segunda-feira, dezembro 22, 2008

Roubo

Voltámos, em casa, a desperdiçar uma oportunidade soberana para melhorarmos a nossa situação na Liga. A verdade é que mais uma vez a nossa equipa desiludiu pela qualidade do futebol apresentado, num jogo em que tinha todos os motivos e mais algum para ganhar. Poderíamos, ainda assim, ter ganho o jogo, mas houve alguém que não quis que isso acontecesse, e quando é assim pouco mais há a dizer.

Cardozo e Suazo juntos na frente de início foi a maior novidade no Benfica, mas houve ainda mais algumas alterações. Regressou o Jorge Ribeiro na esquerda da defesa, e no meio campo o Binya cedeu o seu lugar ao Yebda. Ao Di María coube a tarefa de substituir o ausente Reyes. E o Benfica até pareceu querer entrar bem no jogo, olhando para aqueles primeiros minutos. Mostrámos velocidade, vontade de pressionar, de ter a bola, e empurrar o Nacional para o seu meio campo. Mas a exibição do Benfica durante esta primeira parte foi sempre, sempre a descer. À medida que o tempo passava, a nossa qualidade de jogo ia diminuindo, e o Nacional ia crescendo e tendo cada vez mais liberdade para trocar a bola entre os seus jogadores em zonas mais adiantadas do campo. Para isto muito contribuiu o súbito apagamento do nosso meio campo, com o Yebda, em particular, a revelar durante esta primeira parte não estar a atravessar um bom momento de forma. Foram muitos os passes errados e as decisões precipitadas. Como que para acentuar o mau agoiro, perdemos o Sídnei por lesão, entrando o Miguel Vítor para o seu lugar. O mais preocupante no nosso futebol era mesmo a sua previsibilidade. Era, para quem quer que estivesse a ver o jogo, bastante evidente que seria muito difícil conseguirmos marcar um golo a jogar daquela forma. Os poucos safanões iam sendo dados, a espaços, pelo Di María, mas eram na sua maioria inconsequentes. Por isso, mais uma vez, lá chegou sem surpresas o intervalo com o Benfica em branco. É um verdadeiro case study o facto do Benfica esta época ainda não ter sido capaz de marcar um único golo durante a primeira parte, em jogos em casa para o campeonato. Sabendo-se de antemão a forma como quase todas as equipas se apresentam a jogar na Luz, estarmos sistematicamente a dar na prática meio jogo de avanço ao adversário parece-me ser uma perfeita parvoíce.

A segunda parte iniciou-se numa sequência perfeita à exibição descendente que fizemos na primeira parte. Os primeiros dez minutos foram certamente os piores do Benfica no jogo, e quase resultaram num descalabro, já que Nacional conseguiu construir três oportunidades para marcar. Só então pareceu que decidimos acordar finalmente, e lá começámos a conseguir responder, criando duas oportunidades claras de golo, uma pelo Rúben Amorim e outra pelo Luisão. Estes dois lances pareceram acordar a equipa, que a partir daí pegou decididamente no jogo e empurrou o Nacional para perto da sua área. Conforme disse, o Benfica hoje alinhou com dois pontas-de-lança de raiz, mas notou-se sempre a falta de alguém que os municiasse. Além disso, fez-me alguma confusão ver que na maior parte das vezes o Cardozo e o Suazo pareciam estar com os papéis trocados, porque era para o Cardozo que seguiam a maior parte dos passes em profundidade, a pedir uma desmarcação, enquanto que o Suazo se entregava à marcação implacável dos três centrais madeirenses. A pressão do Benfica foi subindo de tom, e a dez minutos do final o Nacional ficou reduzido a dez, o que só acentuou o sentido único do jogo. Mas o golo continuava a parecer difícil de acontecer.

Mas no período de descontos, o milagre aconteceu mesmo. Ou melhor, parecia ter acontecido, porque o senhor Pedro Henriques decidiu que as coisas não seriam assim e resolveu roubar-nos esta alegria. Sim, 'roubar-nos' é o termo correcto. Porque quem, num jogo daqueles, em período de descontos, decide anular um golo daquela forma só pode fazê-lo por ser mal intencionado. Não é um erro; neste caso não pode ser apenas um erro, e pelo que tenho visto esta época, aliás, já deixei de acreditar em erros. Foi um roubo. O Miguel Vítor foi atirado ao chão e ali estava, de costas para a bola, quando um defesa do Nacional a chuta contra ele. Considerar que houve ali uma mão intencional é ser-se desonesto. Aparentemente no Estádio do Ladrão, por exemplo, é perfeitamente 'casual' o Bruto Alves interceptar com as duas mãos, de frente para o lance e tudo, um cruzamento. Já na Luz as regras mudam, e passa a haver intencionalidade quando se está estendido no chão e se leva com uma bolada quase à queima. Este lance marca o jogo, e rouba-nos dois pontos. Podem vir dizer que o Benfica tinha obrigação de ter feito mais (o que é frequente ouvir-se sempre que o Benfica é claramente prejudicado por uma decisão arbitral), mas fazendo mais ou menos, a verdade é que objectivamente roubaram-nos um golo, e consequentemente roubaram-nos dois pontos. O Quique quebrou a regra e finalmente falou da arbitragem no final. Acho bem que o faça. Acho muito bem que mais alguém no Benfica o faça, e acho muito bem que não nos calemos. Sob pena do senhor Vítor 'Ali Babá' Pereira continuar a enviar-nos associados seus como Xistras, Lucílios e afins, porque quem cala consente.

