domingo, outubro 28, 2007

A ferros

Mais uma vitória arrancada a ferros, conseguida já perto do final do jogo, e em circunstâncias adversas. Mais uma vez, a equipa acreditou, lutou até ao final, e teve a recompensa disso. O ano passado éramos peritos em deixar fugir resultados nos últimos minutos; este ano é o contrário (o que aliás, já tinha acontecido diversas vezes aquando da anterior passagem do Camacho pela Luz).


Há coisas difíceis de explicar. Esta noite na Luz estiveram praticamente 45.000 espectadores. Muitos mais do que no jogo decisivo da Champions contra o Celtic. Pelos vistos a boa exibição na segunda parte desse jogo foi suficiente para motivar o regresso de muitos benfiquistas. Na nossa equipa regressaram também, mas à titularidade, o Edcarlos e o Di María, saindo o Nuno Assis e o Bergessio do onze. Isto significou a subida do Katsouranis para o meio-campo, e o Di María foi jogar novamente para a direita. Em relação ao nosso adversário, deixo um elogio: gostei muito do que vi. Desde o início que nunca se remeteram à defesa, tentaram jogar de igual para igual, e mostraram ter uma equipa muito bem organizada, com bons jogadores. Isto ficou bem patente na forma como o Marítimo iniciou o jogo. Durante os primeiros minutos foram, para mim, a melhor equipa em campo, jogando a maior parte do tempo no nosso meio-campo, e sendo o golo que marcaram logo aos nove minutos (após uma saída idiota da baliza do Quim) um reflexo disso mesmo.

O golo teve o condão de despertar o Benfica, que começou a jogar melhor e a conseguir criar perigo junto à baliza adversária. Acabámos por chegar ao golo após outra idiotice, desta vez do Ricardo Esteves que cortou com a mão um cruzamento do Rui Costa, numa jogada que nem parecia ser muito perigosa (e tive que recuperar do espanto que foi ver, finalmente, o Pedro Proença assinalar um penalti a nosso favor - isto já era algo que nunca pensei vir a ver). A toada do jogo manteve-se após o penalti convertido pelo Cardozo, mas à passagem da meia-hora, num lance de alguma felicidade o Kanu ficou isolado diante do Quim, que o derrubou provocando o respectivo penalti e consequente expulsão do nosso guarda-redes (para mim indiscutível). Entrou o 'especialista' Butt para o lugar do Edcarlos (ao menos assim o Katsouranis voltou para a defesa, e a verdade é que eu me sinto muito mais seguro com ele lá) e este fez juz à reputação, defendendo o penalti do Makukula. Este foi um momento chave do jogo, já que julgo que seria muito difícil ao Benfica recuperar de uma desvantagem frente a esta equipa do Marítimo estando em inferioridade numérica. A expulsão do Quim marcou também o início de um período de equilíbrio no jogo, que se estendeu até ao intervalo. O Marítimo parecia ter ficado atordoado com o penalti falhado, enquanto que o Benfica tentava reorganizar as suas ideias.

Após o intervalo surgiu o Luís Filipe no lugar do Di María. Julgo que a intenção do nosso treinador era a de dar um pouco mais de equilíbrio à equipa, já que o Pereira (bom jogo na primeira parte) adiantou-se no terreno e foi desempenhar funções de médio interior direito, auxiliando o meio-campo e ao mesmo tempo apoiando as subidas do Luís Filipe. E o Benfica até entrou bem na segunda parte, não parecendo acusar a falta de um jogador, embora o Marítimo nunca tivesse deixado de se mostrar perigoso. Este fôlego do Benfica durou cerca de um quarto de hora, após o qual o Marítimo voltou a crescer, assumindo o domínio do jogo. Alguns dos nossos jogadores pareceram acusar algum cansaço (em particular o Rodríguez) e ajudavam pouco nas tarefas defensivas. Mas apesar deste domínio, o Marítimo pareceu sempre estar de alguma forma satisfeito com o empate, e portanto nunca assumiu verdadeiramente a intenção de pressionar o Benfica em busca do golo da vitória. Quanto a nós, à medida que o tempo passava parecia que a equipa ia perdendo lucidez, e apesar de procurarmos a vitória faziamo-lo de forma incorrecta, com os jogadores a agarrarem-se muito à bola (mais uma vez o Rodríguez, e também o Rui Costa, estiveram em evidência nesse aspecto). Mas acabou por ser na sequência de uma iniciativa individual (quase até desesperada) que o Benfica chegou ao golo da vitória. Foi uma jogada incrível do Léo, que foi desde a esquerda até à direita, para depois numa posição de autêntico extremo direito fazer o centro rasteiro que o Adu finalizou com um toque de classe. O americano está a começar a tornar-se o Mantorras desta época: entra perto do final para resolver os jogos.

