ausência do Petit. Ao contrário do Petit, o grego gosta de sair a jogar, e de tentar colocar a bola redondinha nos pés dos companheiros (às vezes chega a exagerar nisto), em vez de chegar ao meio campo e despejá-la algures para a frente (sendo 'frente' um conceito muito lato, que pode significar tudo desde um passe a isolar um companheiro até um passe ao guarda-redes adversário). Esta noite o Karagounis foi um verdadeiro médio box-to-box, e sem ter feito uma exibição de sonho foi, para mim, indiscutivelmente o melhor jogador do Benfica em campo.

Devido às ausências forçadas, o Benfica apresentou-se ligeiramente diferente esta noite, com apenas um único médio defensivo de raíz. Curiosamente, pareceu-me que o Katsouranis se sentiu muito mais à vontade sem a companhia do Petit naquelas funções, acabando por realizar também uma boa exibição. O Benfica acabou por apresentar um 4-3-3 com o tal 'triângulo invertido' no meio-campo, no qual o Karagounis aparecia frequentemente numa posição que poderia designar por interior esquerdo, que parece ser aquela em que se sente mais confortável. O jogo começou numa toada morna, parecendo que o Benfica dava sequência às últimas exibições, em que tinha sido incapaz de criar muitos lances de perigo. Pareceu-me que alguma da culpa nisto foi o facto do ponta-de-lança estar muito desacompanhado na frente. Ambos os extremos estavam muito colados às linhas, sem que flectissem para o centro para aparecerem no apoio ao Kikin (o que até era especialmente estranho no Paulo Jorge, dado que isto é algo que ele gosta de fazer frequentemente).

A partir do primeiro quarto-de-hora as coisas melhoraram um pouco, e o Benfica começou a aproximar-se mais da baliza adversária. Também muito por culpa das várias faltas que os jogadores do Nacional optavam por fazer de forma a travar os nossos ataques, que o Benfica aproveitava para tentar fazer a bola chegar à cabeça do Luisão. Houve uma boa oportunidade do Simão, que dentro da área acabou por pegar mal na bola e rematar torto, e perto da meia-hora, na sequência de um canto, chegámos ao golo pelo Luisão, que seguiu bem a trajectória da bola para o segundo poste e finalizou de forma aparentemente fácil. Logo a seguir houve uma boa jogada do Nuno Assis pela direita, que centrou atrasado para o Paulo Jorge, completamente à vontade à entrada da área, rematar fraco e ao lado. Pouco depois houve uma cabeçada do Katsouranis que passou rente ao poste, tendo pelo meio havido um grande susto com um remate de muito longe do Nacional a levar a bola ao poste. Ao intervalo o resultado era na minha opinião justo, e pelo menos parecia-me que o Benfica estava com uma atitude diferente da que tinha mostrado ultimamente.

Ao intervalo o Pedro e o Ricardo resolveram aparecer lá pelos meus lados, e sempre deu para pôr mais ou menos a conversa em dia (ou seja, especular quando é que vamos conseguir 'apanhar' o Gwaihir num dos nossos jantares, e comentar a fantástica final da Supertaça em futsal desta tarde, ganha à lagartagem).

Na segunda parte o Benfica veio melhor. A conseguir jogar bastante mais perto da área adversária, e já a conseguir mostrar algumas jogadas com princípio, meio e fim. Com menos de quinze minutos jogados o Nacional ficou reduzido a dez, e a partir daí e até final sucederam-se diversos lances em que o Benfica podia (e devia) ter dado a machadada final no encontro, mas infelizmente revelou muita inépcia na hora de finalizar, ou então demasiado tempo a executar lances de contra-ataque que iam aparecendo como consequência da inferioridade numérica do adversário. Reparei em particular na quantidade de cantos de que dispusemos, em que um jogador nosso ganhava a bola (ou às vezes até aparecia sem oposição) e cabeceava sem direcção. Foi pena não termos conseguido esse segundo golo, porque tranquilizaria a equipa. Com uma vantagem mínima há sempre a possibilidade de se sofrer o empate num lance fortuito, mas verdade seja dita que o Nacional apenas chegou à nossa baliza um par de vezes na segunda parte. Parece-me que a vitória do Benfica não tem qualquer contestação, e só tenho pena que tenha sido apenas pela margem mínima.

Em termos individuais, conforme já disse, para mim o melhor jogador do Benfica foi o Karagounis. Recuperou inúmeras bolas, e correu quilómetros a transportá-la para o ataque, fazendo na perfeição (agora vou usar um termo gabrielalvesco) a 'transposição defesa-ataque'. A par dele, também o Nuno Assis merece destaque. Esteve sempre muito activo na frente, procurou desmarcar-se para receber a bola dos colegas, e ainda ajudou na defesa. Seria o melhor em campo, não fosse o que jogou o Karagounis.

