segunda-feira, outubro 27, 2008

Karma

Esta cena do karma às vezes é tramada...

Gostava de poder dizer que tenho muita pena, mas a verdade é que não tenho. E ele já devia saber no que é que se ia meter. Afinal, não é a primeira vez que coisas destas acontecem por aqueles lados.

Quanto a nós, paciência, lá tivemos que ir buscar o Reyes. Esta cena do karma às vezes é linda.

domingo, outubro 26, 2008

Mais

Confesso que no final do jogo não sabia se, enquanto saía do estádio, estava mais satisfeito com a vitória ou mais irritado com a nossa exibição. Caramba, ainda estou à espera de ver os nossos jogadores fazerem uma exibição convincente contra uma das chamadas equipas pequenas. Só se motivam contra os adversários com mais nome, ou quê? Acho que hoje merecemos a vitória, isso não se coloca em dúvida, mas na minha opinião os nossos jogadores têm a obrigação de fazer e mostrar mais do que aquilo que vimos durante largos períodos do jogo de hoje. Nós somos o Benfica. Os mais de 45.000 espectadores que se deslocaram esta noite à Luz merecem mais.


A equipa voltou a mudar em relação ao último jogo. No meio campo, regressos de Carlos Martins, Ruben Amorim e Yebda, enquanto que o ataque ficou entregue à dupla Suazo/Nuno Gomes. Acho que já disse várias vezes que não gosto nada quando a zona central do nosso meio campo fica entregue à dupla Yebda/Carlos Martins, e para mim este jogo voltou a demonstrar porquê. Adiante. A entrada do Benfica neste jogo foi frouxa, isto para não utilizar um palavrão para a descrever. Os nossos jogadores pareciam andar por ali a passear, enquanto que os rapazes equipados com as lonas das barracas da sua praia, surpresa das surpresas, até pareciam estar ali para correr um bocadinho. Isto perante os olhares de espanto dos outros, equipados de vermelho. Pelo menos durante quase quinze minutos, pouco ou nada vi da parte da nossa equipa. Depois lá arrebitaram um bocadinho (em especial depois de um grande susto, com a Naval a falhar uma oportunidade de golo clara), e aproximaram-se mais da baliza adversária. O Reyes foi fazendo uns remates, depois conseguimos finalmente fazer uma boa jogada, que terminou numa boa defesa do guarda-redes a remate do Suazo, e as coisas lá animaram. Numa das jogadas em que lá fizeram o obséquio de tentar marcar um golo, e para isso tiveram de entrar na área adversária, o Ruben Amorim foi claramente derrubado, num lance para penálti. Seria até um prémio imerecido para tanta inércia dos nossos jogadores, mas a verdade é que era mesmo penálti. Digo 'era' porque, claro, mesmo sendo o lance nas barbas do auxiliar, nada foi assinalado. Depois do que vimos ontem no estádio do animal imaginário, volta a verificar-se que tudo continua na mais perfeita normalidade. Rui Costa foi eficiente, e se calhar para a semana vem o irmão dele continuar o trabalhinho, a julgar pelos critérios de nomeação para os nossos jogos a que tenho assistido. Enfim, normalidades à parte, o jogo lá se foi arrastando até ao intervalo, polvilhado de algumas tentativas do Reyes que se ficaram pelas boas intenções, e uns falhanços do Suazo.

Para a segunda parte, o Benfica pareceu entrar mais decidido. Um pouco mais de velocidade e agressividade sobre a bola mostraram a diferença que podiam fazer. O Nuno Gomes falhou uma boa oportunidade logo a abrir, e pouco depois marcámos mesmo, mas o Suazo estava claramente em posição irregular. Só que o ímpeto acabou por não durar muito, e após um quarto de hora voltámos à sonolência. O Quique foi fazendo substituições, mas estas pouco mudavam o figurino no jogo, já que os jogadores que entravam iam fazer as mesmas funções daqueles que substituíam. A mim pareceu-me que faltava maior presença e agressividade na zona central do meio campo, onde perdíamos sistematicamente todas as bolas divididas e onde quase todos os ressaltos acabavam nos pés de um jogador da Naval, e portanto esperava a entrada do Katsouranis para o lugar do Carlos Martins (que para mim fez um jogo muito fraco). Só que ele entrou para o lugar do Yebda, e ficou tudo na mesma. As coisas estavam tão paradas que, por mais de uma vez, e perante a apatia dos colegas, que não se desmarcavam para receber a bola, foi o Sídnei a arrancar com ela nos pés e a ir quase de uma área à outra. A coisa só desatou na sequência de uma bola parada. A um livre do Reyes sobre a esquerda correspondeu o Luisão de cabeça, finalmente desfazendo o nulo.

O problema foi que os nossos jogadores pareceram claramente quererem descansar à sobra desta magra vantagem. Faltavam ainda vinte minutos para o final, e a Naval mostrava vontade e capacidade para marcar. Perante tanta parcimónia dos nossos jogadores (total ausência de pressão, e para além disso não consigo perceber como é que um jogador quando é ultrapassado se deixa ficar para trás, parando ou recuando a passo, em vez de perseguir o adversário), a Naval primeiro ameaçou, e depois marcou mesmo, num lance em que o marcador do golo apareceu ao segundo poste, na pequena área, completamente sozinho. Faltavam oito minutos para o final, e talvez aí os nossos jogadores se tenham apercebido que era necessário fazer algo mais do que ficarem a ver a banda passar para ganhar o jogo. Felizmente só foi necessário esperar quatro minutos para resolver um problema que ameaçava tornar-se sério. O Cardozo recuou até perto do círculo central para abrir a bola na esquerda, no Jorge Ribeiro, e depois deslocou-se para a área, para corresponder com um grande cabeceamento ao bonito centro do defesa esquerdo do Benfica (num lance em que houve também uma falha de marcação gritante da defesa da Naval
, embora haja também muito mérito na forma como conseguimos criar uma situação de superioridade na área), fixando o resultado final em 2-1. Depois, nos minutos finais, foi giro ver que a Naval afinal até se preocupava um bocado com a possibilidade do adversário andar a queimar tempo.