Claro que o Butt merece ser destacado. Entrou para defender um penalti a frio, e na segunda parte ainda fez mais uma boa defesa a um remate quase à queima-roupa. Para contrastar com a noite desastrada do Quim, ele que tão boa conta tem dado de si ultimamente. Gostei também de ver o Binya (apesar de continuar demasiado abrutalhado na forma como aborda alguns lances, o que me deixa sempre na expectativa que não chegue ao fim dos jogos) e o Léo. Será que dá para assinarem a renovação dele de uma vez por todas? Em contrapartida, o Rodríguez deve ter feito um dos jogos mais fraquitos desde que cá chegou. Também me desagradaram alguns lances do Rui Costa, embora fosse visível que ele teve direito a atenção 'especial' por parte do Marítimo, já que normalmente caiam-lhe em cima dois adversários quando recebia a bola.

Parece que começa a tornar-se tradição os jogos com o Marítimo na Luz serem emocionantes e decididos nos últimos instantes (aquele 4-3 vai ser sempre inesquecível). Este felizmente acabou bem para nós. A equipa ainda terá que melhorar muito, mas agrada-me ver a atitude que têm em campo, e o inconformismo que revelam. Assim, mesmo quando as coisas não correm a nosso favor, acabo sempre por ficar minimamente satisfeito no final.

P.S.- Será que o jogo desta noite foi suficiente para que deixem de repetir a frase feita que o Camacho é 'tacticamente fraco'?

quinta-feira, outubro 25, 2007

Suado

Foi um triunfo tão suado quanto merecido do Benfica esta noite. E mesmo que a vitória não nos tivesse sorrido já perto do fim, eu creio que seria incapaz de criticar a nossa equipa, porque desta vez foi possível ver que os jogadores acreditaram e lutaram até ao fim para serem felizes.

O Benfica apresentou-se com a equipa que vinha sendo anunciada, com o Katsouranis a recuar para central, Binya e Nuno Assis como titulares, e a dupla Bergessio/Cardozo no ataque. Quanto ao Celtic, mostrou desde os primeiros instantes ao que vinha: jogar para o empate. Dispôs-se em 4-5-1, jogando quase sempre com os onze jogadores atrás da linha da bola, e arriscando muito poucos contra-ataques, que nas raras vezes que aconteciam eram quase sempre conduzidos pelo lado direito através do McGeady. No fundo, acabaram por vir à Luz jogar como já estamos habituados a ver as equipas do nosso campeonato fazerem. Foi assim uma espécie de Penafiel celta. Eu confesso que desde sempre que não consigo levar esta equipa escocesa a sério. Tenham os jogadores que tiverem, gastem o dinheiro que gastarem, no meu subconsciente eles são sempre um bando de jogadores acepalhados (nem sei se esta palavra existe) tipicamente britânicos que têm a sorte de terem adeptos que são dos melhores do mundo. Mesmo nos tempos recentes do Martin O'Neill, em que jogavam de forma mais 'continental', nunca me convenceram totalmente. Claro que aquelas lonas das barracas da praia da Figueira com que se equipam também contribuem para esta opinião. É muito difícil conseguir levar a sério uma equipa que se veste de forma propositadamente cómica. O jogo desta noite acabou por ser apenas mais uma confirmação da ideia pré-determinada que tenho sempre deles.