Se tenho mesmo que escolher um jogador do Benfica para melhor, fico-me pelo Luisão. Tenho a certeza que é uma escolha segura, até porque estou num estado de irritação demasiado grande para conseguir analisar objectivamente quem terá jogado melhor ou pior. Quanto ao menos bem, já mencionei o Yebda, que está neste momento longe da forma que mostrou no início da época.

Enfim, foram dois pontos perdidos, que nos poderiam dar outra tranquilidade para o reinício do campeonato no próximo ano. Apesar do roubo, falando exclusivamente de futebol jogado o Benfica não esteve bem esta noite. É preciso voltarmos a jogar mais como uma equipa, e mostrarmos vontade de vencer os jogos logo a partir do primeiro minuto. Não compreendo como é que uma equipa como a nossa consegue chegar tantas vezes em branco ao intervalo dos jogos em casa. Resta-nos a consolação de continuarmos em primeiro lugar. Que seja para manter.

domingo, dezembro 21, 2008

Primeiro

Aconteça o que acontecer, passaremos o ano confortavelmente instalados no primeiro lugar da Liga. Pescadores, viscondes do Lumiar e andrades fizeram o obséquio de nos proporcionarem esta pequena satisfação. Mas seria ainda melhor se amanhã conseguíssemos a vitória, para assim nos podermos sentar numa almofada pontual ainda mais confortável. Para além de vir interromper uma recente tendência negativa para as nossas cores, viria ainda despejar um balde de gelo sobre os outros dois, que já andavam a ficar demasiado exaltados - quem ouvisse a certeza dos andrades, a falar durante a semana sobre como já se viam na liderança no Natal, até era capaz de pensar que a vitória sobre o Marítimo e a nossa derrota com o Nacional já eram dados adquiridos (não que isso fosse muito surpreendente, já que conhecer desfechos de jogos antecipadamente é capaz de ser um hábito saudavelmente adquirido por aquelas bandas ao longo das últimas décadas). Por isso passem lá a consoada a olhar para cima, e desculpem quaisquer torcicolos.

Carrega Benfica!

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Masoquismo

Antes do jogo (e durante o mesmo), eu e o Gwaihir (meu colega de sofrimento - bastante mais cruel no caso dele - durante as penosas quase duas horas que acabámos de viver) perguntávamo-nos se seríamos 'normais'. Perante um estádio desoladoramente vazio, uma exibição fraca do nosso Benfica contra uma equipa para nós desconhecida, vinda da Ucrânia e constituída maioritariamente por armários e outras pesadas peças de mobilíário de mogno maciço, um frio de cortar a alma, enfim, uma das noites mais deprimentes que me recordo de alguma vez ter passado num estádio de futebol, continuava no entanto a não haver qualquer dúvida de que estávamos onde queríamos estar naquele momento. Daí a pergunta, se esta espécie de masoquismo será normal. Pior ainda, no final, depois de todo aquele tormento ter terminado, partimos com a certeza que, caso as circunstâncias se repetissem, voltaríamos a pagar para lá estarmos. O que lança sérias dúvidas sobre a nossa sanidade (e eu não tenho a desculpa de estar sob efeito de medicamentos).

Julgo que nenhum benfiquista minimamente realista pensaria que haveria uma possibilidade concreta de vencermos este jogo pelos utópicos oito a zero. Nem sequer os responsáveis da equipa, certamente, já que a equipa apresentada, não sendo claramente uma equipa de reservas, ainda assim mostrava a poupança de alguns dos jogadores mais importantes (Luisão, Katsouranis, Aimar, Reyes, Suazo) e dava a oportunidade a alguns dos jogadores menos utilizados ultimamente para acumularem alguns minutos nas pernas (Miguel Vítor ou Urreta, por exemplo). Pareceu-me que a intenção inicial do Benfica era jogar em losango, com o Yebda sobre a direita e o Fellipe Bastos na esquerda, enquanto que o Nuno Gomes e o Urreta iam alternando no vértice mais adiantado, ficando o Binya como jogador mais recuado. Com o decorrer do tempo, no entanto, o Benfica acabou por arrumar-se num 4-4-2 clássico, no qual se destacava sobretudo a inadaptação do Yebda na posição de médio direito. O jogo foi, em geral, mal jogado. Períodos um pouco mais animados, pontuados por algumas jogadas bem conseguidas, alternavam com outros períodos da mais pesada monotonia, durante os quais nenhuma das equipas parecia ser capaz de fazer dois passes seguidos. Mesmo com este futebol aos repelões, o Benfica conseguiu, durante esta primeira parte, criar pelo menos três oportunidades claríssimas de golo. O Urreta, por duas vezes (a passe do Nuno Gomes e do Cardozo), e o Maxi (mais uma vez a passe do Nuno Gomes) ficaram cara a cara com o guarda-redes, mas o resultado foi, respectivamente: remate ao lado, remate à barra, e remate contra o guarda-redes. Conforme disse, não esperava de forma alguma vencer por 8-0, mas esperava, com toda a certeza, pelo menos vencer o jogo. Mas a falhar oportunidades destas, começava a parecer-me difícil que isto acontecesse e por isso, uma vez mais esta época, chegámos ao intervalo em branco (até agora apenas contra o Desp.Aves, para a Taça de Portugal, conseguimos marcar golos na primeira parte de um jogo caseiro).