Por mais que tente não consigo pensar nos melhores jogadores do Benfica. Alguns estiveram bem a espaços, mas na generalidade o nível exibicional deixou muito a desejar. Posso sempre mencionar os centrais, que não tiveram falhas gritantes, sendo que o Luisão ainda marcou um golo, mas não se pode dizer que tenham estado brilhantes. De igual forma, também é difícil dizer quem esteve pior. Já disse que achei que o Carlos Martins esteve desinspirado, mas não foi o único, já que acabou por acompanhar a mediania geral.

O mais importante acabou por ser o resultado. Vencemos, conquistámos merecidamente os três pontos, e agora estamos à frente dos dois que pensam que são grandes. Estamos a um ponto da liderança e, se pensarmos bem, não nos podemos queixar muito. É que noutras ocasiões, a jogarmos mal perdíamos, e não demorava muito até andarmos a olhar para o primeiro lugar a uma distância considerável.

sábado, outubro 25, 2008

Obediência

Senta cão. Rebola. Deita. Apita. Assinala o penálti. Levanta a bandeira. Anula o golo. Sit, Ubu, sit. Good dog.


P.S.- Tendo em conta aquilo que conheço do José Mota, que não consegue fazer um jogo contra o Benfica sem que no final faça a choraminguice sobre a arbitragem, nem que seja por causa de um lançamento que ele julga ter sido assinalado ao contrário, fiquei curiosamente à espera da sua flash interview esta noite (ainda na última jornada, depois de um jogador seu ter metido a bola na nossa baliza já após o apito do árbitro, conseguiu queixar-se de um golo anulado). Afinal, pensei eu, depois de um penálti à moda do fóculporto e de um golo limpíssimo anulado, ele hoje iria partir a loiça toda. Desilusão completa: parecia um cordeirinho. Elogios aos seus jogadores, loas ao adversário, e nem uma palavrinha que fosse sobre o autêntico roubo que tínhamos acabado de presenciar. Há coisas que nunca mudam.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Resultado

Começo por utilizar uma frase muito gasta para falar do jogo: foi melhor o resultado do que a exibição. E tendo em conta que é muito difícil eu considerar um empate como um bom resultado para o Benfica, por aqui se vê que não fiquei propriamente entusiasmado com a nossa exibição esta noite. Claro que podemos olhar para o jogo sob duas perspectivas distintas: sob o ponto de vista puramente competitivo, e nesse caso o empate serve perfeitamente as nossas ambições de seguir para a próxima fase da Taça UEFA; ou sob o ponto de vista exibicional, e nesse caso não fiquei com muitos motivos de satisfação.

Fiquei um pouco surpreendido com a constituição inicial do Benfica. Com dois extremos de início, foi o regresso à fórmula experimentada sem grande sucesso na fase inicial da época, ficando o meio campo entregue a apenas dois jogadores, dependentes da vontade desses dois extremos em ajudarem nas tarefas de recuperação ou não. Infelizmente houve também um azar com o Yebda no aquecimento, e assim ficámos privados daquele que tem sido um dos jogadores em melhor forma e mais influentes neste início de época. O meio campo ficou assim entregue ao Binya e ao Katsouranis, com as dificuldades daí inerentes no que diz respeito à organização das jogadas ofensivas. Na frente, Cardozo e Nuno Gomes, ficando o Suazo no banco. Ao fim de um par de minutos de jogo pensei que pudesse vir a ser uma noite inspirada da nossa equipa, já que cedo construímos uma boa oportunidade de golo, numa jogada de passes rápidos sempre em progressão, mas foi puro engano, porque daí até final dos primeiros quarenta e cinco minutos foi sempre a descer. Se calhar era eu que estava de mau humor, mas para mim a nossa exibição na primeira parte foi horrível, quase sem ponta por onde pegar. Um infinidade de passes errados e completamente disparatados, incapacidade para alinhavar mais do que três passes seguidos, e os jogadores a parecerem estar na maioria das vezes a chutar a bola sem nexo para a frente, porque aquilo nem um passe se poderia chamar. De uma forma inversa Hertha, embora sem criar muitas oportunidades, foi obviamente aproveitando a nossa incapacidade para manter a bola em nosso poder para ir crescendo, e ocupando cada vez mais frequentemente os terrenos mais próximos da nossa área.

