segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Justo

Costumo dizer que melhor do que marcar um golo ao FC Porto, só mesmo que esse golo seja um frango do Vítor Baía. É daqueles jogadores que, a par do Beto e do Sá Pinto ali do outro lado, e do André (que felizmente já não joga há uns anos) têm o condão de me pôr a ranger os dentes mal os vejo dentro de um campo de futebol. Ao contrário dos outros exemplos citados, em que sei porque é que não gosto deles, o Baía irrita-me por motivos um bocado mais incompreensíveis. Só sei que não gosto dele, e tenho especial prazer em vê-lo falhar.

Ainda antes do jogo começar tive o prazer de encontrar o HMémnon, que tinha vindo ver o jogo e estava sentado poucas filas atrás de mim. Além disso estava bem acompanhado, pois trazia com ele a Anita, e já sabemos que quando ela vai ao estádio o Benfica ganha.

O Benfica jogou com a táctica utilizada na última meia-hora frente ao Liverpool, ou seja, com o Karagounis a formar o trio do meio-campo juntamente com o Petit e o Manuel Fernandes. Quanto ao FC Porto, Co Adriaanse cumpriu o que se esperava, e apareceu com o esquema teórico de três defesas. Digo 'teórico' porque na prática sempre que o FC Porto perde a posse da bola o Paulo Assunção recua para se tornar o quarto defesa. E quando ele não conseguiu isso, apareceu por lá o Nuno Gomes a fazer a dobra para assumir as funções de quarto defesa do FC Porto o que, diga-se de passagem, ele conseguiu na perfeição (eu sei que estou a ser mauzinho para o Nuno Gomes, mas ainda não consigo pensar no falhanço dele sem ficar furioso). O FC Porto até entrou bem no jogo, parecendo querer controlá-lo desde o início. Só que ao fim de cerca de dez minutos já era o Benfica quem mandava. Sem atacar desenfreadamente, a verdade é que a bola estava quase sempre nos pés dos nossos jogadores, e o FC Porto parecia inofensivo. Também é verdade que eles, um pouco como o Liverpool fez na passada terça-feira, estavam numa posição mais ou menos expectante. Oito pontos ajudam a dar uma confiança extra, e permitiam-lhes abordar o jogo com calma, sabendo que o empate nem seria um mau resultado, dado que na prática deixaria o Benfica quase sem hipóteses de lutar pelo título.

O estranho é que tendo o FC Porto uma equipa tão ofensiva em campo, praticamente não conseguia atacar. O 'mágico' (acho giríssima a forma como a imprensa se farta de descobrir 'magia' lá para as bandas do Dragão) Quaresma andava a fazer companhia ao Cristiano Ronaldo dentro do bolso do Léo (ele pode ser pequenino, mas pelos vistos dentro do bolso dele cabe muita gente), que o marcava da forma mais inteligente, antecipando-se quase sempre e não permitindo ao Quaresma arrancar com a bola controlada. Com o Quaresma quase anulado, o jogo do Porto estava entupido e pouco imaginativo. Do nosso lado, o flanco esquerdo mostrava-se particularmente activo, graças às iniciativas do Léo e do Robert (tem vindo a subir de rendimento e hoje, sem ter sido brilhante, terá feito o melhor jogo desde que chegou ao Benfica). À medida que nos aproximávamos do intervalo, o Benfica foi-se aproximando mais da baliza adversária, ainda que sem oportunidades flagrantes (recordo apenas um lance em que o Paulo Assunção, in extremis, toca ao de leve na bola com a cabeça e impede um golo quase certo do Robert). E a cinco minutos do intervalo chegou o golo, num livre directo marcado pelo Robert a quarenta metros da baliza. O remate foi com força e colocado, mas a uma distância daquelas o guarda-redes tem mais que tempo para chegar à bola. O Baía até chegou lá antes da bola, mas esta bateu no chão e o resultado foi o Baía dar-nos o frango que nos devia desde o ano passado. Eu bem sabia que tinha motivos para ficar contente quando soube da lesão do Hélton. Logo a seguir ao golo
o Porto teve a sua melhor oportunidade do jogo, quando num bom trabalho do McCarthy o Anderson foi infantilmente batido e depois, na cara do Moretto, o avançado do FCP rematou à figura. Na resposta o Benfica teve uma hipótese flagrante de chegar ao 2-0: o Nuno Gomes, isolado pelo Simão e com todo o tempo do mundo, conseguiu não acertar na baliza, cumprindo assim a sua obrigação como quarto defesa adversário. Ao intervalo, o resultado era a expressão justa do que se tinha passado.

Na segunda parte o Benfica mudou de atitude, e permitiu ao adversário tomar conta do jogo, apostando no contra-ataque. O jogo passou a acontecer sobretudo no nosso meio-campo, e o Porto teve muitíssimo mais posse de bola. Para além disso o Karagounis e o Robert 'deram o berro', e já não conseguiam acompanhar a circulação de bola portista. No entanto, e apesar do treinador do Porto apostar cada vez mais deliberadamente no ataque (terminou o jogo com quatro avançados-centro), o Porto não conseguia atacar. A bola rondava a nossa área, andava dentro do nosso meio-campo, mas oportunidades de golo nem vê-las. A nossa defesa esteve particularmente bem, e até o Alcides quase não falhou, embora tenha tido mais dificuldades perante o Quaresma. Em qualquer altura no entanto parecia que o Benfica poderia matar o jogo num contra-ataque, dado que o Porto abria buracos enormes na retaguarda. O resultado acabou por manter-se até final, e julgo que acaba por ser justo, dado que o Benfica foi tacticamente superior. O FC Porto tentou dar a volta, mas a verdade é que apesar de ter saído do estádio um pouco irritado com a forma como o Benfica permitiu o domínio adversário durante a segunda parte, mais a frio verifico que os nossos adversários não dispuseram de uma única oportunidade clara de golo durante os segundos quarenta e cinco minutos, e o Moretto não fez uma defesa que se possa considerar mais apertada.

