terça-feira, janeiro 30, 2018

Sombra

Um empate comprometedor e arrancado no último suspiro do jogo, já nos descontos sobre os descontos, mas que acaba por ser um castigo lógico face ao que se assistiu durante os noventa minutos. Hoje fomos uma sombra da equipa que nas últimas semanas nos chegou a deslumbrar com a qualidade do futebol que produziu. 



Uma primeira parte praticamente deitada fora, níveis de desperdício inaceitáveis na segunda e uma progressiva perda de lucidez à medida que o tempo avançava ajudam muito a explicar este resultado. Este jogo era o primeiro teste à ausência do Krovinovic e a avaliação que se pode fazer não é positiva. O escolhido para o seu lugar foi o João Carvalho, e a dinâmica da equipa durante a primeira parte depressa mostrou que a mudança se fazia notar. Não conseguimos fazer a pressão alta com a qualidade do costume, e a dinâmica a atacar foi quase inexistente: praticamente não criámos ocasiões de golo, e quando conseguíamos construir alguma coisa mais bem feita, a decisão deitava tudo a perder. Ou os centros quando se entrava na área e ganhava a linha de fundo iam sempre direitinhos para um adversário, ou então demorava-se demasiado para fazer o remate e este acabava interceptado - um exemplo flagrante foi uma situação em que o Pizzi tinha o Salvio ao lado completamente isolado, mas nem levantou a cabeça e acabou por rematar contra um adversário. De uma forma geral, fomos quase sempre demasiado previsíveis no ataque e uma presa demasiado fácil para um Belenenses preocupado sobretudo em defender e queimar tempo, com os seus jogadores a parecerem particularmente empenhados em entrar em discussões e arranjar quezílias com os jogadores do Benfica.



Exigia-se muito melhor na segunda parte e esta foi de facto melhor do que a primeira, parecendo-me que a atitude foi melhor. Mas neste período o que começou infelizmente a evidenciar-se foi o tremendo desperdício das ocasiões que se iam criando. A primeira alteração feita pareceu-me uma boa opção: a troca directa do João Carvalho pelo Zivkovic. Foi dos pés do sérvio que saiu o passe que desmarcou o Cervi, para este ser derrubado dentro da área do Belenenses. Mas o Jonas marcou-o pessimamente, com um remate denunciado e para o lado oposto daquele que lhe costuma ser mais habitual, deitando assim fora a melhor ocasião que tivemos para passar para a frente do marcador. Pouco tempo depois vimos o Cervi a correr isolado em direcção à baliza, mas a finalização foi simplesmente desastrosa: com o corpo completamente inclinado para trás, atirou a bola para a bancada. Num jogo em que até nem estávamos a jogar particularmente bem, desperdiçar ocasiões destas só podia ser um péssimo presságio para o que estava para vir. Até porque voltámos a assistir a um cenário relativamente familiar: à medida que o tempo passa e o golo não surge, a equipa vai perdendo lucidez e a resposta vinda do banco não ajuda, pois consiste quase sempre em colocar cada vez mais avançados em campo por troca por jogadores com capacidade para criar e construir. E o que começou a tornar-se previsível aconteceu mesmo. Já perto do final, e praticamente no primeiro remate que acertou na baliza, o Belenenses marcou. O remate até nem foi nada de especial e o seu autor escorregou na altura em que o fez, mas a bola saiu muito colocada para o poste mais distante e o Varela só conseguiu ficar a vê-la entrar. Parecia que era a confirmação de uma derrota, mas a equipa ainda encontrou forças para lutar e já para lá do tempo de compensação atribuído, no último lance da partida, o Jonas redimiu-se parcialmente do penálti falhado e na marcação de um livre à entrada da área fez o empate.


Não o responsabilizando directamente pela quebra de qualidade do futebol da equipa neste jogo, o João Carvalho terá que fazer bastante melhor do que aquilo que fez hoje para confirmar ser a opção mais válida ao Krovinovic. Em particular no que diz respeito à agressividade e trabalho defensivo, que foi o aspecto em que fiquei menos satisfeito hoje. É preciso lutar pela bola, e ir buscá-la aos espaços vazios oferecendo linhas de passe - é sobretudo isso que tem evidenciado o Krovinovic. Não dá para se ficar quase parado à espera que a bola chegue aos nossos pés. Mas toda a equipa em geral esteve abaixo daquilo que se espera deles. O Pizzi, por exemplo, fez um jogo lamentável sob todos os aspectos, e no entanto manteve-se os noventa minutos em campo. Talvez o Cervi tenha sido dos melhores, mas aquela ocasião flagrante desperdiçada com um chuto para a bancada é uma mancha indelével na sua exibição.