Para a segunda parte, com o Suazo no lugar do Cardozo, a equipa apareceu melhor. Os primeiros minutos mostraram um Benfica mais agressivo e solto, pressionando o adversário no seu próprio meio campo e trocando bem a bola. Uma dessas situações resultou numa recuperação de bola, em que o Nuno Gomes desmarcou bem o Di María. O argentino parecia estar decidido a correr com a bola para além da linha de fundo, mas felizmente um defesa alemão resolveu intrometer-se no lance e de alguma forma lá ajudou o rapaz a marcar golo. Pensei que pudesse estar perante mais um daqueles jogos em que a nossa equipa se transfigura da primeira para a segunda parte, mas a verdade é que voltámos a encolher-nos muito depois do golo, e mais uma vez entrámos na rotina de oferecer bolas atrás de bolas aos adversários para que eles lançassem ataque após ataque. Mesmo assim, eles não pareciam capazes de incomodar seriamente o Quim, apesar de ser notório que a pressão estava a aumentar. Por isso não percebi a decisão do Quique de retirar o Katsouranis do campo. Não sei se o grego estaria tocado, mas a minha primeira reacção ao ver aquilo foi pensar que era um erro. O Katsouranis, sem fazer uma boa exibição, estava pelo menos a ser tacticamente útil (ao contrário do Binya, que para mim andou metade do tempo perdido em campo), e retirá-lo de campo numa altura em que se adivinha o intensificar da pressão alemã para mim não fez sentido nenhum. O que eu vi foi que, após a saída do Katsouranis, os médios alemães subiram bastante mais no terreno, colocando-se quase sempre entre a nossa linha de defesa e os dois médios, sendo que quando a bola chegava à nossa área por vezes estavam cinco ou seis alemães por ali, a conseguirem criar pelo menos situações de um para um com os nossos defesas. Depois saiu também o Reyes (que esta noite se estava a esforçar bastante para ajudar na luta do meio campo) e entrou o Urreta, que veio fazer pouco ou nada para dentro do campo - o nosso lado esquerdp depois da saída do Reyes ficou uma autêntica avenida, por onde os alemães subiam à vontade. Por isso, previsivelmente, apareceu o golo do empate (em mais uma situação em que o Pantelic ficou numa situação de um para um com o Maxi, e por isso foi só tirá-lo da frente e rematar). E não levámos com o segundo golo porque o Voronin foi nabo (após uma 'excelente' intervenção do Urreta nesse lance). Ficou o empate, ainda bem para nós, mas ficou também uma exibição pouco conseguida da nossa equipa.

Os melhores do Benfica foram, para mim, os nossos centrais, em especial o Luisão, que julgo não ter tido uma única falha durante todo o jogo. Jogo muito positivo também do Nuno Gomes, sendo que o Quim esteve igualmente em bom nível. Pelo contrário, não gostei muito dos nossos laterais, que falharam uma infinidade de passes, pouco ou nada conseguiram intervir no ataque, e pareceram-me ainda algo permissivos a defender (embora, em diversas ocasiões, não tenham tido grande apoio da parte dos colegas do respectivo flanco).

O melhor de tudo acabou mesmo por ser o resultado - e portanto, exclusivamente sob esse ponto de vista, foi um jogo satisfatório. Quanto à exibição, pelo menos, e ao contrário do que se passou com o Penafiel, não considero que tenha havido má atitude ou falta de entrega da parte dos jogadores. Houve sim muita coisa a não sair bem. Regra geral, parece-me que a nossa equipa perde bastante lucidez quando joga apenas com dois médios, condição essa agravada pelo facto do Yebda não ter sido um deles. Espero melhorias já no próximo Domingo.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Sorte

O que é que posso eu escrever sobre um jogo como o de hoje? Este era um daqueles jogos em que o que tínhamos a ganhar era a passagem à próxima eliminatória da Taça de Portugal, e pouco mais, e o que tínhamos a perder era quase tudo. Ou seja, tendo em conta que defrontámos uma equipa da 2ª Divisão, tudo o que não fosse uma vitória confortável para as nossas cores seria sempre criticável, dado ficar aquém do expectável. Infelizmente o Benfica acabou por ficar bastante aquém do expectável, e por isso pouco de positivo haverá a dizer para o nosso lado. Já em relação ao Penafiel, só posso mesmo louvar a organização com que se apresentaram em campo, que raramente se baralhou durante os 120 minutos. Lutaram com as armas que tinham, e fizeram-no da forma mais eficaz possível. Esta noite esteve muito perto de acontecer Taça na Luz.

Foram muitas as alterações feitas para este jogo. O Léo voltou à esquerda, meio campo entregue ao Binya e ao Rúben Amorim (sendo que este parecia ter maiores responsabilidades na organização do jogo), flancos para Urreta (esquerda) e Balboa (direita) e ataque para o Makukula e o Di María, jogando o argentino com total liberdade. Infelizmente, a maior parte dos habituais suplentes pareceu não ter vontade de mostrar inconformismo com a sua actual situação. As excepções terão sido os dois da frente, que mesmo apesar das coisas nem sempre sairem bem, pelo menos foram sempre tentando fazer melhor. As causas para as dificuldades que o Benfica teve durante todo o jogo foram visíveis desde cedo. Primeiro, uma atitude demasiado relaxada, jogando a uma velocidade reduzidíssima, como se houvesse o convencimento de que mais cedo ou mais tarde o golo surgiria. Depois, uma grande dificuldade em construir jogadas de ataque. O Rúben Amorim nunca me pareceu estar à vontade nas funções de organizador, e além disso pareceu-me sempre que nos faltou um jogador para ocupar uma posição entre as duas linhas de defesa do Penafiel. Havia ali um espaço demasiado vazio, entre os nossos dois médios centrais e os avançados, espaço esse que nunca foi ocupado. O resultado foi que, numa espécie de regresso ao passado, voltei a ver o recurso excessivo ao futebol directo, com a bola a ser chutada directamente do nosso meio campo defensivo para o ataque, na esperança que o Makukula conseguisse ganhar alguma delas e cabeceá-la em condições para o Di María. Isso quase nunca aconteceu, e a primeira parte foi muito feia de se ver.

