segunda-feira, maio 10, 2010

Trinta e dois

E pronto, julgo que para alegria dos nossos rivais a pré-época 2009/10 está finalmente acabada. E terminou da mesma forma que tinha começado em Julho: com mais uma vitória num torneio, este de nome Liga Sagres.

A alegria e o orgulho que sinto em ser benfiquista, em pertencer a esta enorme família, não pode ser facilmente expressa por palavras. Cheguei há pouco a casa, depois de atravessar metade da cidade de Lisboa e navegar por um mar de sorrisos, de andar abraçado a pessoas desconhecidas, tudo em nome da alegria de sermos Benfica. Rejubilo ao ler e ouvir relatos de cenários semelhantes em França, nos Estados Unidos, em Cabo Verde, Angola e Moçambique, um pouco por todo o mundo, onde há um benfiquista esta noite há alegria. Esta vitória, acima de tudo, não é contra ninguém. Não se ouviu no estádio, durante todo o jogo e a festa que se lhe seguiu, um cântico que não fosse de incentivo ao Benfica. Esta vitória é de todos nós, e para todos aqueles que a quiserem compartilhar. A nossa grandeza basta-nos, e a razão da nossa existência não está limitada ou espartilhada pelo ódio a ninguém. Não vencemos por nenhuma cidade, região ou povo, não vindicámos nenhuns princípios bacocos ou provincianos ao vencer. Vencemos, apenas e só, pelo Benfica e os benfiquistas. Sinto um orgulho indescritível ao ouvir jogadores como Aimar, Saviola ou Javi García, com a experiência que têm e os clubes por onde já passaram, dizerem que nunca viveram festa assim, que nunca viram adeptos destes. E alegra-me pensar que aqueles jogadores que nunca o tinham experimentado se apercebam daquilo que é o Benfica, do que significa representar este clube e envergar a camisola da águia.

Ah, é verdade, houve um jogo que teve que ser jogado antes que pudéssemos soltar a alegria de sermos do Benfica. E nem sequer foi propriamente um passeio. O ambiente no estádio estava incrível, com a casa completamente cheia no apoio à nossa equipa. O Benfica estava desfalcado de três unidades importantes (Javi García, Fábio Coentrão e Di María), e os escolhidos para os seus lugares foram, respectivamente, Airton, César Peixoto e Carlos Martins. No que diz respeito à ocupação do lado esquerdo do meio campo, o Ramires e o Carlos Martins iam trocando frequentemente de lado. No Rio Ave, julgo que se pode destacar a decisão sensata de não convocarem o Fábio Faria. Antes do jogo começar, dois azares: a Vitória falhou o poleiro, e depois foi a cada vez mais habitual rábula do nosso adversário nos ter trocado as voltas na escolha de campo (a sério, será que as equipas já estão assim tão desesperadas com falta de ideias sobre como travar o Benfica que já tenham que recorrer sistematicamente a isto?). Mas apesar dos maus augúrios, o jogo começou da melhor maneira possível, com o Benfica a partir para cima do adversário e a beneficiar de um livre perigoso logo aos dois minutos. O livre não deu em nada, mas no minuto seguinte o Benfica marcou mesmo, num lance em que a defesa do Rio Ave não foi eficaz a afastar a bola e, após vários ressaltos e tentativas de remate, foi o Cardozo quem se mostrou mais decidido e colocou a bola no fundo das redes. Dupla alegria, pois não só o Benfica se colocava em vantagem, mas ainda por cima o golo era do Cardozo, o que o deixava a apenas um golo de conquistar o troféu de melhor marcador.

O golo não diminuiu a intensidade do jogo do Benfica, que continuou a pressionar. Pouco depois, uma boa jogada do David Luiz na esquerda terminou com um cruzamento tenso e rasteiro, ao qual o Saviola e o Cardozo, ao segundo poste, não chegaram por muito pouco. Aos nove minutos, vida ainda mais facilitada para o Benfica, com a expulsão do Wires após uma entrada muito feia sobre o Ramires. Espanto meu pelo facto do árbitro Jorge Sousa ter tomado tal decisão. E já que falo no árbitro, quem me conhece sabe bem da aversão que eu tenho ao Jorge Sousa, que considero um dos mais formidáveis adversários que o Benfica tem que defrontar todas as épocas. Mas é justo que admita que a sua arbitragem hoje na Luz foi talvez a melhor que já o vi fazer num jogo do Benfica, praticamente não se dando pela sua presença em campo. Seria bom que fosse sempre assim. A jogar com dez, o Rio Ave pouco mudou na sua forma de jogar, arrumando-se num 4-4-1 que se desdobrava para 4-2-3 quando de posse de bola, o que deixava bastantes espaços para as transições rápidas do Benfica quando recuperávamos a bola. As oportunidades foram assim sucedendo-se para o Benfica, que no entanto mostrava nervosismo na altura de finalizar (ou então era contrariado por um guarda-redes do Rio Ave numa tarde inspirada). Aimar, Saviola (por mais que uma vez) e Airton estiveram perto do golo, mas a vantagem mínima manteve-se teimosamente até ao intervalo, como se estivesse escrito que ainda seria necessário esperar pela confirmação da festa.