Foram dois pontos que não podíamos perder, porque era importantíssimo manter o bom momento e acima de tudo mostrar que a perda de um jogador que estava a ser fundamental não abanava a equipa. Infelizmente não conseguimos dar a resposta que se exigia, e agora tudo ficou muito mais complicado.

domingo, janeiro 21, 2018

Agridoce

Depois de ter visto o jogo de ontem, fiquei a perceber o motivo pelo qual os nossos adversários acusam descaradamente as outras equipas de facilitarem quando jogam contra nós. Porque de facto, frente a uma equipa que não perdia há oito jogos, fizemos a nossa vitória parecer tão fácil, com domínio completo sobre o adversário e momentos que chegaram a ser brilhantes. Foi simplesmente demasiado Benfica para este Chaves.


O onze base está escolhido (neste jogo houve apenas uma única alteração, forçada, tendo o Douglas ocupado a posição que normalmente pertence ao André Almeida) a táctica está estabilizada, e o que vemos em campo é uma equipa que parece perfeitamente afinada, onde toda a gente parece saber exactamente quais as suas funções e o que deve fazer. Resumindo tudo numa palvara, seria harmonia. Tem sido um prazer ver a equipa jogar nos últimos jogos, e depressa se percebeu que este jogo iria confirmar esta tendência. Mais uma vez vimos aquilo que tem sido a imagem de marca da equipa nesta que parece ser a melhor fase da época até agora: linhas muito subidas, pressão altíssima e agressiva, a permitir a recuperação da bola de forma rápida e diversas vezes em zonas bastante adiantadas do campo,e o habitual carrossel ofensivo, com Jonas, Salvio, Cervi, Pizzi e Krovinovic em constante movimento e trocas de posições, contando com o apoio constante dos laterais e um Fejsa uma vez mais monstruoso a impor a sua presença no meio campo. O Chaves bem tentou ser fiel ao seu estilo de jogo, mas o Benfica simplesmente não lhes deu quaisquer hipóteses de sequer sonhar em conseguir trazer alguma coisa positiva da Luz. Demorou doze minutos até ao inevitável Jonas abrir o marcador, num remate imparável de fora da área, a culminar uma série de vagas sucessivas de ataque do Benfica. Seis minutos depois, mais um golo do Jonas, que em frente à baliza concretizou facilmente um passe atrasado do Salvio, que numa iniciativa individual tinha ganho a linha de fundo. E o vendaval continuou durante toda a primeira parte, com o resultado a ser escasso para tanto domínio da parte do Benfica. O Chaves foi praticamente inofensivo, e a única situação de perigo que causou foi num lance que seria de qualquer forma invalidado por fora-de-jogo, mas onde o Varela fez bem a mancha.


Não era crível que o jogo mudasse muito na segunda parte e que o Chaves de repente se mostrasse capaz de ameaçar a vitória do Benfica. E se alguém ainda tinha alguma esperança irrealista que isso acontece, num instante ficou a viu defraudada. Isto porque o Benfica fez logo a abrir aquilo que não tinha conseguido (e que tinha merecido) durante a primeira parte: um terceiro golo, que garantia que os três pontos ficavam na Luz. O golo nasceu pelo lado esquerdo, onde o Cervi recebeu a bola do Krovinovic, progrediu, e devolveu-a num passe atrasado para a entrada da área. Onde estava o Pizzi completamente sozinho, e com tempo para controlar a bola e escolher para onde a queria rematar. O golo garantia a vitória, mas significou também um bocado o fim da diversão, porque o Benfica tirou naturalmente o pé do acelerador e durante toda a segunda parte não voltámos a ver aquele vendaval da primeira parte. Controlámos o jogo por completo - não me recordo de um único remate particularmente perigoso da parte do Chaves - e fomos gerindo o tempo e o esforço com segurança, com a certeza de que com mais ou menos golos, a vitória estava garantida. E isto tudo foi feito quase sempre dentro do meio campo adversário, onde conseguíamos trocar a bola e manter a posse sem grandes problemas. O facto de maior realce no resto do tempo acabou mesmo por ser pela negativa. Mesmo sobre o final do jogo e num lance completamente inofensivo, num esforço para impedir que uma bola saísse pela linha lateral o Krovinovic ficou estendido no relvado agarrado ao joelho. Qualquer lesão nos joelhos, ainda por cima quando os jogadores se lesionam sozinhos, é logo motivo de preocupação e por isso mesmo saí do estádio com um sentimento agridoce. Contente pela vitória e exibição, mas muito preocupado com a lesão do Krovinovic. E infelizmente o pior acabou por se confirmar: uma rotura do ligamento no joelho, que na prática significa o fim da época para um dos nossos jogadores em melhor forma e dos principais responsáveis pela dramática melhoria da qualidade exibicional da nossa equipa.