Dada a atitude do Penafieltic, não surpreendeu portanto que o Benfica, mesmo não jogando particularmente bem, tivesse um domínio territorial quase absoluto durante a primeira parte. A posse de bola adversária era quase limitada a uns alívios para a frente. Quanto a nós, apesar de termos a bola tanto tempo nos pés, por vezes parecíamos não saber o que fazer com ela. É verdade que não é fácil furar uma linha de defesa de onze jogadores, e por isso a bola andava por ali a circular, mas sem conseguir entrar no último terço do campo, onde se acantonavam os onze jogadores adversários. O ponto mais vulnerável da defensiva escocesa, e aquele por onde mais conseguimos furar, era o lado direito da sua defesa, onde apareceu o central Caldwell (este verdadeiramente um cepo da 'velha escola', e que o ano passado fez o favor de nos oferecer dois golos) adaptado, e que tinha muitas dificuldades em travar as entradas do Léo e do Rodríguez. Ainda assim, a primeira boa oportunidade de golo foi do Celtic, correspondendo o Quim com uma boa defesa a um remate do Donati. As oportunidades do Benfica nesta primeira parte ficaram-se por um falhanço do Cardozo, que não conseguiu acertar numa bola centrada pelo Léo, e uma cabeçada do Katsouranis perto do intervalo.

No segundo tempo o Benfica entrou com muito mais velocidade e vontade de chegar ao golo, o que poderia ter acontecido muito cedo, quando o Cardozo deu o mote para uma grande segunda parte ao ver um cabeceamento seu ser correspondido com uma grande defesa do Boruc. O balanceamento ofensivo do Benfica abria também mais espaços para o contra-ataque dos escoceses, que neste período conseguiram aproximar-se algumas vezes da nossa baliza, sempre por intermédio do ala direito McGeady (foi o jogador deles que mais gostei de ver). Ao fim de um quarto de hora entraram o Di María e o Adu para os lugares do Bergessio e Nuno Assis. Não sei se alguma vez isto teria acontecido, mas depois disto os quatro jogadores mais ofensivos do Benfica eram todos canhotos. Esta alteração foi benéfica para nós, sobretudo por causa do Di María. Ele foi jogar nas costas do Cardozo, e proporcionou mais uma opção para jogar e segurar a bola no espaço entre as duas linhas de defesa adversárias, poupando assim um pouco o Rui Costa, que antes disso tinha as despesas quase exclusivas de organização de jogo e transporte de bola para o ataque.

As oportunidades continuaram a surgir, muito por culpa do Cardozo. Na recarga a um remate do Rodríguez atirou a bola à barra. Pouco depois, e após um trabalho muito bom dentro da área (desmarcação, recepção, rotação e remate) voltou a acertar nos ferros da baliza. O Benfica pressionava e procurava o golo, os escoceses pareciam já não conseguir manter a organização defensiva que tinham revelado na primeira parte, mas o golo não havia maneira de surgir. Tal como no primeiro tempo, era sobretudo pelo lado esquerdo que o Benfica insistia, com o Léo e o Rodríguez muito activos, e ainda o Rui Costa a cair diversas vezes para essa zona (se depois daquele túnel ao Caldwell ele marca golo acho que o estádio vinha abaixo). E a três minutos do fim, numa altura em que eu já começava a ficar conformado e com flashbacks do jogo com o Boavista do ano passado a passarem-me pela cabeça, o Di María viu finalmente uma desmarcação do Cardozo (digo finalmente porque eu já reparei que ele tenta aquele movimento diversas vezes, mas raramente lhe endossam a bola), fez um passe perfeito, e o paraguaio matou no peito e tocou de primeira para a baliza. Fiquei muito contente por ter sido ele a marcar. Eu deposito muitas esperanças neste jogador, e se depois da segunda parte que fez hoje ele acabasse em branco isso poderia ter efeitos devastadores na sua confiança. Fez-se assim justiça ao cair do pano.

