sábado, setembro 27, 2008

Natural


Olhem, sinceramente, tenho que começar por dizer que estou um bocado chateado com o Quique Flores. É que sempre me habituei a ver o Benfica como um clube que respeita os seus adversários, e que sabe manter uma postura elevada quer na vitória, quer na derrota. Por isso acho que é um extremo desrespeito pelo Recreativo Piqueniqueiro do Lumiar que ele tenha chegado a este jogo, e tenha decidido:

"Sportém? Contra esses basta metermos dois adolescentes no centro da defesa. E só para o desprezo ser ainda maior, vou manter o Léo no banco e o Jorge Ribeiro a titular. Coño!"

Mas pronto, para o karma não ser tão negativo, também houve boas acções da nossa parte. É sempre bom proporcionarmos a oportunidade a um par de rapazes de realizarem o seu sonho de infância: jogar no relvado de um Estádio da Luz cheio. É bonito, a criançada gosta, e o Veloso e o Moutinho ficam com memórias preciosas deste dia tão especial, para um dia poderem contar aos netos quando os levarem pela mão a ver o seu primeiro jogo na Luz.

Portanto, conforme se pode depreender dos parágrafos anteriores, o Benfica não mudou nada em relação ao jogo em Paços de Ferreira. Foi exactamente o mesmo onze que entrou em campo, o que me deixou um tanto ou quanto nervoso pela presença do Jorge Ribeiro na esquerda, e pela estreia do Miguel Vítor num jogo destes. Mas o Quique é que sabe, e é por isso que ele está sentado no banco do Benfica e eu estou sentado em casa a jogar Football Manager. O jogo começou animado: ainda antes do primeiro minuto ter decorrido, já o sportém tinha dado o mote daquilo que seria o seu jogo, e criado uma oportunidade: lançamento comprido para as costas da defesa, e depois o Djaló encarregou-se de falhar. Respondeu o Cardozo com um remate de muito longe, a tentar surpreender o guarda-redes adversário.
Esta animação perdurou durante alguns minutos, e depois caiu-se na rotina que tem sido, nos últimos anos, ver um jogo do Benfica na Luz contra o pessoal do Lumiar. Eles a trocarem a bola calmamente cá atrás, aparentemente satisfeitos da vida com o empate, e a tentarem surpreender com lançamentos longos para as costas da nossa defesa. E nós demasiado lentos para conseguirmos surpreender o adversário. O que se passava nesta altura é que o Benfica jogava com as linhas demasiado próximas, e recuadas. Isto permitia que o sportém trocasse a bola mais ou menos à vontade mesmo à entrada do nosso meio campo, sem que houvesse muita pressão sobre os seus jogadores. Como eles não se mostravam com muita vontade de arriscar no ataque, e nós não mostrávamos muita vontade de pressionar na procura da bola, o jogo entrou numa toada enervante e pouco atractiva, em que a bola passava demasiado tempo nos pés deles e muito pouco acontecia. Houve um ou outro safanão (remate do Postiga; oportunidade do Nuno Gomes), mas o equilíbrio foi a nota dominante. O nulo ao intervalo aceitava-se perfeitamente, face ao que se tinha visto no jogo.