Destaques numa exibição com tanta qualidade há sempre muitos que se podem fazer. O inevitável Jonas, que depois de tanto tempo a pensarmos que não funcionaria sozinho na frente é precisamente nessas funções que parece atravessar o seu melhor período de sempre desde que está no Benfica. Os extremos Salvio e Cervi, o Krovinovic, o incomparável Fejsa, todos eles com exibições de altíssima qualidade.

O nível exibicional da equipa é a melhor da época, um pouco a exemplo daquilo que já aconteceu em épocas anteriores com o Rui Vitória. Demoramos um bocado até encontrar a fórmula certa, mas quando isso acontece ficamos quase imparáveis. Agora teremos que ver como reagirá a equipa à perda de um dos seus jogadores mais influentes - pessoalmente, espero que se encontre uma solução para a posição do Krovinovic e que não se regresse aos dois avançados, porque isso seria um retrocesso. Este é o rumo certo para o penta, e o momento é para manter.

domingo, janeiro 14, 2018

Limpeza

Esta época tenho ouvido da parte de vários benfiquistas comparações com a 'época do Quique', numa referência obviamente pouco elogiosa à qualidade do futebol praticado pela nossa equipa em diversas ocasiões. Pois pegando precisamente nessa comparação, acho que desde a época do Quique (vitória por 3-1, já perto do final da época, quando o Braga era treinado pelo JJ) que não me lembrava de ver o Benfica ganhar em Braga com tamanha limpeza.


Fomos superiores e tivemos o controlo do jogo praticamente em todo o encontro, exceptuando um período de cerca de cinco minutos que se seguiram ao golo do Braga. Apresentando aquele que já se pode considerar o onze base (quando o Luisão regressar fico apenas com a curiosidade de ver se jogará ele ou o Jardel, porque o Rúben já não sai mais da equipa) entrámos para este jogo com uma enorme tranquilidade e com a lição muito bem estudada. A chave da nossa vitória passou por uma equipa muito subida em campo, com a defesa colocada praticamente sobre a linha divisória e uma pressão imediata sobre a saída de bola do Braga, que os impediu de iniciar as jogadas como mais gostam de fazer e resultou em diversas recuperações de bola em zonas adiantadas do campo. Foi particularmente importante a pressão e o povoamento da zona central do meio campo, onde para além dos nossos médios (uma exibição enorme do Fejsa, que empurrou a equipa ainda mais para a frente) caía o Jonas e os extremos fechavam ao meio, sufocando os médios centro do Braga. Foi assim que surgiu o primeiro golo, aos onze minutos de jogo. A bola foi recuperada pelo Jonas a um dos médios, seguiu até ao Cervi depois de ter passado pelo Krovinovic, e o passe foi feito para a desmarcação do Salvio nas costas da defesa, que marcou sem dificuldade - tudo isto foi feito pela zona central. O Benfica já desde o início parecia ter entrado com grande confiança, e o golo apenas reforçou essa mesma ideia. O Braga raramente nos causou problemas, enquanto que o Benfica continuava a bloquear a saída de bola do Braga e a tentar atacar pela certa, com destaque para as cada vez mais habituais triangulações na esquerda entre o Grimaldo, o Cervi e o Krovinovic. Mas não foram muitas as ocasiões de grande perigo, destacando-se apenas um remate de fora da área do Grimaldo que obrigou o guarda-redes a uma boa defesa, e um remate cruzado do Krovinovic que fez a bola passar perto do poste.