A segunda parte veio sem alterações, e com mais do mesmo, ou seja, mesmo sem deslumbrar o Benfica ia criando oportunidades e desperdiçando-as ao mesmo ritmo com que as criava. Quase invariavelmente o perigo aparecia por intermédio do Cardozo. De cabeça, obrigou o guarda-redes ucraniano a uma boa defesa, e teve mais um par de remates muito perigosos, com um deles a embater na rede lateral e a dar quase a sensação de golo. Com a entrada, ainda cedo, do Balboa para o lugar do Fellipe Bastos, o 4-4-2 do Benfica ficou mais bem definido, com o Balboa na direita e o Urreta na esquerda. O Nuno Gomes conseguiu isolar-se, mas adiantou demasiado a bola, e logo a seguir, de uma forma algo estranha, foi substituído. Digo que foi estranho porque, pelo menos para mim, ele estava a ser um dos jogadores com melhor rendimento em campo. Entrou o regressado Di María. O Benfica continuou a procurar o golo, enquanto que o Metalist dava a ideia de ir jogando para um empate que não lhes serviria para nada. Voltou o Benfica a estar perto de marcar, para não variar pelo Cardozo, que após uma boa jogada do Benfica conseguiu acertar no poste da baliza ucraniana. E claro, como se estivéssemos a ver um filme pela enésima vez, todos parecíamos adivinhar as cenas que estavam para vir. A cinco minutos do fim o Metalist conseguiu criar a sua primeira ocasião flagrante de golo em todo o jogo, colocando um jogador na cara do Moreira. O Benfica tinha criado se calhar umas seis ou sete, e não concretizou nenhuma. O Metalist criou uma, e marcou golo. Esta foi a diferença, e esta diferença ditou o resultado final e a derrota do Benfica, fechando assim sem honra ou brio uma das piores participações nas provas europeias de que me recordo do nosso clube.

Não sei se consigo escolher um jogador do Benfica para destacar após um jogo assim, porque de certeza que haverão diversas opiniões díspares sobre este assunto. Talvez, pela segunda parte que fez e pelo que tentou, escolha o Cardozo. Merecia o golo. Não desgostei do Binya, mesmo contando com alguns daqueles passes estranhos que lhe saem. E, apesar de um ou outro descuido, o miúdo Miguel Vítor não esteve mal. Quanto aos piores, creio que o David Luíz fez um jogo bastante fraco como lateral esquerdo. É uma adaptação, não é a posição natural dele, e isso nota-se claramente. O Urretavizcaya tirou-me do sério. Eu sei que ele tem apenas dezoito anos, e que ainda está em formação. Mas há ali muita coisa a corrigir, e eu francamente estou com alguma falta de de paciência para a ingenuidade - ou melhor, deixemo-nos de eufemismos, para a verdadeira burrice - que continua a demonstrar em muitos lances, quer nas decisões que toma, quer mesmo na forma como se movimenta e posiciona quando não tem a bola. É verdade que conseguiu criar duas situações na primeira parte (que falhou), e que ninguém o pode acusar de falta de entrega e vontade, mas o número de bolas e lances perdidos por ele fizeram-me perder a paciência. Não estou a dizer que o Urreta foi um dos piores, longe disso. Estou apenas a desabafar acerca de algumas das coisas que nele me irritam e que me parece termos todo o interesse em corrigir.

Preocupa-me a aura negativa que me parece estar a adensar-se em redor da nossa equipa. Espero que na próxima segunda-feira, com estes jogadores ou com o Reyes, o Suazo, o Luisão e quem mais for necessário, consigamos dar a volta a isto e garantirmos a passagem do ano na liderança. Neste momento, sinto que este simples facto assume uma importância muito, muito grande. Contra o Nacional, contra autocarros e chicharros, mais do que nunca até agora esta época, é importante vencermos. E eu, com masoquismo ou não, lá estarei mais uma vez.

sábado, dezembro 13, 2008

Lotaria

Confesso que só escrevo este post por deferência a quem está à espera dele, porque a verdade é que não me apetece mesmo nada estar agora a escrever sobre o jogo desta noite. Custa-me perder assim; detesto a lotaria dos penáltis, e nesta Taça já tínhamos passado uma eliminatória desta maneira, por isso tinha a sensação de que a vitória não nos sorriria uma segunda vez.