Como é óbvio, o Cardozo merece destaque pela exibição que fez hoje, particularmente na segunda parte, já que a primeira foi fraca. Boas exibições também do Léo e do Rodríguez, que conduziram a maior parte das jogadas de ataque do Benfica. O Quim voltou a mostrar que está num excelente momento, respondendo bem nas poucas vezes em que foi chamado. O Katsouranis voltou a estar seguríssimo na defesa e, francamente, neste momento até tenho mais confiança nele para aquela posição do que no Luisão. Bom jogo também do Binya, que mostra ser uma opção válida na ausência do Petit (e é capaz de ser interessante imaginar os dois juntos, quando for necessário dar maior consistência defensiva ao meio-campo). No cômputo geral julgo que a equipa esteve bem, sobretudo por causa da atitude demonstrada.

Com a vitória do Milan o grupo ficou completamente em aberto, embora as coisas não sejam fáceis para nós, já que só temos mais um jogo em casa. Parece-me que se queremos alimentar alguma esperança em passar à segunda fase teremos que ganhar em Glasgow, o que por norma é extremamente difícil. Mas eu acredito que é possível (embora, claro está, seja preciso dar o desconto de eu ser incapaz de levar equipas que se equipam com as lonas das barracas da praia da Figueira a sério).

domingo, outubro 21, 2007

Taça Adu

Pouco posso escrever sobre o jogo de ontem. Pela primeira vez esta época não pude ir ao estádio, e limitei-me a acompanhar o jogo minimamente à distância numa televisão que havia no restaurante onde estava.

Pelo que fui ouvindo no rádio antes de chegar lá, parecia que o Benfica estava a fazer um jogo péssimo, e que o golo do Setúbal foi um reflexo desse mau jogo da nossa equipa. A verdade é que quando comecei a ver o jogo vi o Benfica o tempo quase todo instalado no meio-campo adversário, que se limitava a enfiar tantos jogadores quanto possível nas imediações da área e tentava aproveitar qualquer livre para despejar a bola para perto da nossa baliza. Vi-nos falhar algumas ocasiões de golo incríveis, e portanto fiquei sem saber se o Benfica começou o jogo a jogar assim tão mal quanto diziam, e depois por sorte melhorou quando eu comecei a acompanhar o jogo, ou se o pessoal da TSF estava simplesmente a aproveitar mais uma oportunidade para desancar gratuitamente o nosso clube.

Na segunda parte o Setúbal pareceu recuar ainda mais, mas o Benfica revelava grandes dificuldades para marcar. Foi mais um daqueles dias em que a bola não parecia destinada a entrar. É verdade que não me pareceu que estivéssemos a jogar particularmente bem, mas fiquei com a impressão de que fizemos mais do que o suficiente para ganhar aquele jogo. O mal menor foi que praticamente na última jogada do encontro o Freddy Adu marcou um belo golo, com um remate cruzado feito com o pé esquerdo. Dois jogos na Taça da Liga, e por duas vezes o Freddy Adu marca o golo salvador nos últimos segundos do jogo. Acho que podemos começar a chamar esta competição de Taça Adu. Lá teremos que ir ganhar ao Bonfim para passar.

terça-feira, outubro 16, 2007

Bons

Começa a irritar-me a frequência com que já se fala das nossas possíveis e até 'necessárias' contratações para Janeiro. Quando comprava 'A Bola' esta manhã dei comigo a contar quanto tempo falta para que o mercado de transferências volte a abrir. São dois meses e meio. Mais tempo do que aquele que passou desde que a época oficial começou. O que não deixa de ser um mau prenúncio para o referido período de abertura do mercado, altura em que eu chego a ficar mal-disposto só de olhar para as capas dos desportivos, e ver os camiões de jogadores que todos os dias são alvo do suposto interesse do Benfica. Além disso por vezes as notícias nem sequer parecem fazer grande sentido. Se calhar sou só eu, mas olhando para 'A Bola' de hoje, que sentido faz estar-se a falar do interesse em dois avançados, quando o Benfica tem neste momento quatro no plantel, e é orientado por um treinador que têm preferência em utilizar apenas um?