A segunda parte começou com o Benfica no ataque e a fazer a bola embater no poste da baliza do Braga, através de um cabeceamento do Jardel. Logo de seguida foi o Grimaldo quem finalizou um bom contra-ataque com um remate demasiado fraco, isto quando estava em posição para fazer bem melhor. O Braga continuava sem conseguir ser particularmente incómodo, mas o resultado magro significava que o desfecho do jogo continuava em aberto, e o Braga tem jogadores que em qualquer altura poderiam causar-nos problemas. E isso esteve perto de acontecer ao minuto 63, quando só uma grande defesa do Varela impediu que o remate rasteiro do Ricardo Horta resultasse no golo do empate. Como que pressentindo o perigo, o Benfica respondeu de imediato e no minuto seguinte chegou ao segundo golo. A movimentação do Jonas desde o momento em que, ainda fora da área e descaído sobre a esquerda, coloca a bola no André Almeida do outro lado do campo e depois vai aparecer no espaço entre o central e o lateral direito para cabecear a bola vinda do cruzamento teleguiado do André Almeida faz-nos perceber que às vezes as coisas mais simples no futebol podem ser muito bonitas. Confesso que este golo, somado a tudo aquilo que tinha visto até então, me fez acreditar que a vitória estaria garantida. Mas a um quarto de hora do final um erro do Varela na saída a um cruzamento largo permitiu ao Paulinho cabecear para a baliza vazia, e o jogo ficou relançado. Durante um curto período, de cerca de cinco minutos, o Benfica abanou e o Braga pareceu ter capacidade de chegar ao empate, tendo até o Varela tido a oportunidade para se redimir do erro e evitar o golo do Ricardo Horta. O Benfica acabou por meter um travão a este ímpeto do Braga quando a dez minutos do final trocou o Pizzi pelo Samaris. A partir desse momento recuperámos o controlo do jogo e o Braga não voltou a ameaçar a nossa baliza. Para fechar o jogo em beleza, só mesmo o cheque-mate, que poderia ter chegado a três minutos do final quando o Jiménez (tinha substituído o Jonas pouco antes do golo do Braga) interceptou um passe e correu isolado para a baliza, mas rematou por cima. Redimiu-se já no período de compensação, rematando cruzado de primeira após um centro do Cervi e sentenciando o jogo.


Repetindo aquilo que já escrevi, grande exibição do Fejsa no regresso após suspensão. A nossa vitória começou na sua agressividade na recuperação da bola e na capacidade para estar um pouco por toda a parte. Depois de alguma incerteza em relação à posição na esquerda do ataque, o Cervi parece ter agarrado definitivamente o lugar. Mais uma exibição de intenso trabalho durante todo o jogo, com duas assistências para golo a abrilhantá-la. Creio que é justo também salientar o trabalho da nossa dupla de centrais, a eficácia do Jonas, e mais um jogo em que o Krovinovic aproveitou mostrar o quão importante ele é nesta táctica. O Salvio marcou um bom golo e contribuiu para o esforço da equipa em termos defensivos, tendo trabalhado. Infelizmente, esteve num daqueles dias em que se agarra demasiado à bola e por isso estragou alguns lances. No nosso terceiro golo, por exemplo, teve inúmeras ocasiões para fazer o passe que deixaria o Krovinovic isolado, mas insistiu em baixar a cabeça e continuar a correr com a bola - felizmente que depois de algumas voltas a bola acabou mesmo dentro da baliza, mas claramente o Salvio não tomou a melhor decisão nesse lance, a exemplo do que fez diversas vezes no jogo.

Acredito que muitos dos nossos inimigos estivessem a contar com este jogo para nos afastar definitivamente do título. Mas como a nossa equipa tem mostrado esta época, sempre que isso acontece e chegamos a um destes jogos em que parece que nos querem fazer o enterro antecipado, damos em campo a resposta que se espera de um tetracampeão, que quer lutar até ao fim pelo título. Os últimos jogos parecem mostrar que a confiança da nossa equipa em si mesma está em crescendo, e com ela a crença dos adeptos - hoje em Braga praticamente só ouvi os cânticos dos nossos do primeiro ao último minuto. É este o caminho.

domingo, janeiro 07, 2018

Ineficácia

Uma vitória indiscutível em mais um jogo que ficou marcado pela ineficácia na finalização, caso contrário os números do marcador poderiam ter sido bastante mais dilatados.