O jogo, sendo frente ao segundo classificado da Liga, foi levado a sério. Jogou a mesma equipa que tinha derrotado o Marítimo, com apenas a alteração na baliza, para onde entrou o Moretto. Os primeiros minutos mostraram logo que o jogo seria bastante disputado de parte a parte, com bastante intensidade e muita luta no meio campo. Aliás, foi quase uma constante ver-se a bola andar muito afastada das balizas, já que foram poucas as oportunidades de golo para qualquer uma das equipas. A maior de todas surgiu na sequência de um canto, em que o Sídnei conseguiu acertar no guarda-redes a poucos metros da linha de golo (mérito também para os reflexos dele). A primeira parte foi quase sempre jogada da mesma forma, com as equipas a alternarem períodos de ligeiro ascendente, mas com muitos passes errados a não permitirem que mantivessem a posse de bola durante muito tempo. No fundo, era um jogo muito bem disputado, mas relativamente mal jogado. O maior factor de diversão para mim foi ver os sucessivos mergulhos do Wesley, todos eles recompensados com uma saudação de apito. Parece-me que o mergulhador-mor do Lumiar tem ali um concorrente à altura, embora a técnica do Wesley seja muito menos refinada. O nulo com que chegámos ao intervalo justificava-se pois plenamente.

A segunda parte foi algo diferente. O Benfica conseguiu assumir com alguma consistência o controlo do jogo, empurrando o Leixões para dentro do seu meio campo, sende que eles só respondiam a espaços através de lançamentos compridos, e iam conseguindo respirar um pouco de cada vez que o Wesley, com a elegância de um paquiderme, tombava sobre o relvado. Este ascendente do Benfica durou uma boa parte do segundo tempo, até que o Quique substituiu o Aimar pelo Nuno Gomes, sendo que a partir daqui voltámos a cair na tendência da primeira parte. O Aimar não fez um bom jogo, até porque o terreno pesado como estava não parecia favorecê-lo grandemente. Mas o seu posicionamento e movimentação nas costas do Suazo criava problemas de marcação ao meio campo do Leixões, e dava-nos mais opções de passe. O Nuno Gomes foi jogar de uma forma diferente, mais encostado ao Suazo e fixo na frente, e isso afectou negativamente o nosso jogo. Para além disso, à medida que nos aproximámos do final do jogo, as duas equipas pareceram começar a temer mais sofrer um golo nessa altura, e portanto começaram a arriscar muito menos, pelo que a dez minutos do final já se adivinhava o prolongamento, que inevitavelmente aconteceu mesmo.

Este prolongamento para mim resumiu-se a ver trinta minutos escoarem-se sem que nenhuma das equipas decidisse arriscar grandemente na procura do golo, parecendo ambas continuarem na mesma disposiçaõ com que tinham terminado a segunda parte. Ou seja, muito medo de sofrerem um golo, e isto a parecer condicionar a forma como jogavam. O prolongamento foi mesmo o período mais penoso de ver da partida, e apesar de eu suspirar para que não fôssemos para penáltis, isso acabou mesmo por acontecer. Nestes, o Moretto decidiu escolher sempre o mesmo lado para se atirar, mas quando ele quase defende o quinto do Leixões e a bola acaba mesmo por entrar, fiquei logo com um mau pressentimento. Não foi preciso esperar muito, porque logo a seguir o Reyes marca o seu penálti pouco colocado e estávamos fora da Taça.

O melhor jogador do Benfica, julgo que indiscutivelmente, terá sido o Luisão, já que pouco ou nada passou por ele. Aliás, o Moretto teve uma noite tranquilíssima durante os cento e vinte minutos de jogo (acho que só teve que fazer uma defesa digna desse nome) muito por culpa do Luisão. O Maxi também esteve num nível bastante aceitável, embora a sua preponderância tenha diminuido à medida que os minutos se lhe iam acumulando nas pernas. Quanto ao pior, pareceu-me que o Suazo teve um jogo abaixo do seu normal, sendo no entanto de considerar que não foi servido muitas vezes em condições.

Se a eliminação da UEFA já me tinha custado, a eliminação da Taça, ainda por cima desta forma, custou-me muito mais. Estou simplesmente irritado e desiludido com o resultado. A verdade é que até gostaria de encontrar um motivo concreto para embirrar com a equipa pelo que se passou esta noite, pelo menos para descarregar esta irritação, mas a verdade é que não consigo. Acho que não houve falta de atitude ou de vontade em vencer, apenas apanhámos pela frente um adversário difícil, num terreno igualmente difícil, e as coisas nem sempre correram pelo melhor. Mas mesmo quando isso aconteceu, nunca deixámos de jogar como uma equipa, nunca baixámos os braços, e nunca deixámos de lutar. Se calhar é por isso que esta eliminação me custou tanto: é que olhando para o que se passou durante todo o jogo, fico com a sensação de que se alguém merecia vencer, éramos nós.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Incontestável

Superioridade incontestável. Não há outra forma de descrever a vitória por meia dúzia de golos sem resposta esta noite nos Barreiros. A não ser que se sofra de alguma doença incurável do foro psicológico, que afecte também a visão. Ou que se seja lagarto ou andrade (o que vai dar ao mesmo). O Benfica deu hoje a resposta que seria bom ter conseguido dar frente ao Setúbal. Veio com uma semana de atraso, mas é obviamente bem-vinda, e pode ser que pelo menos sirva para calar alguns abutres de ocasião e dar-nos uma merecida semana de paz, para assim prepararmos o jogo da Taça.