A segunda parte trouxe uma alteração no Benfica, saindo o Ramires para a entrada do Éder Luís, que se foi fixar definitivamente na esquerda, para fazer de Di María. A tendência do jogo não se alterou, com o Benfica a manter a natural supremacia mas, talvez acusando algum nervosismo, a parecer ainda mais desinspirado no ataque, quer na finalização, quer na criação de jogadas de perigo, revelando dificuldades para ultrapassar as duas linhas de defesa que o Rio Ave formava. Rio ave que, nesta altura, já só conseguia atacar quando beneficiava de um raro livre no nosso meio campo, que depois aproveitava para despejar a bola para a nossa área. Quando faltavam vinte minutos para o final a bola chegou mesmo a entrar na baliza do Rio Ave, após um grande remate do Airton ter acertado na esquina da baliza para depois o Saviola marcar na recarga, mas o golo foi bem anulado por fora-de-jogo. Na resposta, o Rio Ave empatou. Foi um dos referidos livres, quase sobre a linha do meio campo. Uma coisa que me irrita nestes lances é a nossa defesa imediatamente recuar para o interior da área. É que assim estão a convidar o adversário a despejar a bola precisamente lá para dentro, causando uma potencial jogada de perigo. Foi isso mesmo que aconteceu: a bola foi despejada para a área, e o Luisão e o Quim ficaram mal na fotografia, permitindo um cabeceamento para uma baliza vazia.

A resposta do público foi a esperada: gritar ainda mais pelo Benfica. Benfica que acordou da letargia e se lançou na procura do golo que, praticamente, garantiria o campeonato. O Cardozo ameaçou de cabeça, falhando a baliza de forma algo escandalosa, depois foi o Airton, em mais um remate de fora da área, a fazer a bola passar perto do poste, e finalmente, apenas seis minutos depois do golo do empate, surgiu a machadada final no jogo e no campeonato. Canto na esquerda apontado pelo Aimar, cabeceamento do Airton que parecia levar selo de golo, mas a bola foi cortada quase sobre a linha de golo por um defesa do Rio Ave, que a deixou ao alcance do pé direito do Cardozo para uma finalização fácil, dentro da pequena área. Com este golo, o Tacuara não só praticamente garantiu a conquista da Liga ao Benfica, mas assegurou também a sua conquista do troféu de melhor marcador. Logo de seguida o Benfica poderia ter marcado o terceiro golo, mas o grande remate do Saviola foi correspondido com a defesa da tarde por parte do Carlos. Depois o Benfica achou que já era suficiente, e limitou-se a gerir a posse de bola sem riscos nos minutos finais, deixando que o tempo se escoasse até ao ponto final na Liga. Garanto que nunca, na minha vida, senti tanta alegria ao ouvir um apito do Jorge Sousa.

O jogo garantiu o título, e todos estão de parabéns. Mas escolhendo alguns destaques, o Cardozo é obrigatoriamente um, porque fez aquilo que se lhe pedia. Marcou os golos suficientes para garantir a conquista de dois troféus, um para a equipa e outro para si. Apareceu no lugar certo na altura certa, e o seu nome fica indelevelmente ligado à conquista da Liga 2009/10. Um jogador que me enche cada vez mais as medidas é o Airton. Sou um admirador do Javi García e considero-o fundamental na equipa, mas ele tem mesmo que ser muito bom jogador para deixar no banco este miúdo. Parece que não faz nada errado. Tem sentido posicional, é bom no desarme (sem recorrer a faltas), tem qualidade de passe, é forte no jogo aéreo, e hoje apareceu diversas vezes a apoiar bem o ataque, e a tentar a sua sorte, ficando directamente ligado ao segundo golo. Um grande reforço. Menciono também o Saviola, que apesar de não estar ainda com a pontaria afinada, hoje já voltou a contribuir com as suas movimentações para confundir e desposicionar a defesa adversária.