Conforme já disse, acho que a nossa defesa esteve muito bem esta noite. Em particular o Luisão (perfeito!) e o Léo, como tem sido hábito ultimamente. O Petit deixou a pele em campo como de costume, e o Robert, para além do golo, já esteve a um nível mais agradável. Outro jogador que parece estar a regressar à boa forma é o Manuel Fernandes. Hoje jogou de uma forma discreta, mas a verdade é que esteve em todo o lado. Recuperou diversas bolas, soube segurá-las nas alturas certas, passou bem, e conseguiu apoiar bem a defesa. Se o Lucho pouco se viu durante o jogo, a 'culpa' foi do Manuel Fernandes, que o seguiu para todo o lado e o conseguiu anular. O Simão, sem estar mal, é que parece andar muito apagado. Se calhar foi ele que nos habituou mal, mas é estranho vê-lo em campo sem ser aquele jogador decisivo de quem partem grande parte dos lances de maior perigo da equipa. O Nuno Gomes esteve numa noite completamente desinspirada. O falhanço logo a seguir ao golo é imperdoável, e para além disso houve vários contra-ataques que se perderam devido a demasiada indecisão/lentidão quando a bola lhe chegava aos pés. Ele luta sempre muito, é verdade, mas de qualquer forma fico sempre com alguma pena de o ver tão desacompanhado na frente, porque não é esse o papel em que rende mais. Quando o vejo jogar assim, fico ainda com mais pena pela lesão do Geovanni.

Mantivemos assim acesa a chama da luta pelo título. É difícil, porque cinco pontos (ou 'quatro e meio') ainda é uma desvantagem importante, e já estamos dependentes de terceiros para conseguirmos ultrapassar os nossos rivais. Mas nós somos os campeões, e temos a obrigação de lutar e defender esse título até ao fim. Em termos de 'jogos grandes' esta foi uma época atípica: vencemos o FC Porto nos dois jogos (há quantos anos é que isto não acontecia?) e perdemos com o pessoal do Lumiar duas vezes (uma vez mais, há quantos anos isto não acontecia?).

P.S.- Uma menção ainda para os animais - isso mesmo: ANIMAIS - que compõem a claque do FC Porto (não confundo com os adeptos do clube em geral): aproveitar um minuto de silêncio em memória de alguém recentemente falecido para cantarem em plenos pulmões 'FDP SLB' é do mais baixo, rasteiro, porco e nojento que já vi. Tinham que aproveitar uma das poucas oportunidades para se fazerem ouvir, já que durante o jogo, de cada vez que ensaiavam esse cântico, o resultado era meterem 55.000 benfiquistas a cantarem 'Glorioso SLB'. Isso sim, foi lindo de se ouvir. Tanto que na segunda parte nem sequer voltaram a tentar cantar isto outra vez.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Mística

Mais uma vitória na Champions League contra a maior parte das expectativas. Provavelmente só mesmo os benfiquistas acreditariam na possibilidade de vencermos o actual campeão europeu esta noite, ainda para mais atravessando a equipa uma das piores fases da época.

Fiquei contente com a decisão do treinador de fazer alinhar três médios-centro de raiz. Já não fiquei tão contente por a escolha para terceiro elemento desse trio ter recaído no Beto em vez do Karagounis, mas até compreendi a decisão. Contra um meio-campo que conta com o Gerrard (só durante o aquecimento me apercebi que não jogaria) e o Xabi Alonso, normalmente bem auxiliados pelos alas, achei que o treinador fez bem em não cair no mesmo erro que nos custou derrotas em alguns jogos, como por exemplo no último derby, e o Beto dava mais garantias no aspecto defensivo. Era necessário não deixar que o Liverpool ganhasse superioridade no meio campo, mas o lado negativo desta táctica foi o isolamento total do Nuno Gomes na frente, contra uma das melhores defesas da Europa. Aquele seria o papel ideal para o Geovanni, não para o Nuno Gomes. Também torci o nariz à inclusão do Alcides em vez do Nélson, mas se calhar é mau feitio meu, porque não consigo confiar muito na capacidade do brasileiro para aquela posição. Em teoria o Benfica deveria apresentar-se num 4-3-3 com um triângulo no meio campo em que o Petit era o vértice mais recuado. Durante a primeira parte no entanto o que se viu na prática foi mais um 4-1-4-1, com uma distância enorme entre o quarteto do meio-campo e o isolado Nuno Gomes.

Quanto ao Liverpool, apresentou um 4-4-2 clássico, com as já faladas duas linhas defensivas de quatro homens. A atitude exibida desde o início foi claramente de contenção. Não uma atitude marcadamente defensiva, mas sim de controlar o jogo, deixá-lo correr, e esperar que mais cedo ou mais tarde a qualidade de um dos seus jogadores fizesse a diferença. Não sei se foi sobranceria ou não, mas achei surpreendente a decisão de deixar o Gerrard no banco, e ainda de colocar o Fowler no lugar habitual do Crouch. A verdade é que os objectivos do Liverpool foram completamente atingidos durante a primeira parte. Tiveram mais posse de bola, mantiveram o Benfica longe da baliza (creio que durante os primeiros quinze minutos de jogo o Benfica não conseguiu uma única vez aproximar-se da área adversária com a bola controlada) e ocupavam perfeitamente todas as zonas do terreno de uma forma que quando um jogador do Benfica entrava no seu meio-campo com a bola, era quase sempre pressionado por mais do que um jogador. Também é verdade que a posse de bola do Liverpool não significava oportunidades de golo, dado que muitas vezes eles limitaram-se a circulá-la entre os seus jogadores ainda dentro do próprio meio-campo, sem que houvesse grande pressão por parte dos jogadores do Benfica. Quando havia um canto favorável ao Benfica, eles defendiam com os onze jogadores dentro ou nas imediações da área. Enfim, o tempo corria a favor deles, e dada a atitude demonstrada parecia claro que não considerariam um 0-0 um mau resultado.