Na segunda parte, sem substituições de início, pouco mudou. O que mudou, mudou do lado adversário, já que o Penafiel foi ganhando confiança e foi-se atrevendo de vez em quando no ataque. Não foi preciso muito tempo para que o Quique tivesse que recorrer ao Reyes e ao Suazo, e para que passássemos a jogar quase em 4-2-4. O Benfica pareceu espevitar, mas depressa se apagou, e exceptuando um cabeceamento do Makukula ao poste, não conseguimos criar grandes ameaças à baliza adversária. Foi ainda necessário adaptar o Binya a lateral direito, já que o Katsouranis teve que entrar para o lugar do Miguel Vítor, que saiu após uma entrada bárbara de um adversário. Mesmo sobre o final, foi até o Penafiel quem subiu e causou um calafrio, mas o nulo manteve-se e assim se foi para prolongamento. Ou seja, para todos os efeitos, o Benfica empatou esta noite em casa contra um adversário da 2ª Divisão. Não é propriamente dignificante para os nosso jogadores que subiram ao relvado. Só na segunda parte do prolongamento, particularmente na fase final, é que o Benfica conseguiu encostar o Penafiel lá atrás e criar oportunidades de golo com frequência, mas o mal já estava feito e foi mesmo preciso recorrer aos penáltis, onde o Moreira lá defendeu um dos pontapés e permitiu ao Suazo dar-nos a vitória.

Conforme disse, poucos foram os jogadores menos utilizados que aproveitaram esta oportunidade dada pelo Quique. O caso mais flagrante foi, para mim, o Balboa, que pouco ou nada fez enquanto esteve em campo. Tendo em conta aquilo que custou, está até agora a revelar-se um verdadeiro flop. O Miguel Vítor esteve bastante mal na direita - vários passes disparatados, e a maioria dos lances de perigo do Penafiel a surgirem pelo seu lado. Léo muito apagado, estranhamente a arriscar pouquíssimo no ataque, tendo em conta aquilo que lhe costuma ser habitual. Binya batalhador, mas mal na hora de construir, Urreta inconsequente e desastrado. Makukula e Di María terão sido os que estiveram menos mal (com o argentino, mais uma vez, a pecar por se agarrar demasiado à bola, sendo por isso responsável pela perda de alguns lances de contra-ataque, mas por outro lado, ainda era quem ia de vez em quando agitando um pouco as coisas lá na frente, nunca se escondendo do jogo) e, claro, nada posso apontar ao Moreira, que resolveu bem tudo o que tinha para resolver e acabou por ser decisivo ao defender um penálti (e pronto, dá-me sempre um prazer especial vê-lo na nossa baliza).

Desta vez tivemos sorte e safámo-nos nos penáltis. Mas não gostei da atitude relaxada dos nossos jogadores durante a maior parte do jogo. Esperava mais, tal como toda a gente esperaria. Assim não.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Selecção

Algums opiniões sobre a selecção em geral:

- O Cristiano Ronaldo é sem dúvida digno de envergar a braçadeira da nossa selecção nacional. É um senhor, com todas as letras, e um exemplo de conduta a seguir por qualquer puto ranhoso aspirante a jogador da bola.

- Ainda em relação ao Cristiano Ronaldo, A Bola anuncia hoje orgulhosamente que já arrebanhou 100.000 assinaturas para tentar coagir elucidar os votantes na eleição do melhor jogador do mundo do quão bom ele é. Tendo em conta que eles normalmente se gabam de terem uns 700.000 leitores diários, parece-me que a taxa de sucesso desta iniciativa é estrondosa. Aconselharia também a que anexassem ao abaixo-assinado algumas imagens da forma garbosa e respeitosa como o capitão da nossa selecção reagiu esta noite a alguns assobios (merecidos) por parte do público de Braga.

- Sem deixar este assunto, pelos vistos a relação entre a iniciativa d'A Bola e o Festival da Eurovisão é mais evidente do que eu julgava. Pelo menos, assumo que deva ser perfeitamente normal associar estes dois assuntos tão próximos quando se escreve, já que outro tipo de explicação para que isto aconteça não me passa pela cabeça.

- O Queirós (Ou Queiroz? Acho que algures no tempo houve uma qualquer transição do popularucho 's' para o mais aristocrático 'z') é o Maior. Felizmente que, como portugueses, fomos abençoados com o privilégio de podermos ser a última adição à sua longa lista de estrondosos sucessos, devendo ainda estar-lhe agradecidos por, altruisticamente, ter abdicado da sua posição de destaque no Man Utd para vir dar uma ajuda aos compatriotas saloios - ainda por cima logo depois de um ano em que, praticamente sozinho, foi o responsável pela conquista da Champions por parte do Man Utd (toda a gente sabe que, de acordo com o que os nossos comentadores e jornaleiros não se cansam de nos informar, o mérito é dele, e que o Ferguson é uma figura meramente decorativa).

- Com um toque de Midas, Queirózs transforma em ouro tudo aquilo em que toca, sendo o número dos seus sucessos incrivelmente extenso: bicampeão mundial de sub-20, uhm... ora deixa lá ver que mais.. acho que uma Taça de Portugal ganha ao Marítimo antes da lagartagem, no meio de muitas lágrimas de arrependimento por terem despedido o Robson, correr com ele. Bem, pelo menos tem o mérito de conseguir fazer aqueles dois títulos de sub-20 render durante este tempo todo.