Ao intervalo, o Benfica ganhou o jogo. Eu ainda não sabia, o sportém também não, nem sequer o Benfica sabia ainda. Mas quando o Quique fez entrar o Katsouranis para o lado do Yebda, ganhou o jogo. O efeito foi imediatamente visível. Com as costas protegidas pelo Katsouranis, o 'tanque' Yebda teve mais liberdade para subir e pressionar os adversários. As nossas linhas subiram, e as deles, consequentemente, recuaram. Isto era particularmente óbvio quando se reparava na posição do Veloso (por quem passava 90% do jogo do sportém), que agora aparecia quase colado aos centrais. O jogo de contenção do sportém, em vez de ser feito à entrada do nosso meio campo, tinha agora que ser feito já dentro do meio campo deles, com as consequências óbvias do perigo que representava uma perda de bola aí, e ainda da maior dificuldade em fazer a bola chegar ao ataque. O Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento não soube responder a isto. O que aliás não é surpreendente, porque o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento raramente sabe responder ao que quer que seja. Aquela equipa está constantemente amarrada a um sistema táctico imutável, em que ele é capaz de trocar os jogadores, mas aquilo parece uma espécie de jogo das cadeiras: eles rodam por ali até se encaixarem todos nas posições fixas do 4-4-2 em losango. Por exemplo: sai o Abel, entra o Pereirinha. Será que ele vai arriscar jogar só com três defesas? Não, o Pereirinha entra e vai ocupar exactamente a mesma posição do Abel, na direita da defesa. Sai o Ronhónhó e entra o Etíope Mergulhador. Será que ele está a colocar a carne toda no assador, e vai jogar com três avançados? Não, o Djaló recua para a posição anteriormente ocupada pelo Ronhónhó, no vértice avançado do losango, e o Mergulhador vai para o ataque, fazer o mesmo que o Djaló fazia. E fica tudo na mesma.

Não sei explicar, mas parti para este jogo com uma confiança inabalável de que iríamos vencê-lo. Não sei, talvez porque, na minha cabeça por vezes excessivamente analítica e racional, há constantes na vida. E quando eu olho para as equipas do Benfica e do sportém, o mais natural é que a equipa do Benfica vença a do sportém. Nós temos o Reyes, e eles têm um indivíduo com pinta de quem mora num atrelado que se chama Ronhónhó. Nós temos o Aimar, e eles têm um sujeito rotundo, com evidentes dificuldades de locomoção, que acho que se chama Rochembolha, e que conseguiu ser dispensado a custo zero do clube anterior. Nós temos o Sídnei e eles têm o Túnel, que um dia se foi mascarar de D.Afonso Henriques para a capa de um jornal. Nós temos o Cardozo e eles têm um gajo que foi um barrete no Tottenham, no fóculporto, no St.Etiénne, no Panathinaikos, e que depois foi impingido à lagartada em jeito de esmola por andarem caladinhos, e cujo maior mérito tem sido conseguir marcar golos em fora-de-jogo (pronto, fez uma boa época no fóculporto do Mourinho, antes de ser vendido ao Tottenham, e tem andado a viver às custas disso desde então - mas quem é que não faz boas épocas com o Mourinho?). Portanto, ou acontecia uma daquelas surpresas em que o futebol por vezes é fértil, e aquele paralelepípedo táctico recheado de artolas conseguia uma vitória improvável (só mesmo um calhau como o Jesualdo é que, por mais que tente, não consegue arranjar forma de dar a volta a isto e sistematicamente leva banhos tácticos do Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento), ou então as coisas passavam-se com naturalidade e o superior valor de um dos nossos jogadores resolvia a questão. Certa ou errada esta era, pelo menos, a minha lógica inabalável. Felizmente foi esta última hipótese que se verificou.

O jogador em causa foi o Reyes. Já durante a primeira parte, durante os períodos da mais exasperante monotonia que atravessámos, sempre que o Benfica tinha a bola eu passava a maior parte do tempo a berrar para que metessem a bola no Reyes. Ele nem sempre toma as melhores decisões. Por vezes agarra-se demasiado à bola, ou tenta furar por entre cinco adversários. Mas caramba, ele era quem mais tentava dar velocidade ao jogo, era quem levava a bola para a frente, partia para cima dos adversários, e era aquele em quem eu depositava mais esperanças para tirar um coelho da cartola. Já com o Aimar em campo (mais uma estocada táctica do Quique sobre o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento - o público não gostou da saída do Nuno Gomes e assobiou, mas já o Trapattoni dizia que nós não percebíamos nada de bola), há um lançamento de linha lateral sobre o lado esquerdo. O Reyes recebe a bola, e toca-a para o Aimar, que devolve de primeira para a frente do Reyes. E eu confesso que este foi um dos golos que mais gozo me deu ver na Luz - e já foram muitos os que tive a felicidade de ver. Por causa da antecipação. Porque naqueles escassos instantes antes do Reyes chegar à bola eu, que estava numa posição privilegiada para ver este golo (exactamente na diagonal, vendo o Reyes pelas costas) adivinhei o que ele iria fazer. Se calhar um jogador 'normal', recebendo aquele passe do Aimar, tocaria a bola em direcção à linha final para depois tentar o centro. Mas, pensei eu, aquele é o maluco do Reyes. E dali, perfeito, perfeito é um pontapé cruzado, de primeira, feito com a parte de fora do pé, por isso é isso mesmo que ele vai fazer. Quando o Reyes chegou à bola eu comecei a gritar golo. É para isto que ele está lá, é por isso que ele é caro. Porque tem a capacidade de decidir jogos em pormenores.