Não houve mudanças ao intervalo. Para algum desânimo nosso o Beto, que vinha sendo um desastre total a passar a bola e a construir jogo, continuava em campo e o Karagounis, por quem quase todos suspirávamos ver entrar, continuava no banco. A segunda parte até começou mal, com o Liverpool a dispôr de uma oportunidade relativamente boa quando o Luis Garcia rematou após um alívio do Luisão. Mas parecia haver algo diferente no Benfica. Antes do quarto-de-hora finalmente a substituição esperada: Karagounis por Beto. E pouco depois, assim de repente, algo mudou. O público começou a acreditar, e uniu-se à equipa. Os jogadores começaram a correr mais, e a anteciparem-se aos adversários. Os ingleses deixaram de se ouvir, porque também eles perceberam que algo mudara. O Petit, que até aí valera por dois, passou a valer por quatro. Os 1,68m do Léo esticaram-se e ele não perdeu uma bola de cabeça. O Luisão tornou-se um obstáculo intransponível. Os nossos jogadores de repente começaram a aparecer em todo o lado, e o Petit deu o mote com uma tentativa de chapéu desde o meio-campo. Não massacrámos os ingleses, longe disso, mas passou a ser claro quem tinha agora as rédeas do jogo na mão.

Com o Karagounis em campo o Benfica passou a contar com um jogador capaz de transportar a bola do nosso meio-campo para o adversário, em vez dos despejos quase directos da defesa para o desamparado Nuno Gomes. Além de que o grego tem a capacidade de segurar a bola no meio-campo ofensivo, e esperar as desmarcações dos colegas, coisa que o Beto nunca soube fazer nem saberá. O treinador do Liverpool apercebeu-se que a balança estava a pender para o nosso lado, e tentou corrigir a mão lançando o Gerrard, e alterando a táctica para um 4-5-1, deixando o Cissé como único avançado. E parecia na verdade que o Liverpool sairia da Luz com o resultado pretendido, porque apesar da maior posse de bola e ligeiro ascendente territorial, o Benfica não criava oportunidades flagrantes de golo. Até que surgiu a falta sobre o Karagounis (claro). E quando toda a gente (eu incluido) esperava mais uma daquelas bombas para matar pombos do Petit, ele levanta a bola em arco para a área. Naquele preciso instante tirei os olhos da bola e olhei para a área, onde vi o Luisão com a posição ganha ao Hyypiä. E durante aqueles deliciosos décimos de segundo em que a bola viajava para a cabeça do nosso gigante antecipei o que se iria passar a seguir. Bola no fundo da baliza, explosão no estádio, e o Gerrard de mãos na cabeça. Uma vitória, mesmo que por 1-0, contra o campeão europeu, que não sofria golos na Champions desde Setembro já era um resultado meritório. Mas um minuto depois podíamos ter chegado ao 2-0, só que acho que o próprio Petit ficou deslumbrado com a forma como ficou isolado depois de um passe do Simão, e acabou por demorar muito tempo até rematar. Depois o Koeman resolveu jogar pelo seguro e tirar o grande Léo para colocar o Ricardo Rocha, e nada mais digno de realce aconteceu.

Foi uma vitória feliz, mas que julgo premeia o esforço do Benfica na segunda parte, e sobretudo a melhoria da qualidade de jogo após a entrada do Karagounis. O Petit foi enorme esta noite, para mim o melhor jogador em campo. Seguido de muito perto pelo Luisão e pelo Léo. O Anderson também teve um jogo muito bom. Aliás, no fim do jogo vinham dois ingleses atrás de mim que comentavam entre eles que o Benfica tinha sido quase perfeito defensivamente, já que não se lembravam de nenhuma oportunidade flagrante de golo do Liverpool. E isto deveu-se muito ao trabalho dos quatro jogadores citados. O Léo (que, conforme já disse aqui, considero o melhor lateral-esquerdo que o Benfica já teve desde que vendemos o Schwarz ao Arsenal) chegou a ir fazer dobras ao Alcides no lado direito da defesa! Menos bem estiveram o já citado Beto (OK, 'menos bem' é um eufemismo, mas como ganhámos prefiro não bater mais no ceguinho), o Nuno Gomes (embora com a atenuante de ter passado a maior parte do tempo abandonado na frente) e estranhamente o Simão, que muita gente esperaria que quisesse aproveitar para se mostrar aos ingleses.

A eliminatória está longe, muito longe de estar decidida. Aliás a forma como o Liverpool se sagrou campeão europeu é prova mais do que suficiente da capacidade que eles têm para inverter uma situação negativa. Para já demos apenas um passinho em frente, mas temos agora que enfrentar o inferno de Anfield daqui a duas semanas. Mas pelo menos esta vitória deu para nos renovar um bocadinho o orgulho, e amanhã iremos para os nossos empregos de cabeça erguida e olharemos nos olhos aqueles que durante meses andaram a profetizar e desejar humilhações no jogo de hoje (como já o tinham feito em relação ao Manchester), com um sentimento bom por sermos do Benfica. A esse sentimento, se quiserem, chamem-lhe vaidade.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Baptismo

Foi há mais de vinte anos. Engraçado como todo este tempo parece ter passado num abrir e fechar de olhos... Pela mão de um amigo tive a oportunidade de entrar pela primeira vez no grandioso Estádio da Luz. E não para um jogo qualquer, mas sim para um jogo contra o histórico Liverpool. Acho que nem dormi na véspera. O Benfica era já uma paixão irracional e imensurável, como são todas as paixões da nossa meninice. Só por uma vez tinha tido a oportunidade de ver os meus heróis ao vivo, quando no Estádio de S.Luís os vi demolirem o Farense por 7-2. Esta seria a segunda vez, e logo no palco mítico da Luz, que só conhecia da TV e que imaginava enquanto ouvia os relatos na rádio. Lembro-me bem, muito bem da sensação que foi ali entrar. Lembro-me do ardor que senti no peito, do calor que o meu coração, cheio de adrenalina, espalhou pelo meu corpo. Lembro-me do choque que foi ver a imensidão do estádio (ainda sem o terceiro anel fechado). Para mim um estádio de futebol era o S.Luís em Faro, que era o único em que tinha entrado. Aquilo não era um estádio, era algo muito para além de tudo aquilo que eu conseguia imaginar.