Nada de particularmente surpreendente na constituição da equipa do Benfica. Talvez alguma estranheza em voltar a ver o Yebda preterido pelo Binya, mas pouco mais. Agradável foi ver o regresso do Luisão - sem dúvida a voz de comando da nossa defesa - e do Aimar. Na baliza, já se sabia que haveria mudanças, e a escolha do Quique acabou por ser a mais lógica, já que o Moreira tinha sido utilizado nos jogos da Taça, o que indicava que seria ele a primeira opção para o lugar do Quim. Os primeiros minutos mostraram um Benfica a entrar decidido no jogo, sendo possível ver logo qual seria um dos problemas principais do Marítimo: lidar com a velocidade e capacidade de desmarcação do Suazo. Logo nos primeiros minutos, lançado pelo Reyes, o hondurenho isolou-se, ultrapassou o guarda-redes do Marítimo, e só não marcou devido a um corte inacreditável de um defesa (o que me levou a rogar pragas ao facto de estar convencido que só mesmo contra o Benfica é que os defesas se conseguem esfolar para fazer cortes daqueles). Logo a seguir foi a vez do Rúben Amorim, à entrada da área, fazer um remate com selo de golo, que nos foi negado devido a uma defesa incrível do Marcos (seguida de novas pragas minhas por achar que só contra o Benfica é que os guarda-redes adversários conseguem fazer defesas daquelas). Apesar de jogarmos bem, o meu pessimismo começou a tomar conta de mim, já que pensei que duas oportunidades daquelas a não darem golo, isso só poderia ser mau agoiro.

Felizmente estava enganado. Ainda antes dos vinte minutos de jogo, mais uma vez o Suazo a fugir a toda a defesa do Marítimo (muito bem o Katsouranis a marcar rapidamente um livre no círculo central) e a ser derrubado pelo guarda-redes Marcos. Penálti e expulsão indíscutíveis. Para nos ajudar um pouco mais, o treinador do Marítimo resolveu retirar do campo o Manú, que era o jogador que eu temia poder fazer mais mossa na nossa defesa, devido à pouca rotina do David Luíz na posição de lateral esquerdo, e falta de velocidade. O Reyes encarregou-se da marcação, e durante uns centésimos de segundo (quando a bola bateu no poste) cheguei a pensar que seria 'mais um dia daqueles', mas a bola entrou mesmo, e lá fiquei mais confiante. Só que o Benfica pareceu abrandar um pouco a seguir à vantagem obtida e, paradoxalmente, aquele que terá sido o melhor período do Marítimo no jogo foi o quarto-de-hora que se seguiu à expulsão e ao nosso golo. Começou também a ver-se o comportamento expectável dos jogadores do Marítimo numa situação destas, ou seja, muitos mergulhos para o chão, quezílias e gritaria, para ver se um jogador do Benfica seria expulso, reequilibrando assim as contas (o Reyes, em particular, pareceu-me ser o alvo a abater durante todo o jogo). O árbitro, sem surpresas, foi na cantiga, e vai de amarelar meia equipa do Benfica ao longo do jogo, sendo que alguns desses amarelos (Rúben Amorim ou Moreira, por exemplo) são simplesmente ridículos. Após alguns berros do Quique, lá acordámos perto do intervalo, o que foi suficiente para criarmos novas oportunidades e chegarmos ao segundo golo. Na sequência de um canto, entrada do Katsouranis ao primeiro poste (há quanto tempo não exploramos a capacidade que o grego tem para ganhar estes lances?) a colocar a bola para o segundo, onde o Suazo apareceu a concluir facilmente. Fomos assim para intervalo com o jogo na mão, sem que me parecesse haver grande possibilidade de uma surpresa na segunda parte.

Segunda parte essa que se iniciou a um ritmo bastante pausado, isto apesar de logo no primeiro minuto termos construido uma boa jogada, que só pecou pela má finalização do Suazo. O Benfica ia controlando o jogo, os cartões amarelos iam caindo para o nosso lado, e eu a ver que mais minuto, menos minuto algum pretexto surgiria para meterem o Reyes na rua. Andava o jogo nisto quando o Benfica beneficia de um livre na esquerda. E o Reyes volta a fazer aquilo que começa a ser um hábito: bola direitinha para um dos nossos centrais marcar facilmente. Desta vez foi o Luisão, que só teve que encostar o pé à entrada da pequena área. A partir deste terceiro golo o jogo ficou muito aberto, com vantagem óbvia para o nosso lado. Praticamente cada ataque que fazíamos dava a sensação de golo iminente, só que foi preciso esperarmos pelos minutos finais para dar maior volume ao resultado. O quarto golo surgiu numa jogada de contra-ataque perfeita, que começou na nossa área: corte do Luisão para o Balboa, este passa para o Nuno Gomes no meio campo, que lançou o Suazo para fazer aquilo que sabe melhor, ou seja, sempre em velocidade tirar o defesa do caminho e rematar cruzado para o golo. Depois foram os dois golos do Nuno Gomes. Primeiro foi uma subida do Katsouranis, a deixar para o Balboa (é verdade que num jogo destes tudo acaba por correr bem, mas desta vez o homem não esteve nada mal) que assistiu o nosso capitão para um golo fácil. Depois foi uma incursão do David Luíz pela esquerda - ele pode não ser lateral esquerdo, mas caramba, foi uma bela finta 'à Ronaldo' (o Fenómeno, não o Burgesso) que ele tirou do bolso para ultrapassar o defesa do Marítimo - que ofereceu ao Nuno Gomes aquele que terá sido um dos golos mais fáceis de entre os muitos que ele já marcou. Seis-a-zero. Um resultado à antiga e um tónico muito importante para o clube nesta altura.