O sportém respondeu a este golo com a habitual mestria táctica do Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento: tirou um avançado (Postiga) e meteu outro (Derlei), que foi fazer exactamente o mesmo que o anterior, apenas com o pormenor de conseguir dar um bocado mais de porrada no processo. Estranhamente, esta alteração radical não teve efeitos visíveis, e imediatamente a seguir (ainda eu estava a rever na cabeça mais uma vez o golo do Reyes) o Benfica marcou o segundo e arrumou a questão. Livre do lado direito marcado pelo Carlos Martins para o segundo poste, onde apareceu o Sídnei a ganhar de cabeça ao Polga (este já deve começar a ficar habituado a ser batido por um central do Benfica para sofrer um golo) e a fazer o 2-0. A julgar pelos festejos do Carlos Martins, julgo que ele também era capaz de estar a realizar um sonho qualquer dele (em particular, o de encavar o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento). A partir daqui foi só deixar o tempo passar, até porque o jogo estava de tal forma controlado que, confesso, nem reparei que a partir de determinada altura ficámos com menos um jogador. Vi o Carlos Martins sair, mas nem reparei que ele não voltou a entrar, porque não se deu pela falta dele (o Yebda chegava e sobrava para andar no meio e ainda ir à direita). Só quando um colega de bancada o mencionou, já em período de descontos, é que me apercebi do facto.

Não sei quem posso eleger como o melhor. Adorei os dois putos no centro da defesa. Pareceram começar um bocadinho nervosos (a fuga do Djaló logo no início deve ter assustado), e raramente arriscavam sair com a bola controlada ou até mesmo passes para a frente, optando muitas vezes pelo atraso para o Quim), mas depois acertaram o passo e raramente falharam. O Sídnei já se sabe que é craque, mas a 'surpresa' maior é o Miguel Vítor. A julgar pela exibição, não diria que se estava a estrear num derby. O Yebda continua a agradar-me muito; é para mim imprescindível no meio campo, e parece render mais com o Katsouranis ao lado. Claro que também tenho que mencionar o Reyes. Já o disse: durante a modorra da primeira parte, era aquele que mais parecia ser capaz de fazer algo para agitar o jogo. E depois aquele golo foi lindo, e decisivo. Quanto a exibições menos conseguidas, julgo que o Cardozo esteve hoje abaixo daquilo que lhe é exigível (daí o desagrado do público aquando da substituição do Nuno Gomes, já que esperavam que fosse o paraguaio a sair).

Já há quatro meses que não via o Benfica na Luz (desde Maio). Foi bom regressar a 'casa', foi bom voltar a estar entre os meus, reencontrar os colegas de bancada, ou melhor, amigos circunstanciais, cuja amizade dura normalmente noventa minutos de quinze em quinze dias, e ver a minha equipa jogar. Não havia melhor forma de celebrar este regresso do que com uma vitória sobre os piqueniqueiros do Lumiar. Pelo menos durante um par de dias devemos estar livres de os termos a azucrinar-nos o juízo. Quer dizer, ainda não vi qualquer resumo do jogo (de alguma forma, nao sei se quero ver uma repetição do golo do Reyes, acho que prefiro recordá-lo da forma que o vi no estádio), mas se calhar eles já conseguiram arranjar umas quantas expulsões, ou um par de penáltis não assinalados que justifiquem a derrota. É a natureza deles.

terça-feira, setembro 23, 2008

Primeira

E ao fim de quatro jogos, a primeira vitória. Mas foi preciso, e muito por culpa própria, suar e sofrer muito para consegui-la. Este tipo de jogos pode ser muito bonito sob o ponto de vista do espectáculo, muito emotivo e tudo mais, mas eu sinceramente dispenso tanto sofrimento desnecessário. E é desnecessário porque só podemos culpar-nos a nós próprios por termos oferecido ao adversário, ainda por cima várias vezes, a oportunidade de acreditar até ao fim.