O estádio estava cheio nessa noite. Minto. Estava a abarrotar. O Benfica tinha perdido por 1-0 em Liverpool, e a esperança de vencer a eliminatória era muita. Do jogo recordo muito pouco. Recordo a chuva torrencial, recordo a animação dos adeptos, e até a forma como alguns repreendiam outros que se exaltavam e proferiam palavrões 'ao pé do miúdo'. O Liverpool marcou cedo, e foi um balde de água fria ainda pior que a chuva, que obrigava a que as pessoas tivessem os guarda-chuvas abertos (naquela altura podia-se levar o guarda-chuva para o estádio), o que me dificultava a visão. Foi preciso que me explicassem bem porque é que aquele golo dos ingleses era tão mau, o que foi feito de uma forma simples, ou seja, que naqueles jogos os golos fora valiam a dobrar. 'Mas então eles já estão a ganhar 2-0?' Não, está só 1-0 mas é como se estivesse 2-0. 'Então se o Benfica marcar dois golos o jogo fica empatado?' Não, se o Benfica marcar dois golos ganha 2-1 mas é eliminado. 'Então ganhamos o jogo mas perdemos? Que roubo!'. Enfim, o sistema das competições europeias ainda era um bocado complicado para mim. Voltando ao jogo, os ingleses fartaram-se de marcar. Desde essa noite não esqueci mais o nome 'Ian Rush'. O Bento (um dos meus heróis da altura) fartou-se de defender, mas depois deu um frango e ficou imediatamente classificado de frangueiro. O resultado foi um desastre, mas a verdade é que foi uma das noites mais inesquecíveis da minha vida de benfiquista. O bilhete (como podem ver na imagem), guardo-o religiosamente.

Amanhã vou rever os 'padrinhos' do meu baptismo na Luz. As coisas mudam muito. Há anos, quando quase não havia jogos na TV, quase uma semana antes de uma 'quarta-feira europeia' já eu andava em pulgas a pensar no jogo. Passava o tempo todo nervosíssimo, e um jogo dos oitavos-de-final da Taça UEFA parecia que era uma final importantíssima. Depois isolava-me no escuro a ouvir os relatos e a imaginar as jogadas que na rádio me iam descrevendo (às vezes, quando os jogos eram mais tarde, era mandado para a cama e tinha que esconder o transístor debaixo da almofada, para ouvir os relatos às escondidas). Escusado será dizer que, guiado pelas palavras dos relatores, na minha cabeça os jogos eram sempre espectáculos memoráveis. O Benfica (e em geral, todas as equipas portuguesas) davam sempre recitais de futebol, com a bola constantemente a rondar as balizas adversárias. Os guarda-redes adversários eram sempre uma espécie de super-heróis que faziam defesas impossíveis, os árbitros eram marcadamente anti-lusitanos, e as nossas equipas eram fatidicamente assoladas por uma proverbial falta de sorte. Todos estes factores se conjugavam para que nos fosse sempre negado o mais que merecido domínio do futebol europeu. Quando o Benfica (ou outra equipa portuguesa - que nessa altura ainda era um idealista e torcia sempre por todas as equipas portuguesas) era eliminado, desligava sempre o rádio com a morte na alma, e um profundo sentimento de revolta pela enorme injustiça que tinha acabado de acontecer. No dia seguinte ia para escola onde todos discutíamos as incidências dos jogos da noite passada como se a eles tivéssemos assistido com os nossos próprios olhos.

Digo que as coisas mudam muito porque hoje, quando penso no jogo de amanhã, não me sinto nada nervoso. Sinto-me estranhamente calmo. Confiante, mas consciente das nossas possibilidades. Boa parte da irracionalidade daqueles anos que descrevi desapareceu. E com ela foi-se uma grande parte da magia. Hoje podemos ver com os nossos olhos quando os tipos não jogam nada, e que alguns deles são uns cepos indescritíveis. E obviamente que isto nos torna mais cínicos. Isto não quer no entanto dizer que deseje ou sonhe menos com uma vitória do Benfica. Mesmo no meio desta fase negra que atravessamos, acredito sempre numa noite mágica, acredito sempre que os nossos jogadores consigam ser dignos da camisola que envergam e nos façam amanhã chegar ao fim dos noventa minutos orgulhosos, e com as palavras 'Sou do Benfica, e isso me envaidece' na cabeça. E não peço sequer mais que isso. Não exijo aos nossos jogadores que vençam. Exijo sim que acreditem na vitória, e que joguem de acordo com essa crença. Aliás, nestas alturas em que o Benfica está em baixo sinto-me ainda mais benfiquista. É muito fácil ser do Benfica quando ganhamos. Quando estamos mal, há aquele filtro que separa muitos dos benfiquistas de ocasião dos outros. E ficam os indefectíveis. Aqueles que vão apoiar o Benfica nas piores alturas, aqueles que acreditam mesmo quando tudo parece estar contra nós, aqueles que depois de perdermos 7-0 em Vigo mandam estampar uma camisola a dizer 'Nem que fossem 14!'.
São os que aplaudem o Beto depois de um passe errado, os que vibram com um 'pormenor técnico' do Fernando Aguiar, os que vitoriam o Mantorras depois dele tropeçar na bola quando tenta passar por um defesa. E a seguir o Beto acerta o passe, o Fernando Aguiar finta o adversário e o Mantorras troca os olhos ao defesa. São estes os benfiquistas que conseguem levantar a equipa quando ela está de rastos, e carregá-la ao colo para uma vitória que parecia impossível. É destes benfiquistas, é desta massa adepta que os outros têm medo, e que a todo o custo não querem ver mobilizada, e por isso passam a vida a olhar para nós e a tentar desmoralizar-nos e deitar abaixo. São 60.000 destes benfiquistas que eu espero ver amanhã na Luz, e dos quais eu me orgulho, e orgulharei sempre de fazer parte. Força Benfica!

domingo, fevereiro 19, 2006

Pior

Ontem à noite podemos ter comprometido irremediavelmente as nossas hipóteses lógicas de revalidar o título. A derrota incomoda-me, é certo, mas incomoda-me ainda mais o facto de não ter ficado muito surpreendido com ela. Sim, o Benfica foi jogar a casa do penúltimo classificado da liga, e no entanto já estava de alguma forma mentalizado para a possibilidade de perdermos o jogo. Isto porque o Benfica atravessa neste momento um período muito negativo, provavelmente o pior da época, e que a vitória gorda sobre o Penafiel a semana passada não disfarçou. Conseguimos chegar a uma das alturas mais decisivas da nossa época não num pico, mas num fosso de forma do qual parece ser difícil libertarmo-nos. Parece-me que só um resultado convincente contra o Liverpool depois de amanhã poderá ser o safanão psicológico de que a equipa necessita para sair deste ciclo negativo. Três derrotas nos últimos quatro jogos para a liga está muito, muito abaixo dos mínimos aceitáveis para o Benfica.