Enfim, não fomos brilhantes, estivemos aliás longe disso, mas já deu para sair da Luz mais satisfeito com a atitude da equipa. Normalmente não é quando as coisas correm mal que eu fico irritado. É sim quando não vejo vontade da equipa para lutar contra as adversidades. Hoje vi os jogadores com vontade de fazer melhor, e quando isso acontece as coisas tornam-se mais fáceis.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Zero

Zero no resultado, zero na exibição e, sobretudo, zero na ambição. E é isto que me deixa furioso. A equipa parece conseguir assimilar na perfeição a personalidade do seu treinador, e isso reflecte-se em campo. Claro que agora deverá vir a conversa do costume 'Ah, e tal, um empate fora na Champions é um bom resultado...'. Tretas. O Copenhaga é a equipa mais fraca do grupo, e se queremos passar à próxima fase os resultados contra eles deverão ser decisivos. Aliás bastou o Benfica carregar um bocadinho sobre eles na segunda parte que deu para ver o quão inferiores eles são.

Cinco mudanças no onze inicial em relação aoo descalabro do Bessa. Entraram Alcides, Ricardo Rocha, Paulo Jorge, Simão e Nuno Assis; sairam Nélson, Anderson (ao menos o treinador viu onde é que esteve o elo mais fraco da defesa contra o Boavista), Manú, Miguelito e Rui Costa. A troca do Nélson pelo Alcides (desculpem, mas eu continuo a embirrar em vê-lo a lateral direito em vez do Nélson) já me fazia desconfiar do medo do treinador. E esse medo viu-se em campo, porque o Benfica, mais uma vez, foi incapaz de assumir as despesas do jogo perante um adversário nitidamente inferior. O jogo disputava-se muito na zona do meio-campo, e pareceu-me que os dinamarqueses, quando verificaram que o Benfica não ia ser dominador, começaram então a tentar serem eles a assumir as despesas do jogo. Também não criaram grandes oportunidades, até porque para além do azar de não poderem contar com o avançado habitual, Allbäck (o que jogou no lugar dele era mesmo muito limitado), também ficaram sem o seu melhor jogador (Gronkjaer) ainda na primeira parte - e eu suspirei de alívio quando isso aconteceu.

O que me preocupa mais neste Benfica é aquilo que (não) joga. O ano passado criticava-se o Koeman, mas ainda se via algum jogo. Esta noite passei o tempo todo a contorcer-me assim que via a bola chegar perto da linha do meio-campo e depois o Petit (em 90% dos casos) , o Luisão ou os laterais optarem por passes longos (isto é um eufemismo - para mim eles limitavam-se a despejar a bola para a frente) quase sem nexo. Os laterais praticamente não participaram no jogo ofensivo da equipa. O que é feito do Léo da época passada, que fazia o corredor esquerdo todo praticamente sozinho? Porque é que ele agora chega à linha do meio-campo e larga a bola, muitas vezes optando pelos tais passes longos - coisa que nunca o vi fazer antes, já que o normal é partir para cima do adversário com a bola controlada, ou tentar tabelas rápidas com os colegas? Graças a este disparate de jogo, praticamente nem dei pela presença do nosso avançado em campo. O Nuno Gomes limitava-se a ver a bola passar por cima dele, de um lado para o outro, sem que nada pudesse fazer.

Na segunda parte o Copenhaga voltou a entrar forte, mas em poucos minutos o Benfica cortou-lhes o ímpeto, e começou a controlar o jogo. Nesta altura foi possível ver que seria possível o Benfica encostar o adversário lá atrás, caso assim o quisesse. A bola agora passava grande parte do tempo nos nossos pés, mas pareceu-me sempre que não havia grande vontade de assumir por completo o favoritismo que tínhamos à partida, de forma que se optou sempre por uma toada cautelosa. No banco o treinador também parecia conformado (que surpresa...) com o nulo, e apenas nos últimos minutos resolveu mexer na equipa. O único pontapé na monotonia foi dado pelo Paulo Jorge, que numa boa jogada enviou a bola ao poste (numa altura em que eu lhe rogava pragas por não ter soltado a bola para o colega isolado ao lado dele). Mas ele acabou por tomar a melhor decisão, e gostei da atitude que manteve durante o jogo.

Foi-me quase insuportável ver os minutos finais da partida. O Benfica a trocar a bola na defesa, e passando-a ao guarda-redes, os dinamarqueses nem sequer pressionavam porque tunham medo de sair do seu meio-campo, e o Nandinho a fazer substituições inúteis para queimar tempo, mostrando para quem ainda não tinha percebido que estava satisfeitíssimo com o empate. Espero enganar-me, mas palpita-me que ainda vamos chorar estes dois pontos que deixámos na Dinamarca. Que falta de ambição, caramba!

domingo, setembro 10, 2006

Pior...