Este jogo marcou o regresso à fórmula utilizada preferencialmente na pré-época, com o Rúben Amorim a ocupar o lado direito do meio campo. A única surpresa foi mesmo a chamada do Jorge Ribeiro para o lugar do Léo na defesa, mas os plantéis são para se gerir, e se ele está no plantel (com muita pena minha, acrescento já), então é para jogar quando necessário. A dupla inédita de centrais foi formada pelos 'putos' Sídnei e Miguel Vítor - não havia mesmo outra opção. O Benfica teve uma boa entrada no jogo, e logo aos seis minutos colocou-se em vantagem, numa jogada exemplar de contra-ataque, em que o Carlos Martins lançou o Reyes na esquerda e este fez um cruzamento certinho para os pés do Nuno Gomes, que marcou facilmente de primeira. Parecia lançado o Benfica, mas a exemplo do que aconteceu com o Nápoles, não demorou muito até que o adversário respondesse. Na sequência de um canto o Reyes falha o alívio, e o remate do jogador do Paços acabou por tabelar no Sídnei e não dar hipóteses de defesa. Andamos com pouca sorte nos ressaltos.

O Benfica abanou com este golo, e nos cerca de dez minutos que se seguiram a qualidade do nosso jogo deixou muito a desejar. Foi só com a chegada do segundo golo, pouco depois da meia-hora, que voltámos a assentar. Um bom cruzamento do Rúben Amorim encontrou o Nuno Gomes desmarcado na esquerda, e à defesa do guarda-redes adversário seguiu-se a recarga vitoriosa do Maxi. Daqui até final da primeira parte, o Benfica controlou e dominou o jogo como quis, ameaçando chegar mesmo ao terceiro golo, o que acabou por acontecer perto do intervalo através um penálti claro, assinalado por mão na bola do defesa do Paços, e que o Cardozo se encarregou de converter. Mesmo em cima do apito, quase marcámos o quarto, tendo sido um defesa do Paços sobre a linha de golo a evitá-lo, travando o remate do Sídnei.

Pensei eu (obviamente mal) que o jogo estaria resolvido. O que eu não esperava era a forma frouxa, até mesmo quase displicente, como decidimos aparecer para a segunda parte e gerir o resultado. Foi exasperante ver-nos incapazes de circular a bola e manter a sua posse. O Paços agradeceu, cresceu e começou a tentar a sua sorte. Que chegou mesmo, num lance absolutamente estúpido. Primeiro é o Sídnei que concede um livre lateral ao decidir agarrar a bola antes do apito do árbitro (é certo que me pareceu que ele sofreu mesmo falta quando protegia a saída da bola, mas o que conta é o apito do árbitro). Depois, na sequência do cruzamento, é o Quim, completamente à vontade, a ter um ataque de mãos de manteiga e a deixar escapar uma bola que era sua, o que resultou no segundo golo do Paços. E pronto, lá ficaram eles ainda mais motivados, e nós a não mostrar vontadinha nenhuma de alterar as coisas, como se aquele golo de vantagem fosse a coisa mais tranquilizante do mundo. O que nos foi valendo foi mesmo que o Paços nunca conseguiu criar grandes oportunidades de golo em futebol corrido, porque tendo em conta o à vontade com que os deixávamos ter a bola, as coisas eram capazes de ter ficado mais complicadas caso eles mostrassem um pouco mais de inspiração.