Não vou alongar-me muito sobre o jogo de ontem porque, sinceramente, nem tenho grande vontade de me estar a recordar dele. Ontem não houve propriamente um revolução na nossa equipa, apenas uma surpresa, que foi a presença do Marco Ferreira do lado direito do ataque. De resto foi uma equipa mais ou menos esperada. A primeira parte foi praticamente para esquecer. O Benfica entrou muito mal no jogo, e o Vitória, com uma pressão muito alta, cheio de vontade de vencer. Depois de alguns ameaços, o golo acabou mesmo por surgir, num lance de alguma felicidade, em que após um remate de longe o Ricardo Rocha, na tentativa de cortar a bola, acabou por desviá-la ligeiramente de cabeça traindo o Moretto. O Benfica não reagiu imediatamente ao golo, e continuou a exibir a má qualidade que nos tem vindo a presentear durante as últimas semanas. Foi apenas durante os últimos dez minutos que assistimos a uma tentativa séria para inverter o resultado, e nesse período chegámos mesmo a marcar, mas o golo do Marcel foi bem invalidado por fora-de-jogo.

A segunda parte iniciou-se com a mesma tendência com que terminou a primeira, com o Benfica a pressionar ainda mais o adversário, e aí sim, acreditei que fosse possível marcar. Mas a verdade é que apesar do domínio, não conseguíamos entrar na defesa vitoriana, e as oportunidades claras de golo eram quase inexistentes. Estou-me apenas a lembrar de uma ocasião do Nuno Gomes isolado, descaído para a direita, em que ele demorou uma eternidade até rematar e quando o fez o lance foi cortado por um defesa. Infelizmente, depois destes 20-25 minutos de pressão benfiquista o Guimarães subiu à nossa área, o Nélson errou, e no seguimento o Ricardo Rocha errou ainda mais e acabou por assistir o Neca que assim fez o segundo golo vimaranense naquele que terá sido o primeiro (e nem sei se não terá sido o único) remate que eles fizeram na segunda parte. Enfim, um filme que já vimos demasiadas vezes. O jogo ficou decidido aí, e apesar dos jogadores do Benfica terem tentado, continuaram a revelar a mesma inépcia para criar situações reais de golo. A derrota castiga a péssima entrada que o Benfica teve no jogo, e subsequente má primeira parte. Isto fez com que passássemos grande parte do jogo a correr atrás do resultado, com o risco de num contra-ataque o Guimarães matar o jogo, que foi o que sucedeu.

A aposta no Marco Ferreira falhou rotundamente. Complicado, lento e previsível, ele foi praticamente um jogador a menos. O Marcel ainda não fez nada que provasse que ele é algo mais do que uma contratação fracassada. O Ricardo Rocha acabou por ter uma noite para esquecer, ficando ligado aos dois golos adversários. E o Nélson, apesar de ter sido dos que me pareceram tentar lutar mais, acabou por ficar ligado ao segundo golo. Menos mal estiveram porventura o Petit (embora este, como deixa sempre a pele em campo, raramente consiga jogar mesmo mal) e o Luisão. O Simão também esteve a um nível aceitável e o Moretto, sem hipóteses nos golos sofridos, fez o que podia (sobretudo na primeira parte, já que na segunda foi quase um espectador).

Quando no início de Dezembro defrontámos o Man Utd tínhamos acabado de sair de um 'Novembro negro', recheado de péssimos resultados. A vitória sobre os ingleses acabou por marcar o início do melhor período que a nossa equipa atravessou esta época. Espero que o Benfica se motive para o jogo de terça-feira, que consiga uma vitória, e que essa mesma vitória possa uma vez mais servir de tónico para retomarmos o caminho certo. Eu vou lá estar a puxar pelo meu clube.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Soneca

Parece que o Geovanni fez uma rotura muscular, e não poderá jogar contra o Liverpool. É uma má notícia para mim. Ele era um dos jogadores em quem eu depositava mais esperanças para surpreender os ingleses. Espero que pelo menos o Miccoli já esteja recuperado, de preferência para jogar já este Sábado. Não me agrada a possibilidade de alinharmos com o Marcel como ponta-de-lança no jogo da Champions.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Ânimo

Foi melhor (muito melhor) o resultado do que a exibição. Regressámos às vitórias vencendo sem grande dificuldade o último classificado, mas parece-me que o resultado se deve mais à fragilidade do adversário e à forma como abordou o jogo do que à qualidade do nosso futebol.

Mais uma vez houve mudanças na nossa equipa. É raro apresentarmos o mesmo onze em dois jogos seguidos. Desta vez foi dada uma oportunidade ao Karagounis, enquanto que o Geovanni voltou à posição de ponta-de-lança, com o apoio do Manduca, poupando-se o Nuno Gomes. Na defesa o Nélson ficou no banco, jogando o Alcides. Koeman lá poderá explicar a sua paixão por este brasileiro voluntarioso mas trapalhão. Eu pessoalmente não gosto de o ver jogar a lateral-direito, e as asneiradas que fez no derby fazem com que eu agora esteja sempre com receio quando vejo a bola na sua zona de acção. E custa-me ainda mais vê-lo no lugar do Nélson, mas enfim. Quanto ao Penafiel, foi o adversário ideal para encontrarmos nesta altura, e tentarmos recuperar o ânimo. Nada melhor do que defrontar o último classificado em casa, e para ajudar ainda mais, um adversário que assume a descida como um facto consumado, e portanto joga de uma forma 'simpática', ou seja, joga aberto e sem especiais preocupações defensivas.