A vitória do Benfica nesta Liga é incontestável para qualquer pessoa com dois olhos na cara (aliás, até com um), e um mínimo de honestidade intelectual. Fomos a melhor equipa, que praticou o melhor futebol, que deu mais espectáculo, que mais golos marcou e que menos golos sofreu. Temos os melhores jogadores e os melhores adeptos. Ninguém mereceu mais este título do que o Benfica. Aqueles que tentam, de forma soez, conspurcar a justiça desta vitória falando de túneis, conselhos de disciplina ou outras invenções - como ainda há pouco ouvi o crápula do Domingos, com ar de quem tinha uma melancia entalada num qualquer sítio apertado, a divagar sobre as expulsões de adversários do Benfica (aparentemente, para este tipo, sempre que um adversário enfiar uma pantufada num jogador do Benfica o árbitro, antes de o expulsar, deverá indagar 'Hm... deixa lá ver quantos adversários da equipa do Domingos foram expulsos') - não revela mais do que um profundo mau perder e uma desonestidade intelectual brutal.

O futebol português voltou a casa. E quer cá ficar por muito tempo.

segunda-feira, maio 03, 2010

Ansiedade

Perdida a primeira oportunidade para fecharmos o campeonato, resta-nos deitar isto para trás das costas e centrarmo-nos na próxima oportunidade que teremos para o fazer. Peço desde já desculpa pela qualidade da crónica, mas não consegui ver o jogo com muita objectividade, já que por diversas vezes acabei por sair da frente do televisor, em especial durante a primeira parte, devido aos nervos. Para além disso, eu sou humano, e a verdade é que não tenho vontade nenhuma de estar a escrever sobre isto. O que me interessa é ganhar ao Rio Ave.

O Benfica teve uma entrada forte no jogo, atirando uma bola ao ferro logo aos quatro minutos. Logo a seguir, o Olegário deu o mote para uma excelente primeira parte, mostrando ao Di María um amarelo que o deixa de fora do último jogo do campeonato. O Olegário lá saberá a razão pela qual o Di María sofre falta, é pisado, e ainda vê o amarelo. Seguindo neste tom, ele deixou o Fuzil em campo apenas e só porque quis (seria o segundo amarelo ainda antes dos vinte minutos) e excluiu mais dois jogadores do Benfica da última jornada (Javi e Coentrão). Quanto ao jogo, o Benfica criou outra grande oportunidade, desperdiçada pelo Javi, mas o Porto já tinha equilibrado a partida, que agora se disputava num ritmo bastante elevado. Nos minutos finais do primeiro tempo foi o Porto quem passou a ter algum ascendente e, quase no final, concretizou esse ascendente colocando-se na frente do marcador, através de um cabeceamento do Bruto Alves na sequência de um canto.

O segundo tempo iniciou-se praticamente com o Fuzil a ver o segundo amarelo que deveria ter visto meia hora antes. Depois desta expulsão o Benfica passou a tomar conta do jogo, que se disputava quase sempre no meio campo do Porto, enquanto estes tentavam explorar o contra-ataque, o que faziam com perigo. Aos cinquenta e sete minutos o Benfica conseguiu empatar, com o Luisão a rematar em esforço após ganhar uma bola dividida, e as coisas pareciam compor-se. Mas estupidamente sofremos o segundo golo apenas dois minutos depois. O Avançado do Porto parece estar em posição irregular, mas esperava melhor da nossa defesa, que não foi expedita a afastar a bola. A partir daqui pareceu-me que a nossa equipa acusou alguma ansiedade, optando demasiado cedo por cruzamentos largos que facilitaram a tarefa da defesa adversária. Os lances de maior perigo que criámos foram entrando pelo centro com trocas de bola rápidas (Aimar e Weldon podiam ter marcado), mas explorámos pouco esse aspecto. O Porto continuava a explorar o contra-ataque, e depois de ter ameaçado com uma bola na barra, acabou por resolver o jogo numa iniciativa individual do Belluschi. O final do jogo veio, e os andrades festejaram rijamente o apuramento para a Liga Europa. Quanto a mim, coloquei imediatamente isto para trás das costas.

Agora devemos manter a cabeça fria, e prepararmo-nos para o próximo jogo, em que temos tudo para resolver isto de uma vez por todas. Mesmo sem três jogadores nucleares (como é que o Saviola e o Aimar ainda escaparam às garras justiceiras do Olegário é que eu não sei). Independentemente das diatribes do Olegário, também é verdade que já vi a nossa equipa fazer melhor do que aquilo que mostrou hoje. Sofrer dois golos quando se está em vantagem numérica e o resultado é aquele que desejamos é demasiado atípico. Mas dias menos bons todos os têm, e nós já há muito tempo que não tínhamos um. Continuamos na posição mais invejada, e com tudo para fazermos a festa para a semana. E isso é o que mais importa.