Inspiração teve o Jorge Ribeiro, que praticamente do nada inventou um grande pontapé que resultou no 4-2 (não é por causa disto que eu passo a ficar feliz por tê-lo no nosso plantel - se ele marcar um golo destes que nos dê a vitória na final da Taça UEFA talvez haja a remota possibilidade de eu mudar de opinião). E pronto, lá fiquei eu mais uma vez convencido que agora é que era, que o jogo estaria finalmente resolvido, até porque o Paços acusou bastante o golo e o Benfica, agora mais calmo, tinha clareiras enormes no meio campo adversário para poder construir lances de ataque. Só que mais uma vez, lá resolvemos contribuir para a popularidade do desporto rei, e adicionar mais uma pitada de emotividade até final. A cinco minutos do fim, em mais um canto, um mau alívio do Maxi Pereira - para a entrada da pequena área - e uma passividade quase total dos nossos jogadores resultaram no terceiro golo do Paços. E depois foi sofrer até final, embora o Paços continuasse apenas a ser capaz de criar perigo na sequência de bolas paradas - só que através destas ainda conseguiu, nos cinco minutos até final mais outros cinco de desconto, criar duas boas ocasiões para marcar. Após a segunda dessas ocasiões - sobre o apito final, salva pelo Quim - lá consegui voltar a respirar, após ter sustido a respiração durante aqueles últimos dez minutos (acho que já estava a ficar azul, e o azul não é uma cor muito aconselhável).

Melhores/piores? Gostei muito da primeira parte do Nuno Gomes, a jogar como há muito não o via. Sem se esconder do jogo, a tabelar bem com os colegas, a desmarcar-se bem e a aparecer decidido em zonas de finalização. Continuo a gostar muito do Yebda; é um poço de força, e tem um raio de acção enorme, aparecendo, por exemplo, diversas vezes junto à linha a cruzar, sendo que no lance seguinte já está outra vez na sua posição de recuperador de bolas no meio campo. Bom jogo também do Rúben Amorim no regresso à titularidade. Pela negativa, a defesa. Ou melhor, nem será justo particularizar a defesa em si, mas sim a forma como a equipa num todo defendeu. Sofrer três golos - todos na sequência de bolas paradas - do Paços de Ferreira não é admissível para uma equipa como o Benfica. Em relação à defesa em si, até acabei por gostar mais da actuação dos dois centrais (raramente erraram), que supostamente são mais inexperientes, do que da dos dois laterais. Não percebo como é que os comentadores andavam a elogiar a exibição do Jorge Ribeiro, por exemplo, quando o que eu via era que o Paços entrava por aquele lado quase quando e como queria (e do outro lado o Maxi não esteve muito melhor).

Enfim, o que conta mesmo é a vitória, e a diversão que foi ver este jogo (esta 'diversão' só é perceptível a posteriori, com o conhecimento de que ganhámos o jogo - se este tivesse acabado 4-4 já não teria piada nenhuma). Agora é continuar a ganhar, de preferência já para a semana contra as carpideiras do Lumiar.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Pouco

Não posso dizer que foi um mau resultado, tendo em conta que se trata de uma eliminatória a duas mãos e que marcámos dois golos fora. Mas sinceramente, sabe-me a pouco. Acho que o Benfica, e os jogadores que temos, conseguem fazer melhor. Também houve alguma falta de sorte à mistura (dois dos golos adversários resultam de ressaltos), mas isso também faz parte do jogo.

Achei um pouco surpreendente a forma como entrámos em campo em Nápoles. A equipa inicial era marcadamente ofensiva. Talvez a intenção original fosse jogar num 4-4-2, mas tendo em conta que os dois alas (Reyes e Urreta) pouco ou nada defendiam, na prática ficámos com um 4-2-4, em que quase todas as despesas de recuperação da bola no meio campo ficaram entregues a um único jogador (Yebda). Isto não me pareceu uma opção particularmente eficaz contra um Nápoles que alinhava num 3-5-2, com muita gente no meio campo. Na prática, o que se viu durante muito tempo foi o Benfica partido ao meio, com um espaço vazio enorme entre a defesa e o ataque, espaço esse que o Carlos Martins não conseguiu preencher. Foram diversas as vezes em que os nossos defesas recebiam a bola, e depois tinham que limitar-se a trocá-la entre eles por não haver opções de passe para a frente. Isto também foi ajudado pelo facto do Nápoles tentar fazer uma pressão bastante agressiva logo à saída da nossa defesa - coisa que os nossos jogadores da frente pouco ou nada fizeram sobre os defesas italianos.