E que confiança se estará a transmitir a jogadores que chegaram ao clube há três meses, quando ao fim deste curto período já se fala à boca cheia da necessidade imperiosa de contratar jogadores para as posições deles? E nisto não sei se é a imprensa que provoca este tipo de opiniões nos benfiquistas, ou se se limita a reflectir aquelas que parecem ser as nossas opiniões. Sim, porque ao fim de três meses já muitos de nós sabemos com toda a certeza que a política de contratações seguida no último defeso foi má, e que a culpa disto tudo é do presidente. Já sabemos que os jogadores que vieram são maus, ou pelo menos de certeza que quem quer que seja que venha em Janeiro será melhor que eles. O importante é mesmo que venha alguém em Janeiro. Quanto aos que vieram no Verão, que custaram milhões, e que eram estrelas nos clubes de onde vieram, basta vermos meia-dúzia de jogos que sabemos logo que não servem. Jogador que não desate logo a marcar hat tricks mal entre na equipa já é mau. Qual adaptação qual quê. A adaptação 'faz-se em meia-dúzia de treinos'.

A nossa tendência generalizada é sempre a mesma. Bons nunca são os que cá estão. Bons, mas bons, bons mesmo são aqueles que não conseguimos contratar, os que já cá estiveram e depois saíram, ou os que ainda estão para vir (depois quando chegam cá, ao fim de um mês já são maus). É como muitos dos meus vizinhos de bancada habituais na Luz ilustram. O ano passado passavam o tempo a resmungar sobre 'deixam o pequenino sozinho lá na frente', que 'não tem cabedal para lutar com os defesas', que 'querem eles pagar não sei quantos milhões para ficar com um avançado que não ganha um lance de cabeça', e que 'se ele fosse mesmo bom os italianos não o tinham mandado para cá'. O que o Benfica precisava era mesmo de um ponta-de-lança mais fixo, capaz de lutar com os defesas, 'assim como o Karadas' (que quando cá estava era um cepo e era assobiado de alto a baixo). Agora é ouvi-los a resmungar que 'não quiseram dar cinco milhões pelo italiano e foram gastar nove neste'. Enfim.

P.S.- Interessante a estatística compilada pelo João Querido Manha, hoje recordada pelo MST, e que mostra que no Séc.XXI (nos últimos sete anos, portanto) o Sportém beneficiou de cerca de 50 a 60% mais penalties do que o Benfica e o FCP (71 para 48 e 44, respectivamente). A este número podemos também juntar aquele fantástico feito de terem conseguido ficar mais de cinco anos sem terem qualquer penalty assinalado contra. Face a números destes, e tendo em conta a choradeira sobre arbitragens com que nos presenteiam todos os fins-de-semana de há anos a esta parte (pelo menos desde que eu me lembro de começar a ver futebol que sempre os associei à choraminguice - o que foi um dos factores para nunca ter gostado deles), depois ainda se admiram que os apelidem de 'queixinhas' ou 'Calimeros'?

domingo, outubro 07, 2007

Regresso

Regresso às vitórias após dois empates seguidos para o campeonato, num campo que nos é tradicionalmente difícil, e num jogo que começou da pior maneira possível. Sem ter sido uma exibição de encher o olho, dá-me sempre prazer ver o Benfica dar a volta a um resultado, ignorando a adversidade.

O Benfica apareceu ligeiramente diferente esta noite, jogando com dois avançados, e regressando ao losango, entrando o Binya para o onze, indo ocupar o posição de trinco, e sendo sacrificado o Di María. Apesar da chuva de críticas que se abateu sobre a nossa equipa na passada quarta-feira, a verdade é que não me pareceu que a equipa tivesse estado mal a jogar desta forma, e na ausência do Petit esta parece ser a melhor maneira de dar alguma solidez ao meio-campo. Mas as coisas começaram bastante mal. Logo a abrir o Quim foi obrigado a uma boa defesa a remate do Maciel, e no minuto a seguir a U.Leiria colocou-se em vantagem, num lance em que a nossa dupla de centrais pareceu estar completamente apática, permitindo que o avançado adversário recebesse no peito, passasse entre os dois, e fizesse golo. Apesar deste mau início, a equipa pareceu reagir bem e foi à procura do golo do empate. O período em que estivemos em desvantagem no marcador foi, aliás, uma das alturas em que mais me agradou ver-nos jogar, com muita agressividade no meio-campo a permitir-nos recuperar rapidamente a bola, e com diversos jogadores a aparecerem envolvidos nas jogadas de ataque. O golo do empate foi aliás um exemplo disso, com o Cardozo a conseguir segurar bem a bola de costas para a baliza, soltando-a para o Rui Costa, que desmarcou o Rodríguez na esquerda. Este fez um bom centro que foi finalizado exemplarmente de cabeça pelo Nuno Gomes, colocando a bola ao segundo poste. Conseguido o empate, continuámos a jogar melhor que o Leiria, mas pareceu-me que a partir da meia-hora a equipa por algum motivo tirou o pé do acelerador, e assim sendo o último quarto-de-hora foi bastante penoso, porque mal jogado e permitindo um ascendente dos leirienses. O empate ao intervalo não era, por isso, desajustado.