Face à ausência forçada do Fejsa, a única alteração no onze que tem sido mais habitual foi a entrada do Samaris para o lugar do sérvio. Os minutos iniciais do jogo até faziam antever maiores dificuldades, e o Moreirense até teve uma boa ocasião de golo, na qual o Varela foi obrigado a uma boa defesa. Mas depois disso só deu mesmo Benfica, e começaram a acumular-se as ocasiões desperdiçadas - estranhamente, até pelo Jonas, que hoje revelou um desacerto com a baliza que não é nada normal nele. Mas felizmente não foi preciso desesperar muito, porque a vantagem chegou aos vinte e três minutos com um golo do Pizzi. Nasceu de um cruzamento do Jonas, da esquerda para a direita, e o Pizzi rematou de primeira para o golo. Obtida a vantagem, o próximo passo era dilatá-la para evitarmos surpresas, e isso já se revelou mais complicado. Não pela ausência de ocasiões para o fazer, mas sim pela dificuldade em concretizá-las. O Benfica caminhou até ao intervalo com o controlo absoluto da partida e não permitindo ao Moreirense qualquer tipo de ameaças, mas sabemos que neste tipo de jogos basta uma pequena distração ou uma obra do acaso para deitar tudo a perder e acabarmos com um resultado mentiroso e injusto (infelizmente não é necessário irmos mais longe do que a última quarta-feira para termos um exemplo concreto disso). Era por isso esse o único motivo para o meu nervosismo ao intervalo.


Do intervalo já não regressou o Samaris, pelos vistos devido a problemas físicos, e veio o Keaton Parks no lugar dele. A segunda parte começou na mesma toada da primeira, com o Benfica a dominar completamente e a insistir em não chegar ao golo da tranquilidade. A nossa equipa pressionava logo a saída de bola do Moreirense, e o adversário, ao insistir em tentar sair a jogar, acabava por perder diversas bolas logo nessa fase, que resultavam em ocasiões claríssimas de golo para nós. Quase sempre com o Jonas em evidência, o guarda-redes do Moreirense ou a falta de acerto na finalização continuavam a manter o resultado teimosamente num magro golo de diferença. O Jonas ainda marcou, mas o golo acabou por ser anulado por fora-de-jogo (que se existiu, foi milimétrico). E depois, a provar que num instante um jogo que está a correr de feição pode virar, o Moreirense teve uma grande ocasião para empatar. Tudo começou em mais uma recuperação de bola adiantada do Benfica, que nos deixou em superioridade numérica contra a defesa do Moreirense. Mas o passe do André Almeida foi feito para os pés de um adversário, e do contra-ataque resultou um cabeceamento já no interior da nossa área que só não acabou em golo porque o Varela fez uma enorme defesa. O lance motivou o nosso adversário, que nos minutos seguintes se revelou mais perigoso na forma como conseguia chegar com velocidade à nossa área sempre que recuperava a bola, e durante este período cheguei a temer que o golo do empate pudesse acontecer. O Benfica respondeu com a troca do Salvio pelo João Carvalho, que deu resultados imediatos. O Moreirense insistia em tentar sair a jogar e depois de mais uma recuperação de bola o João Carvalho passou a bola para o Jonas que, dentro da área, tirou um adversário da frente com classe e colocou a bola no fundo da baliza, enviando-a para o lado contrário daquele que o guarda-redes esperava. Foi aos setenta e oito minutos de jogo, e significou um ponto final na incerteza - o Benfica limitou-se a gerir bem o jogo até final.


Apesar de todo o desperdício, o maior destaque acaba por ir para o Jonas, que fez a assistência para o primeiro golo e marcou o segundo. Gostaria de mencionar também o Varela, que apesar de não ter tido muito trabalho revelou segurança e foi decisivo nas poucas ocasiões em que foi chamado a intervir. É aquilo que se espera de um guarda-redes de equipa grande. Continuo extremamente agradado com o Krovinovic, que é um médio completo. Consegue assumir funções de 6, de 8, ou de 10 sem qualquer problema e neste momento começa a ganhar ao Pizzi em termos de preponderância no nosso meio campo.

Era muito importante não deixarmos que a exibição da passada quarta-feira fosse apenas uma coisa esporádica, e isso passava pela conquista dos três pontos hoje, aliados a uma exibição consistente. Julgo que o objectivo foi conseguido. Agora é continuarmos neste caminho.

quinta-feira, janeiro 04, 2018

Frustração

Uma oportunidade desperdiçada para conquistarmos três pontos na luta pelo campeonato. O sentimento da maioria dos benfiquistas no final deste jogo deve ser de frustração por não termos conseguido reflectir no resultado final a nossa superioridade em campo, tendo durante vários períodos do jogo praticamente vulgarizado o crónico campeão anunciado pelo menos nas últimas quarenta pré-epocas.