O jogo foi-se revelando equilibrado desde o início. Do lado italiano, a preocupação parecia ser pressionar (de forma por vezes bastante agressiva, diga-se de passagem, com uma excessiva complacência do árbitro) na procura da bola, e depois colocá-la o mais rapidamente possível nos pés do Lavezzi (óptimo jogador). Quanto a nós, optávamos por um ritmo pausado de jogo, com bastante posse de bola, à espera de uma oportunidade. E acabámos por ser recompensados com a vantagem no marcador, quando o estreante Suazo cabeceou para golo na sequência de um canto. As coisas pareciam estar a compor-se, mas imediatamente a seguir ao golo veio um descalabro e em três minutos passámos a estar em desvantagem no marcador. Em ambos os golos foi visível a falta de capacidade defensiva do nosso meio campo. Julgo que já deveríamos estar avisados para o perigo que o Hamsik representa, mas a verdade é que no primeiro golo ele aparece completamente à vontade à frente da área a receber a bola e a rematar - depois o ressalto acabou por ir para os pés dos italianos, que assim fizeram o golo - e no segundo é o mesmo Hamsik quem entra na área sem que nenhum médio o acompanhe. Como é óbvio, acusámos estes dois golos de rajada, e durante mais alguns minutos andámos um tanto ou quanto perdidos em campo, mas depois tudo voltou à forma inicial. Muita posse de bola da nossa parte, mas sem conseguirmos criar muitas jogadas de perigo, e o Nápoles sempre a tentar os contra-ataques rápidos pelo Lavezzi.

Ao intervalo esperava que o Quique optasse pelo regresso à fórmula da pré-época, retirando um dos alas (em princípio o Urreta) e colocando em campo o Ruben Amorim. A escolha foi no entanto o Balboa, embora este tenha vindo jogar um pouco mais recuado que o Urreta, encostando-se diversas vezes ao centro. Cedo as coisas ficaram mais preocupantes, já que num lance feliz (um centro que tabelou no Léo) o Nápoles chegou ao 3-1. Logo a seguir o Quique fez uma substituição que, na minha opinião, se exigia, colocando o Katsouranis em campo ao lado do Yebda, e retirando o apagado Carlos Martins. Isto veio dar maior solidez ao nosso meio campo defensivo, e permitiu ao Yebda soltar-se e subir mais, já que foi o Katsouranis quem assumiu a posição mais defensiva. Pouco tempo depois da substituição marcámos o segundo golo, através do Luisão, que aproveitou um ressalto na sequência de um livre cruzado para a área (num lance em que me pareceu haver um penálti claro sobre o Sídnei). A tendência do jogo pouco ou nada se alterou com este golo, e foi mais ou menos constante durante os noventa minutos. O Benfica sempre com mais posse de bola, e o Nápoles sempre a tentar explorar o contra-ataque rápido. À medida que o jogo se foi aproximando do final, fiquei com a sensação de que ambas as equipas se foram conformando com o resultado, que deixa tudo em aberto para a segunda mão na Luz.

Gostei das duas estreias a titular. O Sídnei voltou a mostrar que é um defesa rápido, e que joga bem na antecipação. Quanto ao Suazo, mostrou ser reforço (o que não é surpresa nenhuma). Marcou um bom golo de cabeça, movimentou-se bastante pelo ataque e sabe segurar a bola. Gostei também do jogo que fez o Yebda e, para não variar, do Léo. No pólo oposto, para mim a grande desilusão foi o Di María, que fez um jogo pavoroso. Pela reacção dele ao ser substituído, parece-me que ele tem a noção disso mesmo.