- Acho que neste momento muitos de nós, benfiquistas, devemos andar a dar enormes suspiros de alívio por nos termos esquivado desta bala queirosiana que há bastante tempo parecem estar a querer impingir-nos (basicamente, de cada vez que trocamos de treinador). Ainda hoje estou para perceber como é que uma sondagem qualquer feita no final da época passada indicava uma percentagem superior a 50% de benfiquistas que supostamente desejavam o Queirósz para treinador. Especialmente porque eu, que sou benfiquista, e que conheço imensos benfiquistas, não conheço um único que manifestasse esse desejo.

- O Scolari era muito mau mesmo. Com um palmarés incomparavelmente inferior ao do 'Professor', limitou-se a levar a selecção a posições nunca antes vistas, e foi atacado forte e feio por isso. Só foi pena que ninguém se tenha lembrado de emoldurar uma frase que ele uma vez disse, pouco depois de ter chegado, e de a colocar à entrada da FPF. 'Caro? O ruim é que é caro!' Neste momento a FPF deve estar a gastar o equivalente a três Euromilhões por dia.

domingo, outubro 12, 2008

Imbecilidades

Infelizmente parece que os nossos jogadores têm uma tendência algo estranha para escolherem imbecis para empresários. Falo disto porque, depois de todos os disparates que me lembro de andar a ouvir durante a época passada do empresário (ou era o advogado? Ou eram ambos?) do Léo, agora é o empresário do Cardozo, um tal de Pedro Aldave, que de cada vez que abre a boca só saem alarvidades. Desta vez disse o tal do Aldave que se não melhorassem o contrato ao Cardozo, ele iria para outro lado. Convinha que alguém lembrasse o Aldave que o Cardozo tem um contrato assinado com o Benfica até 2012, com uma cláusula de rescisão de €50M, e que ninguém o obrigou a assinar esse contrato. Além disso, não percebo como é que um empresário vem para a imprensa fazer afirmações que depois são imediatamente contrariadas pelo jogador em questão, que ainda por cima afirma o seu total desconhecimento sobre aquilo que o seu empresário anda a dizer (mais uma vez, a exemplo das diversas situações que se passaram com o Léo a época passada). Nós ainda conseguimos ter algum controlo sobre as declarações dos nossos jogadores à imprensa. Infelizmente, já não podemos fazer o mesmo em relação aos seus empresários. A solução é mesmo instruir os jogadores a não contratarem imbecis para essas funções.

Por falar em imbecilidades, há uma que há semanas me anda a moer o juízo. Falo da campanha 'louvável' d'A Bola para levar o Cristiano Ronaldo a vencer a Bola de Ouro, ou o prémio da FIFA para o melhor jogador do mundo, ou os dois, ou lá o que seja. Desde já peço desculpa a quem quer que leia estas linhas e tenha contribuído para tal campanha, mas caramba, aquilo para mim é uma iniciativa de um provincianismo atroz. Não coloco em causa o valor futebolístico do puto malcriado, mimado, fiteiro e burgesso. Acho-o um jogador brilhante. Aliás, acho que ele tem tanto de bom jogador como de puto malcriado, mimado, fiteiro e burgesso - e por aqui já dá para se fazer uma ideia do quão bom eu o acho. Mas a iniciativa em si parece-me ser completamente imbecil. O que, aliás, vem na linha do comportamento desse outrora grande jornal que era A Bola no que diz respeito ao Cristiano Ronaldo. Quando o ano passado o(s) prémio(s) foram atribuídos ao Kaká, se o Ronaldo teve mau perder então A Bola nem se fala. Desde diversas acusações à injustiça dos galardões, rebaixando o Kaká (que como pessoa, dentro e fora do campo, dá uma abada das antigas ao Ronaldo, diga-se de passagem) sempre que possível, até insinuações de manobras de bastidores (eufemismo para 'batota'), tudo vale. Sim, porque de certeza que deve ser fácil manipular do pé para a mão as intenções de voto de cerca de duzentos seleccionadores e capitães de equipa, que são quem vota nesta eleição.

Precisamente por, aparentemente, ser fácil manipular essas intenções de voto, então agora lembraram-se de recolher assinaturas de portugueses, para depois enviarem a esses mesmos seleccionadores e capitães de equipa, a recomendar-lhes que votem num português para melhor do mundo. Portugueses, a aconselharem o voto num português. Portugueses que, neste assunto, terão obviamente uma opinião absolutamente imparcial. Eu sei que tenho uma personalidade particularmente retorcida, e que portanto não serei propriamente um bom exemplo, mas se eu fosse um desses seleccionadores ou capitães de equipa a receber o referido abaixo-assinado, cheio de assinaturas de portugueses, a recomendarem-me que votasse num português, a primeira coisa que faria era votar no gajo que não fosse português. Nem que fosse só por despeito. Não sei se haverá muitos capitães das selecções com uma mentalidade assim retorcida, mas até o Vinnie Jones era capitão de equipa, por isso é bem possível que existam por esse mundo fora mais gajos chatos como eu, que não querem dar ouvidos às opiniões dos portugueses sobre uma votação em que entra um português. Talvez no próximo festival Eurovisão da canção, quando enviarmos para lá mais uma daquelas pérolas do cançonetismo nacional, devamos também enviar um abaixo-assinado aos júris dos outros países todos, recomendando-lhes que votem na nossa canção. Porque nós sabemos que a canção é muito boa, e a nossa opinião na matéria é claramente insuspeita. Temos que fazer o resto do mundo perceber que a nossa canção tem algo que nenhuma outra tem: ela é portuguesa, e isso por si só faz com que seja muito melhor que as outras. Se não for assim, é obviamente uma roubalheira. Mas peço desculpa, estou a divagar. Afinal estou a falar de canções ligeiras ou do Cristiano Ronaldo?