Quando se ganha por seis é difícil encontrar algo para criticar, e é fácil encontrar muito para elogiar. Vou elogiar três jogadores, que para mim são escolhas óbvias. Primeiro o Suazo. O Marítimo nunca encontrou uma forma eficaz de marcá-lo ou pará-lo. A velocidade que possui (e não falo apenas da corrida, mas também da velocidade com que consegue executar as jogadas) e a constante movimentação deram cabo da defesa do Marítimo. Marcou dois golos, e até poderia ter marcado mais. O segundo é o Reyes. É o saco de pancada oficial do Benfica esta época. Perante a complacência dos árbitros, vai sofrendo faltas atrás de faltas, muitas delas a roçar a violência gratuita. Mas de alguma forma, é ele quem acaba sempre por ver os cartões. Hoje foi outro dos jogadores que o Marítimo não conseguiu parar. Sempre em movimento, combinou com os colegas e desmarcou-os inúmeras vezes. Para além disso é sempre um perigo na marcação de livres e cantos. Marcou o penálti, marcou o canto para o segundo golo, o livre para o terceiro, e ainda desmarcou o David Luiz na jogada do sexto. Por último, menciono o Katsouranis. O grego é, não o escondo, um dos jogadores que mais aprecio no Benfica desde que chegou, porque o considero um dos jogadores mais inteligentes que temos. E já tinha saudades de vê-lo jogar como jogou hoje. Pareceu bastante mais solto e interventivo, a aparecer frequentemente no ataque e até a ser ele próprio a conduzir a bola para a frente. A presença do Binya nas suas costas não é alheia a esta subida de rendimento.

Esta vitória robusta consegue acabar da melhor forma uma semana que foi algo conturbada. Espero que sirva para repor os níveis de confiança dos jogadores, e de nós próprios, adeptos, nesta equipa. Espero que sirva também para emudecer um pouco as hienas que nos vão rodeando, sempre à espera da mais pequena oportunidade. É certo que uma vitória, por mais convincente que seja, não resolve como que por magia todos os nossos problemas, tal como um mau resultado não consegue, por mais que o tentem, transformar tudo num caos. Mas uma vitória destas ajuda. E quando muito, dá aos nossos inimigos o trabalho de a digerirem, tentando encontrar as mais variadas justificações para a desvalorizarem. Disse a semana passada que mantinha a confiança inabalável de que vamos ser campeões esta época. Como é que acham que me sinto hoje?

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Fracasso

Este empate desastrado e ridículo desta noite foi, pelo menos para mim, muito pior e muito mais nefasto do que a goleada de Atenas. Era importante reagirmos de forma positiva à goleada, e era também importante chegarmos à liderança hoje, sob pena de despoletarmos um clima negativo de descrença na equipa e em redor dela. Falhámos estes objectivos e, o que foi pior, deixámos no ar a ideia de um retorno a um mau passado recente, a que o Quique já se tinha referido após o jogo da UEFA.

A equipa apresentou-se com algumas alterações em relação à que tão má conta deu de si em Atenas. Saíram David Luíz, Binya, Yebda (para alguma surpresa minha) e Nuno Gomes, entrando para os seus lugares Miguel Vítor, Katsouranis (foi capitão esta noite, presumo que para assinalar o seu centésimo jogo pelo Benfica), Carlos Martins e Cardozo. Na prática, e com o decorrer do jogo isto foi visível, alinhámos em 4-1-3-2, já que o Katsouranis se posicionou claramente como membro mais recuado do meio campo, jogando bastante junto dos centrais. O maior problema que notei nesta disposição foi a incapacidade para fazermos pressão no centro do terreno, resultado da saída do Yebda do onze. O Katsouranis estava demasiado recuado para o fazer (e não tem mobilidade para andar constantemente a morder os calcanhares aos adversários), e o Carlos Martins anda por ali na realidade virtual dele, em que pressionar significa entrar atrasado aos lances, de pé em riste à altura do pescoço, arriscando-se a ser expulso se por acaso calhar acertar num adversário. Ainda assim a qualidade do nosso jogo nem foi particularmente desagradável. O Setúbal, demasiado amedrontado para tentar sequer passar a linha do meio campo na maior parte do tempo, permitia-nos controlar o jogo quase sempre na metade adversária do campo. Conseguimos criar até algumas boas oportunidades, mas de uma forma ou de outra acabámos sempre por conseguir desperdiçá-las, algumas delas de forma quase infantil. Não percebo como é que um avançado com a qualidade do Suazo, que passou anos a marcar golos na dificílima Serie A, chega ao Benfica e desata a falhar oportunidades de bradar aos céus.