De qualquer forma a primeira parte do Benfica foi fraca. Mesmo sem autocarros em frente à baliza, o Penafiel foi anulando facilmente as nossas iniciativas atacantes, e quando atacava aparecia com bastantes unidades na frente. Até jogadas de verdadeiro perigo houve muito poucas até ao golo: estou-me a lembrar de um remate do Geovanni que passou perto da barra, e de uma defesa muito boa do Moretto a um remate de cabeça na sequência de um canto. Depois houve um pontapé na monotonia que foi uma recuperação de bola do Petit, seguida de um passe estupendo que colocou o Geovanni na cara do guarda-redes, tendo este marcado com naturalidade. Geovanni a ponta-de-lança igual a golo parece ser uma constante quando o brasileiro tem a sorte de actuar nessa posição. Pena que ele muitas vezes passe quase despercebido quando é desviado para a direita. Até ao intervalo, mais uma defesa espectacular do Moretto, uma vez mais após um cabeceamento na sequência de um canto.

As coisas não estavam a correr bem na primeira parte, por isso o nosso treinador mudou de imediato dois jogadores ao intervalo, saindo Karagounis e Manduca para as entradas do Nuno Gomes e do Manuel Fernandes. Eu sinceramente gostava de ver o grego jogar um pouco mais avançado, com a cobertura de dois médios nas costas, e não como um dos dois médios recuperadores. Pareceu-me que durante o primeiro tempo ele estava a emperrar o jogo da equipa. Quanto ao Manduca, tinha mesmo que sair. Não me parece que tenha qualidade para ser titular do Benfica, porque é demasiado lento a movimentar-se, a pensar, e a executar. Será útil como suplente, mas não gosto de o ver a titular. A segunda parte iniciou-se sem que me parecesse que as coisas tivessem melhorado muito, apesar das alterações. Aliás parecia que o Penafiel estava mais decidido a levar o jogo para as imediações da nossa área. Mas após um primeiro quarto de hora assim, o Benfica cresceu um pouco e passou a causar mais perigo.

E o jogo ficou decidido quando chegámos ao 2-0, num auto-golo do ponta-de-lança do Penafiel. A partir daqui abriram-se muitos buracos na defesa penafidelense, já que o Penafiel abandonou as poucas preocupações defensivas que já tinha, e pareceu apostar em marcar pelo menos o golo de honra na Luz. Já com o Marcel em campo (o Geovanni foi substituido imediatamente a seguir ao 2-0), o Benfica chegou ao 3-0 através do Nuno Gomes, que correspondeu a um centro do Léo. Este golo teve a particularidade de ter sido obtido quando um adversário estava caído na zona lateral da área do Penafiel, de onde o Léo fez o centro. Não gostei, porque achei que o Benfica poderia ter posto a bola para fora. Mas por outro lado, parte da culpa está também no Penafiel. O jogador deles ficou caído num lance de ataque do Benfica em que ele desarma o Léo. O Penafiel, que podia ter posto a bola fora, prosseguiu o lance, tendo a bola sido recuperada pelo Benfica quase à entrada da nossa área, onde se iniciou o lance de ataque que culminou no golo. Ou seja, também não me parece correcto que para o Penafiel apenas se deva ter em atenção o jogador caído quando a bola não está na posse deles. De qualquer forma preferia que o Benfica tivesse posto a bola fora. Até final ainda houve tempo para, já em período de descontos, o Simão marcar o 4-0, e receber a ovação que significou uma espécie de reconciliação com os adeptos. Ele já tinha estado perto de marcar minutos antes, quando atirou a bola ao poste. Desta vez, e após um bom passe do Manuel Fernandes, marcou mesmo.

Hoje gostei do jogo que fizeram o Léo, Luisão e Petit. O Manuel Fernandes também fez uma boa segunda parte, particularmente na última meia-hora do jogo. Mal estiveram o já mencionado Manduca e o Robert (que literalmente se ausentou do jogo na segunda parte). O Anderson também esteve estranhamente inseguro e complicativo. Perdeu alguns lances de cabeça para o Roberto, e houve ocasiões em que complicou demasiado, o que é estranho dado que ele prima sempre por simplificar (às vezes até demais) os lances. Continuo também muito desconfiado do Marcel - não gosto muito da movimentação dele em campo, que faz com que ele pareça estar muitas vezes fora dos lances de ataque da equipa, o que não tem muita lógica dado ser ele o jogador mais adiantado. Fiquei também contente com o facto de estarem 37.000 espectadores na Luz, para um jogo às nove e meia da noite de um Domingo, contra o último classificado, e após uma série de resultados decepcionantes. Nada mau.

Para a semana vamos ter um período muito complicado, com a viagem a Guimarães e recepções ao Liverpool e ao FC Porto. Vamos jogar muito do nosso futuro em duas das competições em que estamos envolvidos, e é fundamental ganharmos estes jogos. Espero que a vitória de hoje motive os jogadores, para que voltem ao seu melhor nesta altura crucial da época.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Assobios

Já o escrevi várias vezes aqui: não sou capaz de assobiar um jogador do Benfica, mesmo que o deteste (como eram, por exemplo, os casos do Zahovic ou do Argel). Irritam-me solenemente aqueles benfiquistas que vão ao estádio e que são capazes de desatar a assobiar um jogador no primeiro minuto de jogo caso um passe lhe saia mal, porque isto não ajuda nada, antes pelo contrário: ainda fazem com que o jogador em questão jogue pior. Para terem atitudes dessas mais vale que fiquem em casa, em frente à TV, e que continuem a dizer 'Ganhámos!' quando o Benfica ganha, e 'Aqueles chulos perderam!' quando perdemos.

Não estive lá para ver ou ouvir, mas li que o Simão foi frequentemente assobiado durante o jogo da Taça, particularmente depois de ter falhado o penalti (se calhar fez de propósito, não?). Ainda bem que não estive lá, porque ficaria furioso e nem sequer conseguiria apreciar o jogo. Quem na verdade assobiou o Simão devia ter vergonha na cara. Benfiquistas desses no estádio dispenso, obrigado. Não fazem lá falta nenhuma.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Nacional

Bem, lá passámos a eliminatória da Taça, ao vencer o desempate por pontapés da marca de grande penalidade. Não consigo fazer uma ideia muito precisa de como jogámos, dado que uma consulta aos diversos jornais online dá-me informações muito díspares (com o Record, sem surpresas, a ser o que mais deita abaixo o Benfica). Pelo menos parece que, mais uma vez, o guarda-redes adversário foi o melhor em campo. Nada a que não estejamos habituados.