Na volta, se o puto malcriado, mimado, fiteiro e burgesso ganhar mesmo o tal prémio - e se ele é mesmo o melhor, ele ganhá-lo-á, com ou sem 'iniciativas' desta estirpe - ainda vou ver A Bola vangloriar-se do feito, e reclamar para si um bocadinho do mérito.

P.S: Registem desde já o meu pedido de desculpa por divagações como estas. Acho que isto de rir tanto com o sucesso estrondoso que o bluff pomposo está a ter ao comando da nossa selecção às vezes deixa-me desorientado. O Scolari é que era mau (mesmo com a pancada do Ricardo e tudo).

segunda-feira, outubro 06, 2008

Aterragem

Num jogo que foi uma antítese daquilo que vínhamos mostrando nos últimos tempos, deixámos justamente dois pontos em Matosinhos. Uma segunda parte tão mal jogada, e com tanta falta de ambição, só poderia mesmo acabar castigada da forma que foi.

Foi um início de jogo difícil aquele que tivemos esta noite. O Leixões entrou com todo o gás e ímpeto, pressionando muito alto, e os nossos jogadores pareceram demasiado nervosos perante esta pressão, errando sucessivos passes e sendo incapazes de assentar o jogo. Além disso, perante tanto ímpeto adversário (alguns seriam capazes de classificar este ímpeto simplesmente como 'porrada'), sofremos uma enorme contrariedade logo nos primeiros minutos, com o Reyes a ter que ser substituído, dando o seu lugar ao Di María (que momentos depois de entrar em campo já estava também a experimentar este 'ímpeto' leixonense, com uns pitons carinhosamente enterrados no tornozelo). O comentador de serviço na RTP, no entanto, preferiu classificar eufemisticamente esta pancadaria como 'agressividade sobre o espaço'. Compreende-se: um determinado jogador do Benfica está a ocupar um espaço num momento definido no tempo, e os jogadores do Leixões, agressivamente, tentavam ocupar o mesmo espaço nesse mesmo momento - o que é, como sabemos, fisicamente impossível.

Entretanto, muito por culpa da acção dos dois médios defensivos, ao fim do primeiro quarto de hora o Benfica lá conseguiu acalmar o jogo e, minutos depois, até assumir algum controlo sobre o mesmo. Foi talvez o melhor período do Benfica em toda a partida, altura em que o Yebda assumiu bastante protagonismo, e em que o Leixões, ao contrário do que sucedeu durante aqueles primeiros quinze minutos, pouco conseguia aproximar-se da nossa área. Pouco depois da passagem da meia hora, chegámos ao golo. A um passe excelente do Katsouranis para a direita correspondeu o Cardozo com a recepção e remate indefensável de pé direito. Ainda bem que o Benfica marcou neste lance preciso. Porque eu só fiquei a perguntar-me como é que foi possível que o árbitro do jogo, na posição em que estava, com a visão que teve do lance, não tenha marcado penálti após uma mão descarada de um jogador do Leixões. Depois lembrei-me que o árbitro era o nosso amigo Olegário, e fiquei mais descansado, porque era sinal que afinal as coisas ainda são o que eram. Como vem sendo hábito, após o golo o Benfica não se encolheu, e portanto a tendência do jogo manteve-se, quase sempre com a bola no meio campo leixonense, e sem que parecesse agora haver grandes possibilidades que eles ameaçassem a nossa baliza.

É por isso que não consigo compreender a transfiguração da equipa ao intervalo. Nos últimos jogos temos quase sempre aparecido do intervalo para fazer grandes segundas partes. Desta vez foi exactamente o oposto. O Benfica pura e simplesmente desapareceu. Na segunda parte quase não existimos, e por algum motivo parecemos querer descansar sobre a magra vantagem adquirida, e limitarmo-nos a segurar o resultado. O pior de tudo, é que isto foi sendo feito da pior maneira possível: sem sermos capazes de manter a bola na nossa posse um mínimo que fosse. Cada ataque do Leixões era seguido de um despejo nosso para a frente, a que se sucedia novo ataque do Leixões. Perante este cenário, o golo do empate não só se adivinhava como se justificava: o Leixões fazia o que podia para conseguir esse golo e, diga-se sinceramente, merecia-o plenamente. No Benfica o Katsouranis eclipsou-se, e era quase exclusivamente devido aos esforços do Yebda que ainda tentávamos jogar algum futebol. Mas no melhor pano cai a nódoa, e foi o mesmo Yebda quem falhou na marcação ao Wesley no seguimento de um canto, de onde resultou, mesmo sobre o final do jogo, tal como o ano passado, o golo do empate. Já o disse: foi um golo merecidíssimo por parte do Leixões, e um castigo também merecidíssimo para aquilo que (não) jogámos durante a segunda parte.

Os melhores do Benfica foram, para mim, o já citado Yebda (com o senão do lance do golo) e o Quim, que fez o que pôde para evitar o golo do Leixões. Uma palavra também para o adaptado Miguel Vítor, que cumpriu durante todo o jogo (defendeu melhor do que, por exemplo, o seu colega do lado oposto). Pela negativa acho que vou mesmo destacar a equipa num todo, pelo que fez na segunda parte. Não se compreende uma atitude daquelas, quase como se achassem que seria impossível o Leixões marcar. Depois de nos terem dado as alegrias que deram na última semana, e de nos terem feito sonhar, isto foi uma aterragem forçada e desconfortável.