Nem vou falar muito do futebol jogado, porque fomos superiores ao nosso adversário quase de todas as maneiras e feitios. Fomos superiores a jogar em 4-3-3, a jogar em 4-4-2, a jogar em 3-5-2, e até a jogar praticamente com tudo à molhada, com apenas um central em campo, o Salvio a fingir que era lateral, e o André Almeida a fazer três posições. O Sporting (que mais uma vez teve a delicadeza de não respeitar a tradição da escolha dos campos - é a equipa da primeira divisão que mais frequentemente faz isto na Luz) colocou-se em vantagem aos dezanove minutos numa jogada de insistência pela esquerda que terminou num cruzamento para o cabeceamento do Gelson, e pouco mais mostrou depois disso - teve uma flagrante ocasião para marcar o segundo golo perto do intervalo, e nada mais. O Benfica teve a infelicidade de ver o Krovinovic acertar no ferro quando parecia ser mais fácil marcar, e ainda ver a recarga passar ao lado com a baliza escancarada - isto na sequência de um penálti grotesco do Coentrão, que foi olimpicamente ignorado pela dupla de lagartos a arbitrar no campo e em frente à televisão. Na segunda parte então o nosso adversário não existiu em termos ofensivos e passou a maior parte do tempo a cerrar fileiras junto à área, segurando a vantagem com unhas e dentes e deixando o Bas Dost como espectador privilegiado na frente. O Benfica teve o domínio territorial, teve mais posse de bola, mais remates, mais ocasiões de golo, mais cantos, tudo menos mais golos, infelizmente. Podemos queixar-nos, e muito, da má finalização em vários lances. E depois apanhámos também pela frente a dupla temível Hugo 'Macron' Miguel e Tiago Martins. 



A nomeação destas duas criaturas (para quem não sabe, e não se deixem levar pelas várias tentativas da parte do Sporting para demonizar o Hugo Miguel, são os dois árbitros mais lagartos - e são lagartos mesmo, não são sportinguistas; eu tenho amigos que trabalham com o Hugo Miguel e sei do que falo - que existem na primeira categoria) já não deixava antever nada de bom. Aqui dou o braço a torcer e digo que estamos muitos, muitos anos atrás do Sporting nestas coisas. Se uma arbitragem como a de hoje tivesse acontecido ao contrário, o berreiro seria tal que daqui a 25 anos ainda ouviríamos os ecos. Assim sendo, vai uma aposta que amanhã as primeiras páginas vão destacar o 'excelente espectáculo a que se assistiu'? Só à quarta - sim, quarta! - mão flagrante na bola dentro da área, ao minuto noventa, é que tivemos finalmente direito a beneficiar de um penálti - que o Jonas converteu, evitando assim uma injustiça ainda mais atroz no resultado. Em relação ao Hugo Miguel, só a título de exemplo da sua coerência, foi ele o VAR que confirmou o célebre mergulho do Bas 'Louganis' Dost nos minutos finais do jogo do clube do seu coração contra o Setúbal esta época. O lance hoje entre o Jardel e o Coentrão? Tudo normal (note-se que eu nem estou a dizer que seria lance para penálti, mas que seria muito mais falta do que o mergulho canhestro do Bas Dost no referido jogo, era de certeza). Só numas continhas rápidas, assinale-se que no somatório dos dois últimos jogos que fizemos contra os eternos perseguidos e prejudicados pelas arbitragens, ficaram seis(!) penáltis por assinalar contra eles, e empatámos ambos os jogos.




A atitude de toda a equipa foi excelente, todos os jogadores lutaram até à exaustão para contrariar um destino tão injusto e hoje deixaram-me orgulhoso. O treinador merece elogios também, fez tudo o que podia para tentar ganhar, e na altura em que nada mais havia a fazer senão correr todos os riscos foi isso mesmo que se fez. Justo o reconhecimento ao Cervi no final com a eleição de melhor em campo por tudo aquilo que lutou, mas seria igualmente justo se essa distinção fosse para vários outros jogadores. Como o Krovinovic, que fez um jogo fantástico, ou o André Almeida, que foi lateral direito, central e trinco num jogo desta importância sem sequer pestanejar. O Rafa entrou muito bem no jogo, e se soubesse manter este nível seria um excelente 'reforço' para a segunda metade da época.

O título ficou mais difícil, porque a desvantagem para o topo aumentou para cinco pontos e deixámos de depender exclusivamente de nós próprios, isto num campeonato em que cada vez mais parece que as equipas do topo vão perder muito poucos pontos contra as chamadas mais pequenas. Mas se soubermos manter, mais até do que a qualidade, a atitude mostrada esta noite perante as adversidades que encontrámos, de certeza que estaremos na luta até ao final.