...era difícil. Foi uma péssima estreia no campeonato. O Bessa é tradicionalmente um campo que nos é difícil, mas ontem o que se passou foi um descalabro completo.

O Benfica apresentou-se a jogar no esquema táctico habitual. Com o regresso do Léo saiu o Ricardo Rocha da lateral esquerda, e o Miguelito estreou-se no lugar do castigado Paulo Jorge. O jogo na primeira parte disputou-se com algum equilíbrio, a um ritmo elevado e com com a bola a passar muito tempo na zona do meio-campo, longe de ambas as áreas. Era notória a preocupação do Boavista em negar espaço ao Rui Costa para jogar na zona central, para além de prestar particular atenção às subidas dos nossos laterais. Apesar do equilíbrio, havia um diferença notória: o Benfica era incapaz de criar oportunidades claras de golo, enquanto que o Boavista (normalmente em contra-ataques rápidos e bem conduzidos pelos dois polacos) ia ameaçando mais. E já depois da meia-hora (numa altura em que o Quim já tinha negado o golo aos boavisteiros) após uma falha básica do Anderson a bola foi ter com o austríaco Linz, que rematou para um golaço sem hipóteses de defesa. Dada a inoperância ofensiva que vínhamos revelando até então, a desvantagem no marcador só poderia ser sinal de tempos difíceis. É que é difícil recuperar quando nem sequer se consegue rematar à baliza adversária.

Para a segunda parte surgiu o Kikin no lugar do Miguelito, tendo o mexicano ocupado a posição mais avançada no centro do ataque, cabendo ao Nuno Gomes a tarefa de cair sobre o lado esquerdo. A opção não era descabida, já que o Boavista jogava com o Hélder Rosário como falso lateral, que se juntava aos outros dois centrais sempre que o Benfica atacava. O início da segunda parte acabou por dar-me alguma esperança que as coisas mudassem. O Boavista já não conseguia cobrir todos os espaços, recuou para bastante perto da sua área, e o Benfica instalou-se no meio-campo adversário, tendo agora o Rui Costa mais espaço para jogar e distribuir jogo. Infelizmente, pouco depois do primeiro quarto-de-hora o nosso treinador decidiu mexer na equipa, saindo o Rui Costa para entrar o Nuno Assis, que se foi encostar à esquerda. Esta substituição (ainda que o Rui Costa não estivesse a ser brilhante), seja por que motivos tenha acontecido, para mim matou o Benfica. O nosso jogo ficou completamente desgarrado e, para piorar as coisas, minutos depois o Nuno Gomes foi expulso. A jogar com dez, e a tentar atacar de forma disparatada (não se notavam quaisquer preocupações defensivas, sobretudo na ocupação dos espaços deixados vazios quando os jogadores mais defensivos subiam) deixava antever que o Boavista poderia matar o jogo em qualquer momento.

Acabou por matar mesmo, com mais um golo do Linz, em que mais uma vez o Anderson falhou ao esquecer-se da marcação ao austríaco, que surgiu nas suas costas no risco da pequena área a cabecear à vontade. O jogo continuou na mesma toada, se calhar até ainda mais evidente até, pois após o golo o nosso treinador optou por retirar o Katsouranis (um dos poucos que ainda ia fazendo as necessárias compensações defensivas) para colocar mais um avançado. Com isto abriam-se autênticas avenidas para os contra-ataques adversários (mesmo com dois golos de vantagem e superioridade numérica o Boavista não abdicou de uma estratégia de contenção, para depois explorar o contra-ataque), e dei comigo a pensar quantos golos mais poderíamos sofrer. Sofremos mais um, num belo remate feito à vontade à entrada da área (o Katsouranis já lá não estava, e o Petit andava a ver a banda passar).

Para um fim de noite perfeito, e num altura em que a equipa estava completamente à deriva, o Manú acabou expulso com um vermelho directo (exagerado, na minha opinião), e o Petit juntou à exibição desastrosa que fez (acho que a única contribuição positiva que teve durante o jogo foi um passe a isolar o Manú na primeira parte) uma demonstração de que para ele a braçadeira de capitão não passa de um ornamento, já que se é aquele o exemplo que ele quer dar, estamos bem arranjados. Aliás em relação ao Petit voltei a passar o tempo todo a perguntar-me o que é que ele já fez de forma a justificar a marcação de 95% dos lances de bola parada da equipa. São livres, cantos, tudo, em que 9 em cada 10 tentativas acabam por ser mal executadas. Não contente com isto, como ainda precisa dar largas aos instintos rematadores, de vez em quando resolve presentear-nos com umas tentativas de remate a mais de trinta metros, que raramente passam a menos de dez metros da baliza adversária. De cada vez que o vejo alçar a perna já tenho uma reacção pavloviana de começar barafustar.