Perdemos uma oportunidade para subirmos ao topo da classificação. Paciência, nada está perdido e continuo a acreditar. Só espero mesmo é que o Reyes não tenha nenhuma lesão complicada. Ainda estou à espera de ver o plantel todo disponível para um jogo.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Luxo

Sim, eu sei que numa coisa nós benfiquistas não somos muito diferentes dos outros adeptos de futebol em geral. Temos aquela bipolaridade que nos faz pensar que somos os melhores do mundo quando ganhamos, e que nos faz desancar tudo, do presidente ao roupeiro, quando perdemos. Por isso, estar a escrever isto de barriga cheia, após duas vitórias convincentes, será obviamente suspeito. Mas a verdade é que me sinto perfeitamente convicto de que se estão a criar condições para que esta possa ser uma época memorável para todos os benfiquistas. Não são só as vitórias e as exibições; é também todo o ambiente que vou sentindo à volta da equipa, uma espécie de aura positiva que há muito, muito tempo não sentia na Luz. Há três anos, quando fomos campeões com o Trapattoni, na penosa fase final do campeonato ergueu-se uma gigantesca onda vermelha, que amparou e empurrou uma equipa exaurida até à vitória. Esta época essa mesma onda parece começar a erguer-se já no princípio da época. E ergue-se com base numa cumplicidade e confiança enormes que os adeptos depositam nesta equipa - jogadores, técnicos e dirigentes. Parece-me ser sintomático que, quando se anuncia a constituição da equipa no Estádio da Luz, o maior aplauso do público esteja reservado ao treinador - talvez a última vez em que me recordo de ter assistido a algo semelhante foi há alguns anos, aquando da meteórica passagem do Mourinho pelo nosso banco. 56506 espectadores na Luz esta noite, a criarem um ambiente fantástico de apoio quase constante à equipa são um exemplo daquilo que poderemos vir a ter durante esta época, caso as coisas continuem a correr bem.

Com o Quique no banco, pelos vistos não se arrisca colocar um jogador que não esteja a 100%. Talvez por isso o Aimar nem no banco se sentou, e o Carlos Martins, que saiu de maca no derby, foi para o banco, entrando o Rúben Amorim para o seu lugar. Na frente, e sem surpresa tendo em conta a falta de outras opções, jogaram o Nuno Gomes e Di María, com este último nas costas do primeiro. E na defesa, regresso do Luisão, sendo o Miguel Vítor o sacrificado. Em teoria, esta equipa estaria disposta num 4-4-2, com o Rúben bem encostado à direita, mas o que se viu foi que na prática, e em posse de bola, acabava por se apresentar mais num 4-3-3, com o Rúben a juntar-se à dupla Katsouranis-Yebda (palpita-me que esta dupla dificilmente se irá desfazer durante o resto da época) no centro, e o Di María a encostar-se à direita. O Nápoles apresentou-se mais cauteloso do que na primeira mão. Os três centrais mantiveram-se, mas agora o Cannavaro fechava o lado direito, e o Vitale jogava como um verdadeiro lateral esquerdo, completando o quarteto defensivo. A pior notícia foi mesmo a recuperação do Lavezzi para este jogo, já que na primeira mão foi possível ver que quase todo o perigo que o Nápoles conseguiria criar seria através dos seus pés.

A exemplo do derby, as coisas começaram com um calafrio, pois perto do início do jogo o Lavezzi (quem mais...) conseguiu fugir ao Luisão e o Quim teve que vir ao limite da área evitar o golo. E, também como no derby, o Benfica respondeu através de um remate de longe, por parte do Di María, que passou muito perto do alvo. Mas felizmente, as semelhanças da primeira parte ficaram-se por aqui. O Benfica assumiu logo o jogo - até porque o Nápoles só mostrava mesmo vontade em defender e enervar com queimas de tempo desde o início - e partiu na procura do golo que nos colocaria em vantagem no jogo e na eliminatória. Bastou um par de minutos para que o Luisão desperdiçasse uma oportunidade flagrante, rematando mal e por cima uma bola solta na área italiana após alguma confusão. O golo parecia estar perto; Yebda e Di María criaram perigo, mas o primeiro rematou mal, e o remate do segundo foi bem defendido, tendo o Reyes chegado atrasado para a recarga. Nesta fase o jogador que dava nas vistas e ia ameaçando mais os italianos era o Di María. Infelizmente, pareceu deslumbrar-se com esse bom início de jogo e acabou por entrar no exagero, agarrando-se demasiado à bola e perdendo-se muitas vezes em fintas desnecessárias. O mais interessante neste domínio do Benfica, pelo menos para mim, foi a forma controlada como sempre o exerceu. Nada de pontapés para a frente, correrias desmioladas e futebol aos repelões. Pelo contrário, a equipa pareceu sempre muito arrumada em campo, com os jogadores próximos uns dos outros, boa circulação de bola e um futebol bastante pensado. De uma forma resumida, a equipa mostra ter um objectivo em campo, e parece estar segura da forma como deve persegui-lo.