Por aqui os jornais de Madrid andavam num excessivo triunfalismo depois das últimas vitórias do Real. Ontem mesmo falavam de uma qualquer vingança que o Real iria exercer sobre o Zaragoza devido a ter perdido uma final da taça para eles há um par de anos, ao mesmo tempo que pareciam querer arranjar uma crise no Barcelona, líder isolado com nove pontos de avanço, apenas porque na última semana fora eliminado da taça por este mesmo Zaragoza, e perdera um jogo para o campeonato após 14 vitórias consecutivas. Acho que a imprensa desportiva espanhola consegue ser ainda pior que a nossa. À noite a 'vingança' do Real sobre o Zaragoza cifrou-se numa derrota por 6-1.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Camp Nou

Após diversas vindas a Barcelona sem que tivesse a oportunidade de assistir a um jogo do Barça, ontem resolvi aproveitar e ir ao Camp Nou para ver o jogo com o At.Madrid.

A primeira impressão que tive foi da enormidade do estádio. O tamanho e o lugar onde fiquei (lá para cima, ao centro) trouxeram-me algumas recordações da nossa velhinha Luz, porque foi mais ou menos nessa localização que eu assisti a centenas de jogos lá. Mas acho que já estou a ficar habituado aos nossos estádios novos, porque fiquei com a sensação de que é um estádio sombrio, à antiga. Quando andava por aqueles corredores um pouco apertados à procura do meu lugar até me fez mais lembrar o antigo Estádio das Antas. Depois os lugares são um bocado apertados, e a inclinação das bancadas é quase a pique, o que faz com que por motivos de segurança as filas de cadeiras sejam intercaladas por um corrimão de ferro, para evitar que aconteça alguma avalanche de espectadores caso alguém se desequilibre.

Começado o jogo, a primeira coisa que notei foi o ambiente. Ou melhor, a falta dele. Não sei se os apanhei num mau dia, mas a verdade é que o público do Barcelona estava quase apático, e por vezes o silêncio era tanto que dava para ouvir os gritos dos jogadores dentro do campo. E estamos a falar de um estádio enorme, dentro do qual deviam estar de certeza mais de 80.000 espectadores. Só que estes só se faziam ouvir para reclamar com o árbitro. Os espectadores de futebol são todos iguais em qualquer parte do mundo: o árbitro é sempre uma desgraça, qualquer queda de um jogador da casa é falta indiscutível merecedora de cartão, e as quedas dos adversários são sempre fita. Durante a maior parte do tempo o que se ouvia mais era a pequena falange de apoio do 'atleti', com cânticos frequentes de 'E viva España!' (ao que respondiam por vezes os culés com um cântico igual, mas com a letra 'E puta España') e do hino espanhol. Para além disso os adeptos do Barcelona passavam o tempo todo a falar mal dos próprios jogadores. Só posso dizer: felizes são os adeptos que se podem dar ao luxo de considerar o Van Bommel um empecilho (diziam que a função dele em campo era ser medio-estorvo) e o Henrik Larsson um reformado (el jubilat).

Como sou incapaz de ver um jogo sem tomar partido, segui a tendência natural de num caso destes ter simpatia pelos underdogs, pelo que dei comigo a torcer (sem dar nas vistas, claro) pelo At.Madrid. A verdade é que ambas são equipas de que não gosto particularmente (houve um pequeno período do excepção em que gostava do Barcelona, nos tempos do dream team treinado pelo Cruyff). O Barcelona, sem Ronaldinho e Eto'o, parecia completamente inoperante. Além disso o Rijkaard resolveu inventar (estou a ver que isto deve ser uma faceta da escola holandesa) e surgiu com um 4-3-3 no qual o Deco era extremo-esquerdo. Assim sendo os únicos lampejos de perigo só apareciam dos pés do Messi, que dava logo outra velocidade ao jogo assim que a bola lhe chegava. Para mais, estavam em campo alguns jogadores que me parecem ser de qualidade bastante duvidosa para uma equipa como o Barcelona, casos do Gabri e do Oleguer. O que lhes vale é que o Puyol vai fazendo o trabalho dele e dos outros dois ao mesmo tempo.

O atleti mostrou desde o início ter o jogo completamente controlado. Com o Luccin em frente à defesa em grande, e com quatro elementos do meio-campo para a frente muito inspirados - Galetti, Ibagaza, Martin Petrov e, sobretudo, Fernando Torres, fiquei com a sensação que seria apenas uma questão de tempo até surgirem os golos. Os adeptos do Barcelona antes do jogo mostravam um particular receio pelo Fernando Torres, porque diziam que ele tinha tendência para fazer grandes exibições e marcar golos no Camp Nou. E este fez questão de dar corpo a estes receios, marcando o primeiro golo após um lance me que dois defesas do Barcelona saltaram à mesma bola e o deixaram sem marcação.

A segunda parte começou literalmente com o segundo golo do Atlético, numa fuga do Martin Petrov (já o tinha em muito boa consideração, mas depois deste jogo ainda fiquei com melhor impressão) pela esquerda, concluida com um centro para a finalização do Maxi Rodriguez. O Barcelona, que ainda por cima tinha ficado sem o Messi ao intervalo, parecia quase perdido em campo. Pouco tempo depois, um livre espectacular do Petrov à barra. O pessoal do Barcelona só cascava forte e feio nos jogadores, sendo que com a saida do Van Bommel ao intervalo os alvos preferidos passaram a ser o Gabri e o reformado. Nem parecia que estes tipos eram líderes isolados, com doze pontos de avanço, e numa sequência de treze ou catorze vitórias seguidas. Foi só após o golo do Barcelona (marcado pelo 'reformado') que deu para ouvir um bocado o ambiente que se pode criar naquele estádio, mas durou pouco mais de cinco minutos até se calarem. E numa jogada de sucessivas trocas de bola quase sempre ao primeiro toque, o pesadelo barcelonista Fernando Torres matou o jogo a quinze minutos do fim, provocando a saída de quase metade do público.