Enfim, foi um regresso ao pior Benfica que vimos na pré-temporada, isto depois das boas indicações que tínhamos visto na pré-eliminatória da Champions League. Eu este ano acho que temos um bom plantel, equilibrado e com várias opções, coisa que nunca tivémos nas últimas épocas. Se este grupo de jogadores não conseguir jogar decentemente, eu sei a quem é que vou apontar o dedo como responsável.

sábado, setembro 09, 2006

Afinal...

...parece que fui precipitado na minha condenação ao nosso presidente ontem. Pelo que li hoje, a consulta a ambos os intervenientes num jogo da taça para que indiquem nomes de árbitros, de forma a que se chegue a um consenso, é prática comum por parte da FPF, e este caso não foi excepção, pois o presidente d'Os Belenenses na altura, Sequeira Nunes, confirmou que também foi contactado por Pinto de Sousa em relação ao jogo em questão, e que também deu a sua lista de nomes:

"O senhor Pinto de Sousa pediu-me que sugerisse três ou quatro árbitros para o jogo da Taça de Portugal entre o Benfica e o Belenenses, o que fiz, indicando efectivamente três ou quatro nomes[...]
O senhor Pinto de Sousa também me disse que antes dos jogos era habitual ouvir os clubes e pedir-lhes que indicassem três ou quatro nomes."


Assim sendo peço desculpa pela minha precipitação inicial. A verdade é que desejo que o processo Apito Dourado siga até ao fim, arraste quem arrastar consigo. Se houver pessoas ligadas ao Benfica metidas nisso, espero que sejam condenadas como os outros. Mas neste caso o que parece é que nada de anormal se passou, e houve (mais uma vez) um aproveitamento por parte da comunicação social da mais pequena oportunidade para apontar baterias ao nosso presidente. Lamento não ter esperado e reflectido mais sobre o assunto antes de ter feito o post anterior (até porque já tinha ido dormir com um amargo de boca dado que na SIC Notícias, logo à meia-noite, já eles faziam notícia anunciando aquilo que seria a primeira página do Público na manhã seguinte). O caso foi empolado e eu, feito carneiro, deixei-me ir na onda. Ao longo do dia fui-me apercebendo do meu erro, mas já era tarde demais para emendar a mão. Por isso o meu pedido de desculpa.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Triste

Esta notícia deixou-me bastante triste. Não sendo isto o mesmo que andar a oferecer prostitutas a árbitros, ou a influenciá-los para obter eventuais favores (embora tenha a certeza que vai haver muita gente a querer meter isto no mesmo saco), o facto do nosso presidente ter discutido o assunto com o Valentim Loureiro significa para mim um pactuar com o sistema que agora se critica, e com as pessoas responsáveis por atitudes sujas como as citadas. Depois disto deixa-se de ter autoridade moral para se atacar esse mesmo sistema. Compreendo a preocupação por uma substituição de última hora de um árbitro de um jogo importante para o Benfica, ainda para mais perspectivando-se a nomeação de um árbitro que se sabe ter associações ao FCP, mas repito, andar a discutir qual o árbitro que seria aceitável para o mesmo jogo com o Valentim Loureiro significa para mim um aceitar das regras do jogo, e ao não denunciar isto publicamente, um pactuar com essas mesmas regras. Aliás, o Valentim nem se devia ter metido nisto, já que o jogo em questão é referente à Taça de Portugal, que é uma competição organizada pela FPF. Isto por si só já demonstra o quanto o homem controla os bastidores da arbitragem em Portugal, e já deveria ter sido motivo de denúncia.

terça-feira, setembro 05, 2006

No pasa nada

"«Apito Dourado» detecta manobras para prejudicar Benfica em 2003/04
A investigação levada a cabo no âmbito do processo «Apito Dourado» detectou abordagens a vários árbitros no sentido de prejudicar o Benfica na época 2003/2004, revela o Diário de Notícias (DN) na sua edição de hoje."


O que me entristece mais nisto é saber que isto não vai dar em nada. Isto nem notícia devia ser, porque no fundo não se passa nada. E o que me irrita mais é ver que os responsáveis por estas coisas andam a monte - a monte não, minto, andam é por aí. Insinuam-se publicamente, banhados na impunidade que sabem possuir, falam para as televisões, são recebidos e apaparicados pela classe política, e no fundo gozam com todos nós. Com o 'regresso' desta estirpe de gente à ribalta, não me surpreenderá nada que o campeonato deste ano seja uma repetição destes cenários. Como aliás o nosso presidente tem vindo a repetir para quem o quiser ouvir.

Mas estas coisas são apenas produto da imaginação dos benfiquistas, que têm a mania que são perseguidos, e que no fundo não sabem ver é que o Benfica é que é sempre beneficiado pelo 'sistema'. Parece que afinal o Benfica de Camacho ainda assustava muita gente.