O Nápoles voltou a criar algum perigo em mais um lance, claro, do Lavezzi, em que sozinho, bem marcado, e de costas para a baliza, ele inventa um pontapé que leva a bola a passar perto do ângulo da nossa baliza (embora com o Quim a controlar o lance). E pouco depois disto o Nápoles deve ter decidido que estava na altura de acabar com a primeira parte, tendo então decidido brindar o público com uma demonstração prática de futebol italino retro. Por momentos pensei que tinha regressado aos anos oitenta. Valeu de tudo: faltas (por vezes com uma dureza desnecessária) sobre os nossos jogadores, simulação de lesões por tudo e por nada, quezílias e discussões constantes, e queima (ainda mais) descarada de tempo em qualquer reposição da bola em jogo. Tendo em conta este cenário, quando em período de descontos eles beneficiaram de um livre, eu temi que, tal como já assistimos vezes sem conta, eles conseguissem marcar. E estiveram mesmo muito perto, já que na sequência do mesmo a bola acabou por bater no poste, e na recarga o Zalayeta falhou o golo de forma absolutamente incrível, não conseguindo sequer acertar na baliza. Pelos vistos a aura positiva que rodeia a nossa equipa é tal que até fomos bafejados pela sorte num jogo contra italianos...

Ao intervalo deu-se uma reunião improvisada de boa parte da Tertúlia, para discutirmos estratégias. Basicamente, aproveitámos todos para chamar aos italianos quaisquer impropérios que nos passaram pela cabeça, e ainda tirar a limpo quem é que afinal tem um poster do Manuel José na parede. Aliviados os espíritos, regresso para a segunda parte. Que, pareceu-me, foi iniciada numa toada um pouco mais cautelosa da nossa parte (talvez o enorme susto a fechar a primeira parte tenha tido alguma influência nisto). Ainda assim, mais uma boa oportunidade para o Sídnei, num canto, só que ele demorou algum tempo a preparar o remate e foi desarmado a tempo. Andava o jogo neste ritmo quando voltaram as semelhanças com o derby: bola metida na esquerda para o Reyes (grande passe do Katsouranis), e o espanhol a entrar na área e a fuzilar a baliza napolitana. Mais um pormenor de classe deste jogador a resolver um impasse. Conforme dizia o Superman Torras no final, é aproveitar enquanto ele cá está. Porque este é um daqueles jogadores que, claramente, não pertence à nossa Liga. Tem uma qualidade que está anos-luz acima da média do nosso futebolzinho caseiro. Continuando com as semelhanças em relação ao jogo do passado Sábado, o nosso adversário foi-se completamente abaixo com o golo. Obrigado a 'sair do buraco', abriram-se muitos espaços para o nosso ataque, enquanto que eles eram completamente incapazes de incomodar o Quim. Para ajudar, o treinador adversário resolveu retirar o Lavezzi do campo, e eu suspirei de alívio.

Não foi só o Nápoles que sofreu os efeitos do golo do Reyes. Foi também o Benfica, só que pela positiva. Ainda mais confiantes, fomos à procura do golo da tranquilidade. O Di María esteve perto de marcar um golo memorável, quando fintou a defesa adversária toda, mas acabou por rematar mal. O Benfica, em vez de se remeter à defesa, fazia exactamente o contrário, e pressionava o adversário no seu próprio meio campo, quase à entrada da sua área, o que permitiu diversas recuperações de bola que depois deram origem a jogadas de perigo nossas, e forçou um sem-número de passes disparatados dos napolitanos, muitas vezes directamente para fora. Já com o Carlos Martins em campo, o merecido golo da tranquilidade surgiu mesmo. Após um cruzamento da esquerda, a bola sobrevoou toda a área e foi recolhida do lado oposto pelo Carlos Martins, que depois fez um novo cruzamento, perfeito, para o Nuno Gomes, numa movimentação muito bonita e 'à ponta-de-lança' (reparem como o Cannavaro, que o está a marcar, é 'comido' e fica fora do lance), cabeceou colocado para o poste mais distante, sem hipóteses para o guarda-redes. Nesta altura, e até final, o ambiente no Estádio da Luz era pouco menos do que épico. Deu para dar 'olés' e criar ainda oportunidades para o terceiro golo (nas palavras dos italianos, 'Il Benfica si mangia il tris in altre due occasioni e chiude toreando il Napoli.'), a melhor delas em mais um passe excelente do Katsouranis (grande jogo do grego) a isolar o Nuno Gomes na esquerda, que controlou bem a bola mas depois rematou por cima. E já agora, para os jornaleiros que se apressaram a colocar em causa o trabalho do Ayestaran à primeira oportunidade, espero que hoje tenham reparado no quanto a equipa correu, e no 'pequeno' pormenor de, aos noventa minutos, a ganhar por dois a zero, andarmos a pressionar o Nápoles com quatro e cinco jogadores logo à entrada da sua área.

Acho que seria algo injusto estar a destacar jogadores depois do jogo de hoje. Aquilo que sobretudo se viu, e a palavra que mais se ouvia da boca dos benfiquistas no final do jogo era 'equipa'. Sentimos e vemos que estamos a construir uma verdadeira equipa, confiamos que no banco temos um treinador que sabe ler o jogo e tem mostrado ser capaz de fazer substituições que realmente influenciam e alteram o seu rumo, e que conta com todo o plantel que ajudou a construir. Se calhar já são coisas boas a mais, e já estou a fazer o Quique parecer alguma espécie de Messias. Mas a minha confiança está mesmo em alta porque, conforme disse, ando a ver coisas que há bastante tempo não via na Luz e no nosso Benfica.

Vitória justíssima e incontestável da equipa que mostrou ser bastante superior no conjunto dos dois jogos, e finalmente acaba a malapata contra equipas italianas. E ainda com o pormenor de termos deixado de fora 'só' o Aimar, o Suazo e o Cardozo. Hoje senti-me um privilegiado por ter tido o autêntico luxo de estar naquele estádio, com aquele ambiente, a ver a minha equipa jogar assim. Estou ansioso para poder voltar.