O segundo tempo continuou a mostrar um jogo equilibrado, não muito bem jogado (o estado do relvado também não parecia ajudar), mas bastante aberto, de forma que parecia ser possível que se marcassem mais golos. Após os dez minutos iniciais, pareceu-me que a balança começou a pender mais para o nosso lado, já que por diversas vezes conseguíamos construir lances de ataque em que os nossos jogadores apareciam de igual para igual, ou até mesmo em superioridade numérica sobre os defensores adversários. Numa dessas jogadas o Katsouranis fez um passe brilhante para o centro da área ao qual acorreu o Nuno Gomes, que rematando de primeira desfez a igualdade. E depois disto, conseguimos criar oportunidades para dilatar a vantagem, mas voltámos a mostrar-nos muito perdulários na finalização ou no último passe. Os últimos dez minutos de jogo acabaram por me irritar muito, não pela qualidade do nosso jogo, mas por outros motivos. Mas como por norma prefiro não falar de arbitragens, abstenho-me de os comentar. Ganhámos, e é o que importa.

Gostei de ver o Binya. Vontinua ainda um bocado ingénuo na forma como aborda muitos dos lances, e assim que vê um amarelo passo o resto do tempo a recear que seja expulso na próxima jogada, mas aquela agressividade faz falta naquela zona do campo enquanto não há Petit. Mais um bom jogo do Rodríguez, que continua a mostrar ser um jogador de qualidade. E também, mais uma vez, um bom jogo do Katsouranis, mesmo tendo em conta que muitas vezes teve que aparecer em terrenos que não lhe são muito familiares (na ponta direita). O Nuno Gomes merece obviamente elogios, pelos dois golos que marcou e pelo muito que jogou em terrenos mais recuados. Hoje teve a companhia do Cardozo na frente, com o paraguaio a fixar mais os centrais, e o Nuno Gomes agradece. Já que menciono o Cardozo, digo também que gostei da exibição dele. Não marcou (também não teve muitas oportunidades para o fazer), mas ganhou diversas bolas e segurou-as para a entrada dos colegas. Não fosse a recusa do árbitro em assinalar qualquer uma das faltas que ele sofreu perto da área (lances iguais, desde que fossem perto do meio-campo, já eram assinalados) e a sua utilidade poderia ter sido ainda maior.

Não me pareceu que o Benfica hoje tivesse mostrado estar muito melhor do que esteve na passada quarta-feira, por exemplo. A diferença foi que a bola entrou na baliza. O maior problema que a nossa equipa parece ter ultimamente é falta de confiança. Espero que esta vitória sirva de ajuda nesse campo.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Paciência

É-me cada vez mais difícil estar a escrever sobre os jogos do Benfica. Com o jogo desta noite já são cinco os jogos consecutivos sem vencer, o que é algo a que eu não estou habituado. E o jogo desta noite foi daqueles que me custam a digerir, porque pelo menos fiquei com a sensação que os jogadores tentaram, mas quando as coisas não estão bem parece que nada quer ajudar, nem sequer a sorte.