Depois lá está, é a velha máxima do futebol: quem não marca, sofre. Pouco depois da meia hora de jogo o Setúbal lá se decidiu a subir, fez aquele que deve ter sido o primeiro remate na direcção da baliza, e aquele que se acabaria por revelar o destaque da noite, o Quim, apesar do remate ser de ângulo apertado e de não levar muita força, lá decidiu que o melhor era dar uma palmada para o lado em vez de agarrar a bola. O resultado foi uma assistência perfeita, em bandeja de ouro e tudo (prata não é suficientemente bom) para o primeiro golo do jogo, já que a bola foi colocada perfeitinha nos pés de um isoladíssimo jogador do Setúbal. O Benfica nem reagiu muito mal, acelerou o ritmo de jogo, criou mais algumas oportunidades, e continuou a falhá-las ao mesmo ritmo que as ia criando (com destaque para um remate do Rúben Amorim que ainda tocou na barra). Assim sendo, mais uma primeira parte em branco (é inexplicável que o Benfica este ano para o campeonato, em casa, ainda não tenha sido capaz de marcar um único golo durante a primeira parte dos jogos).

A entrada do Benfica na segunda parte foi uma agradável surpresa. Sem quaisquer alterações no onze, mas com uma atitude e uma dinâmica muito diferentes para melhor, rapidamente encostámos o Setúbal às cordas, e passados dois minutos estava feito o empate - marcou o Katsouranis numa jogada de insistência, aproveitando um remate falhado do Suazo após passe seu. A pressão continuou, as oportunidades claras de golo também, Suazo e Cardozo estiveram perto de marcar, e o golo parecia iminente. Inevitavelmente, e ainda antes de passado um quarto de hora desta segunda parte, acabou por surgir. Foi um bom trabalho dos dois avançados do Benfica, com o Cardozo a tocar de primeira atrasado para a entrada da área, onde surgiu o Suazo a rematar também de primeira para o golo. O mais difícil estava feito, e agora esperava eu que o Benfica fizesse aquilo que tem feito esta época, e que para mim tem marcado a principal diferença para o passado mais recente: a vencer, que não nos acomodássemos sobre a vantagem e que aproveitássemos o nosso ascendente no jogo para continuarmos a pressionar em busca de uma vantagem mais confortável. Enganei-me redondamente. Assim que marcámos o segundo, a equipa desligou. O Setúbal, que raramente tinha tido posse de bola e que quase nunca conseguia jogar no nosso meio campo, agora tinha-a quase sempre em seu poder, enquanto que nós íamos assistindo impavidamente ao desenrolar do jogo - e esta passividade estendeu-se também ao nosso banco, já que de lá foram assistindo às substituições do Setúbal e ao crescente ascendente deste no jogo sem qualquer tipo de reacção até aos setenta e sete minutos, quando (finalmente!) o Carlos Martins foi retirado de um terreno de jogo onde já não deveria estar há imenso tempo. Porquê este comportamento? Porquê tirar o pé do acelerador quando estamos na mó de cima, e entregar a iniciativa do jogo a um adversário encostado às cordas, permitindo-lhe recuperar o fôlego e a confiança? É incompreensível.

Ainda assim houve oportunidade para assistirmos a mais uma daquelas bizarrias típicas do nosso campeonato que, não servindo de desculpa para o que se passou esta noite, merece ser descrita. Sobre a esquerda, o Sandro (que já tinha um amarelo) faz uma falta dura sobre o Reyes. A bola sobra para o Jorge Ribeiro, que hesita em prosseguir o lance dada a evidência da falta. O árbitro indica que dá a lei da vantagem, e o Jorge Ribeiro segue para a linha de fundo, onde centra para o Suazo aparecer à vontade no segundo poste a marcar o nosso terceiro golo. Estranhamente, nessa altura o árbitro resolve que afinal sim senhor, era mesmo falta sobre o Reyes. Para dar sequência à bizarria, o segundo amarelo para o Sandro fica no bolso. Enfim, daquelas coisas que só visto. A verdade é que continuámos só com um golo de vantagem, e o Setúbal cresceu ainda mais nos minutos finais. Cinco minutos de descontos para animar a malta, e o Quim lá achou que era a altura ideal para brilhar mais uma vez. Na sequência de um canto, e do consequente alívio, na meia lua da nossa área um jogador do Setúbal faz um pontapé de bicicleta que leva a bola a cair, a uma velocidade bastante moderada, sobre a nossa baliza. O Quim decidiu fazer sabe-se lá o quê. Agarrar a bola não, que já se sabe que ela tem picos. E socá-la para fora também não, por isso restou a terceira alternativa, que foi ajudar a bola a entrar na nossa baliza e, assim, em bandeja de platina (ouro aqui já não dava) oferecer um empate inesperadíssimo ao Setúbal. Como brindes extra junte-se-lhe a perda de dois dos pontos de vantagem que tínhamos sobre os queques possidónios e os andrades, e ainda a manutenção da liderança por parte do Leixões. Bravo, Quim, nem o Pai Natal conseguiria entregar tanta prenda em tão pouco tempo.