No final do jogo até houve alguns aplausos, enada de assobios ou apupos. Bem, na verdade um velhota uma filas à minha frente resolveu acenar com um lenço branco, provocando a risada geral. Foi uma experiência interessante ter conhecido um dos estádios míticos do futebol mundial. Tive pena de não ter podido ver o Ronaldinho jogar, mas gostei de ver um pouco do Messi, e muito do Fernando Torres, Petrov e Ibagaza. Acho que o próximo passo é conseguir assistir a um jogo da Premier League.

domingo, fevereiro 05, 2006

Ausência

Este espaço vai agora ficar um bocado silencioso durante a próxima semana. É que vou daqui a poucas horas para Barcelona, e portanto não vou estar muito em contacto com o nosso Benfica. Até vou perder pela primeira vez um jogo esta época, quando recebermos o Nacional na próxima quinta-feira para a Taça de Portugal. Em 'compensação', amanhã ao fim da tarde estarei no Camp Nou para assistir ao Barcelona x At.Madrid. Infelizmente sem o Ronaldinho, que está suspenso...

Azar

Não conseguimos reagir da melhor forma ao mau resultado da semana passada. Assim voltámos a perder, e podemos ter-nos atrasado irremediavelmente na luta pelo título.

Derrotas como a de hoje deixam-me muito mais aborrecido do que derrotas como a da semana passada. É que hoje foi uma daquelas derrotas estúpidas que o Benfica sofre de vez em quando, em que assume todas as despesas do jogo, tem mais posse de bola, ataca mais, remata mais e domina em geral o jogo. Do outro lado apanhamos com uma equipa a defender a maior parte do tempo com 9/10 jogadores, apostada em tentar contra-atacar de vez em quando, e com um guarda-redes que parece abençoado pelos deuses. Mais irritante é o guarda-redes em questão ser o frangueiro do Costinha, e de apenas o ter visto jogar assim duas vezes, sendo a outra o ano passado na Luz. Quando perdemos um jogo assim, fica-me sempre uma sensação muito desagradável de injustiça, mas no final o que conta são os golos que se marcam.

Mudou muito a equipa em relação ao jogo anterior. Sairam Alcides, Beto, Anderson, Geovanni e Manduca, quase meia-equipa, e entraram Léo, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes, Robert e Marcel. E o Benfica até começou bem o jogo, com o Nuno Gomes quase à boca da baliza a desperdiçar um golo logo aos três minutos, dando-se nesse instante início ao festival Costinha. Logo no primeiro quarto-de-hora deu para ver o que seria a toada do jogo, com o Benfica quase sempre de posse da bola e a atacar, e o Leiria com um aglomerado de jogadores em frente à baliza e a sair em contra-atques rápidos sempre que possível. Depois de uma bola à barra pelo Manuel Fernandes, na resposta o Leiria deixou o aviso, ao enviar uma bola ao poste. Infelizmente o pior que poderia ocorrer seria sofrermos um golo primeiro, o que acabou mesmo por acontecer. O Benfica acusou o golo, e a qualidade do nosso jogo caiu muito até ao intervalo.

Na segunda parte entrámos a pressionar ainda mais, mas parecia impossível bater o Costinha. A pressão chegou a ser sufocante para o Leiria, e se as coisas continuassem assim era quase impossível que mais cedo ou mais tarde não marcássemos. Só que um erro básico do Luisão deitou tudo a perder, ao perder a bola depois de tentar driblar um adversário quando era o último defesa. A pressão do Benfica não abrandou; muito pelo contrário, intensificou-se ainda mais, o nosso treinador jogou o tudo por tudo, passando a jogar apenas com três defesas após a entrada do Manduca. O golo surgiu finalmente, numa altura em que já o Luisão jogava a ponta-de-lança e era o Petit quem assumia as funções de jogador mais recuado. Só que mais uma vez num contra-ataque o Leiria acabou por matar o jogo, num lance com culpas para o Nélson, que preferiu parar a reclamar fora-de-jogo em vez de perseguir a bola.

Acho que o Benfica nem sequer jogou particularmente mal. Acabámos por perder, como por exemplo também perdemos na primeira volta contra o Gil Vicente: o adversário foi de uma eficácia terrível, e contou com um guarda-redes do outro mundo. Além disso foram cometidos erros básicos na defesa, que o adversário soube aproveitar. Hoje assistimos à estreia do Marcel a titular, e devo dizer que fiquei desapontado. Pareceu-me lento, pouco móvel, e sobretudo nada entrosado com os colegas. O Luisão também tem que ser criticado, porque não se admite um erro como o que deu o segundo golo do adversário. No todo, gostei da atitude da equipa, que mostrou sempre vontade para tentar inverter o destino. Ao contrário, por exemplo, do que se passou a semana passada, em que pareceram completamente apáticos. As coisas correram mal, paciência. Há que levantar a cabeça, e esperar que corram melhor para a próxima. Até porque será um jogo bastante difícil com o Nacional.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Triste

A vontade de escrever neste espaço durante esta semana tem sido pouca. É que não tem sido um período muito agradável para o Benfica. A juntar-se à desilusão da exibição patética no derby vieram as declarações no site do Simão, que terão causado mal estar no grupo de trabalho. Independentemente do texto ser ou não da autoria do nosso capitão, não acredito que ele não tivesse conhecimento do mesmo, e como tal anuído à sua publicação. Na minha opinião foi uma atitude que ficou muito mal a um jogador com as responsabilidades que ele tem. Considero o Simão um jogador importantíssimo para o Benfica, mas sinceramente creio que não terei muita pena de o ver sair, até porque o Benfica já provou esta época que consegue suprir bem a sua ausência. Depois vieram as queixas do Mantorras em relação à selecção angolana, que de uma forma ridícula toda a imprensa portuguesa tentou decalcar para o Benfica, como se uma coisa tivesse algo que ver com a outra. Agora, para piorar, vem a acusação de doping ao Nuno Assis. Bem sei que ele nem sequer é um elemento importante da equipa titular, mas desmotiva-me ver casos destes em jogadores do meu clube.

Enfim, vamos ver qual é a resposta dada amanhã em Leiria. Digo já que estou atemorizado com a possibilidade já falada do Koeman manter a titularidade do Alcides, e relegar o Nélson para o banco. Compreende-se: a melhor recompensa para uma exibição desastrosa e a participação directa em dois golos do adversário é mesmo a titularidade em detrimento de um dos jogadores com maior capacidade para desequilibrar.