Com a mesma equipa do derby, excepção feita ao Cardozo no lugar do Nuno Gomes, o Benfica deu o primeiro sinal de perigo logo aos dois minutos, através de um bom remate do Rodríguez. Mas depois disso o que se viu foi o Shakhtar a conseguir controlar a partida, jogando num ritmo pausado e tentando explorar o contra-ataque, enquanto que o Benfica revelava dificuldades sobretudo na zona do meio-campo, onde o Pereira se mostrava desastrado. Foi preciso um safanão, dado pelo Di María aos 25 minutos ao atirar a bola à barra da baliza ucraniana, para que o Benfica acordasse. Logo a seguir houve mais uma oportunidade, mas o Katsouranis atirou ao lado. Passámos então a mandar mais no jogo, mas os ucranianos nunca pareceram acusar muito a pressão, e mantiveram-se sempre organizados e com um olho no contra-ataque. E foi num contra-ataque que acabaram por marcar, bem perto do final da primeira parte. Ganharam uma bola dividida no meio-campo, num lance em que o Nélson ficou lesionado, e depois entraram precisamente pelo lado direito da nossa defesa, culminando com um centro atrasado para o golo. Embora não achasse uma surpresa, dado o valor que reconheço aos jogadores ucranianos (só de nome, porque acho que ucranianos mesmo no onze deveriam haver um ou dois), não me pareceu que a vantagem deles fosse um resultado muito justo.

Com esta vantagem, na segunda parte eles puderam jogar ainda mais como pretendiam. Ou seja, bem organizados na defesa, com muita calma (queimando o máximo de tempo possível, e infelizmente sempre com a complacência do árbitro), e explorando (muito bem) o contra-ataque, sobretudo por acção do Fernandinho, que foi um jogador que me impressionou bastante. Foi assim que, apesar de ser o Benfica quem atacou e rematou mais, acabaram por ser eles a conseguir criar as duas oportunidades mais flagrantes de golo destes segundos quarenta e cinco minutos. Ao fim de quinze minutos, saiu o Di María para entrar o Binya, e o Benfica passou a jogar com o nosso conhecido losango, com dois avançados fixos na frente e o Rui Costa a apoiá-los, enquanto o Binya ocupava o vértice mais recuado. Isto permitiu-nos ganhar mais força no meio-campo e jogar mais próximo da área adversária, mas neste momento a nossa equipa parece revelar grandes dificuldades para marcar. A confiança não parece abundar nesse aspecto, e mesmo quando os jogadores conseguem ter oportunidades para rematar, acabam muitas vezes por rematar frouxo ou sem direcção. Além disso, e à medida que o tempo avançava, fomos demonstrando cada vez menos capacidade para jogar como equipa, apostando mais nas iniciativas individuais. Não surpreendeu portanto que a desvantagem no marcador perdurasse até final, atirando-nos para o último lugar do grupo.

Quanto aos jogadores, não é fácil escolher alguém que mereça grande destaque. O Pereira voltou a estar mal no centro do campo, mas melhorou bastante quando passou para lateral direito, após a saída do Nélson. O Binya teve uma boa entrada no jogo, sobretudo pela atitude, tentando empurrar a equipa para a frente. O Cardozo fez um jogo muito fraco, e parece-me neste momento um jogador sem confiança nenhuma. O Rodríguez mostrou vontade, mas está a agarrar-se demasiado à bola.

Apesar do resultado se aceitar, estou um tanto ou quanto surpreendido com as críticas que entretanto fui ouvindo e lendo após o jogo.
Claro que já sei como as coisas se passam, e que há quem aproveite qualquer oportunidade para nos bater de forma vil quando estamos por baixo. Não me parece que o Benfica tenha de alguma forma sido vulgarizado ou dominado pelo adversário desta noite. Jogámos contra uma equipa muito bem organizada, recheada de bons jogadores, e que mostrou desde o início ao que vinha. O empate já os teria satisfeito, e ainda por cima tiveram a felicidade de marcar o golo da maneira que marcaram, mesmo em cima do intervalo, e no culminar de uma fase de maior ascendente do Benfica. Nós tentámos inverter as coisas na medida do possível, nem sempre da melhor maneira, mas pelo menos tentámos. O facto de termos terminado o jogo com maior posse de bola e mais do dobro dos remates do adversário mostra isso mesmo. Mas as coisas nem sempre podem sair bem ou como nós desejaríamos. Paciência. Há que levantar a cabeça e começar a pensar já no próximo jogo.