Escolher melhores e piores é difícil estando eu tão furioso. Escolho o Miguel Vítor como o mais lúcido da defesa (hoje não gostei muito do Sídnei), e menciono também o Katsouranis pelo golo que marcou e pelo que jogou na segunda parte. Quanto aos piores, e antes de passar ao Quim, deixem-me mencionar que voltei a ver um jogo do Carlos Martins que me exasperou. Eu quase nem consigo dizer se aquilo é jogar bem ou mal. É uma espécie de realidade virtual dele, em que um passe simples e directo para um colega a três metros tem que ser feito com o calcanhar, e onde percorrer o caminho mais directo do ponto A para o ponto B implica ziguezaguear pelo meio de seis adversários, tentando fazer um túnel a pelo metade deles. Os cantos e livres (a sua suposta especialidade) foram quase todos mal marcados. E a quantidade de passes errados e perdas de bola foram assustadores.

Quanto ao Quim, foi obviamente a estrela (no papel de vilão) da comédia trágica desta noite. Sim, eu sei que o Quim já nos deu muito, eu sei que já nos salvou diversas vezes, e que muitos pontos lhe devemos. Tenho muito respeito por ele, respeito esse que ele mesmo conseguiu conquistar, à custa do seu trabalho. Mas isso de pouco serve no presente. Se um jogador não está em forma, então deve ceder o lugar a um colega que possa no momento fazer melhor. E a verdade é que desde a derrota no Alvalixo contra a Dinamarca, ao serviço da selecção, que o Quim tem andado numa forma terrível. Se a gente manda para lá um guarda-redes confiante e em grande forma para depois nos devolverem o que a gente viu esta noite, então o melhor é mesmo não o deixarmos ir lá mais. Para além disso, o Quim continua a revelar as mesmas duas grandes lacunas que sempre revelou, desde que chegou ao Benfica: não agarra 90% das bolas (então se forem bolas pelo ar, esta percentagem eleva-se a 99,99%), optando quase sempre pela palmadinha amigável na redondinha (é à palmadinha mesmo; ao soco era o Bento e se não estivesse lá a bola era a cabeça do avançado que levava), e só sai da baliza quando, atrás de si, alguém agita uma arma medieval na sua direcção. Isto nunca foi corrigido. A verdade é que estou farto disto. O Benfica não pode, na maioria dos jogos, fazer vinte remates à baliza, com o guarda-redes deles a defender que se desunha, e depois o adversário faz dois ou três e marca tantos ou mais golos do que nós. Os nossos jogadores, tendo em conta a sua experiência e o que ganham, têm a obrigação de demonstrar em campo que são melhores que os outros, que são uma mais-valia e justificam precisamente aquilo que lhes é pago. O Quim, infelizmente, nos últimos jogos não tem sido uma mais-valia. Não quero obviamente fazer dele o bode expiatório daquilo que de mal tem acontecido ao Benfica, mas hoje não podia dizer mais nada. Não quero saber se joga o Quim, o Moreira ou o Moretto. Quero é que jogue o guarda-redes que estiver em melhor forma, e que melhor consiga defender os interesses do Benfica em campo. Neste momento custa-me acreditar que o Quim esteja nessa situação.

Para mim o pior mesmo desta noite, volto a repetir, foi a sensação com que fiquei de um certo regresso a um (mau) passado recente. A um passado de um Benfica de ideias curtas, de horizontes pequenos, de medos cénicos. Falhando nas alturas decisivas - perante uma oportunidade de atingir a liderança isolada, empatamos em casa com uma equipa de outro campeonato. Conformando-se com os serviços mínimos - fechando a loja logo após a obtenção da vantagem no marcador. Não é isto que eu quero, não é isto que eu espero desta equipa. A minha confiança quase inabalável esta época prende-se precisamente na convicção de que estes maus hábitos estão afastados. Por isso é que este empate me custou tanto. Não foi pelo empate em si; se tivéssemos empatado depois de termos passado a segunda parte em cima do adversário, à procura de mais um golo, eu diria 'Olha, azar. Para a próxima corre melhor.'. Seria um esforço inglório, traído por um acaso do destino. A infelicidade a surpreender-nos numa ocasião em que tudo tentámos para ser felizes. Mas consentirmos o empate depois de largos minutos em que apenas parecíamos estar em campo para segurar uma magra vantagem é simplesmente um fracasso. É contentarmo-nos com o objectivo mínimo; é como respondermos apenas a metade das perguntas num exame e depois entregar a folha, porque basta um dez para passarmos; é deixarmo-nos seduzir pela tentação da mediocridade. E, mesmo assim, fracassar. É isto que me deixa desiludido. Não o fracasso em si. Mas sim o tamanho diminuto da ambição.

P.S.- Apesar de tudo, mantenho a convicção inabalável de que vamos ser campeões.