Não fosse a maldição que temos com as equipas italianas, e eu estaria bastante confiante na passagem à próxima eliminatória. Assim sendo, daqui a duas semanas lá estarei na Luz a sofrer para que consigamos voltar a eliminar uma equipa italiana ao fim de mais de vinte anos (se não estou em erro, a última foi a Sampdoria em 1985).

sexta-feira, setembro 12, 2008

O meu onze ideal (VIII)

A pedido do Índio (isto é uma vez sem exemplo, que neste blog não se fazem posts a la carte ;)), regresso à série de posts sobre o meu onze ideal do Benfica, constituído por jogadores que eu tive a oportunidade e a sorte de ver jogar. Só para recordar, e uma vez que eu já não tocava neste assunto há muito tempo, os jogadores que escolhi até agora foram: Preud'Homme, Miguel, Ricardo Gomes, Mozer e Schwarz; Thern e Valdo. Chegou a vez de escolher o médio direito.


Médio direito

Vítor Paneira


Começo por dizer que foi um bocado difícil deixar de fora o Poborsky, já que ele foi também um dos melhores que vi jogar nesta posição, ainda por cima numa altura em que a qualidade não abundava nos plantéis do Benfica. Mas a minha escolha seria sempre o Vítor Paneira. Foi praticamente um caso de amor à primeira vista. Apareceu no plantel de 1988/89, completamente desconhecido, vindo do Vizela. E surpreendeu logo pelo à vontade com que vestiu a nossa camisola, como se fosse aquele o seu lugar natural. As primeiras recordações que tenho dele são de um torneio da pré-época (salvo o erro, foi o Torneio de Amsterdão). Este era daqueles que não enganavam: bastou ver alguns minutos desse torneio para se perceber que o Benfica tinha descoberto uma pérola. E o resto da época veio confirmá-lo, pois foi titular em quase todos os jogos, e em menos de dois meses estava a estrear-se na Selecção Nacional. Um prazer particular para os benfiquistas terá sido o facto do Porco da Bosta, inchado depois de um campeonato ganho com uma vantagem enorme na época anterior, ter no início da nova época gozado com esta contratação do Benfica.

Foram muitos os momentos altos que o Vítor Paneira nos proporcionou. O Eriksson tentou convertê-lo a lateral-direito, insistindo que se ele quisesse poderia ser o melhor europeu naquela posição (lembro-me de o ver jogar nessa posição contra o Barcelona na Luz, para a Champions, e com o Stoichkov à frente aquilo foi complicado). Mas ele preferiu manter-se mais adiantado, e foi nessa posição que brilhou. Podia escolher vários momentos altos, como os dois golos à Juventus, mas para mim o melhor jogo que o vi fazer foi no 6-3 de Alvalade. Foi uma exibição quase perfeita, que foi ofuscada pela performance extra-terrestre do JVP (A Bola deu-lhe um 9, coisa raríssima), e onde ele fez duas assistências, e esfrangalhou por completo o lado esquerdo da lagartagem, ajudado ainda pelas decisões brilhantes do nosso actual seleccionador nacional, na altura no banco lagarto.

Mal atravessada ficou-me sempre a sua saída do Benfica, aos 28 anos, e numa altura em que era o capitão de equipa, tendo sucedido ao Veloso. Talvez o facto de se ter insurgido publicamente contra as declarações do Artur Jorge, que disse que o Benfica tinha que jogar mais 'à Porto', tenha selado o seu destino. Sempre pensei que ele ainda teria muito a dar ao Benfica (ainda foi ao Europeu de 96 pelo Guimarães). Ainda assim, nunca lhe ouvi qualquer crítica ao Benfica desde que saíu. Já não posso no entanto louvar-lhe os méritos de comentador no canal Oliveirinha, porque sempre que o ouvi por lá fiquei com a sensação de que ele estava a esforçar-se demasiado para mostrar que não era era tendencioso pelo Benfica, e acabava sempre por debitar algumas barbaridades de deixar os cabelos em pé. Paneira, os outros que por lá andam não me parecem ter problemas nenhuns em mostrar as cores que apoiam...